A PROFUNDIDADE E AS AMOSTRAS QUE UTILIZAMOS

Quando saímos a fazer jigging ou spinning, podemos facilmente reduzir a meia dúzia de modelos as amostras que temos na nossa caixa.
Se o objectivo é pescar profundo, leia-se abaixo dos 50 metros, a opção mais consensual são mesmo os jigs. A técnica não podia ser mais simples: deixa-se cair até ao fundo, faz-se uma animação mais ou menos pausada, recolhendo linha até à superfície, e as coisas acontecem. Trata-se pois de uma pesca essencialmente vertical.
Estas peças metálicas, normalmente em zicral, chumbo, ou tungsténio, são apenas um peso, um pequeno objecto colorido armado com alguns anzóis, e já deram provas da sua eficácia. A todos os tipos de peixes da nossa costa, sem excepção.
Quando pretendemos pescar à superfície, podemos até fazê-lo recorrendo a jigs de modelos mais leves, com recuperações irregulares e algo rápidas, mas não nos sentimos confortáveis a pescar dessa forma.
Utilizamos sim amostras, com ou sem pala frontal. São enganos leves que encaixam na perfeição para esse tipo de trabalho superficial.
Pouco mais fazemos que lançar a amostra tão longe quanto possível, e fazer a sua recolha, com mais ou menos toques de pulso, enrolando linha no carreto. Também isto é bastante simples.
É precisamente entre estas duas opções, entre a superfície e o fundo, um espaço que podemos considerar uma “terra de ninguém”, que as coisas se complicam.
Quando o peixe se encontra demasiado abaixo da superfície mas ainda assim muito longe do fundo, passamos a uma pesca que tem forçosamente de ser diferente.
Não chegamos lá com as nossas amostras, mas os jigs nem sempre resolvem. Bem-vindos ao mundo dos polivalentes vinis e dos seus inseparáveis cabeçotes de chumbo!


Quando os peixes estão fundos, sem dúvida a solução óbvia é mesmo o jig metálico. Aqui fiz uma bica, Pagellus erythrinus, com um jig Little Jack Metal Adict-00 – cor  02 de 20 gramas. Se estamos no estofo da maré, sem vento, podemos descer o volume/peso do jig até ao que as bicas comem, pequenos cabozes, minhocas, etc.


Vejam a peça metálica aqui, em grande plano:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.


Se os jigs são interessantes para os peixes por terem semelhanças com uma presa em perda, errática, ferida ou incapacitada, já os vinis apostam tudo numa apresentação de presa “distraída” que, num mundo tão cruel quanto o marinho, pede de imediato um ataque fulminante.
Basicamente os vinis vivem da sua capacidade de emitir vibrações dentro do meio líquido, por conta da forma como são produzidos, com caudas mais ou menos pronunciadas, a oferecer mais ou menos resistência à água, e da sua textura macia e moldável.
Pesco com vinis sempre que posso, por entender que são mais eficazes que qualquer outro tipo de amostra. As ondas de vibração que se formam à sua volta são perfeitamente visíveis quando os puxamos à superfície, e acredito que seja isso que faz deles alvos tão apetecíveis para os predadores. Em igualdade de condições, um vinil excita mais um robalo que um jig metálico.
Mas não há bela sem senão…
Vamos de seguida analisar quais os efeitos que a profundidade pode exercer sobre os vinis, em borracha macia, e de que forma isso nos pode trazer inconvenientes.


O que se passa perto da superfície é uma coisa, e outra bem diferente é quando pescamos a 40 metros…


