Recebemos do nosso colega de pesca e leitor do blog, Francisco Henrique, uma sugestão para abordarmos a questão da salga de iscos orgânicos.
Confesso o meu espanto por ser convidado a escrever sobre um tema que nitidamente não domino, até porque vem ao arrepio de tudo aquilo que faço, e em que acredito.
Eu não salgo iscas, não gosto de pescar com iscos orgânicos, e se há algo que afirmo e pratico por forte convicção é precisamente o oposto, pescar com artificiais.
Para mim, são as amostras de superfície, os vinis e os seus inseparáveis cabeçotes de chumbo, e os meus queridos jigs, os quais só por si representam bem mais de três quartos da pesca que faço ao longo dos dias de cada semana.
O pouco que resta pode ser dividido pela pesca com iscos vivos, carapaus ou cavalas, aos nossos predadores mais encorpados. E fico-me por aí.
Porém, se o desafio é lançado, se há hipoteticamente algum detalhe que eu possa conhecer e que outra pessoa não conhece, …porque não partilhar?
Se a técnica de salga das iscas se enquadra nas necessidades diárias de alguém, pois seja, vou rebuscar na memória aquilo que já fiz há muitos anos atrás, quando eu ainda acreditava que com iscas podia fazer melhor.
A minha evolução natural enquanto pescador veio mostrar-me que estava errado, que afinal os peixes que procurava com sardinha salgada podiam ser capturados, com largas vantagens, utilizando um jig, uma pequena peça em chumbo pintado.
Com tudo o que isso traz em termos de conveniência, limpeza e conforto.
Este jig Little Jack de 40 gr já capturou algumas dezenas de peixes. E, pese embora alguns riscos provocados pelos dentes dos peixes, vai continuar a funcionar bem... |
Vamos por partes: afinal de contas, o que é mais eficaz para pescar, isca orgânica ou artificiais? Qual a melhor opção?
Haverá de facto vantagens de alguma das partes, ou trata-se apenas de formas diferentes de abordar a pesca, diferentes estratégias para obter o mesmo?
Esse é o tema de hoje, e mesmo com a sensação de que haverá pessoas com muito mais qualificações que as minhas, aí vai a minha opinião.
Adquirir iscos frescos nem sempre é fácil, nem sempre é possível, nunca será cómodo, e nem sequer é mais barato. Mas resulta, de certeza, isso sem dúvida.
Em termos de facilidade de enganar o peixe, não tenho dúvidas de que uma sardinha fresca poderá fazê-lo com enorme facilidade, afinal de contas estamos a dar ao peixe aquilo que é o seu alimento regular, diário.
Por outras palavras, se a questão é a eficácia, pois sim, concordo que seja muito seguro pescar com sardinha.
Mas será a pesca apenas isso? Apontamos apenas à forma mais fácil e rápida de pescar? É isso que queremos colocar no topo das nossas ambições de pescadores?
Estou perfeitamente convicto de que para milhares de pessoas a resposta é sim, o resultado em peixe na caixa ao final do dia é a única coisa que conta.
Todavia há outro tipo de pessoas, nas quais eu me incluo, que pensam de forma diferente.
Podemos contrapor a esta facilidade de encher uma geleira de peixe a questão da técnica de pesca, a sensação de superação que nos é dada por cada peixe conseguido com um artificial.
Os nossos pescadores de topo não querem nem ouvir falar em sardinhas, porque fazem com uma amostra tudo o que fariam com elas, e mais um pouco.
Pela parte que me toca, não me sinto diminuído por sair ao mar apenas com amostras e jigs. Quem me vê sair no meu barco sabe que não levo iscos orgânicos a bordo, apenas uma caixa de artificiais. E chega-me.
Podemos olhar para as caixas de peixe ao fim do dia e ver para que lado pende a balança. Eu não me sinto constrangido por, à chegada ao porto de abrigo, alguém abrir a minha geleira de peixe…
Não queria que ficassem dúvidas sobre a eficácia dos iscos orgânicos. Tem é mais inconvenientes que vantagens, e vou procurar enumerar alguns.
O preço é uma boa razão.
Se consideramos custos efectivos de um isco orgânico versus uma amostra artificial, esta segunda ganha por dez a zero, pela sua repetida utilização, contrariamente ao isco orgânico.
