Na gruta Sakitari, no sul da ilha de Okinawa, Japão, foram encontrados anzóis com 23.000 anos. Na Papua Nova-Guiné, foram encontrados anzóis com 18.000 anos de produção.
Nessa altura, tal como hoje, o foco era o mesmo: que o anzol fosse capaz de trazer o peixe até ao pescador.
Não deixa de ser estranho que as pessoas se preocupem tanto com as canas, os carretos, as linhas, e deixem os anzóis em segundo plano, como se não fossem um dos mais importantes componentes do nosso conjunto de pesca. Afinal de contas, são eles a última peça, a que prende o peixe, a que o impede de ir embora.
A maior parte das pessoas assobia para o ar e faz de conta que não lhes atribui muita importância, mas isso decorre da dificuldade que sentem em ser precisos e exactos na sua escolha.
O anzol é uma daquelas peças, a exemplo das canas, que vale mesmo a pena comprar presencialmente, numa loja física.
Dificilmente se acerta, por catálogo.
Tudo se complica por, contrariamente ao que se passa com uma linha ou um carreto, ser tão difícil visualizar na perfeição aquilo que é um anzol, o seu formato e dimensões, quando presente num site de uma loja on-line, ou num catálogo virtual.
Mais complicado ainda é perceber que não existem padrões reconhecidos internacionalmente para anzóis e, por isso mesmo, os tamanhos sejam tão inconsistentes entre os diversos fabricantes.
Para descompor ainda mais o assunto, podemos comprar a mesma peça, feita pelo mesmo fabricante, mas com referências diferentes de designação e até de tamanho, entre diferentes distribuidores.
Não faz sentido! Imaginem que alguém numa qualquer vila ou aldeia japonesa fabrica anzóis, e faz disso a sua profissão. As marcas requisitam esses anzóis em quantidades industriais, a granel, pagos à tonelada, e enviam-nos para outro ponto, para embalagem. Cada uma delas atribui a sua própria informação, o seu design de embalagem e ….o seu número de série e tamanho. Para a Daiwa é tamanho 1/0, e para a Gamakatsu é tamanho 2/0. A mesma peça….feita pela mesma fábrica.
Não há um padrão oficial definido, nenhuma norma rígida a ser seguida.
Afinal, como é que funciona esta questão dos anzóis?!....
Os tamanhos dos anzóis geralmente são referidos por um sistema de numeração que coloca o anzol tamanho 1 no meio da faixa de tamanhos possíveis.
Anzóis menores são referenciados por números inteiros crescentes (por exemplo, 1, 2, 3... sendo o número maior sinónimo de anzol mais pequeno. Um anzol 3 é menor que um anzol 2, entenda-se.
Anzóis maiores que o tamanho 1 são referidos como de tamanho superior aumentando números inteiros seguidos por um "/" e um "0" (ou seja, tamanhos acima de zero), por exemplo, 1/0 (lido como "um zero"), 2/0, 3/ 0....etc.
Neste caso, os anzóis 1/0 são de menor tamanho que os 2/0, pois a escala é progressiva. O menor tamanho disponível é o 32, um pequeníssimo anzol mosca, e o maior é o 20/0, um gigantesco anzol para monstros.
Os números representam tamanhos relativos, normalmente associados à distância da ponta até a haste, e não são sequer vinculativos de uma determinada marca. Conforme dito acima, podemos ter exactamente o mesmo producto, feito pela mesma fábrica, com várias marcas e até designações de tamanhos diferentes. E preços muito diferentes, já que cada um dos vendedores irá imputar às peças vendidas os seus diferenciados custos.
Não deixa de ser curioso ver depois, a jusante da cadeia de distribuição, a luta travada por cada marca para enaltecer o seu producto, para o guindar ao primeiro lugar de vendas.
E não menos curioso, reparar como os pescadores preferem esta marca a qualquer outra. Para o mesmo producto…
A ponta é provavelmente a parte mais importante do anzol, pois é ela que deve penetrar na carne do peixe para que o anzol tenha qualquer tipo de ancoragem, de fixação.
Tanto o perfil da ponta do anzol quanto o seu ângulo de penetração influenciam o quão bem ou mal a ponta perfurará o tecido muscular, o osso, ou apenas a pele do peixe.
As pontas dos anzóis são afiadas mecanicamente (rectificadas) e/ou, de forma mais comum, quimicamente.
Porque o primeiro contacto pode ser o último, exige-se a um anzol que seja muito afiado, e consiga manter esse afiamento, após alguns peixes.
Podemos ter diferentes modelos de pontas, consoante o fabricante e a finalidade a que se destinam. |
A maioria dos anzóis modernos são farpados, com uma ponta saliente para trás (ou seja, farpa ou barbela) que ajuda a fixar o anzol, o qual prende a carne em redor, permitindo a tracção do peixe à superfície.
A barbela é importante já que trabalha como travão, impedindo que a ponta deslize para fora do local de penetração.
Como a farpa aumenta a área transversal de trabalho da ponta do anzol, ela afeta negativamente o quão longe a ponta pode penetrar sob o efeito da força que exercemos com a nossa cana.
Isso acontece especialmente ao ter de perfurar tecidos ou zonas ósseas mais duras. Todavia, devemos reconhecer capacidade ao anzol para agarrar o peixe por si só, mesmo sem barbela.
Há mesmo anzóis que são deliberadamente fabricados sem barbela, porque, para uma secção mais reduzida, o poder de penetração deles aumenta significativamente.
Posso dizer-vos que em determinadas latitudes, e a determinados peixes, a primeira coisa a fazer nos anzóis convencionais, com barbela, é limar esta.
Isso pode acontecer por dois motivos: ou porque se dá prioridade absoluta à ferragem, quando se pesca sem necessidade de penetração profunda, a pequenos peixes, ou quando, por razões ambientais e ecológicas, se pretende pescar mas sempre com libertação do peixe. É o caso dos GT´S gigantes, tubarões, etc, cuja luta é de tal forma violenta que não dão aso a momentos de menor tensão. E porque evidentemente se tratam de peixes para voltar a soltar, sem interesse culinário. Assume-se que algum possa ir embora, mas reduz-se o tempo de desferragem, e preza-se o conforto e bom estado do peixe, após libertação.
Em pescas cujo primeiro contacto depende do peixe e podemos não ter segunda oportunidade, ferrar bem à primeira é fundamental. |
Afinal, com ou sem barbela?!
Historicamente, os anzóis antigos eram todos sem barbela. Não peçam a povos primitivos que detenham tecnologia para trabalhar mais que a ponta dos seus anzóis.
Hoje apenas se utilizam sem barbela quando a intenção é facilitar a remoção mais rápida do anzol e tornar a captura e soltura menos prejudicial para os peixes.
A desvantagem dos anzóis sem farpa é que, como ela não existe para ajudar a garantir a fixação profunda da ponta, o anzol é teoricamente mais suscetível à desferragem.
Pode acontecer que se consigam percentagens significativas de peixes não desferrados caso a penetração do anzol seja mantida com uma tensão de linha constante.
Há correntes de opinião que advogam que a ausência de barbela ajuda a uma penetração mais profunda nos tecidos do peixe e que com isso se conseguirá uma colocação mais profunda do anzol.
Tal facto compensaria a ausência de barbela. São opiniões…
Em geral, a presença da barbela interessa, e ponto final.
Vamos voltar a este tema no próximo número. Fica ainda muita coisa por dizer...
Vítor Ganchinho
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