NÃO SE ACEITAM FAVORES... NEM GORJETAS

A estatura moral de um povo mede-se pelos seus actos, por aquilo que faz, não por aquilo que diz.
Vou contar-vos um episódio passado comigo e com o Pedro Rosa, o Carlos Campos e a minha mulher: no centro de Osaka onde fomos almoçar, chamámos um táxi.
Trata-se de um serviço desempenhado sobretudo por pessoas de uma certa idade, e a pessoa que nos conduziu de volta ao hotel não fugia à regra.
A dada altura, o nosso condutor seguiu as indicações do GPS e virou num cruzamento para tomar uma rua que dava para o nosso hotel.
Infelizmente tratava-se de um erro do sistema e logo de imediato ouvimos o apito de um polícia.
Ao encostarmos, o agente dirigiu-se ao taxista e disse-lhe que aquilo era uma manobra não permitida por lei.
A afabilidade com que o disse era tanta que todos nós, excepto o taxista, pensámos tratar-se de um simples ralhete. Algo do género: “tem de ter mais cuidado, vá lá daqui mas pense que podia ter acontecido um acidente com outro carro”.
Erro crasso o nosso, o taxista puxou de imediato da sua carta. A multa começou a ser passada, e iria ter de ser paga.

As pessoas que veem com máscara estarão meio engripadas, dadas as baixas temperaturas que se fazem sentir. Utilizam-nas não por si, mas pela consideração que os outros lhes merecem, pelo seu forte sentido cívico. Para não propagarem infecções respiratórias.

Resignado, mas a perceber que tinha cometido uma infração, o pobre homem apenas nos pedia desculpa.
Eu, por entender que a vida de condutor profissional é algo mal pago, pedi ao Pedro, que seguia no banco da frente, para questionar sobre o valor da multa. Algo como 6.000 ienes, uns 50 euros.
Ao passar o montante para pagar a corrida de táxi, passei também mais aquele valor.

Ao perceber a intenção, de imediato o taxista recusou a oferta, esticando os dois braços e empurrando as notas de forma firme e decidida. Não iria mesmo aceitar.
Senti nos olhos dele que havia algo em jogo mais forte que o dinheiro que provavelmente não iria conseguir recuperar nesse dia de trabalho.
Recusou a minha ajuda, e seguiu o seu caminho, à procura de mais clientes, despedindo-se de nós com respeito.
Aquilo que me ficou na retina foi a educação mas também a firmeza com que recusou receber dinheiro das minhas mãos.
Se pensarmos que essa pessoa tinha a certeza absoluta que nunca mais veria aqueles europeus desconhecidos, nós, e que teria de passar a seguir mais uma dezena de horas a conduzir no trânsito para recuperar o prejuízo, podemos concluir que a admissão de um erro e a necessidade de pagar por ele foram mais fortes que a vontade de aproveitar a benesse que lhe chegava de forma fácil.
Quanta dignidade!

As mãos que empurraram as notas para trás, num gesto de firme intenção de preservar a sua honra, são as mesmas que, noutro país, noutras latitudes, iriam pegar nas notas e desaparecer de vista.
Percebem porque aprendi a admirar e respeitar o povo japonês? Os exemplos são seguidos, nós deparamos com casos destes a cada instante!
Deixar uma gorjeta num restaurante é muito mal recebido, já que se entende que há um valor a pagar e isso é tudo.
A cultura daquela gente é muito pouco latina, acreditem, e não será por acaso que as pessoas que vivem no país do sol nascente são conhecidas por praticar hara -kiri: se se tratar de manter intacta a sua honra eles não hesitam, estão sempre dispostos a sacrificar… a sua vida!


Vítor Ganchinho


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2 Comentários

  1. Olá Vitor

    Assim teríamos um mundo muito melhor. Temos que ir mudando a nossa mentalidade latina a pouco e pouco.

    Muito obrigado
    Abraço Toze

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    Respostas
    1. Tozé, aquela gente tem anos de avanço em relação às práticas ocidentais.
      Para eles, deixar uma gorjeta em cima da mesa é uma ofensa.
      Eles apresentam uma conta e é isso que pretendem receber.
      Há países onde a gorjeta é obrigatória, vem incluída na conta....


      Diferentes formas de ver o mundo.

      Abraço
      Vitor

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