ANGOLA: PEIXE COME PATA DE PÁSSARO!

Francamente, tudo está errado neste estranho caso!

Na primeira parte desta investigação criminal, apresentámos os intervenientes: Luís Ramos e um mero que engole patas de pato.

Estou de acordo convosco, também me parece que algo aqui não faz sentido.
Um peixe que come patas de pássaro e a seguir vai comer um jig da CB-One de 130 gramas?! Na cor azul? Porquê? Com que finalidade? Por que razão foi este mero vendido a um restaurante de nome….Luna? Porquê Luna?! Porquê morder um jig na cor azul?
Há aqui uma história muito mal contada, e é isso que vamos analisar hoje.


Este mero de 15.480 kgs, tinha dentro do estômago algum peixe já decomposto, mas vomitou esta pata de pássaro. Faz sentido?


Podemos começar por averiguar quem ficou sem a pata.
De alguma forma isso pode ser importante para o pássaro em si, porque eventualmente até pode precisar dela.
A mim, a esta distância, não me é possível ser muito preciso quanto à espécie. Consigo apenas inferir da foto apresentada pelo Luís Ramos que se trata de um caso evidente de pata negra, o que no Lobito não será circunstancialmente estranho.
Tratando-se de uma ave aquática, resta-nos saber o que fazia no estômago de um peixe capturado na fundura, a quilómetros da costa.
Procurei indagar junto de quem sabe de aves qual a espécie em questão, e seus hábitos, nomeadamente a quantidade de vezes que esse tipo de ave toma banhos de mar em pesqueiros fundos.
Não resultou. Existe alguma informação escrita disponível, mas como sabem, a guerra de Angola prolongou-se por alguns anos, demasiados para aquilo que merecem dois povos amigos, irmãos, e por isso muitos dados técnicos existentes acabaram por se perder.
Ainda assim, há uma enorme coleção de espécimes de aves embalsamadas, reunida pelo IICA, e agora presente no Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), Lubango. A nenhuma ave da coleção falta uma pata.
Assim sendo, resta-nos pensar positivo e fazer votos de que o pássaro tenha sobrevivido, ainda que amputado de uma pata. Não é impossível que isso tenha acontecido, já houve casos bem mais estranhos.
O caso de jogadores contratados pelo Benfica, só com uma perna, a ganharem acima de 2 milhões de euros limpos e que jogam o mesmo que eu.
Ou do restaurante Luna do Lobito estar a fazer os “Combinados Futumaki” de 12 peças a 5 mil quanzas. Ora isso dá 5.61 euros!
Só por isto se vê que algo está mal neste estranho caso do Luís Ramos e do mero que come patos.


Será este assunto de pesca jigging mais um dos resultados das bebidas que são servidas nos bares adulteradas com alucinogénios?


Passa-me pela cabeça uma outra possibilidade. 
Parece-me promissor seguir a pista de se tratar apenas de um lamentável equívoco por parte deste nosso valoroso pescador.
Vamos ver, …sem querer estar a desculpar o Luís: ultimamente aquilo que impera nos estabelecimentos de diversão nocturnos é a distribuição massiva de comprimidos “Extasy”.
Um indivíduo sai de casa, está ainda meio mareado (porque nesse dia estava quase meio metro de ondulação e o estômago dele não está habituado a ondas…), e vai beber uma água das Pedras.
Vai na volta alguém lhe deita um comprimido no copo.
Quando no outro dia pega na cana de pesca Zenaq e no barco para ir para o trabalho, sente umas tonturas, mas ainda assim lança o jig para o fundo. Começa a ver reflexos na água, os olhos em espiral, coisas estranhas a passarem-lhe pela vista.
De repente parece-lhe que já pesca meros até com linhas finas, com jigs azuis, e no fim o pobre peixe ainda enjoa com os balanços do barco Incrível, vomita-se todo e larga patas de patos.
Mais um bocadinho e o mero ainda dava rateres e largava lavaredas de fogo pela boca. 
O Luís anda estranho….ou é impressão minha?...
Isto faz sentido? Nós acreditamos nisto?! A mim parece-me importante tentar ir mais ao fundo da questão.
Já conhecemos a versão do Luís Ramos, mas a meu ver devíamos ouvir também a versão do pássaro, e para isso temos de estabelecer contacto e ir por ele. Mas onde está o dito?
Como sempre, conto com a preciosa colaboração dos meus queridos leitores, que farão o favor de tentar identificar a ave sem pata neste bando de corvos marinhos angolanos:


Conforme podem ver, aqui à esquerda, em baixo, está perfeitamente visível uma ave com falta de uma pata. Será essa?


