250.000 VISUALIZAÇÕES - "PANEN ET CIRCENSIS" - A PESCA COMO ANESTESIA

Este termo vem da Roma antiga e foi lançado por um poeta romano de nome Juvenal. Significa em rigor isto: pão e circo.
Numa altura em que a decadência do império romano se consubstanciava unicamente em dar e obter divertimento, as grandes decisões eram adiadas para as calendas.
Aquilo que contava eram mesmo as lutas de gladiadores, ou de homens contra feras trazidas de África, etc, e nada mais interessava a ninguém.
Para a elite romana, ter o povo entretido com jogos era uma garantia de não contestação e por isso os promoviam regularmente.
Quer isto dizer que o povo só se interessava por obter prazeres imediatos, descurando assuntos importantes, nomeadamente a crítica aos governantes, e às condições deploráveis em que vivia.
Pão e circo, para embalar as almas. Para as levar a aceitar a sua difícil vida de uma forma ...anestesiada.




Pelos vistos, ainda hoje a técnica continua válida e a dar os frutos desejados. Futebol, miúdas quase vestidas e a vida segue o seu curso.
Sinceramente tenho a sensação de que, por melhores que sejam os artigos sobre pesca que escrevo, independentemente da sua qualidade literária e conteúdo técnico, aquilo que verdadeiramente interessa a quem lê são as fotos, são as legendas, e pouco mais. Há quem “leia” aquilo que escrevo em menos de 10 segundos.
Eu quero acreditar que não escrevo apenas legendas. Quero ir bem mais longe. Para mim, produzir apenas legendas curtas não é mais que seguir a divisa dos imperadores romanos: dar pão e circo.
Bem sei, e disso não tenho grandes dúvidas, que vivemos hoje numa sociedade imediatista, de curtas leituras, e de quase zero reflexões sobre o sentido da vida. E se não há tempo para interrogações sobre reformas e diferentes maneiras de ver o mundo, como poderia haver para pensar profundamente sobre um tema tão banal quanto …a pesca.


Jogos: pão e circo como anestesia para as agruras da vida.


Tenho a noção da dificuldade de motivar alguém a pensar. As pessoas reagem mal a tudo o que exceda alguns segundos de atenção.
Chamo a isso de preguiça intelectual, e se é verdade que o “estado da nação” é este, quero acreditar que ainda há quem vá além de duas linhas e uma foto.
Não é fácil entender o que motiva alguém a decidir investir tempo a ler sobre pesca. Desde logo ser pescador, mas isso só por si não chega. Para ler sobre pesca há que ser pescador e ao mesmo tempo ser alguém que quer saber mais.
Um facto é incontestável: poucas pessoas querem gastar um segundo a mais para além do imediato, do evidente, daquilo que não obriga a pensar.
Por azar, é exactamente isso que eu faço, é nisso que acredito até ao fundo da alma: pensar e encontrar respostas. Ir além do óbvio.
Quando medito sobre aquilo que os meus olhos veem quando saio ao mar, a minha preocupação é subir mais alguns degraus neste interminável caminho do “saber de pesca”.
Vou ao mar, pesco, penso, e a seguir, …escrevo.




Se obter um “like” de um pescador significar ceder à tentação do “simplório”, de mostrar um balde de peixe e escrever uma frase curta, pois bem, nunca serei isso. Não contem comigo para apresentar literatura “speed reading”.
Fico estupefacto com a facilidade com que se conseguem visualizações aos milhares, com temas tão absurdos quanto uma foto com um par de sapatos e um cometário do tipo “comprei hoje”.
Ou um futebolista que mostra um novo penteado. Isso vale milhões de audiências, por banal e inconsequente que seja.
Hoje em dia reina a indigência intelectual à qual basta pão. Quanto a circo, sim, temos jogos de futebol todos os dias, e vários ao dia. E isso, pelos vistos, chega.
Chega para quem gosta de futebol e isenta de críticas os políticos que decidem sobre a sua vida, e chega para quem pesca e lhe basta um balde de sargos mortos e uma frase.
Pão e circo.

