Conheço muito poucas pessoas que verdadeiramente atribuam a importância certa às dimensões e formato do anzol. E deviam meditar sobre o assunto, já que isso irá influenciar decisivamente a sua prestação de pesca no seu dia a dia.
Na maior parte dos casos, as pessoas nem têm espírito crítico, vão por aquilo que ouvem dizer, ou escolhem um entre muitos e fixam-se naquele modelo.
Sempre que um peixe se vai, atribuem isso a um estafado “os peixes hoje estão a morder mal”...
Deviam atribuir mais importância a estas pequenas peças.
No fundo, o anzol é um equipamento fundamental, absolutamente necessário. Sem o anzol, as possibilidades de pescarmos um peixe reduzem drasticamente. Podemos até dizer que desaparecem.
Existem milhares de variações de formatos e medidas de anzóis de pesca, cada uma delas com um determinado peixe em vista.
Há formatos que apelam ao contacto rápido, e esses são anzóis de ponta mais direita, que privilegiam o primeiro toque, (situações em que o peixe dificilmente voltará a contactar a amostra ou jig), indicados para situações de pesca com artificiais. E há anzóis que se situam no extremo oposto, ou seja, que pré-definem uma presença demorada dentro da boca do peixe. É o caso dos anzóis de ponta circular para pescar com isca orgânica, morta ou viva, em que o objectivo é fazer com que o anzol engate numa das comissuras da boca do peixe, conseguindo assim uma zona macia onde o anzol pode espetar.
Para os mais distraídos lembro que há peixes que têm um aparelho bucal de tal forma agreste (nossas douradas por exemplo...) que o mais certo é que o anzol possa ser rechaçado ou não chegue mesmo a espetar. Mas nas laterais da boca, aí sim, penetra sempre.
Os anzóis circulares não ferem o peixe ao contacto, não o picam, e com isso, ganha-se tempo para que o próprio peixe os engula, misturados com o isco que lhes é lançado. Muitas pescas a grandes peixes são feitas com este tipo de anzol, nomeadamente o marlin, o atum, o tubarão, aqui já numa perspectiva de captura e solta. Sempre que o trabalho de remoção do anzol pode implicar perigo iminente para o pescador, é aceitável que o anzol de ponta circular seja cortado ao nível da linha. Lembro que este tipo de anzol fica sempre espetado na comissura da boca, nas junções dos dois maxilares, e assim sendo não influencia negativamente a vida do peixe afectado, até que a peça metálica se desfaça por corrosão.
Este é um outro aspecto que deveria ser objecto de meditação por parte dos pescadores: deveria ser obrigatório por lei que os anzóis utilizados em pesca lúdica fossem sempre susceptíveis de enferrujar após demorado contacto com água salgada. A fabricação de anzóis inteiramente inoxidáveis é um erro, pois esses anzóis permanecem quase ad-eternum na boca do peixe que escapa, limitando a sua vida posterior durante meses.
Não são necessários anzóis inoxidáveis, a utilização de um anzol, um consumível barato, deve restringir-se a um só dia de pesca.
Em formato simples, com saída direita, curva, etc, podemos facilmente verificar que existem tantas variedades de anzóis que seria impossível enumerá-los sem recorrer a um extenso livro. Porque este artigo já vai longo, deixem-me apenas chamar a atenção para este detalhe que me parece a mim de extrema importância: anzóis rápidos e anzóis lentos.
Para os praticantes de spinning, é importante que o peixe fique preso ao menor contacto. Para os que fazem jigging, idem.
Dificilmente terão mais que uma oportunidade de pesca ao mesmo peixe, e quantas vezes esse peixe único seria afinal o peixe do dia. Assim sendo, a utilização de anzóis rápidos impõe-se.
É de tal forma que se assume a utilização de anzóis triplos, no fundo uma junção de três anzóis soldados em torno de um eixo, e que mais não são que a vontade de “proteger” a amostra do ataque de um predador, seja qual for o ângulo desse contacto.
Porém, nem sempre o peixe que se pesca é fácil de convencer, e, tendo tamanho e força, pode obrigar a uma luta prolongada. E aqui temos o primeiro contratempo: as fateixas são normalmente feitas a pensar em combates rápidos, e que o peixe é facilmente rebocado a terra, ou ao barco. Fateixas rápidas fazem sentido se pescamos robalos, um peixe que se fatiga muito depressa, mas não fazem sentido nenhum quando se trata de pescar atuns de grande porte a spinning, com combates garantidamente longos.
E porquê? Qual a razão de haver diferenças entre peixes quando tratamos de fateixas?
É que há anzóis feitos para “ferrar” e anzóis feitos para “reter” o peixe.
Os fabricantes de anzóis para amostras procuram fazê-los com um bico quase recto, para que estes espetem até à barbela assim que o peixe lhes bate. |
Os anzóis pensados para pescas de curta duração podem ser fabricados com pontas quase direitas, a espetar ao menor contacto.
Como vimos acima, esses dão prioridade absoluta ao mais leve toque da boca do peixe. Mantendo a tensão na linha, e porque o combate é curto, as probabilidades de sucesso são muitas.
A pesca do robalo é um bom exemplo disto.
Anzóis preparados para combates longos são feitos a pensar em retenção do anzol na boca do peixe, e por isso recorrem a uma curvatura mais pronunciada.
São anzóis que ferram menos bem, mas, depois de o conseguirmos, as nossas possibilidades de manter o combate com o peixe são bastante superiores.
Nas fotos abaixo podem ver mais facilmente a diferença entre anzois de retenção, (keep), e contacto rápido (speed):
Vamos no próximo número ver casos concretos de anzóis correntemente utilizados entre nós, e um outro detalhe: o lado da colocação da linha…
Dentro ou fora da haste?...
Vítor Ganchinho
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