APROVEITAR OS MOMENTOS DE ACTIVIDADE - CAP V

Porque os momentos de actividade não são infinitos, pelo contrário, são algo limitados no tempo, na altura em que ocorrem terão de ser por nós aproveitados à exaustão.
Isso significa ter certezas aquando da eleição dos equipamentos de pesca ideais, aqueles que permitem tirar o máximo partido da nossa condição de pescadores.
Se sabemos que o tempo de pesca será sempre limitado, (felizmente assim é ou já não haveria peixe no mar…), temos boas razões para ir directo ao assunto, utilizando a técnica indicada, no sítio certo, no momento certo.
Alguns dados podem ser estudados à luz de princípios científicos, de leis da Física, e ajudam-nos a progredir.
A questão das linhas e do seu diâmetro, o peso das chumbadas, o tamanho dos anzóis, tudo isso deve ser visto e revisto em casa, antes de...
Não se vai para a pesca empatar anzóis, ou pintar amostras. O tempo de que dispomos não dá para isso. Tudo aquilo que pode ser feito em casa, não pode nem deve ser feito no mar.
Em acção de pesca, há que dar às mãos, ser rápido de movimentos, ter uma boa técnica, porque os ciclos de alimentação são sol de pouca dura.
Não adianta querer complicar aquilo que pode e deve ser simples. A pesca, se entendida num plano de resultados máximos, é acima de tudo uma aplicação de procedimentos técnicos, de acções que se querem simples e eficazes.
É na mistura da simplicidade e do conhecimento técnico que encontramos a melhor ferramenta para conseguir fazer pescas diferenciadas.
Trata-se na verdade de ajustar as nossas acções ao que o peixe nos pode dar, nesse dia e nesse preciso momento. E há muita gente que não entende o estado transitório de cada momento de pesca.
A cada instante estamos num processo de mutação de condições, disto para aquilo, e as variantes são imensas. Aqueles que as entendem chegam mais longe, e para isso contam com a sua experiência prática, e uma biblioteca de conhecimento, de saber.


O grande Carlos Campos com um robalo interessado na sua amostra.


É verdade que pescar não tem de ser uma “pressa”. É bem verdade que podemos divertirmo-nos muito mais a ensaiar diferentes formas de pescar, a contemplar a actividade do peixe, a tentar entender de que forma as diversas espécies interagem entre si. Podemos de facto fazê-lo, e durante muito tempo, prolongando o prazer de estar no mar.
Podemos fazer tudo isso devagar, com tempo, prescindindo dos resultados.
Mas se a questão é encher uma geleira de peixe, então aí há que ser lesto de dedos, e ir directo ao assunto. E isso significa ter muita precisão naquilo que se faz, e tentar ser metódico, não cometer erros, não produzir demasiados gestos parasitas, aqueles que não produzem resultados positivos.
Posso dar-vos um exemplo simples, o qual observo recorrentemente: há quem, a pescar vertical, suba a pesca e vá de seguida preparar a isca para voltar a iscar de novo.
Esse é um trabalho que se faz durante o tempo em que a chumbada vai para o fundo, um tempo morto, não quando está em cima, no barco. Iscar rápido aumenta as possibilidades de ter a isca mais tempo no fundo, onde ela pesca.
Se pescamos spinning, sabemos que o período em que vamos ter robalos interessados na nossa amostra é curto. Podem ser minutos que não chegam a uma hora. Faz sentido nesse momento ir comer uma sandes…?
São pequenos detalhes que podem maximizar ou prejudicar irremediavelmente os resultados de pesca. Se sabemos ter um tempo limitado, as nossas acções deverão apontar no sentido de executar bem, sem falhas.


Um sargo veado feito pelo autor com um filete de…cavala.


