OS NOSSOS PESCADORES: BOA GENTE!!

Somos muitos.
Com mais ou menos técnica, melhor ou pior equipamento, a verdade é que os homens e mulheres que pescam em Portugal são muitos e têm boas razões para sorrir: sabem fazer parte de uma equipa de muitos milhares de adeptos.
Mas nada é perfeito e algumas nuvens negras surgem no horizonte da pesca nacional. Na verdade, a sociedade civil não olha propriamente os pescadores lúdicos com bons olhos.
Trata-se de uma actividade apenas tolerada, da qual se sabe muito pouco para além dos clichés do costume: “é gente estranha, gente que passa o tempo a olhar para a ponta de uma cana e no fim sai, se sair, uma bota velha”…
A pesca à linha é, na sua verdadeira essência, uma actividade muito menos conhecida do que aquilo que os próprios pescadores julgam.
Talvez por isso mesmo, por ser pouco conhecida, sofre de estigmas por parte da população em geral, não facilmente ultrapassáveis tendo em conta a exiguidade de divulgação de que goza nos media.
Os programas sobre pesca lúdica não abundam, os canais generalistas de TV dedicam-lhe meia dúzia de minutos por ano, na rádio não passa, e os jornais apenas procuram as notícias sensacionalistas, os extremos. Ou nada publicam.
Digamos que tem pouco interesse para o cidadão comum que um homem coma um robalo, porque aquilo que vende é o oposto, um robalo que come um homem.

O tempo de espera pela vez na grua de descida é aproveitado para os últimos preparativos de pesca.

Também em termos de imagem ambiental, a modalidade poderia conhecer melhores dias.
A franja de pescadores conhecidos são aqueles que pescam em lugares públicos, onde o peixe é escasso, e por norma de tamanho reduzido. Isso dá aso a situações limite, de capturas abaixo dos tamanhos mínimos legais, e pescas de …fundo de balde.
A imagem dos pescadores não é a melhor junto da opinião pública e isso, se não tem muito a ver com os pescadores mais consagrados, (os que pescam de terra, mas em lugares mais remotos, e por isso longe dos olhares dos transeuntes, ou aqueles que pescam de barco e por isso o fazem longe da costa) tem muito a ver com os excessos cometidos por quem é apenas principiante, e por isso mesmo está a aprender a dar os primeiros passos.
São os primeiros peixes, os quais vão sempre para o balde porque nunca são pequenos demais, são as desferragens mal sucedidas que resultam num mar de sangue, é a imagem de um pequeno peixe morto ou estropiado a secar no chão, etc, etc.
A pesca não poderia deixar de reflectir o tecido social em que vivemos. Umas pessoas melhores que outras, mais urbanas, mais capazes de viver em sociedade, e outras com comportamentos menos civilizados. Normalmente somos julgados pelos actos daqueles que representam o patamar mais baixo, e nunca por aqueles que são exemplares, os que sabem estar, os que configuram aquilo que todos os pescadores deveriam ser. Não, aquilo que fica na retina de todos os “civis” é precisamente o “bas-fond”, a versão ruim da nossa classe.

A saída é sempre um motivo de esperança, de grande expectativa.

Nunca foi tão importante como hoje preservar uma boa imagem junto da opinião pública.
As questões ambientais fazem cada vez mais sentido, e já sabemos que se alguém experimenta, gosta e acha divertido pescar, espalha a mensagem por meia dúzia de amigos.
Por outro lado, uma pessoa mal intencionada, que assista a uma deprimente performance de pesca, fica chocada e pode espalhar a informação por milhares de outras pessoas, nas redes sociais.
Aquilo que é negativo propaga-se de forma viral, e ao que parece, tem muito mais audiência que um acto de coragem, uma boa acção. O escândalo sobrepõem-se a qualquer tipo de acto solidário.
Passando por cima disto que foi referido anteriormente, há um clã, uma fileira de pessoas que não se incomoda de se levantar cedo, que enfrenta as condições de tempo mais adversas, e sai ao mar.
E são eles e elas, gente sénior mas também muita gente nova, os que representam o grosso da coluna dos pescadores nacionais, aqueles que já passaram para o outro lado da dúvida do gostar ou não gostar, os que avançam de frente para o vento, para as ondas, e não temem as adversidades. Esses sim, são um património precioso, do qual nos podemos orgulhar.
São gente boa, gente amiga do seu amigo, gente que faz o que pode para agradar. O sentido de entreajuda, quer em terra quer no mar, é permanente e a boa disposição uma constante.
Vão vê-los à saída dos nossos portos.

É deixar passar, que quem vai pescar tem pressa!...

Por definição, quem pesca é gente feliz por poder fazer algo de que gosta.
Esperam pacientemente pelo fim de semana para sair ao mar, para dar azo aos seus anseios de liberdade, de ar puro, de confraternização.
Porquê proibir estas pessoas de pescar?
Se vozes se levantam no sentido de declarar a pesca lúdica como algo pernicioso, se nos corredores de Bruxelas se ouvem vozes que reclamam das consequências ambientais deste tipo de actividade, acaso alguém já verificou o que estas pessoas realmente pescam? Têm mesmo ideia dos resultados médios de um dia de pesca?
Sem querer desculpar ninguém, até porque há verdadeiros crimes ambientais a serem cometidos por pescadores de linha, diria que fossem as nossas preocupações os quilos de peixe pescados por esta fileira. Aquilo que se vê fazer por traineiras e embarcações de cerco é, isso sim, de bradar aos céus. A pesca profissional, a coberto da sua importância e sentido de classe, pesca o que deve e não deve, sem sentir remorsos nem amargura. E os exemplos estão à vista, basta ir a um mercado de peixe e ver o desplante e descaramento de exemplares expostos para venda.


No caso da gente da pesca lúdica, serão sempre mais as vozes que as nozes, os peixes são cada vez mais espertos, mais difíceis, e os resultados mais e mais minguados.
Se o peixe é curto, estica-se para que fique grande, os que fugiram são sempre gigantescos, as linhas, mesmo as mais fortes, não aguentam a carga das suas arrancadas, e no fim fica tudo na paz do Senhor.
Não são os peixes pescados por estas pessoas que matam o mar. Será tudo junto, mas se queremos cortar, que se comece por uma ponta do novelo que tenha verdadeira dimensão, que seja significativa.
A maior parte das pessoas pesca mesmo muito pouco.
Quem sabe disso são aqueles que ficam por terra e não perdem pitada do que se passa, porque fazem horas e horas a “pesquisar” as latas e geleiras do peixe que chega. Esses sim, sabem dos resultados de todos porque entre a vaidade do “pesquei muito” e a vergonha do “não pesquei nada”, estará a medida certa.
É gente boa, e repito, de que nos podemos orgulhar, porque é gente com alma, com honra, e amiga. Da parte destas pessoas podemos esperar solidariedade, compreensão, gestos nobres.
De manhã bem cedo estarão mais sensíveis... convém ter isso em atenção. No meio da azáfama dos preparativos de mais um dia de pesca, a única coisa que não toleram é que alguém se intrometa na sua vez de descer o barco. Isso nunca!
E não é que há quem tente “passar a perna”, ainda assim?
As discussões são mais acaloradas, as juras de vingança são eternas, mas tudo passa em segundos, assim que o barco assenta na água e sai à doca.
O que eles querem mesmo é sair, é seguir na direcção dos pesqueiros, é lançar as linhas.


A homenagem de hoje é para todos os que estão neste imenso barco que é a pesca lúdica nacional.
Para os que pescam e para os que não pescam, para os que saem ao mar e para aqueles que ficam pela muralha, à espera da chegada dos outros.
Um grande bem-haja para todos eles!


Vítor Ganchinho


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