Assumo que não é para mim, que isso não preenche os meus espaços ainda vazios de conhecimento. Preciso de muito mais que circo...
Se 250.000 visualizações já é um número bonito, quero acreditar que 300.000 será um pouco melhor, e por isso escrevo.
Mesmo que do outro lado esteja apenas um leitor verdadeiramente interessado.



Vítor Ganchinho



😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.

14 Comentários

  1. Como já falamos anteriormente, entendo e concordo plenamente com o Vitor. Eu como mais amigos e leitores agradecemos e adoramos ler todos os artigos, pois quem gosta de ler sobre pesca e ter o gosto de aprender ou de pensar sobre a pesca, certamente dá valor aos seus artigos. Mas sei que a maioria das pessoas hoje em dia não quer perder tempo a pensar ou a ler sobre um assunto, mesmo que goste. É por isso que eu digo, escreva sempre que quiser, mas faça-o sempre por si e nunca pelos outros. Um grande abraço e até já

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Luis! Nós temos centenas de pessoas que leem os artigos, diariamente. Mas não se manifestam.
      Isso leva-me a supor que, ou não gostam e por isso mesmo demonstram o seu desinteresse não colocando sequer a sua apreciação no quadradinho de "like". Ou então gostam, mas demonstram o seu interesse não colocando a sua apreciação no quadradinho de "like". O que vai dar ao mesmo.
      Em rigor, ler um artigo técnico sobre pesca custa-lhes zero euros. Houve uma altura em que alguns milhares de pessoas compravam revistas de pesca, e gastavam dinheiro nisso, para poderem estar a par daquilo que se passa na sua modalidade de eleição.
      Então agora que é gratuito já não valorizam? As pessoas que compravam certamente liam as revistas, ou não as comprariam, certo?
      Quem escrevia para essas revistas continua a fazê-lo, por gostar de escrever. Eu nunca recebi um cêntimo por partilhar informação sobre pesca, e não pretendo nem preciso de receber nada agora. Mas se eu escrevia para as revistas e havia dezenas de pessoas a colocar questões a seguir a essa leitura, qual a razão de agora não haver ninguém que queira maçar-se a escrever umas linhas? A contestar, a reclamar, a elogiar, a questionar, o que seja!

      Por vezes confesso a minha saturação, e já por mais de uma vez pensei em terminar este tipo de participação. Porque me maço, porque perco tempo, porque roubo tempo à família, porque sinto que escrevo para uma parede. Isto é um monólogo e eu não preciso de perder tempo desta forma.

      Mais dia menos dia, aqui estarei a informar de que para mim, ....chega.
      E nesse dia, vamos ter a possibilidade de ler as incríveis histórias de um balde de peixes miúdos dentro de um balde, ou um lava-loiças tapado de robalos de 13 cm pescados com minhoca. Porque o nível de publicação que obtém "likes" é esse!

      Como disse no artigo, pão e circo é algo que para mim não chega, eu preciso de saber muito mais que isso. Estamos inundados de programas pobres, de raparigas destapadas a cantar música pimba, de comentadores de futebol a dissecar lances, e isso é que vale a pena. Porque isso é o que está ao nível daquilo que é..."bom". Faço-me entender?

      Eu nunca conseguirei fazer diferente daquilo que faço, porventura o tema pesca mereceria uma pena mais fina, com mais qualidade, alguém que vá além dos meus parcos conhecimentos sobre mar. Se calhar aquilo que é bom é alguém mostrar uma centena de douradas de 12 cm mortas dentro de um balde, e um comentário de Facebook a dizer: " e se eu quisesse ainda tinha pescado mais"....
      Isso é que é bom, pelos vistos!

