EM CASA DO PAI DO SLOW-JIGGING - CAP II

Quando se forma uma equipa de pessoas para uma viagem tão extenuante quanto ir ao outro lado do mundo, devem-se medir todos os prós e contras. 
A verdade é que são oito dias de convivência mútua permanente e é bom que passemos as dificuldades junto de pessoas que nos dizem algo, que são verdadeiramente nossos amigos. 
Algo de que não abdico nestas saídas é de um espírito de grupo forte, de solidariedade permanente e também de boa disposição. Bem dispostos, estamos mais e melhor preparados para enfrentar as dificuldades que sempre surgem. Vejam um exemplo: depois de uma extenuante viagem de 13 horas, e já com o aeroporto de Kansai/ Osaka à vista, azar dos Távoras, o Carlos lembrou-se que deixou a aliança dele em cima da mesa do snack bar onde tomou o pequeno-almoço, em Amsterdão. 
Isso motivaria um inevitável e arreliador retorno para trás, e mais 13+13 horas de voo, não fora o facto de ele nem usar aliança. 
Hoje trago-vos a continuidade da grande aventura que é estar em casa de Norihiro Satoh sensei, uma tremenda experiência de vida. 
Vamos ver mais detalhes que me parecem curiosos...

São horas e horas de aeroportos, de mostra passaporte e tira cinto, mas no fim vale a pena.

Perguntou-me qual a razão de eu e a maior parte das pessoas europeias pescarmos com carretos de manivela esquerda. 
É uma pergunta pertinente à qual eu não sei responder. Ocorre-me que tenha a ver com a área dominante do meu cérebro encarregue pela sensibilidade de mãos. 
Pediu-me para me fazer um teste de sensibilidade ao qual acedi de imediato. 
Trouxe uma pinça pontiaguda, e começou a picar-me a pele dos dedos. Primeiro a mão direita, a seguir a esquerda. 
Em determinados pontos eu sentia as duas pontas da pinça, noutros apenas uma delas. Pese embora estivesse a ver com os meus olhos que eram duas as pontas que pressionavam a pele, apenas sentia uma. 
Sou esquerdo, disse ele. Para mim, o que está certo é um carreto com manivela à esquerda. 
E se Satoh sensei o diz ….

Os testes de sensibilidade são rápidos de fazer e muito seguros em termos de conclusões.

A questão que se coloca tem a ver com a sensibilidade necessária para poder escutar o carreto, e a sua linha. 
Muitos peixes tocam apenas ao de leve no jig, e se formos “duros” de mãos não os vamos sentir. 
Relembro que o slow-jigging é uma técnica que se baseia em sensibilidade, não em força. 
Estima-se que apenas 10% da população mundial seja esquerdina. 
Um outro teste ainda mais fácil de determinar qual a mão com mais sensibilidade é tentar descascar uma tangerina. 
Foi buscar tangerinas para todos e pediu-nos que lhes retirássemos a casca. Os seus olhos observavam cada um dos nossos movimentos. 
Por fim, disse a cada um de nós qual a sua impressão. A mão que tem menos sensibilidade segura a tangerina, a outra, mais sensível, trabalha a casca. 
Não é por acaso que realizamos tarefas com uma ou outra mão…e se pensarmos sobre o assunto acabamos por encontrar respostas curiosas. 
Um pouco como pegar numa tesoura e tentar cortar um papel. Fazemo-lo com a mão que nos dá “mais jeito” e isso depende do hemisfério cerebral de cada um. 

Ele pega na tangerina com a mão esquerda e descasca com a mão direita. É destro e por isso precisa de uma manivela de carreto à direita.

Mostrei-lhe o tipo de peixes que pescamos nas nossas águas. Foi fazer um assiste que, na sua opinião, seria o mais indicado para a a nossa pesca. Pegou nele e ofereceu-o ao Carlos.
Tenho a certeza de que fez do meu amigo Carlos Campos um homem feliz.
O tamanho do coração de mestre Satoh sensei não cabe no mundo.
A paciência que revela, o carinho e precisão que põe em tudo o que faz é evidente, salta à vista em cada gesto.
Há pessoas que nascem para ajudar os outros. Que mudam vidas.


Vítor Ganchinho


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