NORIHIRO SATOH SENSEI - E SOBRE ANZÓIS?

Muitos de nós estaremos convencidos de que sabemos tudo sobre anzóis.
Não estarei errado se pensar que à maior parte das pessoas basta conhecer um modelo de uma só marca e já está, o problema está resolvido. Acontece que há quem faça mais tipos de pesca que apenas uma, (por exemplo o ditoso e generalizado “pica-pica”).
Essas pessoas que praticam pesca diferenciada, o spinning, o jigging, a pesca profunda, etc, sabem que não é, nem nada que se pareça, possível fazer pesca sempre com o mesmo modelo e número de anzol.
A cada tipo de peixe e técnica corresponde um anzol ideal, as bocas não são todas iguais, a dureza dos maxilares, a implantação dos dentes, a forma como comem, a profundidade a que se pesca o peixe, o próprio tamanho da boca.
Se há dúvidas pois que se compare a boca de um sargo com um robalo. Há diferenças…. o que nos obriga a mudar de anzol, de cada vez que mudamos de tipo de pesca e de peixe.
Por isso devemos ter em casa diversos modelos de anzóis, para que possamos em cada circunstância recorrer ao mais indicado.

Entortou meia dúzia de anzóis para nos mostrar o quanto eles podem ser frágeis, mesmo aqueles que consideramos fortes.

A dada altura pegou em dois alicates e desatou a dobrar e partir anzóis.
Eu não entendia o que estava a fazer, apenas via que os anzóis estalavam e abriam ao fazer força com as pontas dos dois alicates. Alguns partiam.
Ouvíamos perfeitamente o aço a ranger, a ceder. No fim era apenas um inútil arame retorcido.
A seguir, foi procurar um pequeno frasco de líquido com alguma densidade, digamos um óleo muito suave. Vejam a foto:


Diz-me que descobriu por mero acaso que aquele produto amacia os aços, e que assim sendo os torna mais resistentes à quebra. Estas coisas têm o interesse que têm, e cada um de nós irá dar-lhe o seguimento e tratamento que quiser, mas é bom termos a noção de que ainda não sabemos tudo sobre tudo. É natural que quem trabalha em anzóis todos os dias saiba mais sobre eles que quem é motorista de camião. Cada um na sua especialidade. 
Na verdade, tive a oportunidade de tentar dobrar um desses anzóis antes de aplicar o líquido e depois da aplicação. E a diferença é assustadora.
Em poucos segundos, o anzol fica muito mais elástico e menos quebradiço.
Repete-me que não sabe, nem ninguém soube até hoje, explicar a razão. O frasco de onde retirou o líquido é aquele que conseguem ver no canto superior da imagem de baixo, com tampa branca.
Perguntei que líquido era aquele e diplomaticamente disse-me que não conhecia a palavra sem ser em japonês. Provavelmente não…


Aproveito para vos dizer que a comunicação com ele é muito fácil, pese o facto de ele não saber dizer uma palavra em qualquer língua que não o japonês. E é verdade que eu não falo japonês.
Estamos empatados neste aspecto, pese embora o meu inglês, francês, espanhol, algum português e algum wolof, um dialecto africano. Mas japonês eu não sei mais que “harigato”, um “obrigado” que me
acompanha desde sempre por entender que só tenho a agradecer tudo o que aquele povo me deu e dá em termos de cultura milenar, de princípios de vida, de civismo.
A conversa foi mediada e traduzida pela sua esposa, Shoko Satoh, uma simpática japonesa de 71 anos.
Com uma enorme paciência asiática para aguentar muitas horas de esforço porque é duro traduzir em simultâneo japonês para francês, a língua alternativa que melhor domina.
Mas digo-vos que não tenho a menor dúvida de que poderia passar uma semana fantástica com Satoh sensei sem dizermos uma única palavra.
Os homens do mar entendem-se pelo olhar...


Não bastando, resolve mostrar-nos mais um “truque” de anzóis: para aqueles que têm arame mais ligeiro, e os anzóis de slow-jigging são muito isso, a flexibilidade extrema pode fazer-nos perder peixes.
Se o anzol abre, o peixe acaba por sair e ir à sua vida. Mas ele tem forma de tornar um anzol de arame fino, logo passível de abrir quando em esforço, num anzol fino mas resistente, que não abre.
Para isso, fixa-o a um grampo de executar moscas, (ou torno) com as pontas dos dedos, segura firmemente no anzol e abre e fecha o dito repetidas vezes.
Ao fim de algum tempo (ele marca perto de vinte manobras completas), o anzol já está muito mais ….rijo, mais seguro, mais difícil de abrir. Testem vocês próprios!

Vejam o filme:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

O que se passa nessa situação? É fácil perceber que esta pessoa trabalha a estrutura molecular do metal mas é difícil explicar o porquê.
Aquilo que sinto é que ele faz, de forma empírica é verdade, algo como “orientação da estrutura molecular do aço “. Não tenho outras palavras para o dizer.
Faz “estalar” a resistência natural de uma peça de metal que está em repouso e equilíbrio e a partir daí reorganiza a sua estrutura.
E o anzol ganha uma nova vida, uma nova rigidez, por diferente posicionamento molecular.
Experimentem a fazer!
Ele pode não saber explicar os termos científicos do que faz, mas sabe fazer.
E isso é bem mas importante que saber explicar mas nada saber sobre o assunto.


Norihiro Satoh sensei é procurado pelas marcas fabricantes de anzóis para dar o seu parecer sobre eles.
A marca Pike aproveita a sua figura para promover a venda dos seus productos. O autocolante amarelo fluorescente que veem na embalagem é uma imagem de marca, Satoh e o seu lenço enrolado, atado sobre a cabeça.
Todos querem estar ligados à sua figura, porque isso vende. 
Encontrar o equilíbrio certo entre a sua integridade intelectual e a sua humana necessidade de receitas financeiras, será tudo menos fácil.


Vítor Ganchinho


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