Deixo-vos com o filme:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.


Neste filme é perfeitamente visível que o peixe ainda mexe.
Mas mexe pouco, como se tivesse sido comprado em quanzas nos dias anteriores e fosse à posteriori apresentado como uma captura. Não dá esse ar?!
Segundo o Luís, o bicho foi pescado. É isso que ele afirma, mas …será mesmo assim?...
Pelas feições, olhar meio revirado, cansaço e mal-estar geral que transparece do semblante do peixe, denota-se alguma amargura. Algo não está bem, este mero não parece ter sido pescado à linha.
Os meros pescados à linha têm um olho mais brilhante, mais vivaço, e regra geral estão muito mais alegres e bem dispostos!
Aparentemente, e digo aparentemente, …também o animal não foi comprado no supermercado Shoprite, em Benguela. Eles lá só têm peixe em latas de conserva e piazeite (lírio) seco.
Mas pode ter vindo da lota da Equimina, directo para as mãos do Luís. Angola importa muito peixe grosso da Europa, principalmente Benguela, para consumo local.
Nota: contactar Docapesca e ver se foi exportado de Peniche para Angola algum mero nos últimos dois anos.




Mais ainda: um especialista em linguagem gestual e movimentos labiais de meros garante mesmo que aquilo que o pobre bicho balbucia é algo como ….”fui …pescad … rede”… sendo que já no estertor da morte ainda teve forças para dizer:
“…falso…eu nem …como ……..patas………………azia”…
Ora devemos todos meditar profundamente sobre este estranho caso.
Aqui impõe-se alguma lucidez e clarividência: será possível pescar meros com linhas finas? Alguém reconhece capacidade técnica ao Luís Ramos para pescar peixes maiores que salemas?
Alguém tem a noção do poder de arranque de um mero com um anzol cravado na beiçola?
Faça o próprio leitor o teste: peça a um amigo que lhe espete uma molhada de anzois no lábio inferior e dê uns esticões com a cana. Se o leitor desatar a correr desabrido rua fora, parte ou não parte a linha de fluorocarbono?!
Então e nesse caso, a linha dele não partiu…porquê?!
Recorrendo à minha habitual perspicácia, resolvi investigar a linha do carreto que utilizou. Notava-se-lhe algum desgaste, mas atendendo ao que é possível adquirir em Benguela, a linha estava boa e prometia durar mais uns anos:


Este PE1 do Luís , pese embora ele não lave muito as linhas ao chegar a casa, está em boas condições, a prometer mais capturas...


É verdade que o Luís no filme fala em “sorte a minha”, mas obviamente via-se que a pessoa denotava problemas de insolação. O sol é forte e os bonés da Zenaq não tapam as orelhas.
Não joga, aqui há algo mais e nós queremos saber tudo.
Diz ele: “…meus amigos, o peixe atacou numa zona com pouca pedra, com muita areia e gravilha”. Então mas os meros agora andam em zonas de areia e gravilha?! Então mas o peixe do filme é algum linguado da areia?
Afinal é ou não é um mero dos buracos e da pedra forte? Isto é algo que tem de ser esclarecido!
Nestas coisas nunca devemos confiar demasiado no que nos dizem, até porque nem sempre o assassino é o mordomo. Temos de saber ler nas entrelinhas….é isso que um bom detective faz. 
Acaso repararam no artigo anterior que a foto das duas corvinas que ele nos enviou mostra duas moscas varejeiras, mas que há mais uma mosca extra?
Sim, duas são perfeitamente visíveis, (uma no carrinho e outra no bordo exterior da queixada da corvina), mas que ainda há uma outra a sugar o sangue que escorre do estômago revirado do pobre peixe. Repararam no detalhe?
É uma varejeira enorme! Sabendo ler nos sinais, isso não pode querer dizer que os peixes vêm de longe, porventura da África do Sul, e que são peixes que o Luís compra para revenda?