Imaginemos que estamos a pescar a 40 metros de fundo. Sabemos que a esta profundidade teremos uma pressão hiperbárica de 5 atmosferas a incidir sobre o nosso vinil.
Conseguimos entender facilmente se soubermos um pouco de física, mas mesmo as pessoas menos atentas poderão pensar nestes moldes: à superfície temos uma atmosfera, a 10 metros de fundo teremos duas, a 20 metros teremos três, etc.
E quanto mais descemos a nossa amostra maior a pressão ela irá sofrer, mais quilos de pressão serão aplicados sobre o vinil. Não vos quero maçar com teoremas de Pascal, nem com algo que saia fora do âmbito das nossas pescas, mas numa frase, podemos dizer que a pressão é uma grandeza física que mede a força aplicada perpendicularmente a uma superfície. E essa superfície pode ser a nossa amostra.
A pressão é medida em pascal, que equivale a newtons por metro quadrado ( (1 Pa = 1 N/m²), ou pode ser medida em atm (1 atm = 1,1.105 Pa).
Isto para vos dizer o seguinte: o facto de estarmos com os nossos pés assentes em terra firme, ou no deck do nosso barco, e de nem por sombras nos ocorrer que existam forças “estranhas” a incidir sobre as nossas amostras, a verdade é que isso acontece sempre.
Não vemos, não sentimos, mas a pressão está lá! Podemos esperar que o vinil, assim “prensado”, tenha lá em baixo o mesmo comportamento nervoso e vibrante que podemos ver quando o trabalhamos à superfície, com uma atmosfera de pressão?!
Certamente não. Muitos dos vinis que utilizamos com tanto êxito à superfície, que vemos vibrar freneticamente quando os agitamos junto à linha de água, afinal na profundidade tornam-se amorfos, apagados, sem vida.
Nesse caso, e se pretendemos insistir em pescar com essa peça, devemos ter em atenção que a nossa animação deve ser um pouco mais forte, mais ousada, mais vibrante.
Aquilo que estamos a fazer é a querer dar “vida” a um pedaço de borracha, pelo que não há que ser complacente: é dar-lhe com ânimo, com intermitências, a deixar cair a amostra desamparadamente, voltar a subir de forma irregular, e de novo deixar cair.
A matéria da qual é feito o vinil encarrega-se do resto.


Há terrenos de caça que são mais favoráveis que outros. Os robalos dão preferência a zonas com pedra, onde podem fazer emboscadas às suas presas. A perseguição em águas abertas é sempre mais penosa, exige maior consumo de energia.


Preferencialmente devemos pois utilizar vinis mais longos, os quais atraem os predadores pela sua movimentação ondulada, pela sua natação próxima de peixes tão apreciados por robalos, pargos, etc. Falo-vos de mini safios, galeotas, enguias na sua fase larvar, e tudo o que possa parecer-se com um tubo fino e comprido. Os cabozes não são assim tão diferentes, eu pesquei um robalo (esta semana em que escrevo este artigo) que tinha dentro três peixes desses dentro do estômago.
Mais uma vez chamo a vossa atenção para a necessidade absoluta de sermos nós, pescadores, quem deve desviscerar os peixes que trazemos para casa. São autênticas lições de pesca aquilo que recebemos da natureza quando abrimos um estômago de um peixe.
Aquilo que eles comem deve coincidir com aquilo que lhes lançamos...
Retomando o tema, as amostras em vinil longas, e é o caso dos Sandeel Slug da Savage, devem grande parte do seu êxito ao facto de não basearem o seu poder de atractividade apenas na emissão de vibrações, mas sim na sua forma alongada e natação ondulante.
Muitos dos grandes robalos das nossas águas pereceram à conta deste conjunto que vos passo abaixo:




O cabeçote/ chumbo já incorpora o anzol, e se queremos pescar a 25/ 30 metros podemos pensar que 22 gramas serão suficientes.
A “iscagem” do vinil faz-se como se de uma minhoca se tratasse, (eu corto-lhes cerca de 4mm na ponta da cabeça, o bico, para que encaixe na perfeição junto ao côncavo do chumbo, e coloco Araldite para fixar).
Aquilo que procuro evitar é que a peça fique com “dois olhos”, sem naturalidade, sem encaixar na perfeição, algo como isto:


Está errado! Mais vale cortar mais 1 cm, e fazer com que o vinil encaixe bem no cabeçote.


A seguir, basta lançar por detrás da rebentação.
Lançar com fé, e com a convicção de que se está a utilizar uma amostra que já deu robalos acima dos 9 kgs em muitas das nossas praias.
Repito com toda a convicção: os vinis são mais eficazes que os jigs, quando procuramos robalos!



Vítor Ganchinho



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2 Comentários

  1. Excelente publicação e lição. Obrigado

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    1. Vamos ter uma série de artigos relacionados com robalos, espero que goste.

      Não perca as próximas publicações.



      Abraço
      Vitor

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