Quando consideramos o factor comodidade, salta à vista a vantagem avassaladora dos artificiais, basta olhar para uma caixa de amostras e para um saco plástico com isca congelada.
Penso que podemos concordar todos, os que pescam de uma e de outra forma, que é necessário disponibilizar mais tempo para adquirir sardinhas que amostras.
As primeiras implicam compras regulares, as segundas são uma despesa bem mais espaçada no tempo, e bem mais barata.
Considerando a frequência das deslocações, e também os cuidados a ter com ambas as soluções, parece-me evidente que há um esforço financeiro adicional para quem insiste em pescar com iscos orgânicos.
A forma de equalizar este esforço é precisamente a questão da salga de iscos, para posterior utilização.
Preservar iscos num congelador permite tê-los sempre à mão, e estar sempre pronto para sair ao mar. E de que forma o podemos fazer?
Pois vamos ver a seguir:
1 - Podemos conseguir as iscas, normalmente sardinha ou cavala, num mercado perto de nossa casa.
2 - É muito importante que estejam frescos, em excelente estado de conservação. Haverá quem opte por comprar sardinhas tocadas, moles, com três dias, “engravatadas”, etc. Não é isso que vale a pena fazer.
3 - A matéria prima não pode ser de segunda qualidade, pese o seu preço mais barato, sob pena de estarmos a iniciar um trabalho que já está adulterado desde o seu início.
4 - Em Setúbal existe um mercado de segunda venda onde é possível adquirir caixas de peixe muito fresco, a preços um pouco inferiores aos que irão ser pedidos no dia seguinte no Mercado do Livramento.
5 - Em casa, em cima de uma placa de madeira, filetar a isca retirando cabeça e espinha. Uma faca bem afiada é necessária, pois não queremos partir mas sim cortar a isca.
6 - Esses filetes, apenas os lombos da sardinha, deverão ser colocados em cima de um jornal velho, num local fresco, à sombra. O jornal irá absorver a humidade que começa a libertar-se logo de imediato.
7 - O segundo passo é cobrir com sal. Sejamos generosos a aplicar sal.
8 - A seguir colocamos uma nova camada de folhas de jornal velho sobre a isca.
9 - Cada camada de filetes de peixe (colocado com o lado da pele para baixo, sobre o sal) deve ser coberta de sal e assim sucessivamente.
10 - Cobrimos cada nova camada com uma nova remessa de sal, e a seguir, mais algumas folhas de jornal, até perfazermos a quantidade de isca que julgamos suficiente para alguns dias.
11 - Para termos a certeza de que vamos ter isca sem demasiada humidade, (o líquido induz à podridão e a estragar todo este trabalho) colocamos um peso, uma placa de ferro, ou algo pesado, sobre o conjunto das camadas.
12 - Guarda-se num lugar da casa onde consigamos reunir as condições certas: temperatura baixa, sombra, e poucas reclamações da esposa.
13- Ao fim de algumas horas, no máximo um dia, teremos a isca pronta para utilizar.
14- Nesta fase, retiramos cada camada de filetes para um saco plástico, (melhor se tivermos um aparelho de vácuo) em doses individuais e preservamos no frigorífico, ou arca congeladora.
Levamos connosco a quantidade de pacotes que julgamos ser suficiente para pescar. Depois de descongelar, não convém voltar a congelar, a isca ficará mole, e com menos qualidade.
O conforto de utilizar um jig não é algo que se possa comparar a mais nada. Uma pequena caixa de jigs é tudo o que é necessário. |
Um dia, daqui a muitos anos, a maior parte das pessoas nem hesitará em utilizar apenas artificiais.
Mas isso implica uma verdadeira revolução na nossa forma padrão de pescar, o “pica-pica”, a pesca vertical com chumbada e dois anzóis por cima. Enquanto houver um peixe que morda, vai pescar-se assim, vertical. A presente geração de pescadores não vai hesitar sequer em afirmar que essa é a única forma de pescar.
Não ajuda o facto de normalmente saírem à pesca em grandes barcos, procurando diluir as despesas de deslocação por muitos. E nesses barcos, com 16 a 20 pessoas, não se consegue fazer jigging, está mesmo fora de questão.
Mas vem aí uma nova fornada de pescadores. Esses, menos dispostos a perder tempo com iscos, mais móveis no que diz respeito a conseguirem fazer saídas em pequenas embarcações de pesca, (grupos reduzidos, de três a quatro elementos), vão pescar com jigs. Sem dúvida.
