“Na Terra dos Sonhos tu podes ser quem tu és. Ninguém te leva a mal”…
Grande Jorge Palma!…
Todos sonhamos um dia ser… Luís Ramos.
Estou convicto de que haverá quem pense que pescar em Angola são... ”favas contadas”.
Sonhar é fácil, mas pescar monstros está bem longe de o ser.
Da minha experiência pessoal, o que posso dizer a essa gente que sonha facilidades é que estão muito longe de ter qualquer pingo de razão.
Penso que o mais correcto será dizermos: nem é fácil nem é impossível.
O Luís mostra-nos todos os dias que é possível, mas desenganem-se todos aqueles que acham que basta lançar um jig para o fundo…
Se há quem minimize os seus feitos por achar que numa zona de pesca daquelas faria igual ou melhor, também haverá quem tenha a seriedade e o discernimento de pensar que não pode ser normal pescar tantos peixes grandes, todos os dias. Não pode ser normal!
Haverá dias melhores que outros, sim, mas nunca é fácil, ele tem muitos dias ruins em que pode chegar a meio sem um único peixe “pontuável” a merecer ficar no porão da frente.
A seguir reage, encontra o peixe, define o padrão de zona, profundidade e comportamento para esse dia, e a partir daí é fazer aquilo a que ele chama de “trabalho” e que qualquer um de nós chamaria de …”loucura”.
Mostro-vos aquilo que ele faz:
É isto o que ele faz….pesca grossa profissional. A jig... |
Para quem está do outro lado da pesca, para pessoas que lançam uma linha de uma muralha e esperam indefinidamente, para quem vai para a praia e lança uma minhoca enquanto lê o jornal, este nível de capturas deve ser muito estranho.
De resto para pessoas que não dominam os segredos da pesca, tudo é estranho. Nada disto faz sentido.
Um pouco como observar fenómenos eléctricos, ver os raios e a electricidade estática, sem saber o que é. Ficamos maravilhados com o efeito, com as luzes, os brilhos, os clarões, mas não sabemos o que fazer com tudo aquilo. Até ao dia em que aprendemos a fazer, a canalizar a electricidade através de cabos e ligamos televisões e frigoríficos e conseguimos ler à luz de uma lâmpada. E passamos a comunicar através de email, escovar os dentes com uma escova eléctrica, a utilizar um secador de cabelo.
Não têm fim as coisas que somos capazes de fazer, apenas pelo facto de conhecermos e conseguirmos controlar a electricidade. Com a pesca é igual!
Antes de mais precisamos de conhecer os peixes, os seus hábitos, as suas limitações, tomar consciência do fenómeno da pesca e a seguir… aprender a controlar.
Ficamos de boca aberta a observar os mágicos que o sabem fazer, pessoas como o Luís Ramos e o senhor Satoh, os predestinados que conseguem fazer pesca como quem manipula electricidade.
É minha convicção de que só somos capazes de pescar os peixes quando já os conhecemos muito bem. Quando os assumimos enquanto seres com vontade própria mas entendemos bem o seu comportamento e actuamos sobre ele. Ao falarmos de uma pessoa como o Luís Ramos, a ideia que nós fica é sobretudo a de alguém que controla na perfeição aquilo que faz.
Se todos começamos do zero, alguns de nós são mais rápidos a chegar ao topo. Muitas vezes é uma questão de sabermos estar atentos.
Um homem inteligente produz muito mais oportunidades na vida que aquelas que encontra. Faz com que aconteçam, que nasçam, inventa-as por si mesmo.
Por isso ele não ficou colado a Portugal e decidiu sair para onde poderia viver da sua paixão, a pesca. Há efectivamente muito peixe na zona onde trabalha, mas se pensam que é peixe fácil, estão redondamente enganados.
Ele pesca muito mas outros a seu lado, nos mesmos locais, pescam pouco. Há muitos pescadores em Benguela cujas arcas com gelo chegam a terra com um ou dois peixes dentro. Não é só uma questão de…sítio.
Há que ter mãos, muito boas mãos. Se acham que basta ir onde ele vai e a caixa de peixe fica cheia, digo-vos que não é assim. Se querem uma imagem fidedigna daquilo que se passa é algo como isto: há pessoas que lançam uma bola ao ar e conseguem controlar a sua subida, o tempo de descida e acabam por ser capazes de a agarrar antes de cair ao chão.
Dizem-se malabaristas. Fazem isso com um a bola e no limite talvez consigam fazê-lo com duas bolas.
O Luís lança uma dúzia de bolas ao ar e controla umas quantas com as mãos, algumas com os ombros e ainda outras com os olhos. No fim, nenhuma bola cai ao chão…
Eu vejo-o manobrar o barco, a sonda, o GPS, a cana, o jig, a corrente, o vento, e no fim sobra-lhe tempo para me ajudar.
Pergunta-me ele enquanto faz tudo o resto e sobe mais um peixe: “ Vítor, vai uma sandes”?...
