JIGGING - UM DETALHE TÉCNICO CAP II

Deixámos no último número alguns dados definidos, conhecimentos breves sobre força de impulsão, gravidade, pressão, e hoje vamos à parte boa, vamos ver de que forma isso afecta, na prática, as nossas linhas, os peixes e a nossa forma de pescar.
Quando pescamos em mar aberto, estamos certamente afastados da costa e por isso devemos considerar alguma profundidade. Profundidade é aqui uma palavra chave, porque é ela que irá alterar as premissas de tudo aquilo que podemos fazer à superfície, nomeadamente o spinning, e não podemos fazer em baixo, no fundo, ao pescar jigging.


Espectacular costa, com cores incríveis. Fotografei esta falésia na Ilha da Madeira, num dia de pargos...


O spinning mais não é que a nossa tentativa de pescar peixes que estão situados num plano de água superior, acessível, ao qual chegamos lançando amostras por cima do meio líquido. Metade da nossa acção é passada fora de água, e aquilo que nos afecta é a força da gravidade, a qual puxa a amostra para baixo, a resistência natural do ar que impede a nossa amostra de ir mais longe, e a direcção da deslocação do vento, que, sendo contrário, nos pode prejudicar bastante.
Mas esta é uma pesca horizontal e feita muito a poder da força do nosso braço, da nossa capacidade técnica de lançamento, e por fim da qualidade do nosso próprio equipamento, cana, linha, aerodinamismo da amostra, etc.
Quando pescamos jigging, passamos de uma pesca horizontal para uma pesca vertical. E é aqui que tudo muda, porque passamos a ter outras forças envolvidas, nomeadamente a força de impulsão, a pressão hiperbárica, a pressão das correntes e a inevitável a força da gravidade. Entre outras...
Tudo isso irá alterar o posicionamento do nosso jig, e inclusive da nossa linha. Sim, da linha, que por sua vez irá fazer alterar a forma de trabalhar do nosso jig, limitando-o.
Quando pescamos, estamos bem longe de o fazer em condições de laboratório.
Se apenas tivéssemos a considerar um tanque de água, teríamos facilidade em obter uma posição de linha de pesca perfeitamente vertical. Mas não, sabemos que em mar alto teremos porventura uma corrente de superfície, influenciada pelo vento e vagas, teremos outra a meia água que corresponde ao sentido de deslocação da água, a corrente influenciada pela maré, e porventura ainda uma outra, que será a resultante da passagem da água da corrente de maré sobre eventuais objectos ou estruturas do fundo, um barco afundado, uma rocha alta, as quais promovem deflecção da corrente acima. Mudam-na de direcção, alteram-lhe o sentido, fazem-na divergir.
A questão é essa, ao pescarmos no mar não estamos a fazê-lo em condições óptimas, mas sim em condições reais, de natureza. E isso muda tudo. Nunca teremos apenas uma corrente, com um só sentido, uniforme, e isso irá roubar a possibilidade de pescarmos exactamente na vertical.


O canal entre as Desertas. A Ilha da esquerda é Reserva Natural, não pode ser pescada e por isso não fui lá. Mas é fácil pensar que os peixes circulam, porque não entendem estes espaços como uma fronteira, pelo que a quantidade de peixe de um lado é similar à do outro.


Ao lançarmos o nosso jig no mar, estamos a pescar com uma linha sujeita a uma corrente, ou várias, a ondas, ao vento, aos balanços do barco, etc. E daí, …afinal o que é que muda?!
Vejamos. Para um caso de jig suspenso de uma linha de pesca dentro de um tanque, teríamos facilidade em obter uma força de impulsão a roçar o zero, já que a linha fica suspensa na vertical, e a força de impulsão é também exercida na vertical.
Mas no mar as condições não são perfeitas!
As várias correntes que irão transversalmente actuar sobre a linha, vão retirá-la da vertical. De resto, nós podemos ver isso facilmente quando pescamos a dita “pesca vertical” e observamos a curva que a linha faz. Chamamos-lhe “seio”, ou “barriga”.
Então temos uma pesca dita vertical que afinal é uma pesca ligeiramente oblíqua!
É muito fácil perceber que pese embora o elevado peso da nossa chumbada, ainda assim há algo que nos retira a linha da vertical.
E o mesmo acontece com o nosso jig, que não passa para o efeito de um peso. Tão “peso” quanto a chumbada que colocamos na ponta da nossa montagem de pesca dita vertical. Um peso que apenas diverge da chumbada porque foi preparado com uma superfície plana, para pairar no meio líquido, para produzir efeitos. E se pensam que .." tudo desce"....estão redondamente enganados. Um milímetro de diferença já muda muita coisa e cada fabricante luta durante meses, ou anos, por conseguir um efeito melhor para este ou aquele tipo de peixe. Tudo o que se altera na configuração do jig, comprimento, largura, simetria, etc, altera a queda da peça. Mas vamos considerar que é apenas um peso, e que a nossa linha não está exactamente vertical. 
Logo, se há uma inclinação, por ligeira que seja, há força de impulsão aplicada, de baixo para cima, sobre a linha.
Para aqueles que pescam com o chamado “coeficiente de cagaço”, ou seja, com linhas grossas que nunca partem, o problema é ainda mais significativo. A força de impulsão faz-se notar mais.
Para os que pescam fino, (e os nossos peixes não exigem de facto muito), a força de impulsão quase não se faz sentir. Mas existe sempre.
Esta pressão sobre a linha faz-se notar também sobre o jig. A dada altura, a nossa peça em chumbo já não está a vibrar tão solta porque tem atrás de si uma linha que a limita, que lhe provoca um “arrasto” de algo que deixa o jig mais preso de movimentos.
E quanto mais fundo, mais correntes e mais efeitos limitantes o jig terá de vencer para continuar o seu trabalho de tentar convencer um peixe de que é uma presa viva.
De facto, tudo aquilo que fica atrás de si, e que ele é obrigado a rebocar, impede-o de se movimentar tão solto quanto o faria se estivesse bem mais acima, com muito menos linha e quilos de pressão sobre si.
Consideremos pois que o nosso jig estará “espartilhado” por forças poderosas, que o limitam na sua acção. E neste aspecto o cliente GO Fishing que colocou a questão, (ver número anterior), tem as suas razões.


Os peixes estão permanentemente sujeitos a forças de impulsão, gravidade e pressão.


Mas afinal de contas não é sempre assim? Não é dessa forma que nós sempre conseguimos ferrar os nossos peixes?! E não estarão eles, os peixes, a exemplo daquilo que acontece com os nossos jigs e linhas, sujeitos a essa mesma pressão?
Pois sim, meus amigos, esses são os dados com que contamos sempre, e por isso não há aqui nada de novo. Em rigor, os nossos jigs estão sempre sob esta pressão, verdade que mais pressão quanto mais fundo pescamos.
Mas os peixes também. Também eles estão mais esmagados pela pressão absoluta no fundo, aquela que é exercida à distância da superfície a que decidimos pescar.
Porque temos os pés assentes no barco e porque para nós nos é indiferente tudo aquilo que envolva forças presentes, muitas vezes temos tendência para ignorar que lá em baixo, a 100 metros de distância, estará um peixe que procura comer, procura morder uma presa que lhe passa por perto. E que está sujeito a uma pressão de 11 atmosferas!!
Não podemos esquecer que, pelo facto de não sentirmos nada, não devemos considerar que a pressão que se faz sentir no fundo irá mudar a percepção que o nosso alvo, um bom peixe, terá da sua própria capacidade de perseguir e morder uma presa, na circunstância o nosso jig.
Por isso aquilo que há a fazer é tentar dar tempo ao jig para trabalhar, não ser demasiado brusco, mas também considerando que um jig parado não passa de um chumbo pintado, inerte.
A movimentação, por pouca que seja, tem de estar lá, é isso que engana o predador. Mas é bom sabermos que a utilização que fazemos do jig irá determinar a quantidade de toques que iremos obter nesse dia de pesca.
Pensem em todas as limitações que o nosso peixe está a sentir, e serão mais bem sucedidos.

No próximo número vamos continuar a seguir este assunto, relacionando a pesca profunda com o trabalho do nosso jig, e o realismo de acção necessária para enganar o peixe.



Vítor Ganchinho



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