MAR DE MONSTROS - CAP V - GAROUPA GRANDE!

Alguns de vós, sobretudo os mais próximos e que pescam comigo regularmente, recordam-se de eu ter perdido uma garoupa muito grande o ano passado, em Angola, por rotura de linha. Era um monstro!
E monstruosa foi a decepção que sofri. Os peixes grandes deixam muito mais marcas negativas que as namoradas que perdemos, porque peixes bons não há muitos.
Aquele peixe mordeu o jig, deu uma cabeçada para baixo e com isso dobrou-me os joelhos. Eu só pensava se teria força suficiente para continuar a segurar a cana nas mãos. Digo-vos que a pressão era brutal!
Os motivos pelos quais a linha cedeu foram escalpelizados, entendidos, e ficou a promessa de uma futura tentativa, marcada para Março deste ano. Desistir nunca, até porque eu tinha a firme convicção de que seria capaz de concretizar uma captura daquele nível.
A questão é que nunca é fácil encontrar peixes grandes, nunca sabemos se e quando vamos ter uma nova oportunidade. Em geral, o peixe é cada vez mais escasso, e por isso teremos cada vez menos possibilidades, mesmo ali, em Benguela.
Mas eu estava motivado e preparado procurar muito, para sofrer, dias e dias se preciso fosse. O objectivo era declaradamente um peixe grande e esses, por definição, são sempre difíceis.

Um peixe destes marca uma vida. Obrigado Luís!

Não precisamos de peixes fáceis. O que empresta dignidade e excelência a um lance de pesca é precisamente a enorme dificuldade em conseguir encontrar e pescar um peixe raro.
E, já se sabe, nunca são os fáceis que nos interessam, são os outros.
Os que mais nos ensinam são precisamente os que nos escapam, acreditem. É com eles que aprendemos a como não fazer.
Depois de cometermos erros, de perdermos peixes, jigs, linhas... passamos a saber mais, embora fiquemos com insónias para uma semana.
Se em Portugal eu já deixei ir embora mais pargos bons que vezes passou na TV o “Sozinho em casa” e sempre enchi o peito de ar e nunca desisti, não seria agora que iria deixar cair os braços.
Por vezes as coisas correm mal por culpa nossa, outras nem tanto, são apenas as circunstâncias que não ajudam. Foi aquele caso em 2023. Mas dê um passo em frente aquele que nunca perdeu um peixe por aselhice própria, por deixar que o coração bata mais que o devido.

As falhas acontecem aos melhores e não são mais do que o resultado de uma actividade tão aleatória quanto o ataque a uma peça metálica por parte de um predador.
Podemos controlar parte (apenas parte) daquilo que acontece depois de o peixe estar preso, mas até aí, o antes de contacto, tudo depende apenas dele.
Um ataque bem sucedido, uma ferragem boa, em equipamento bom, significa quase sempre uma recolha pacífica. Mas por vezes o peixe crava mal, o anzol entra por uma pele fina, uma zona de cartilagem, ou nem entra, se encontra osso forte, e a seguir a violência do combate ou o peso do animal, ou a força aplicada, podem fazer com que algo de ruim ocorra. E o peixe sai…
Aquilo que está nas nossas mãos é zelar pela qualidade dos equipamentos, e por uma boa aplicação da técnica de pesca. Mais que isso é querer ir demasiado longe, é pretender transformar o acto de pesca em procedimentos mecânicos e programados, e isso já não é só pesca. 
Gosto assim, sentir o coração bater do princípio ao fim. Por vezes ganhamos e outras perdemos. Um pouco de sorte ajuda, porque a fronteira entre o sim e o não é muitas vezes fina como uma folha de papel. 

O jig utilizado foi um Namu 185 gramas. São feitos à mão, absolutamente perfeitos, e dado que a produção é muito escassa, bastante difíceis de conseguir. Os assistes foram feitos por mim, com anzóis japoneses da marca Suteki.

E era isso que procurava, um momento de melhor sorte. Ali estava eu de novo, em Benguela, preparado física e mentalmente para um novo e duro combate.
Contar com o apoio do Luís Ramos já é meio caminho andado para ter sucesso. Para quem segue a sua carreira de pescador profissional, resulta fácil perceber que a quantidade de êxitos supera em muito aquilo que é normal. Não que ele não tenha de se esforçar, e por vezes muito, para encontrar peixes. Nem sempre as coisas acontecem, pese o seu empenhamento.
Para aqueles que não sabem, ele tem um “roteiro” de pontos GPS marcados que me faz lembrar as campas dos cemitérios: a cada momento estamos a passar sobre um sítio com uma cruz onde ele já fez qualquer coisa.
Seguir uma linha sobre o seu mapa é passar sobre um cenário de guerra onde já aconteceram muitas “baixas”, é percorrer caminhos pejados de lápides com sucessivos “aqui jaz uma garoupa”...

Estes jigs têm linhas incríveis. Este convenceu uma garoupa bonita.

Os dias estavam difíceis, a instabilidade de tempo retivera-o em terra por cinco dias, sem o deixar sair ao mar. E, por sua vontade, no meu primeiro dia de pesca deu-se ao sacrifício supremo: ir comigo à pesca, sem sequer montar a sua cana.
Passou todo o dia a espreitar os seus locais favoritos, os seus melhores spots, a procurar horas e horas, para que eu conseguisse um bom peixe. Fez tudo por isso!
Muito sinceramente não me senti propriamente confortável, porque ninguém merece passar por tamanha provação. Estou seguro de que ele queria e precisava de pescar, até porque essa é a sua vida profissional.
Se atendermos ao seu estatuto enquanto pescador, ter o Luís de meu “barqueiro” faz tanto sentido quanto eu sentar-me no cockpit de um Fórmula 1 e ter o Max Verstappen na box a apertar e desapertar porcas para a minha mudança de pneus.
E se eu rolava a uns decepcionantes 80 km/h, (e até sabia que o estava a fazer porque o jigging pesado não é de todo o meu estilo de pesca), da boca dele saiu sempre um: “estás a ir muito bem, mantém o ritmo, não saias da pista”…
Quanto sacrifício, para que eu pudesse concretizar os meus sonhos!
E aconteceu. Uma garoupa de bom porte apareceu e foi ao jig no local onde o Luís achava que podia estar. Não foi sorte. Ele logo a seguir fez o mesmo numa zona de corvinas e mais tarde uma outra vez, com uma garoupa preta.
Ele sabe onde os bichos estão. Mora ali com eles…

Deixo-vos o filme:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

O filme já explica muito do que se passou, dispensa mais comentários.

Mero dentão de 29.180 kgs, um peixe de respeito para fazer com um jig. Não imaginam a força que este peixe tem...

Quando o peixe chega à superfície é o descarregar de muita adrenalina, muitas dúvidas e incertezas. É o podermos finalmente respirar fundo, porque do princípio ao fim do lance muita coisa pode correr mal.
É também o momento de pensarmos nos nossos amigos, naqueles que gostaríamos de ter a nosso lado a partilhar estes momentos.
A alegria é indescritível. Admito que a satisfação que sentimos seja proporcional aos anos que esperámos pela oportunidade de travar um combate destes.
Digo-vos que, no fim, fiquei na dúvida se seria eu quem estava mais satisfeito. 
O Luís trabalhou arduamente toda a manhã para me dar esta possibilidade. Sei que ele ficou muito feliz por mim, (mesmo muito feliz!), por eu finalmente ter conseguido este ansiado peixe. O que ele lutou por isso!
O mérito desta captura é obviamente todo dele!



Vítor Ganchinho


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5 Comentários

  1. Luis Ramos30 abril, 2024

    E conseguimos fazer os peixes que queria no primeiro dia de mar 😁👌 Para mim foi mesmo uma alegria e felizmente correu tudo bem. Os meus parabéns e seiq ue foi a primeira de muitas e ainda maiores 😃💪💪

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    1. A minha garoupa deu que fazer mas subiu. Nem imagino o que seja bater o record de Angola mas só de pensar que são mais 41 kgs em cima disto....

      Às tantas vou precisar de uma fisioterapeuta loira para massajar os braços e costas a meio da subida do bicho.


      O ano que vem vou tentar bater este peso.


      Grande abraço
      Vitor

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  2. Pedro Evangelista30 abril, 2024

    Já tinha dito que adoro este blog? Caraças que fiquei com um sorriso na cara após o vídeo, como de tivesse sido eu o protagonista. Parabéns Vitor e Luís.

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    Respostas
    1. Luis Ramos01 maio, 2024

      Muito obrigado Pedro e foi sem dúvida um grande momento de alegria para ambos 😄💯👌 Este já ninguém lhe tira 😄

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    2. Pedro, prepare-se que eu vou dizer mal do Luis até cair de costas.
      Os últimos artigos vão ser de deitar abaixo um santo.

      Vão começar na semana que vem, vamos só dar a possibilidade de o Luis encher o peito de ar para enfrentar as pancadas....



      Abraço
      Vitor

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