Nem toda a gente tem a noção do tempo de vida médio do nosso robalo.
Isso acaba por ter importância se quisermos saber, pelo menos grosso modo, a idade do peixe que pescamos.
Com uma longevidade de cerca de 30 anos, podemos considerar os nossos peixes verdadeiros “comandos” de operações especiais, pois não é fácil escapar a tanta armadilha, tanta rede, tanto anzol, durante tantos anos.
A verdade é que alguns chegam mesmo a essa provecta idade, e aí terão provavelmente uma medida total não longe de 1 metro de comprimento.
Não há, nem podia haver, rigor suficiente que determine factos não mensuráveis, para além daqueles que são objectivos: peso e comprimento.
A idade de um peixe depende de inúmeros factores, e não conseguimos afirmar com muitas certezas que um robalo com x tamanho tem x anos de vida.
Mesmo robalos com o mesmo peso e idade podem ter comprimentos muito diferentes. Isso pode parecer estranho, mas há boas justificações para isso.
Esse é o tema de hoje, aquilo que vamos analisar de seguida.
Não existe um método exato de correlacionar tamanho, peso e idade.
Um robalo nascido no sul de Portugal terá medidas e peso diferentes de outro nascido no mesmo dia, mas no norte do nosso país.
Os peixes crescem mais em águas mais quentes e aqui já temos um factor geográfico a sobrepor-se a muitos outros factores.
É tomada como boa a informação de que um robalo de 5 kgs terá cerca de 20 anos, para cerca de 72cm de comprimento. Mas isto é apenas um padrão médio, já que não tem em conta dados relevantes, pois pode acontecer que a idade seja mais curta, caso o exemplar tenha conseguido permanecer numa zona bem fornecida de comedia, e com isso, conseguir atingir tamanho e peso mais depressa.
Não convém esquecer que a fórmula mais exacta para determinar a idade de um robalo continua a ser, mediante a utilização de um microscópio, a análise de uma escama e do seu número de anéis anuais.
Pela análise da escama, podemos ficar a saber pormenores sobre o peixe, as suas dificuldades a cada ano passado, (anéis mais espaçados significam um factor de crescimento mais rápido, anéis muito próximos querem dizer que houve menos crescimento, logo condições ambientais mais duras, frios, e menos alimentação disponível), e, somando os anéis encontrados, a idade do peixe.
Por exemplo na Irlanda, onde o robalo não pode ser capturado pela frota pesqueira profissional, (apenas se faz pesca recreativa!!), encontram-se robalos com idades até aos 26 anos.
Fixemos que as taxas de crescimento estão muito ligadas a questões ambientais, sobretudo temperatura das águas, e à quantidade de alimento disponível, o que potencia o processo de desenvolvimento do peixe.
Por isso é possível que os robalos portugueses tenham níveis de crescimento diferenciados, consoante tenham nascido a norte, águas regularmente mais frias, ou no sul, águas normalmente mais quentes.
Por outro lado, a esperança média de vida dos peixes nas regiões algarvias, mais a sul, pode ser mais curta, o metabolismo é muito elevado, pelo que não atingem necessariamente um tamanho maior.
A probabilidade de sairmos ao mar e encontrarmos um robalo muito grande, e velho, existe sempre.
De referir porém que esses robalos saem sobretudo em situações muito específicas, com mar particularmente agitado, com espuma, água não demasiado limpa, em suma, em condições que nos permitam enganá-lo. Não é impossível que aconteça um “acidente” a um desses peixes em improváveis momentos do dia, mas o padrão aponta para a noite, a madrugada, o anoitecer.
Condições de luz reduzida ajudam-nos a conseguir melhores resultados.
Por isso mesmo os indefectíveis pescadores de robalo fazem as suas romarias às praias e falésias ao raiar do dia, ainda de noite, quando as corujas ainda não regressaram às suas tocas de repouso. Ou ao final do dia, depois de saírem do trabalho, a fazer aquela hora mágica do entardecer, quando os robalos começam a chegar-se à costa. E as corujas saem dos buracos para a sua procura de alimento...