      Não estou certo de ter a capacidade e elegância de escrita suficientes para descrever com graciosidade uma pescaria de dúzias e dúzias de douradas minúsculas de 10 cm. E nem sequer a capacidade intelectual para entender como isso pode ser considerado bom por milhares de pessoas. Mas é isso que recebe a aprovação geral...


      Abraço
      Vitor


      Eliminar
  2. Compreendo na totalidade Vitor. Infelizmente é o mundo intelectual em que vivemos e cada vez mais o nível é menor. Já cheguei à conclusão que o diálogo morre quando do outro lado temos um leitor que tem medo de expressar as suas dúvidas publicamente com o receio de mostrar que pouco ou nada sabe sobre o assunto, e aos olhos dos amigos esta situação não é vista com bons olhos. O que na realidade é ridículo pois ninguém nasce ensinado e no final de contas estamos sempre a aprender. E por essa razão que a maioria prefere enviar mensagens a expor as questões. A meu ver é uma pena pois as dúvidas de um pode ser a de dezenas! Enfim..é a realidade.

    Um forte abraço
    Luis Ramos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Luis, a situação pode ser confrangedora ao ponto de alguém solicitar, sob anonimato, esclarecimento sobre uma questão, e a seguir, depois de obter a resposta, não se digna a
      um único comentário. Recorda-se de eu ter escrito sobre a questão das forças envolvidas na queda de um jig? Alguém me contactou porque queria perceber como se processava esse detalhe. E de que forma isso podia afectar a pesca profunda.
      Escrevi três artigos, empenhei-me na minha tentativa de explicar, à luz dos conhecimentos que tenho, como se desenrola a queda do jig.
      Pois a pessoa, ....não teve a amabilidade de responder, não disse nada.
      E nada é ...nada!

      Isto não tem a ver com capacidade intelectual, tem a ver com desleixo, desprezo, com falta de princípios. Eu seria incapaz de o fazer, ainda que tivesse de interromper algo importante na minha vida. Eu teria respondido, quanto mais não seja através de um...obrigado. Ou diria: "...não sei se posso concordar com isso, porque há este e aquele detalhe....."

      Mas não dizer absolutamente nada leva-me a pensar que não valeu a pena escrever com tanto carinho para essa pessoa.

      Enfim.


      Abraço e Feliz natal para vocês dois!



      Vitor

      Eliminar
  3. Boa tarde Vitor

    Muita gente deve ler os seus artigos e retira saberes importantíssimos.
    Eu absorvo cada linha da partilha de conhecimento do Vítor, que levaram anos de pesquisa e estudo para todo esse conhecimento.
    Muito obrigado por isso.

    Abraço
    Toze

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Confesso que tenho dias em que penso que apenas estou a perder tempo.
      Depois chegam outros dias em que percebo que para algumas pessoas pode ser importante partilhar algo do que vou vendo por esse mar fora.

      Nada pior que a indiferença, é isso que desmotiva.

      Para já, vamos ter uma sequência de artigos relacionados com a pesca ao robalo.
      Estão escritos.


      Abraço
      Vitor

      Eliminar
  4. Antes de mais, apesar de já o ter desejado por WhatsApp, um excelente 2024!

    As publicações sem conteúdo são as que obtém mais comentários e mais "likes" e refletem também o estado atual da sociedade, onde impera a "preguiça de pensar" e refletir.
    Uma grande parte quer é saber que espécie "está a dar" nesta altura e em que "pesqueiros", não querem perceber o porque, pois este porque dá demasiado trabalho e muitos deles "já sabem pescar e ninguém lhes vai ensinar nada".
    Os grupos de pesca do facebook estão inundados deste "tipos", motivo pelo qual saí de todos eles.


    Sei que como eu, muitos amigos visitam o blog e adoram ler as publicações da equipe da GoFishing e valorizamos o trabalho de todos!