Há sempre mais do que uma perspectiva a considerar….e nem sempre a solução do enigma está logo à vista dos olhos. Repararam na descontração do Luís a “apresentar” o mero? Se o leitor pescasse um peixe destes não lhe estariam a tremer as mãos?
E ele, impávido, calmo, naquela frieza de quem parece que pesca peixes grandes quase todos os anos?!
Então é assim?...então isto não é andar a enganar-nos? Isto não diz nada dos instintos maléficos da pessoa?!
Aqui ainda há muito a esclarecer, e nós vamos saber quem fez aquilo ao pobre do pássaro! Quem sabe se por detrás de um exímio pescador não se esconde um tenebroso e implacável assassino de patos?
Vou dar-vos mais uma pista. Nestas coisas da pesca nós por vezes temos de usar alguma subtileza e saber observar. Ele chama-se Luís Ramos, certo? Plural.
Então isso autoriza-nos a pensar que tem mais que um ramo de actividade. Se um deles já sabemos que é a pesca, quem nos garante que o outro ramo não será o de serial killer de pássaros? 
E se ele só lhes corta uma pata?!
Acordei sobressaltado. Com este angustiante pensamento a consumir-me fui a correr ao galinheiro com a minha filha mais nova, a Mafalda. Ambos respirámos de alívio ao constatar que sim, a nossa franguinha de pescocinho pelado, a Amelinha, ainda estava viva e tinha as duas patinhas:


Deus seja louvado, a franga Amélia estava… bem.


Pois meus amigos, isto tem muito que se lhe diga…
Palpita-me uma luta fratricida. Eu defendo a minha dama, acho que o Luís anda a pescar pássaros com jigs que vomitam meros.
É natural que ele negue, que garanta que não, que era o mero que tinha na boca a pata do pássaro. E o jig? Qual é o papel do jig azul nesta história? Porquê azul?
Isto é um caso que está muito mal contado! Estas coisas não terminam assim.
Bem sei que ele tem a fama de ser pescador profissional e tem milhares e milhares de fãs, sendo que eu meus amigos, apenas conto com a força da minha escrita e meia dúzia de leitores fiéis.
É uma luta desigual, mas a verdade é como o piazeite: vem sempre ao de cima.
Vou lutar por deslindar este estranho caso, e vou trazer a verdade aqui ao blog.


Eu, na procura da verdade, a enfrentar o furioso Luís Ramos, armado apenas com uma esferográfica e um papel...


O mais certo é que eu possa vir a ter problemas por estar a levantar estas questões.
Confesso que ainda estou a matutar naquela coisa da frase que é lema dos Comandos. Talvez não saibam, mas a origem da frase “a sorte protege os audazes” nem é romana.
Não nos chega pela boca de qualquer gladiador romano, um Spartacus de gládio em punho, isso é certo. Não vem daí. Situa-se algures por terras gregas e quase seguramente numa era anterior a Cristo.
No meu caso, eu penso que poderei necessitar de algo mais que sorte. Não tem muito a ver, mas eu já ficaria satisfeito por o Luís Ramos, depois de ler este artigo, me arrancasse apenas uma perna….uma pata.
Ocorre-me fazer brevemente uma inscrição no Curso de Comandos da Amadora.
“A sorte protege os audazes” é a partir de agora o meu lema de vida.

P.S: não se preocupem, eu vou lá em Março do próximo ano e vou pôr tudo isto em pratos limpos. Vou trazer a verdade comigo.

Poderá o querido leitor querer ajudar a solucionar este estranho mistério? Alguém tem algum palpite?
Podem escrever as vossas sugestões sobre o sucedido aqui no blog.
A melhor delas terá direito a uma carcaça e uma fatia de queijo Castelões.
Se a ideia for mesmo boa a sério podemos adicionar uma rodela fina de mortadela ou fiambre. 
O que na altura estiver mais barato no Pingo Doce.



Vítor Ganchinho



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