Sabemos fazê-lo, sabemos pescar robalos, mas a pesca do robalo não é um exclusivo do pescador português, bem longe disso.
Por toda a Europa há gente que faz deste peixe a sua razão de pesca.
Os especialistas em robalos saberão forçosamente mais sobre a espécie que os “generalistas”, pessoas que hoje lançam uma amostra e amanhã estão a tentar os besugos ao fundo, com lingueirão.
Posso falar-vos de um grupo muito curioso, gente do alto, que se preocupa com este peixe, e que quer acima de tudo garantir que amanhã haverá robalos a morder uma amostra de superfície.
Trata-se do CBE, Collectif Bar Européen, constituído por pescadores recreativos de robalos, e mesmo profissionais que pescam com técnicas artesanais, preocupados com a crescente pressão da pesca comercial de arrasto, e a deterioração dos stocks pesqueiros, obviamente sempre com especial atenção para o robalo.
Para tentar inverter esta tendência decrescente de efectivos e proteger os recursos marinhos ainda existentes, pretende este grupo um diálogo construtivo com os intervenientes no sector profissional das pescas, bem como com os órgãos políticos europeus.
No sentido de atingir os seus objetivos, o CBE segue vários caminhos. Alguns exemplos das suas ações são informar o público sobre a necessidade de proteger os recursos marinhos naturais.
No sentido de ficar a conhecer melhor o peixe, etiquetaram 700 robalos para fins de investigação. Mapearam também o impacto socioeconómico da pesca recreativa do robalo, que é estrondoso!
Nós pescadores de linha valemos em conjunto muito mais que aquilo que pensamos.
O Collectif Bar Européen também apela aos pescadores para que pesquem de forma responsável e limitem o número de robalos não libertados, e sejam cuidadosos para com as medidas mínimas dos que capturam.
O objectivo comum, e que deverá ser o de cada um de nós também, é o de não deixarmos acabar este peixe!
É obrigação de cada pescador fazer o seu melhor no sentido de garantir uma vida mais fácil a este incrível predador. |
Por todo o lado se levantam vozes no sentido de ajudar os robalos a aguentarem este período difícil da sua existência.
Há mesmo quem vá mais longe, quem sugira uma campanha de abstinência de captura a nível europeu, ao momento da sua reprodução. Não se pescam robalos durante o seu tempo de desova, ponto final! E o principio vale também para a pesca profissional, pois sim.
Se as pessoas clientes de supermercados, mercados, não comprarem, ninguém terá interesse em montar aparelhos para os robalos....e eles escapam.
Isso só funciona de facto se houver da parte do consumidor comum uma consciência das dificuldades que o robalo atravessa neste momento, e do quanto é importante dar a este nobre peixe uma "folga", um espaço de tempo de alguns anos, para que respire.
Todos podemos ajudar. Alguém decidiu colaborar elaborando um dístico a ser aplicado por todo o lado, apelando à não compra, durante o período de Janeiro a Março.
Tudo ajuda, desde que se caminhe na direcção certa.
Parece-me importante que, pelo menos, se libertem robalos muito próximos das medidas mínimas.
Isso garante mais um peixe que irá reproduzir proximamente, logo mais peixe adulto para pescarmos a seguir.
Vítor Ganchinho
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Obrigado Vitor por estas partilhas. Tudo é importante para alertar alguns seres mais distraidos.
ResponderEliminarVamos fazer uma pausa na próxima semana, porque há dois artigos que têm a ver com o nosso amigo Luis Ramos, um dos bons valores nacionais e internacionais da nossa pesca, e depois voltamos com mais informação sobre os ciclos de vida dos robalos.
EliminarO momento é deles!
Obrigado pelo seu comentário.
Vitor