    Muitas vezes não consigo ler nos próprios dias as publicações, pois gosto de ler com tempo e com a cabeça "limpa" para poder absorver, mas sempre que tenho tempo dou cá um salto (como foi hoje o caso, onde li as últimas 5 publicações, que ainda não tinha lido). Admito também a minha falha de não participar mais ativamente nos comentários.

    Aproveito para citar a frase escrita pelo Luís Ramos"....faça-o sempre por si e nunca pelos outros."

    Obrigado e um Abraço
    Luís

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um grande ano de 2024, e muitos peixes bonitos.
      Os pargos das Canárias deverão estar mesmo aí a rebentar, no Algarve já começaram a entrar
      Fiz um pargo capatão na minha ultima saída, o que é bom sinal. Acho que as águas este Inverno nem estão demasiado frias, algumas espécies ainda não sentiram a necessidade de sair das pedras. Vamos ver a evolução.

      O jigging ligeiro vai entrar em Março na sua melhor fase do ano, convém preparar tudo agora.

      Abraço
      Vitor

      Eliminar
  5. Boa tarde Luís

    Tem toda a razão no seu comentário, em tudo o que referiu.
    Eu devoro cada artigo do Vítor como se fosse "último" tentando absorver um pouco do seu enorme conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de estudo, de pesquisa e análise dos locais de pesca e de todos os fatores.

    Só temos que agradecer a partilha desse conhecimento em cada linha lemos.
    Atualmente não consigo ler logo os Artigos assim e são publicados. Peço desculpa por nem sempre
    comentar. Mas o meu conhecimento é tão pouco que não acrescento nada.
    So tenho que agradecer cada linha., de cada artigo e desta partilha de conhecimento.

    Até escrever os Comentários por Vezes tem que ser no tlm e com dificuldade de escrita 😬

    Grande Abraço
    Toze

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tozé, é bom saber que está desse lado.

      Não temos de ler tudo nem comentar tudo. Mas imagine que 300 pessoas leem diariamente
      um artigo e nunca o comentam, nem interagem com quem escreve.
      Um dia a pessoa que escreve resolve fazer ...o mesmo.


      E depois de deixar de escrever, ....muito dificilmente volta a fazê-lo porque a motivação deixa de existir. Um diálogo não é um monólogo.

      Abraço
      Vitor

      Eliminar
  6. Boa tarde Vítor

    Tem toda a razão, entendo perfeitamente.
    E o livro :)

    Grande Abraço
    Toze

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O livro vai ter de esperar.
      Andei por Espanha, e agora preparo uma saída ao Japão, em missão de pesca.

      No dia em que me aborrecer de escrever artigos pequenos, começo a idealizar a estrutura do livro.
      Não quero que seja mais um, quero que seja...O LIVRO.


      Grande abraço, Tozé!


      Vitor

      Eliminar
  7. Vítor

    Acredite que os leitores vão esperar o tempo que for necessário para... O LIVRO. Não vai ser mais um livro acredite.

    Ja estou sedento dos artigos que vão surgir da missão pesca Japão. Acho fantástico descobrir outras culturas e outros tipos de pesca.

    Boa viagem e excelente pesca.

    Grande Abraço
    Toze

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tozé, aquilo que vamos ver, segundo os japoneses, é mais uma perfeita revolução na qualidade dos materiais.
      A cada ano que visito o Japão mais me convenço que há nações que desenvolvem mais esta ou aquela área, ( a Alemanha faz aço e cerveja, a Espanha faz presuntos, França faz queijos e vinhos, e por aí..) , e no caso do Japão, entre tantos milhares de coisas, eles fazem material de pesca melhor que todos os outros.

      Ninguém bate os japoneses a produzir material de pesca de alta tecnologia.
      Canas, carretos, linhas, .....são imbatíveis!
      E eu vou visitar os locais onde eles produzem, e fazer perguntas.

      Vou dar conta disso quando voltar e vocês todos vão saber o que existe de mais evoluído.

      Lá para meio de Fevereiro já devo ter novidades...


      Abraço
      Vitor

      Eliminar
Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال