Quando digo às pessoas que é possível pescar douradas com jigs, olham-me com um semblante estranho, fechado, entre o “acredito, mas com 99% de reservas”… e o “…nem pensar!”.
Têm razão.
Pescar douradas com peças metálicas não é para todos e muito menos para quem, sendo menos dotado de mãos e mesmo com caranguejo vivo, sente dificuldades em as ferrar.
Galileu Galilei, nascido a 15 de Fevereiro de 1564 sentiu a mesma dificuldade em explicar aos seus pares que a Terra não era o centro do Universo.
Quando ele proferiu a célebre frase rebelde “E pur si muove”, ou seja, “E no entanto ela move-se”, estava a referir-se ao facto de a Terra girar em torno do sol e não o contrário.
Poderia ter sido queimado por isso, mas nunca deixou de acreditar que a sua teoria estava certa. O futuro veio a confirmá-lo.
Neste caso, nem é isso, não é nada teórico pescar douradas com jigs. Vejam abaixo o meu amigo Raúl Gil a dar-lhe com força.
Linda dourada, Raúl!! Um abraço! |
Pescar douradas a partir de um kayak abre possibilidades que nunca estarão disponíveis a quem pesca de barco.
Pesqueiros baixos, na ordem dos 12 a 20 metros, têm peixes disponíveis que, por força do ruído dos motores, tendem a fechar a boca.
As douradas, animais normalmente reservados, exigem um sigilo extra. E o kayak permite isso.
A abordagem é feita lentamente, sem pressas, e uma vez que o banco seja detectado na sonda, entram em acção jigs que oscilam entre os 5 e os 15 gramas, a escolher em função da corrente.
Pesca-se com canas ultra sensíveis, com acções de 1-7 gramas, ou menos, se possível.
O carreto, nestes casos é uma acessório que não exige qualidade extra, apenas serve de enrolador de fio, deve permitir a saída de linha rapidamente se for o caso, e pouco mais.
Isso consegue-se com uma lubrificação cuidada, atenta, para que um simples detalhe não venha a pôr em causa todo o trabalho.
Aqui está ela, em estilo, seduzida por um jig. |
Linhas finas, pois sim, as douradas nem são dos peixes mais combativos. Movem-se de forma arritmada nos primeiros instantes e a seguir entregam-se, após duas ou três corridas francas.
Uma linha PE 1 sobra, com um leader que pode oscilar entre 0.23 e 0.28mm.
Desde que a cana tenha a acção certa, leia-se não seja demasiado dura, as possibilidades de rotura reduzem bastante.
Friso este facto: é virtualmente impossível conseguir resultados destes com material improvisado, algo que é comum nas pessoas que tentam. Aquilo que é normal é que se adquira um jig de 5 gramas, e a seguir vai-se ao sítio e experimenta-se. Em rigor, o jig não faz nada só por si, precisa de todo o balanço certo do resto do equipamento.
Recorrendo a estes materiais ligeiros teremos muito mais toques, e se alguma dourada escapar, que nos deixe um sorriso nos lábios.
Bem pior é tentar fazer isto com linhas grossas, zero grosso, das que aguentam tudo, e… não ter um único toque.
Onde procurar?
Em todos os sítios onde se pescam com o tradicional caranguejo, e todos os outros onde nunca ninguém se lembrou de ir pescar com isco orgânico.
O difícil não é descobrir cardumes de douradas, é saber o que fazer ao jig quando se está em cima delas.
Movimentos mais bruscos quando o cardume está muito activo, para estimular a concorrência dos peixes alvorados que sobem a partir do fundo para serem os primeiros a chegar à comida que chega de cima, ou uma agitação mais suave, bem mais pausada, quando o cardume está fora do ciclo de alimentação.
Ter em atenção o momento da maré, e mais que isso, a temperatura previsível da água no fundo onde decidimos pescar. Quanto mais frias as águas mais pausados teremos de ser com a nossa pesca.
Há que dar tempo…
Por defeito, este meu amigo pesca sempre com artificiais. Nunca o vi utilizar iscos orgânicos. E todavia, faz pescas muito interessantes, peixes muito simpáticos. Ele e o grande guru da pesca António Pradillo continuam a sair de casa com os seus sets de canas e no bolso levam apenas uma pequena caixa de jigs. E é tudo.
Vítor Ganchinho
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É de facto fantástico a diversidade de peixes que são iludidos por um jig. Eu digo com experiência que não existe nenhum peixe que consiga resistir a um jig. O desafio de capturar ou não, é que varia consoante o conhecimento sobre a técnica e o setup a usar. As douradas são sem dúvida um alvo fantástico para um pescador de jigging
ResponderEliminarEsqueci-me de colocar o meu nome no comentário. Um forte abraço e até já
EliminarLuís, eu acho que poucas espécies me restam por capturar deste lado.
EliminarDepois dos tradicionais pargos e robalos, aparecem "aliens" tão estranhos quanto os besugos, sargos, douradas, "piços", bogas, safias, abróteas, safios, carapaus, sardinhas,
cavalas, sardas, lírios, atuns sarrajões, atuns legítimos, tintureiras, garoupinhas, bodiões,
fanecas, rascassos, bicas, pampos, etc, etc....
Tudo morde os jigs, porque tudo tem interesse em comida "viva"...
Há pessoas que passam uma vida inteira sem conseguir um robalo, porque só pescam com os lingueirões e coisas dessas.
As douradas são um alvo muito interessante, porque temos muitas e porque elas mordem bem os jigs, se trabalhados como deve ser.
Gostava de trazer cá à GO Fishing em Almada o Raúl Gil, mas aconteceram coisas que o impediram. Mas vamos tê-lo cá em breve e ele vai explicar como faz para conseguir as douradas dele, .....com jig.
Nunca vi o Raúl Gil pescar com isco orgânico. Ele ganhou uma experiência a pescar com artificiais que nem quer ouvir falar em "iscos".
Abraço
Vitor
Excelente conteúdo! Parece uma pesca altamente desafiante pois as douradas com isco já por si são um peixe difícil de capturar. Que tipo de cana se adequa a tais pesos de jig? Umas canas de rockfishing? De facto os jigs se bem utilizados são outro mundo!
ResponderEliminarCumprimentos e boas festas!
Bom dia Duarte! As canas que o Raúl utiliza ( e eu também...) são canas de Light Rock Fishing, com acções muito baixas.
EliminarSe queremos pescar com jigs de baixo peso, não podemos utilizar canas preparadas para jigs pesados. Porque pura e simplesmente não funciona!
Dou-lhe um exemplo extremo, um absurdo: pode lançar um jig de 3 gramas com uma cana com uma acção 0.5-5gr. Mas não pode lançar esse jig com um "pau de vassoura", uma cana grossa, dura, porque irá cair-lhe aos pés.
O mesmo se passa com amostras muito leves. Se estamos num local baixo, com poucos metros, com águas limpas e cheio de robalos, ao lançarmos uma amostra de 28 ou 32 gramas, podemos ferrar um. Mas o segundo já não entra, porque eles desconfiam e fecham a boca. E perde a possibilidade de conseguir fazer uma caixa de robalos.
Mas se pescar com algo muito leve, discreto, uma amostra com 4 ou 5 gramas, vai tê-los a competir entre si pela sua amostra. Não pode é ser um artificial pesado, porque eles "cansam-se" muito depressa, desconfiam. E a partir desse momento, quanto mais lança mais eles se afastam.
Há uma diferença enorme entre tê-los "crentes", a procurar ser mais rápidos que os outros, e tê-los a tentar escapar da zona onde a amostra passa.
Assim sendo, uma cana com uma acção muito baixa, 1-7 no máximo, é o ideal. Ou seja, vai calhar com a mesmíssima cana com que pode fazer vinis, jigs leves, e os camarões, com uma bala de tungsténio de 7 ou 10 gramas.
Para canas com acção acima, não vale a pena tentar pescar com jigs de 5 ou 7 gramas porque vai sentir-se sempre com uma "vassoura" dura nas mãos. E não funciona porque não consegue trabalhar o jig de forma a torná-lo interessante para o peixe.
Se acha que não é possível capturar peixes grandes com jigs de 5 gramas, então convido-o a ver neste blog a captura de um pargo de 9,6 kgs.....pelo Raúl Gil, com jg de 5 gramas.
E pode ver-me a mim, com jig de 30 gramas da Zeake, a fazer um pargo capatão de 11 kgs....com PE 0.6.
É tudo uma questão de mãos e de insistir nos sítios certos, no momento certo.
Por vezes há que esperar meses pelo momento certo, porque todas estas coisas obedecem a um conjunto de condições que, quando não existem, não permitem que o peixe lá esteja.
Abraço!
VItor
Duarte, para quem não quer gastar demasiado, esta cana é o suficiente para estar equipado:
EliminarDaiwa Infeet RF 610 T
Referência: INFRF610TBF
Marca: Daiwa
Modelo: Infeet RF 610 T
Comprimento: 2,08 m
Número de elementos: 2
Desmontada: 107cm
Peso: 129 g
Passadores: 8
Potência: 1 - 5 g
EAN: 3660393243773
Custa 125 euros e faz 3 tipos diferentes de pesca.
Olá Vitor
ResponderEliminarQuais são os 3 tipos de pesca que pode fazer essa cana?
Obrigado
Toze
Sei que ainda estou proibido de comprar material, pois ainda não utilizei o que tenho 😬.
ResponderEliminarMas... é mais forte...
Abraço
Toze
Grande António Lopes : o meu amigo está a ter uma recaída de novo.
EliminarEstá mesmo proibido de comprar material de pesca!
Eu referia-me a uma cana que faz Light Rock Fishing, spinning ligeiro, e
vinis. São campos que por vezes estão tão próximos que quase se tocam.
Mas acabam por se afastar à medida que se sobem as gramagens dos artificiais.
Aquilo que é consensual é que uma boa cana deve permitir trabalhar os camarões/ vinis de pequena dimensão utilizados com a bala de tungsténio, podendo ser utilizada também
para lançar amostras leves, até uns 10 gramas, por aí, e se for o caso, lançar jigs leves,
até aos 20 gramas.
Uma cana que faz isto pode ser considerada polivalente.
Mas nada como experimentar diversas canas e escolher a que mais se adapta ao que queremos fazer.
Ou ao que podemos fazer...
Pescar ligeiro multiplica por muitos o prazer de pescar, isso sem dúvida.
Um grande abraço!
Vitor
Olá Vítor
ResponderEliminarEu sei que estou proibido e se disser ao Vítor que ainda não usei a cana e o carreto que comprei no final de 2022 :( . Até fico doente cada vez que olho para a Alpha Tackle Bullet 197MH GSS e para o carreto Tailwalk Elan SPII 64BL.
Só falei na cana porque apesar de o Vítor na altura me dizer que só me faltava uma cana para pesca ao fundo, que depois também comprei, a Daiwa Cast´IZM Feeder (EXCLUSIVO GO FISHING), igual á do Carlos Campos. Só ainda não conseguiu pescar peixes como ele ! Porque será se a cana é boa :) :) :).
Acho que não tenho nada para Light Rock Fishing, tenho para spinning ligeiro. E uma coisa que aprendi é que temos que levar sempre uns conjuntos para os tipos de pesca que podemos encontrar e "a que mais se adapta ao que queremos fazer". Neste ponto é que está a questão, por vezes ainda nem sei bem o que quero fazer, sou um aprendiz e ainda não sei ler as condições que encontro, o que me leva a não saber o que fazer.
Quando eu tiver terminado o Doutoramento, é o semirrígido na agua uma vez por semana. Tenho que recuperar o tempo perdido e aprender no mar com os conhecimentos partilhados do Vítor.
Acho que os peixes em Peniche já falam nisso :) :), para Setúbal é um pouco longe e o meu SR ao pé do Sprint é um bebe .
Abraço
Toze