ROBALOS - OS PRIMEIROS ATAQUES, ANTES DA SAÍDA DEFINITIVA DAS ÁGUAS FRIAS

Por vezes detectamos robalos a passar junto de nós, quer quando praticamos spinning a partir de terra quer quando navegamos no nosso barco.
Trata-se de um peixe discreto, pouco dado a aproximações, pouco dado a “socializar” com humanos. É difícil, sobretudo de barco, estar perto dele e não provocar o seu afastamento, ou retracção, leia-se afundamento.
A partir daí, podemos lançar as nossas amostras mas raramente isso resulta numa captura fácil, previsível. Pelo contrário, quase sempre ver e ser visto quer dizer um robalo perdido ou de captura muito mais difícil.
Não resulta muito evidente o espaço que temos para poder interagir com o robalo, antes de ele decidir ir embora. Ou fechar a boca, o que na circunstância vai dar ao mesmo.
Por vezes detectamo-los na coluna de água, ou encostados a um remanso da corrente, parecem-nos calmos, e de repente, arrancam esbaforidos sem olhar para trás. Outras vezes, lançamos amostras para perto deles, e ignoram-nas uma e outra vez, dedicando-lhes uma indiferença olímpica que nos desespera. Até que ponto nos toleram? Até que ponto aceitam que façamos parte do seu mundo?
A maior parte das pessoas nunca experimentou a sensação de os tentar “caçar”, em vez de os pescar. Falo-vos de detectar os peixes e ser capaz de os motivar a atacar um artificial. Esse é trabalho para quem os conhece muito bem, e é bem mais fácil de executar quando temos os pés assentes em terra, escondidos, dissimulados com algum objecto ou estrutura, ou num plano bem mais elevado.
Como pescamos então os robalos? Como fazemos para conseguir alguns dos poucos que se deixam ver?
Na maioria das vezes, lançamos para onde julgamos ser possível estar um peixe, e deixamos à sorte, ao acaso, saber está ou não disposto a morder a nossa amostra. Um pouco...”ao calhas”.
Este é o figurino mais comum, sendo que há alturas do ano em que isso resulta na perfeição, outras nem tanto. Haverá alguns meses bem mais profícuos que outros, é verdade que sim. Sabemos que são peixes de "luas", que tanto podem ser fáceis a morder tudo, ou difíceis a não morder nada. 
Há condições de mar (quando batido e com espuma) mais favoráveis, profundidades e tipos de fundos em que reagem melhor aos nossos artificiais e até temperaturas de água mais indicadas. E momentos do dia bem melhores que outros.
Quer então isto dizer que haverá horas do dia em que eles estão mais receptivos a morder as nossas amostras?
Sim, independentemente da época do ano, todos sabemos que pescar robalos -sobretudo em zonas muito pressionadas por pescadores- resulta bem melhor ao nascer do sol ou no ocaso deste, períodos com menos luz disponível. Aqui, o factor determinante é o nível de luz ambiente. 
A meio do dia, com o sol bem alto no horizonte, (tirando os momentos de Primavera, em que as águas ainda estão frias, e só há alguma actividade durante as horas mais quentes), aquilo que estamos a fazer é apenas um mero exercício físico de lançar e recolher amostras. Ocasionalmente sai um robalo…mas não há um padrão garantido de continuidade.

Uns dias bem fáceis e absolutamente agressivos, outros dias aparentemente impossíveis...


Não vale a pena tentar enganar ninguém: os peixes estão difíceis, a pressão é muita e cada vez eles sabem mais sobre aquilo que fazemos para os enganar. Parece que quase nunca querem comer…
Quando alguém sai de casa para ir à pesca, das duas uma: ou se trata de uma pessoa que apenas pretende passar algum tempo junto ao mar, e aí é-lhe quase indiferente o resultado obtido, ou é alguém que tem em mente fazer uma pescaria mais séria, visando peixes com tamanho e peso. E sendo o caso, os detalhes contam. 
Um deles e bastante importante, é o acertar da nossa chegada com o início do ciclo alimentar do peixe.
Todos nós queremos que coincida com o momento em que chegamos perto da água, mas …por azar quem faz esse momento são eles, não somos nós. E por isso mesmo …nem sempre coincide.
Temos vindo a abordar questões relacionadas com os motivos que levam os robalos a iniciar e terminar os seus ciclos de actividade, e, não sendo possível controlar sempre todas as variantes, temos já uma ideia base de como ocorrem. Falamos de marés, de quantidade de luz, e época do ano.