O Luís não teme bater-se com qualquer pessoa que pesque a seu lado. Estará sempre num patamar muito acima, e por isso exibe aquele ar sereno, descansado, calmo, enquanto se diverte a ver os esforços de quem o desafia, de quem desfila técnicas e sonhos à sua frente.
Nunca será batido por qualquer das suas “visitas”, porque está a jogar em casa, conhece como ninguém os terrenos que pisa, sabe aquilo que é preciso fazer para ter sucesso. Vive de o ter todos os dias.
Há apenas uma pessoa que o pode vencer, alguém que pode ser melhor que Luís Ramos: ele próprio.
Terá dias mais inspirados que outros, e num dia de grande motivação pode ser uma tremenda máquina de puxar peixe para cima.
Não será fácil encontrar razões interiores para se sujeitar todos os dias a um trabalho que é um absurdo de violência física e enorme desgaste emocional. Mas ele faz aquilo a rir-se, com um sorriso nos lábios.
Eu não queria ser peixe num dia em que ele esteja irritado com o …”serviço “.
Um lírio, a jig. |
Por mim vejo-o como uma pessoa capaz de se auto motivar, de lutar duro pelos seus objetivos, de sair para o mar à procura de algo que só ele sabe bem o que é.
Um pouco como os equilibristas que se atrevem a desafiar as alturas ao caminhar sobre um arame fino. Sabem bem que a primeira falha é a última e se uns se agarram à vida equilibrando-se com uma vara comprida, ele prefere uma cana Zenaq nas mãos.
Pesca de acordo com o guião de um filme que só passa na sua cabeça. Vai onde sente que tem de ir e quem está ao lado não entende as suas razões.
A área a pescar é imensa, as profundidades variam muito e podem ultrapassar os 200 metros.
Deve haver pelo menos um mapa mental, um plano. Digo que deve existir porque ele segue uma linha muito precisa, como se houvesse um traço muito marcado na água, bem na proa do seu barco. Mas que só ele vê e entende.
O final não é imprevisível, nada tem de Hitchcock. Pelo contrário, é até bem previsível: ao fim do dia, como na ponta do arco íris, há sempre uma caixa cheia de peixe.
Pese a falta de surpresa, ainda assim para quem assiste ao desenrolar de um dia de pesca com ele não deixa de ser espectacular.
Por razões que apenas alguns de vós entenderão não publico fotos com o resultado final de um dia de pesca. Da minha parte não terão uma “foto de família”, por razões que se prendem com o necessário recato e reserva que a imagem da pesca à linha deve saber manter. Posso ainda assim dizer-vos que é assustador!...
No próximo número vou dizer-vos aquilo que um pescador normal, eu, pode fazer naquelas águas.
Vítor Ganchinho
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Magnifica descrição do que é ir ao Lobito e pescar ao lado desse menino!
ResponderEliminarSem duvida um dos melhores pescadores do Mundo.
Obrigado pela sua partilha
Emanuel Fernandes
Olá Emanuel Fernandes! Ao lado do Luis qualquer um se sente pescador.
EliminarEle prepara tudo de forma a que nós só temos de lançar o jig e recolher linha com o peixe na ponta.
Tenho com o Luis Ramos conversas muito interessantes sobre pesca e técnicas de pesca. Ele não é bom apenas a pescar, a executar, é também muito bom a entender o fenómeno da pesca no seu global.
Não imaginam aquilo que aprendo com ele, e o quanto considero os seus conselhos. Sabe muito ...sobre muita coisa.
Poderão alguns dos nossos pescadores desvalorizar aquilo que é a sua experiência no terreno, o seu conhecimento, o seu saber. Provavelmente essas pessoas podem julgar ser simples atingir aquele nível de eficácia, mas digo-vos que não é assim.
Entre pares, por todo o mundo, todos respeitam o seu nome.
Fosse o Luís um estrangeiro e diríamos dele que era um predestinado, alguém que nasceu para ser pescador. Como é português, muito nosso, temos tendência para pensar que aquilo que faz é normal.
Não é.
Ele nasceu pescador, os peixes correm-lhe nas veias respira mar, inspira comedia, como você diz e muito bem não é normal é o Super Luis.
ResponderEliminarQuem pensar o contrário está completamente enganado.
Emanuel
Há pessoas que não valorizam aquilo que é nosso.
EliminarE da mesma forma que não valorizam os resultados do Luís, também não valorizam o facto de Portugal ter excelentes pescadores nas mais diversas técnicas.
De resto não se valoriza nada que seja feito por outros, a ideia que me fica é que
há dificuldade em aceitar que alguém possa fazer algo. Até escrever.
Um destes dias irei dizer algo sobre as pessoas que colocam apreciações negativas naquilo que eu escrevo. Fazem-no sempre a coberto do anonimato, obviamente.
É uma lástima que assim seja.
As redes sociais estão cheias de gente desta, gente que não faz e não gosta que os outros façam....
Vou voltar ao tema um destes dias.
Abraço
Vitor