ROBALOS - ASPECTOS MENOS CONHECIDOS DA SUA REPRODUÇÃO

Há uma altura do ano em que os robalos não querem saber das nossas amostras.
O momento em que os nossos peixes quase abdicam de ser predadores para passarem a ser exclusivamente reprodutores está a chegar.
Não há uma data fixa. Dias de calendário servem de referência aos humanos, mas de pouco adiantam a quem espera condições de temperatura, de movimentação de águas, de fases da lua, para iniciar um processo que congrega num pequeno espaço a quase totalidade dos exemplares maduros, prontos para a reprodução.
Neste momento, semanas antes dessa fase, os robalos estão gordos, fortes, preparados para o que aí vem. A cada dia que passa a quantidade de robalos machos focados em seguir as fêmeas aumenta.
Esta mobilização nada tem de estranho, e nem é sequer um exclusivo da espécie. Vejam aquilo que acontece quando uma cadela está em período receptivo. Os machos juntam-se e seguem-na, esperando a sua oportunidade.
Os robalos sentem essa forte mobilização e juntam-se às centenas.


O meu grande companheiro Carlos Campos com um robalo feito a bordo do Sprint, em Outubro 2023.


Encontrei-os nesta fase reprodutiva em locais tão díspares quanto a Carrapateira, na famosa Pedra da Galé, em Sines e os seus inevitáveis pés-de-galo do porto industrial, e na Nazaré, onde vi concentrações absurdas de robalos de enormes dimensões.
O figurino é sempre o mesmo, cada uma das fêmeas é cercada por uma ou duas dezenas de robalos machos, sempre mais pequenos.
É um momento tão crítico na vida destes peixes que não raras vezes me abstive de capturar algum dos muitos que me rodeavam. Há alturas para tudo, até para pousar a arma e ficar a observar a movimentação dos cardumes.
São paredes de peixe, tantos que nos impedem de ver para além deles. O primeiro impacto é brutal, os nossos olhos piscam e não querem acreditar. Ficamos capazes de ligar para a linha de apoio ao cliente, o famoso SNS 24.
Ter a possibilidade de por breves momentos fazer parte do mundo daqueles nobres peixes vale bem mais que um peixe na caixa.
Poderão pensar que a reacção natural seria tentar obter o número máximo possível, de encher caixas. Errado.
Posso tentar explicar-vos o porquê, mesmo receando não o conseguir: nós humanos temos uma tendência natural para escolher os grandes, e neste caso isso significa optar por fêmeas.
E elas são a fita-cola de todo o espectáculo que estamos a ver, são as fêmeas quem congrega junto de si todos os outros. Quando elas saem, os machos disparam em todas as direcções, desaparecendo da nossa vista.
O facto de haver muitos não significa que as oportunidades de pesca sejam muitas...
Também não me parece correcto aproveitar um momento de especial fraqueza para conseguir fazer aquilo que posso fazer durante muitos outros meses do ano.
Mais que tudo, estamos a visar peixes ovados, prontos a largar as suas esperanças num qualquer recanto abrigado de areão grosso. Devemos pensar que haverá outros momentos para pescar esse mesmo peixe, e que caso não aconteça, haverá sempre uma maior descendência a garantir o futuro.
O que não é muito provável é que eu possa ter a sorte de voltar a estar muitas vezes cercado de centenas ou milhares de robalos, que aquela tremenda massa de peixe possa conseguir sobreviver durante muitos anos, dada a pressão de pesca que se faz sentir.




Parece-me que ser robalo neste mundo agressivo em que vivemos será tudo menos fácil. A meu ver, o estabelecimento de um defeso de início de Dezembro a final de Fevereiro seria o mais indicado.
Quer para a pesca lúdica quer sobretudo a pesca profissional, pois não há dúvidas quanto à necessidade de proteger os poucos reprodutores que ainda existem.
Imaginem o quanto pode ser trágico que uma embarcação profissional encontre uma destas concentrações de robalos, quando eles estão todos juntos para reproduzir.
Caso uma traineira lance as redes e consiga o pleno, que meta em caixas todo o cardume, isso que dizer milhares de robalos que desaparecem, e perdem-se ali todas as futuras gerações desses peixes. É dramático!
Serão sempre os pescadores as primeiras vítimas do sucesso de um lance destes!
O período reprodutivo, a ser respeitado, pode encher de robalos as nossas águas no espaço de poucos anos.
Na verdade, nem é tão difícil assim resolver a questão, basta que se faça uma aposta forte na reabilitação do robalo durante meia dúzia de anos, e a partir daí teremos peixes para todos.
A serem geridos de forma a não ocorrer aquilo que se passa agora, a trabalhar bem, retirando anualmente menos que aquilo que o mar produz.
Ao dia em que escrevo estas linhas, as águas ainda estão quentes, as primeiras chuvas já caíram fortes, e os robalos ainda estão encostados a terra. Tenho-os conseguido a pescar com jigs ligeiros, até 20 gramas, com amostras de superfície, sem pala, e sobretudo a horas em que muitos de vós ainda estão deitados.
Os robalos estão a comer cedo, e por isso é preciso levantar da cama ainda de noite, e acreditar que seremos capazes de estar no sitio certo à hora certa.
Para isso, conto com o meu barco Lomac, que nunca me deixou ficar mal. Por vezes os ciclos de alimentação são curtos, não mais de 20 a 25 minutos.
Se não estamos lá nos minutos certos, passamos ao lado…e nada acontece.


A passagem das nossas embarcações, não tendo particular relevo em termos de importância relativa, também ajuda a oxigenar as águas.


As turbulências de Setembro/ Outubro com alguns dias de mar formado, agitam as águas e trazem-lhes um aporte de oxigénio que é importante.
Isso permite que o nosso peixe se dedique a um tipo de alimentação diferente daquele que foi a sua rotina de Verão. As presas maiores, a sardinha, a cavala, o carapau, entram agora declaradamente na sua dieta.
São peixes gordos, carregados de aminoácidos, proteína, gordura e é disso que os reprodutores necessitam neste momento. Engordar e crescer é a palavra de ordem.


Esta será porventura uma das mais cobiçadas presas para um robalo. A sardinha está agora grande, gorda e existe em grandes quantidades.


Vamos ver no próximo número a outra fase, alguns detalhes do pós desova.
Será eventualmente o período mais crítico da vida dos nossos robalos, aquele em que ele está mais fragilizado.
Muitos de nós já pescámos estes peixes com uma grande desproporção entre o tamanho da cabeça e um corpo esguio, franzino, seco de carnes.
É isso.



Vítor Ganchinho



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