Efectivamente, há uma linha de comportamento padrão, a qual altera ao longo do ano, e oscila entre a convicta caça nocturna dos meses quentes, em fundos baixos, e a rara e curta procura de alimento nos meses frios, a profundidades mais significativas.
As razões pelas quais os nossos peixes obedecem a este tipo de comportamento devem-se sobretudo à imperiosa necessidade de comer, sim, mas tendo em conta o conforto físico e a necessidade de garantir segurança.
No período que atravessamos, com águas ainda frias, com os peixes já libertos da fase de desova mas ainda em fundos significativos, as picadas obtidas são algo raras, mesmo nas melhores marés.
Este é tempo para os robalos se protegerem da inclemência do tempo, das águas frias, e por isso estão ainda fundos, mais que aquilo que acontecerá no próximo mês, em que irão subir em definitivo e começar a procurar alimento em abundância.
Neste momento há valores mais altos que se levantam, e a sua preocupação ainda é poupar reservas energéticas. Já os comecei a pescar em fundos na ordem dos 50 a 60 metros, o que indicia uma clara subida relativamente aos dois meses anteriores.
Ao longo do ano, vão-se sucedendo as mudanças, quer dos locais de caça do robalo quer das suas estratégias de caça, e se queremos resultados teremos de nos adaptar a elas.
Neste momento, o tempo de conseguir os robalos matutinos de Verão ainda não aconteceu, por chegar estão os momentos de glória em que nos iremos levantar da cama bem cedo para ir à praia lançar e ter alguma certeza de obter meia dúzia de toques.
De momento isso não acontece, ou pelo menos com a frequência desejada. Pescá-los com regularidade, de forma sistemática, ainda é difícil, mas já faltou mais, há apenas que esperar mais algumas semanas.
Esta é a fase do ano mais ingrata, aquela em que teremos de colocar mais pontos de interrogação quanto ao êxito da pescaria. E onde estão agora os robalos? Estarão longe da costa?
Nem por isso. Encontramo-los já em águas relativamente baixas, dentro dos rios, pois são peixes que apostam tudo em ficar aí, nas maternidades de alevins. Mas também aparecem em águas costeiras, a não mais de quatro ou cinco dezenas de metros de fundo. Já estão a subir, estão agora no momento de regresso aos pontos onde podem conseguir alimento com mais facilidade, os baixios.
Mas nesta altura do ano ainda muito poucos irão reagir "de certeza" à passagem de uma amostra, os seus ciclos de alimentação são curtos, e basta-lhes conseguir um peixe com algum peso, leia-se uma cavala, um carapau, uma boga, e o dia alimentar acaba aí. Comem, mas poucas vezes, eventualmente uma vez apenas ao longo de todo um dia.

Este é um incrível peixe, que permanentemente nos enche de …dúvidas,

Tudo tem o seu tempo.
As larvas já eclodiram, e farão o seu percurso de entrada nos rios e ribeiros, onde irão começar o seu ciclo de vida alimentando-se de minúsculos vermes e crustáceos.
Os progenitores estarão a meio caminho entre um merecido repouso, em águas profundas, empurrados por temperaturas cada vez mais baixas, e a paulatina subida aos postos de caça de Verão, às águas quentes que se adivinham. São exactamente as temperaturas das águas aquilo que regula o relógio biológico deste tremendo peixe.
Em rigor, dependem sempre das condições meteorológicas para decidir o que vão fazer a seguir. 
Se são os frios de Inverno, as geadas, aquilo que motiva a debandada dos peixes para longe da costa, para os fundões onde não chegamos de terra, são também os primeiros raios solares primaveris aquilo que os chama de volta.
Teremos sempre limitações e felizmente que sim, ou já não haveria robalos. Eles enfrentam diariamente problemas que quase sempre nos passam despercebidos.
Se no Verão é o aquecimento da água provocado pelo sol, (e a consequente diminuição dos teores de oxigénio disponíveis), o grande responsável por grandes períodos do dia em que a actividade é quase nula, de Inverno essa questão não se coloca, há muita agitação marítima, mas o frio não dá tréguas, quer de dia quer de noite. As geadas nocturnas obrigam o peixe a afundar, ou não fossem eles seres de sangue frio, seres cuja temperatura corporal é a mesma do meio que os circunda.
De uma forma ou de outra, estaremos sempre limitados em algo.
Sobram-nos como tempos mais certos os momentos de Primavera e Outono, em que as limitações atmosféricas quase não interferem sobre o padrão de comportamento do robalo, e em que, com alguma certeza, podemos disfrutar de bons momentos de pesca.
De alguma forma, o Verão, que poderia ser um período de abundância de oportunidades, acaba por ser prejudicado por factores que não podemos controlar.
O aumento do número de barcos na água, a maior quantidade de pessoas que se dedicam à pesca, mesmo sem resultados evidentes, o aquecimento excessivo das águas, as horas a que os robalos estão mais predispostos a comer, etc.
Se pescamos preferencialmente em praias, logo em fundos mais baixos, sabemos que o peixe que temos disponível no plano de água é o peixe que ainda resta encostado, depois de uma noite inteira a caçar. Irá sair assim que as condições de segurança o exigirem.
Em certos locais, e sobretudo praias, há ainda a considerar que o avançar do dia irá trazer os (in)desejados turistas, com tudo o que isso implica de ruídos, de agitação, e impossibilidade física de pescar.
Raramente encontraremos as condições de pesca ideais, logo mais vale lançarmos mão de recursos suficientes para enfrentarmos as adversidades com algumas possibilidades de sucesso.
Estar bem equipado, com um número de amostras suficiente, vários tamanhos, pesos, cores, modelos, pode ajudar.
Não abusar do diâmetro da linha monofilamento pode ajudar bastante. Se pretendemos lançar longe, não o poderemos fazer com linhas cuja resistência máxima ultrapassa em muito o peso/força expectável para os peixes que vamos conseguir.

O sol e sempre ele, a comandar a nossa vida e a de todos os seres vivos que nos rodeiam. O nosso pequeno planeta é totalmente dependente dele para manter a existência de vida.

Também o facto de pescarmos em locais muito massacrados não ajuda.
Assim sendo, resta-nos escolher locais mais remotos, ou optar por uma saída de pesca rápida, coisa de uma a duas horas, e preferencialmente às horas certas da maré. Teremos de ser nós, e não peixe, a adaptarmo-nos, ir ao encontro deles.
É sempre importante, e mais ainda no Verão, procurar zonas onde a agitação marítima seja constante, e por isso mais oxigenadas. A possibilidade de respirar sem limitações é muito importante para o nosso robalo, e isso eles conseguem em pontas de pedra, correntes com remoinhos bem marcados, paredes de rocha expostas à ondulação. Não esqueçam que ventos de terra alisam a superfície do mar, pelo que são de privilegiar dias em que o vento nos surge de frente, vindo do mar. É esse vento que vai dar aso a ressaca, a mar batido.
Se houver, zonas com sombras serão sempre melhores que locais com exposição directa ao sol. Um predador tira sempre partido da invisibilidade, do sigilo, para lançar os seus ataques.


Então onde vamos lançar?
Independentemente de estarmos a pé ou embarcados, se tivermos pontos de referência visuais de actividade de peixe, tanto melhor.
Devemos estar muito atentos a pequenos detalhes, como pequenos círculos formados à superfície, pássaros marinhos esvoaçando em círculos, eventualmente cardumes de pequenos peixes perto da linha de água.
Se pescamos embarcados, a nossa vida fica facilitada, podemos tentar aqui e ali, procurar muito, tentar encontrar o peixe. Se a nossa condição é de pescadores apeados, somos forçados a acertar no nosso palpite, ou a pescaria irá resultar num zero redondo.
Por princípio geral, devemos tentar pescar em zonas pouco exploradas, e quase sempre elas coincidem com locais menos acessíveis. Ainda assim, há que ter em conta a excessiva pressão de pesca que sofrem os nossos peixes, em qualquer ponto do nosso país.
Haverá zonas menos massacradas, mas desengane-se quem sonhar com mar virgem, nunca pescado. Tudo já foi pescado.
E aí, as técnicas individuais de pesca podem fazer a diferença, os equipamentos ajudam, e saber um pouco mais pode fazer a diferença.
Se temos mar revolto, com águas tapadas, com pouca visibilidade, amostras maiores, com sinalizador acústico, leia-se rattling, podem ser úteis, pois dão ao peixe uma referência de onde procurar. A importância que lhe atribuo é a de sobrepor ao ruído de pedras, areias e ressaca de ondas algo que faça o predador fixar a sua atenção.
Em mar parado, sem muita agitação, amostras pesadas podem estragar-nos a pescaria, deitar por terra as nossas ténues esperanças de conseguirmos alguns peixes.
Amostras mais pequenas, menos ruidosas, de preferência sem pala frontal, permitem mais toques. Nunca esqueçam que uma amostra grande e pesada pode capturar um peixe, mas nunca irá dar-nos muitos peixes no mesmo local.
Ser discreto, trabalhar o peixe tentando não espantar os outros, começa na escolha da amostra. Num mesmo local, começar por pescar a superfície e não o fundo dá-nos duas pescas, e não só uma.
Em zonas com boas concentrações de robalos, ter demasiada pressa pode ser contraproducente. Discrição e saber fazer valem peixes.
Em dias de vento de superfície frio, e quando eles não aceitam subir para morder nas nossas amostras, quando parece nada haver a fazer, há pelo menos uma cartada que pode ser jogada: mudar a amostra para um conceito diferente, o vinil.
Nesses dias resulta bem melhor mudar para uma amostra macia, a qual emite um tipo de vibração muito atractivo e por isso desencadeia numerosos ataques. Eu pesco frequentemente com vinis e por isso sei que são eles os responsáveis por alguns dos meus melhores dias. Estou mesmo convicto de que, por acção da nossa recuperação ritmada, o atrito produzido na água pode emitir sons que entram na frequência baixa do ultrassom, e que é isso que os deixa desvairados.
Vejo-os mudar de direcção e seguir direitos ao vinil sem qualquer hesitação, e isso diz-me que algo se passa para além do contacto visual...
Ter um vinil a trabalhar na água e não fazer ruídos que nos possam denunciar ajuda muito. Deixá-los concentrarem-se no nosso artificial, sem desconfianças, é meio caminho andado para provocar um ataque.
Bem sei que a cada pescador corresponde uma opinião, mas há elementos que são consensuais: fazer ruídos na borda da pedra, ou no convés do barco, não ajuda em nada.
Saibamos ser discretos, aproveitando o pouco robalo que já possa haver por aí.


Vítor Ganchinho


😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.

Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال