O ROBALO - ALGUNS DADOS RELATIVOS À SUA MORFOLOGIA E DESLOCAÇÃO

Sabemos que eles são grandes nadadores.
Sabemos que são eles que estão perto da rebentação quando o mar sobe.
Experiências em tanques revelaram que robalos com comprimentos entre 24 e 37 centímetros podem suportar correntes com velocidade de 80 centímetros por segundo (Pickett, 1994).
Se considerarmos que a sua potência e velocidade de natação aumentam com o tamanho e peso, fica bem claro que os robalos não se incomodam em passar alguns momentos em marés fortes e águas turbulentas.
Mas já aqui vos mostrei qual a sua tática para enfrentar estas forças da natureza: ficar num remanso, junto à corrente, e entrar para comer apenas quando vale a pena.
Eles, como qualquer outro peixe, não desperdiçam energia e são mestres em evitar as correntes mais fortes.
Mas quando entram à corrente e às ondas, fazem-no melhor que a maior parte dos outros peixes. Porquê?! Que têm os robalos a mais que muitos outros?
Esse é o tema de hoje do blog peixepelobeicinho.


É nas águas turbulentas e bem oxigenadas que o robalo se sente em casa.


São de tal forma bem sucedidos a caçar na espuma, na turbulência, nas águas fortemente oxigenadas, que estão sempre desejando que venha mar forte!
Trata-se de um peixe concebido para se movimentar em águas onde outros evitam entrar.
Todo o seu corpo é praticamente construído para desenvolver velocidade, para nadar rapidamente. De formato esguio, comprido e estreito, estes torpedos do mar entram à corrente cheios de certezas de que ali podem superiorizar-se às suas presas.
Têm tudo o que faz falta para isso: força, pujança física e coragem. Os robalos entram em zonas batidas pelas ondas confiando que o seu corpo fusiforme saberá sempre encontrar forma de sair dos problemas.
A par do seu corpo aerodinâmico, o robalo possui uma barbatana caudal muito eficaz, não demasiado bifurcada, (essas sim próprias de peixes do largo, pelágicos, peixes que nadam incessantemente) mas sim própria para grandes arranques em potência e velocidade. Para quem caça peixes miúdos na turbulência das águas, ser capaz de passar de velocidade zero para um pico de velocidade máxima em fracções de segundos, vale-lhe muita comida na boca.


A oxigenação das águas é algo que os favorece imenso. Grosso modo, é a diferença de um ser humano estar entre ar puro do mar e ar poluído de uma grande cidade.


O robalo, quando em correntes fortes, movimenta-se por movimentos oscilatórios de corpo mas sobretudo através da sua barbatana caudal.
Impulsiona-se para a frente através de sequências de três a quatro movimentos da cauda, colando ao corpo todas as outras barbatanas, para reduzir o atrito.
No momento do ataque, quando necessita de toda a sua potência e a velocidade de natação, então sim, descola todos os apêndices para conseguir estabilidade e precisão máximas e no derradeiro instante executa a sua fatal sucção.
Na verdade, é difícil a um pequeno peixe conseguir escapar a um predador como o robalo.
A velocidade que imprime (sentimo-lo quando ataca as nossas amostras, certo?!) e a potência com que desfere esse ataque são notáveis.
Desde juvenis, aprendem a executar esses movimentos, primeiro treinando a pequenos seres minúsculos, mais lentos, e a seguir chegando ao ponto de conseguir capturar peixes tão rápidos como as cavalas, os carapaus, as galeotas, biqueirão, etc.
A velocidade é desde cedo essencial no ciclo de vida do robalo. Os juvenis viajam muito, entre lagoas ou estuários rasos e águas mais profundas à medida que crescem, muitas vezes nadando contra correntes de maré muito fortes.
Nunca esqueçam que se estamos habituados a ver o robalo como um predador que ataca as nossas amostras, essa é a segunda fase da sua vida. Para chegar aí, o nosso peixe já teve de superar a primeira fase, a de defender, a de escapar a uma miríade de predadores.
O desempenho da corrida, da velocidade, pode ser crítico para a sobrevivência dos juvenis de robalo, uma vez que estão sujeitos à predação por peixes pelágicos e vários tipos de aves.
Quando atinge a maturidade, o robalo faz grandes migrações em águas abertas, vagueando entre áreas de alimentação costeiras e as áreas de desova. O desempenho sustentado e eficaz da sua natação é essencial para realizar as viagens com sucesso.
Viaja indistintamente de noite ou dia, o que significa que tem forma de se movimentar que dispensa visibilidade. Muitos peixes têm sensores que lhes permitem detectar o campo magnético da Terra. 
Será isso?
A verdade é que capturamos robalos com mais facilidade durante o período crepuscular, manhã ou noite, ou mesmo nocturno.


Com mar parado e água muito lusa, a meio do dia, não é natural que o robalo esteja encostado a terra. Em termos de caça tem poucas vantagens nisso. Devemos procurá-lo a momentos do dia em que as condições de luz sejam mínimas. 


De dados recolhidos, sobretudo em países onde se fazem marcações e seguimento de peixes por via electrónica, ficou a saber-se que os robalos podem aguentar uma velocidade média de natação durante muito tempo.
Deslocações de longa distância podem ser realizadas relativamente rápido. Em alguns casos, foram registadas viagens superiores a 1000 km, em poucos meses.
Fico com pena de não ter conseguido recolher dados deste tipo para robalos portugueses, ou que balancem entre Portugal e Espanha, mas não me foi possível descobrir nada. Estou certo de que iria enriquecer este trabalho.
É muito importante, para tentar obter uma melhor compreensão do comportamento do nosso Dicentrarchus labrax e das suas rotas de migração, dos locais para onde se dirige neste ou naquele mês, que se criem programas de marcação.
Não é difícil, basta capturar, tomar nota dos dados do animal, marcar e voltar a soltar.
Com a ajuda de pescadores lúdicos ou profissionais que entendam a importância do processo, que relatem as capturas destes robalos marcados, torna-se possível mapear os seus padrões de movimento.
Vários estudos europeus mostram que grande parte das populações de robalos permanecem mais ou menos na mesma área, deslocam-se apenas algumas dezenas de quilómetros, mas também existem robalos que o fazem de forma mais decidida e fazem centenas de km para sul ou para norte do ponto de captura.
Um bom exemplo deste último é um robalo que foi marcado em Jersey, no Canal da Mancha, a norte de França, ao largo da Normandia, em Setembro de 2000.
Dois meses depois, o mesmo peixe foi capturado na costa francesa perto de Arcachon, uma pequena cidade a cerca de 70 quilómetros a sudoeste de Bordéus.
Já visitei este lugar com um amigo francês, André Compte, e é lindíssimo. Faz-me lembrar o Estuário do Sado. Vejam no mapa, o robalo em dois meses fez do norte de França, (English Chanel), até Bordéus, ao sul (Bay of Biscay):




De Jersey à Biscaia do Sul, o robalo marcado percorreu uma distância de 1200 quilómetros!


Em França, tal como em Portugal, os estuários são pontos quentes na presença de robalos, zonas obrigatórias de visita.


Certamente haverá quem já tenha deixado amostras na boca de robalos, e passados dias, semanas ou meses, acaba por voltar a capturar esses peixes.Ou sabe que alguém que o fez.
Caso exista algum leitor que tenha elementos deste tipo, penso que seria importante partilhar com todos nós.
O meu amigo Luís Ramos envia-me regularmente de Angola filmes e fotos que mostram garoupas que rompem linhas, e são por ele de novo capturadas dias depois, com o jig na boca...
Venha daí informação, se existe.
É com algum lamento da minha parte que vejo a indiferença generalizada com que os pescadores nacionais encaram a sua participação em debates sobre pesca. Será seguramente a posição mais fácil, a de nada fazer. 
Mas, ...não me seria mais fácil também a mim utilizar o meu tempo para qualquer outra coisa?




Vítor Ganchinho



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4 Comentários

  1. Pedro Evangelista06 dezembro, 2023

    A audiência está aqui Sr. Vitor. Isto é treino para o livro.
    No meu caso nunca me aconteceu ter a certeza que recapturei o mesmo peixe, nem tampouco alguma vez pesquei um robalo com outra arte na boca.

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    1. Olá Pedro. É bom saber que está aí, desse lado.
      Deixe-me dizer-lhe que o Luis Ramos tem verdadeiros tesouros relacionados com
      a questão dos peixes que fogem, e voltam a ser capturados.
      Como sabe, ele é profissional de pesca, e por isso vai ao mar semanas inteiras. Para ele é trabalho.
      Há alguns meses, mandou-me um filme de uma garoupa que mordeu, rebentou o leader e ficou com o jig na boca. E passadas horas, o Luis voltou ao local e conseguiu ferrar de novo esse peixe. Lá estava o jig....

      É incrível!

      Eu tenho histórias dessas com safios, e com pargos.

      Porque não tenho imagens não passo aqui, mas acredite que os peixes são muito bem capazes de morder ...de novo.

      Abraço!
      Vitor



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  2. Excelente artigo como sempre! Gostaria de passar na GoFishing hoje pela tarde para comprar um material com os seus conhecimentos tanto quanto possível. Estará na loja?

    Muito obrigado e continuação,

    Duarte

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    1. Bom dia Duarte

      Infelizmente não vou poder estar. Tenho uma saída de barco com uma pessoa que pretende testar e comprar carretos eléctricos e canas, e vamos passar a tarde a fazer isso.

      Se achar que me pode dizer o que pretende, talvez possa ajudar, mesmo que via e-mail.
      Vou estar disponível até às 11.30 desta manhã, a partir daí fico sem condições de acesso a comunicações.

      A Helena Neves vai lá estar, e pode tentar ajudar.


      Obrigado pelo seu incentivo.
      Vamos ter mais coisas sobre robalos nos próximos dias.


      Abraço
      Vitor

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