JIGGING - UM DETALHE TÉCNICO CAP I

Recebi há dias um telefonema de um cliente GO Fishing que colocou uma questão algo técnica, pouco dada a um curto sim ou não, concretamente a forma como o aumento substancial da profundidade pode afectar o comportamento do jig, retirando-lhe capacidade de vibração e deslizamento lateral. E por isso mesmo, atractividade perante o predador.
Referia ele que sentia que a reacção positiva dos peixes ao trabalho do jig era mais difícil à medida que aumentava o fundo a que pescava. A facilidade com que conseguia animar o jig nas primeiras dezenas de metros, com os consequentes êxitos de ferragem, esbatia-se à medida que lançava mais e mais fundo.
Que acontece no fundo que impede o jig de ter um desempenho tão bom quanto aquele que é obtido em águas baixas? Será que é mesmo assim?
Fico sempre feliz quando estes casos surgem porque me dão a oportunidade de poder pensar sobre o assunto, trabalhar sobre ele e dar a minha opinião aqui no blog, para muito mais pessoas.
Pedi-lhe para ter a paciência de aguardar pela publicação da resposta no blog. E aqui está ela, com a vontade de que ela possa ser útil para a outros pescadores, interessados em saber mais que aquilo que se vê a partir da superfície.


As ilhas Desertas. Adorei pescar lá, um sítio mítico para pargos e lírios...


Passei por cima de factores que são importantes, o caso da acção da cana, das correntes do local de pesca, e inclusive do peso do próprio jig.
Não me espantaria que a sua dúvida se prendesse com a questão de utilizar ou não o peso de jig certo para a profundidade a que estava a pescar.
Deu-me poucos elementos de análise, e quando assim é, sem dados quase nenhuns, tudo resulta mais difícil. Porém, e pela convicção da pessoa de que era mesmo assim, que a profundidade alterava o trabalhar do seu jig, procurei centrar a atenção naquilo que poderia actuar sobre o dito.
Hoje tratamos pois de analisar em detalhe quais os tipos de forças que podem interferir com a movimentação de um jig quando lançado ao fundo, a partir de uma embarcação.

Que forças limitam e/ ou alteram o comportamento do nosso jig?

Temos a considerar uma multiplicidade de factores, os quais, no seu todo, irão contribuir para um melhor ou pior desempenho da peça a quem confiamos a tarefa de nos trazer o peixe às nossas mãos.
Vamos aqui falar de gravidade, força de impulsão, pressão hiperbárica e do efeito de cada um e de todos estes factores em conjunto, e do que muda na queda do nosso jig até ao fundo.
Em rigor, trata-se de teorizar aquilo que se passa a partir do momento em que carregamos no pick-up do nosso carreto e a linha sai arrastada pela peça de chumbo.


A força de impulsão da água mantém este veleiro à superfície, pese embora o seu peso.


A Força de Impulsão

A força de impulsão faz-se sentir sempre de baixo para cima. E esse impulso é feito exactamente na vertical, conforme decorre da Lei de Arquimedes.
Trata-se de uma força que actua no sentido contrário ao da gravidade e não, …não é um exclusivo dos líquidos, também há força de impulsão nos gases, a impulsão estática. Os pássaros sabem disso…
Em termos matemáticos, não é mais que uma relação entre a densidade do líquido, a aceleração da gravidade e a profundidade a que se considera o corpo, na circunstância o nosso jig.
É possível reduzir tudo isto a uma equação, mas não é isso que queremos fazer porque aquilo que nos interessa é pescar, e não fazer contas, porque não é isso que nos pode trazer mais ou menos peixe.
Neste caso só interessa mesmo saber qual o comportamento de um corpo sólido, um jig, quando imerso num líquido, no caso a água do mar. À primeira vista, esta dita força de impulsão até nos impediria de conseguir pescar no fundo, o jig não poderia descer.
Mas não é isso que acontece, pelo contrário.
É sabido que quanto maior for o volume do corpo mergulhado no líquido, maior será a impulsão dado que se trata de uma força exercida sobre todos os pontos do objecto.
Por azar, um jig é pequeno, todo ele é um concentrado de peso, de massa, sobre um corpo diminuto. Ou não tratássemos de chumbo, uma massa sólida muito densa, com nítida tendência para afundar.
Por defeito, sabemos que sempre que o peso é superior à força de impulsão, afunda. E se for mais leve, irá flutuar. Já temos aqui um princípio de funcionamento, só nos falta assumir que caso o valor da força de impulsão seja exactamente igual ao peso do objecto, aquilo que acontece é que este fica estático, em equilíbrio.
Resumindo: os objectos mais pesados, mais densos que a água, afundam, os mais leves ou menos densos que a água, flutuam. O nosso jig, mais denso que a água, desce e ponto final.
Até aqui é pacifico, penso.