Os nossos gestos técnicos podem incentivar ou impedir que os peixes queiram e/ ou consigam chegar às nossas amostras, aos nossos jigs. A velocidade e ritmo de recuperação de uma amostra/ jig é muito mais importante do que se julga, sobretudo em condições extremas de frio ou calor.
Há muito por aí quem não consiga entender a realidade física e biológica em que um peixe se movimenta. É-lhes indiferente.
Nem tão pouco se incomodam a pensar o que terá de ocorrer para que esse peixe queira e consiga cumprir com aquilo que tanto desejamos.
Se o conseguimos, se ele se prende num dos nossos anzóis, o assunto está decidido, o peixe vem connosco para terra. Mas se isso não acontece, pode acontecer que estejamos a fazer algo errado.
Muita coisa tem estar alinhada para um peixe decidir fazer um ataque ao nosso jig/ amostra/ isca. O antes do ataque é um estado de alerta, é uma predisposição, uma manifestação de agressividade, muito mais que uma intenção declarada de conseguir comida. Podem querer simplificar e sintetizar numa só palavra: fome.
Não basta para que um peixe morda uma amostra. A prova disso é a quantidade de peixes capturados que obviamente não têm fome.
Quantos peixes já conseguiram completamente “atulhados” de presas no estômago, e dentro da boca?!
Esses peixes não mordem por ter fome, fazem-no por instinto de caça, por estarem dentro do período certo de alimentação, o ciclo de alimentação de que tanto vos falo.
Mas acontece que é bem mais que isso, é reunir num momento preciso, exacto, uma série de condicionantes que passam por um período certo de maré, de corrente, de luz, de temperatura da água, de tamanho da presa /amostra, de velocidade de deslocação, de quantidade de luz, etc, etc. No fim, ainda temos de acertar em detalhes que se prendem com a cor, do jig, o brilho, e tudo aquilo que faz com que a nossa peça pareça viva.
Nós simplificamos muito aquilo que é um lance de pesca, porque sabemos qual o resultado final. Mas até chegarmos ao ponto em que estamos, que corresponde a equipamento de pesca topo de gama, super adaptado ao que fazemos, a uma prateleira de amostras/ jigs de todos os feitios, pesos e cores, muitas dezenas de anos foram necessários.
Valorizamos pouco aquilo que temos. Damos um enfase desmedido à procura de novas soluções, novas canas, novos carretos, linhas e sobretudo novos jigs, mas na verdade já temos muito mais que o necessário para fazermos “boa figura” ao sairmos para a pesca.
Os peixes já estão muito acessíveis, porventura demasiado, ao nível de equipamento que podemos adquirir em qualquer loja de pesca. Se sentimos que não basta, se ainda temos vontade de ter mais, isso passa muito por uma insatisfação pessoal de muita gente à qual não basta uma pescaria normal.


Há pessoas que pedem verdadeiros milagres aos peixes que pescam...


Leio nos olhos de muita gente traços de desapontamento por não conseguirem resultados.
Também é verdade que toda a gente quer chegar aos segredos demasiado cedo. Compram uma cana, um carreto, linha e uma amostra ou um jig, e dizem-se pescadores.
Às tantas temos gente super equipada mas sem saber ler o mar. Gente que vive num fogo cruzado de conceitos, de técnicas, gente perdida em brilhos e lantejoulas, em marcas de materiais e em inglesismos de “slow-jigging”, de “high pitch”, de “long fall”, sem conseguir chegar à raiz daquilo que de facto interessa.
No fim de tudo, a pesca é de uma simplicidade absurda: dar o que alguém quer... quando quer.


Pescar muito não é uma questão de ficar muito tempo no mar, mas sim de aproveitar bem os momentos certos, em que o peixe está a alimentar-se.


Ninguém quer perder tempo, ninguém quer preparar-se, devagar, para desvendar um a um os muitos e infinitos segredos da pesca. E no entanto, eles são como folhas de uma rosa, à qual retiramos pétala a pétala, uma a uma, sabendo que no fim não teremos mais que nada. No fim não há nada. É o caminho que conta, a aquisição de conhecimento.
É isso que nos leva ao mar, o interesse em saber mais um pouco. Penso que a pesca não deve ser vista como um destino, mas sim como um caminho.
Na verdade, não pescamos, vamos... pescando.
Parece-me óbvio que no fim, no destino, estaremos demasiado velhos para utilizar tudo aquilo que aprendemos. Ensinar sim, sempre.
Por isso partilho convosco algo daquilo que os meus olhos veem no mar.



Vítor Ganchinho



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