EM CASA DO PAI DO SLOW-JIGGING - CAP I

Conforme vos tinha prometido, aqui estou eu a contar-vos da experiência de estar um dia em casa de alguém que é sobejamente conhecido para dispensar mais apresentações: Norihiro Satoh sensei. 

Quando falamos de slow-jigging é difícil não confundir o termo com o nome desta pessoa, porque são a mesma coisa. O senhor Satoh deu vida a esta técnica e continua a trabalhar todos os dias para a melhorar. 

Teve a amabilidade de me convidar e aos meus companheiros de viagem, os meus colegas Pedro Rosa, Carlos Campos e a Helena, e passámos um dia absolutamente incrível de descobertas, de novidades, de revelações. 

Poder acompanhar o raciocínio ágil de Norihiro Satoh é um privilégio raro, e deve ser aproveitado ao máximo. Procurei abrir os olhos e trazer de lá o máximo de informação para todos vós. Sim, porque o momento não era meu, era de todos aqueles que leem o blog, e têm interesse em saber mais. Éramos todos nós a entrar na casa de uma das pessoas mais importantes do mundo na área da pesca à linha. Eventualmente a mais marcante das últimas décadas em termos de pesca com artificiais. 

E valeu a pena! 


Fomos recebidos pelo casal Satoh de braços abertos, com um sorriso largo nas faces. Eles gostaram de nós e sentimos isso desde o primeiro momento. 


Cumprido o ritual de descalçar os sapatos à porta de casa, tradição japonesa “oblige”, a senhora Shoko Satoh ofereceu-nos uns chinelos que nos acompanharam durante toda a visita. 

Não achei estranho haver umas dúzias de canas e carretos à entrada da porta, porque a feira tinha acabado no dia anterior. Pensei para comigo que ainda não tivera tempo de arrumar as coisas. Como estava enganado! 

Em cada uma das divisões havia centenas de carretos de jigging espalhados, num caos que só poderia indiciar um descontrole absoluto por parte de alguém, visto numa perspectiva normal de comportamento. 

Mas aquilo era a casa de Norihiro Satoh, não era uma casa normal. Atrevi-me a dizer aos anfitriões que, vendendo aquele espólio, poderiam facilmente comprar o Palácio de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos em Portugal e ainda sobravam uns trocos para adquirir o Palácio de Versailles. Riram da minha ideia. 

  



Posso tentar explicar-vos como aquilo aconteceu: as marcas sabem que algumas pessoas podem influenciar outras a comprar os seus equipamentos. E gente da Shimano sabe disso e as pessoas da Evergreen sabem disso. 

Passe o exagero, enviam-lhe quantidades que o senhor Satoh nunca poderá utilizar em vida. 

A sua esposa confidenciou-me que, caso o falecimento dele ocorre-se antes, não saberia o que fazer a tanto material. 

Quando marcas como a Shimano entregam a Satoh sensei duas dezenas de uma determinada referencia de carreto, aquilo que esperam da sua parte é que ele teste e tente encontrar defeitos. 

Nessa perspectiva, oferecer uma vintena de carretos de 600 euros cada pode ser um bom investimento. Ele elabora os relatórios com o seu parecer e a seguir a Shimano passa à produção do material em fábrica. 

Com as canas idem, sendo que aí até é ele que decide dos elementos de fabrico, mais disto e menos daquilo, mais curto ou mais longo, este ou aquele diâmetro. Mais ou menos nervo. 

E chegamos a uma insanidade absoluta de stock numa casa particular. Garanto-vos que nenhuma loja no mundo tem sequer metade daquele tipo de equipamento em stock. 



Os milhares de quilómetros de linhas traçadas e fluorocarbonos de que dispõe em casa dariam para equipar todos os pescadores do nosso país. E gasta-os sem parcimónia porque quando quiser mais basta-lhe ...pedir mais. 

Faz testes a tudo e por isso mesmo tem a casa fornecida com o melhor que se fabrica. Testa no mar e aperfeiçoa em casa. Elabora relatórios e recebe mais material, fabricado de acordo com as alterações exigidas.

Este tipo de pessoas está tão à frente que mesmo sem querer acaba por influenciar fábricas e utilizadores, por parametrizar novos standards. Um pouco como a pessoa que um dia inventou um I-phone, e mudou o mundo. 

Hoje, numa época em que todos utilizamos telemóveis com a maior das naturalidades, temos alguma dificuldade em acreditar que eu um dia não houve este gadget. Se hoje temos o mundo na palma da nossa mão, e podemos fazer tudo com ele, houve um dia em que não existiam telemóveis e alguém teve de os sonhar. 

Em relação ao slow-jigging, passou-se o mesmo, um visionário lançou a ideia e a partir daí parece que tudo é natural, que sempre se pescou assim. Não é verdade.

A pessoa que se chegou à frente foi o Sr Norihiro Satoh. Antes dele ninguém fazia slow-jigging. 

Alguns dos carretos que “armazena” em casa são a primeira unidade produzida, o número de série…1. Os fabricantes enviam-lhe as primeiras unidades para sua prévia aprovação.


Disse-me que os nylons são mais resistentes ao nó, mas muito menos o são à fricção. Aí o fluorocarbono leva uma vantagem tremenda, não parte facilmente. 

Isso nós sabemos por experiência própria, mas faltava a opinião de um especialista. É preciso fazer um parêntesis aqui: a pessoa em questão tem um contacto directo, diário, com muitos fabricantes de linhas. 

Por isso consegue intuir do seu potencial, das suas forças e fraquezas. 

As fábricas de linhas mandam-lhe caixas de bobinas carregadas com as suas melhores produções, para que ele utilize e comente. E pagam-lhe para que a sua apreciação seja benevolente, mas eu sei que ele não é permeável a influências. Sob pena de ser inútil ter o nome que tem. 

Estava feita a promessa: “Vitor, vou ensinar-te a cuidar dos teus fluorocarbonos, a dar-lhes vida. Vais poder pescar com diâmetros que são metade do que usas agora”, dizia ele. 

E percebi a mensagem. Desafiou-me a fazer o meu nó habitual para ligar o fluorocarbono ao jig. Optei na circunstância por um nó palomar, por ser rápido de fazer e eficaz. Riu-se. 

Pegou na linha com a mão e rebentou-a com facilidade. A seguir, “rejuvenesceu” a linha, esticando-a à sua maneira. E eu senti que estava bem mais forte. Para a rebentar ele já não o tentou fazer com as mãos nuas, utilizou um alicate. 



Percebi parte da intenção: ao retirar parte da elasticidade à linha tornou-a mais dura, deu-lhe vida. Ficou algo por explicar, ainda assim. 

Satoh sensei não tem explicação para aquilo que acontece, mas sabe que a linha fica diferente. E eu confirmo que sim, mas também não consigo explicar. E não vou desistir enquanto o não conseguir. 

Vou mostrar-vos como ele faz no próximo workshop da GO Fishing em Almada mas não me peçam ainda para vos explicar a razão pela qual a linha fica mais resistente. Mas eu vou saber, não tenham dúvidas.


Eu estava com as minhas resistências em baixo, devido a um jet-lag de 9 horas. Não dormia há cinco dias...
Mas valeu a pena o sacrifício!

Vamos dar conta de algo mais no próximo número do blog, continuem atentos. 



Vítor Ganchinho


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