Vítor Ganchinho
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Boa tarde Vítor
ResponderEliminarJá há algum tempo por questões profissionais e pessoais que não conseguia ler os seus fantásticos artigos.
Eu ainda não pesco nada mas pelo que leio e pelas vantagens só aficionado dos artificiais.
O SR anda deserto para ir água 😁
Feliz 2024 cheio de sucessos pessoais e profissionais, com muita saúde e paz para todos vós.
Abraço
Toze
Olá Tozé!! Seja bem aparecido! Fico muito feliz por saber que está desse lado, e que eventualmente estará quase a concretizar uma missão deveras importante: ser médico.
EliminarForça aí nessa pesca e se eu puder ajudar em algo, não hesite em me contactar.
Estou à sua disposição.
Abraço e Feliz 2024.
Vitor
Boa tarde Vítor
ResponderEliminarNão é o ser médico é terminar o Doutoramento. Prof Doutor 😂😂😂
Não ligo a essas coisas, apenas quero melhorar os meus conhecimentos e competências científicas na área da saúde e poder ajudar, o Nosso SNS está a morrer, um caos.
Mas tenho que me dedicar um pouco à pesca para aprender e desanuviar.
Grande Abraço
Obrigado por tudo
Toze
Grande Tozé! Força nisso! A pesca pode sempre esperar, o que não falta são peixes.
EliminarQueremos um Prof Doutor a lançar linhas.
Quando quiser aparecer diga, vamos ao mar e ver o que anda por lá.
Os robalos vão aparecer em força em março. Fiz um na semana passada, com jig de 30 gramas, e nem estava..."congelado".
Abraço
Vitor
Olá Vítor
ResponderEliminarQualquer dia se der gostaria de fazer uma pescaria com quem sabe, para desanuviar um pouco.
E esses robalos, nem congelam, na brasa são top. Se os de compra são, esses então!!!!
Se der para Fevereiro ou Março (não sei qual o melhor) e poder aparecer por ai e o Vítor aceitar a companhia de um profissional..... mas não dessa área de conhecimento :), combinamos.
A ver se a Alpha Tackle Bullet e o Elan Octopus SPII apanham alguma peixe de jeito
Muito obrigado
Abraço
Toze
Oi Tozé! Para pescar os nossos peixes está mais que equipado.
EliminarNão falta nada!
Podemos combinar para Fevereiro uma saída de pargos, eles já chegaram e estão com força. Na segunda semana de Fevereiro falamos, e vemos o tempo.
Não o quero levar com ondas de 5 metros, porque já sei que se vai agarrar com os dentes ao varão de aço inox da consola e deixa-me aquilo tudo riscado.
Tozé, o barco novo já chegou a Portugal. Agora é uma questão de o trabalhar até estar a eu gosto.
Vou vender o Sprint.
Com pena, porque é um super barco, vai aos sítios sozinho, não precisa de condutor.
Acho que vou ter saudades dele porque os peixes saltam-lhe para dentro assim que chego às zonas de pesca...
Abraço
Vitor
Vítor
ResponderEliminarMuito obrigado, já que diz que estou equipado, agora é dar uso ao equipamento e aprender.
Quando poder e tiver algum tempo para aturar um aprendiz estarei disponível.
Sim, prefiro não ter ondas tipo canhão da Nazaré, tinha que tomar muito ondansetrom 4 mg e ter que me agarrar ao varão do SR, além de o riscar até me podia saltar algum pivô.
Acredito que vá ter saudades do sprint , realmente é um barco fantástico a todos os níveis e tem uma navegação top, além de voar baixinho :)
Os peixes a saltarem para dentro do barco, tem a ver com o mestre da embarcação !
Eu no meu SR além de não saltarem até acho que fogem!
Grande Abraço
Toze
Tozé, o barco que chegou agora vai ser um avião de pesca.
EliminarTem 8.10 mts e 2x 150 HP Honda.
E uma carrada de extras que vão facilitar muito a pesca.
Penso que lá para inicio de Março, talvez um pouco antes, já seja possível andar com ele.
Vai ficar na Marina de Sesimbra.
Os pargos estão neste momento a ter um arrepio de frio na espinha..
Abraço
Vitor