A Força da Gravidade

Quando o nosso jig faz “figuras” na água enquanto desce, quando desliza lateralmente, quando “paira” quase imóvel, quando vibra, isso significa que naquele momento está sob forte influência de dois efeitos contrários, a gravidade e a força de impulsão.
Há um conflito de forças, a primeira será a impulsão, a segunda a gravidade. Da sua relação surgem as apreciadas figuras que o nosso jig irá fazer, quedas abruptas, pausas, paragens, deslizamentos laterais, e todo o tipo de vibrações que mais não são que causas e efeitos das forças que sobre ele actuam a cada instante. Quando refreia a sua queda é porque a impulsão o está de alguma forma a sustentar, actuando sobre toda a sua superfície plana. Quando inicia nova queda é porque, sendo a densidade do jig superior à da água salgada, de imediato a força da gravidade prevalece e “puxa-o” para baixo. E ele segue o seu caminho.
Na verdade nunca deixa de estar sob o efeito de ambas as forças, que se digladiam entre si, uma a empurrar para cima, outra a puxar para baixo.
No caso de um jig, a força de gravidade prevalece sempre, o jig afunda.




A Pressão Hiperbárica

E vamos ter de adicionar aqui uma outra força que, pese embora de resultante nula, existe e por isso não pode ser menosprezada: a pressão hiperbárica.
Esta pressão é exercida de forma uniforme sobre toda a superfície do jig, e é neutra quanto à deslocação da peça, já que é exercida por baixo, mas também por cima e dos lados, é concêntrica.
Recordo que à superfície temos 1 atmosfera de pressão, e a 50 metros temos 6 atmosferas de pressão. A 100 metros temos 11 atmosferas de pressão. É muita força aplicada sobre a nossa linha e jig.
Já sei que vai aparecer alguém das matemáticas a protestar que a conta não é exacta, que se pode ser mais afinado.
Se querem rigor eu dou: 1 bar = 10197,1621297793 Quilograma-força/metro² [kgf/m²]. Não penso que traga nada de novo ao assunto, mas se querem rigor máximo, vamos por aí.
Porque não estamos a pescar com um vinil, compressível, mas sim com um jig, em chumbo, de densidade suficientemente elevada para poder sofrer qualquer efeito de compressão, até podemos ignorar este dado.
Mas podem os peixes ignorá-lo?! Não, porque eles vivem sob esta tremenda pressão e são obrigados a ajustar os seus comportamentos de acordo com as forças presentes.
Por outras palavras, um corpo de um peixe submerso a 100 metros, com 11 bares de pressão sobre ele, não pode reagir da mesma forma que o faria se estivesse mais próximo da superfície, com menos água em cima, logo, com um “casaco” mais leve. E já estão a ver a ligação que isto pode ter com o facto de o nosso colega referir que à medida que a profundidade aumenta, as reacções dos peixes são menos decididas, menos contundentes.

Pode ele ter razão quando afirma convicto de que à medida que o seu jig afunda, a reacção dos peixes é menos boa?
Tem tudo a ver com as forças que enumerámos acima.
No próximo número vamos ver de que forma tudo isto afecta, na prática, a nossa forma de pescar, o comportamento dos nossos peixes e qual a resultante de toda esta teoria.



Vítor Ganchinho



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3 Comentários

  1. Mais um excelente artigo sobre um assunto muito interessante sem dúvida amigo Vitor. Eu sei a resposta à pergunta dele mas vou aguardar pelos restantantes capítulos para ter o prazer de ler e reflectir sobre este assunto 😃👌 Um grande abraço e já falta pouco 😁💪

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    Respostas
    1. Bom dia aí para Angola! Terra de grandes peixes e grandes oportunidades.

      Vamos ver amanhã o capítulo II com a conclusão deste artigo, e se o nosso colega de pesca comenta esta explicação.

      Espero que sim, porque do meu ponto de vista, isso seria interessante.


      Abraço
      Vitor

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  2. Vítor

    Os Artigos sempre redigidos com todo o seu rigor científico envoltos em boa disposição. Top
    Não sabia o valor certo do bar 😁
    Mas como diz o Vítor, não vai ter muita influência, pelo que li e aprendi neste excelente artigo.

    Muito obrigado
    Abraço
    Toze

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