Ontem lemos aqui considerações genéricas sobre canas de jigging.
Convém fazer aqui um ponto de ordem nos trabalhos de explicação do que é uma cana SLJ.
Por definição, trata-se de uma cana que nem pressupõe ser trabalhada a 45º relativamente ao plano de água, conforme o podem ser outras canas de outras disciplinas.
Com um peixe bom, podemos apontá-la para o céu mas a ponteira da cana continuará a ficar pingada para o fundo. De nada adianta aumentar o ângulo de trabalho porque o resultado final é sempre o mesmo: a cana fica a apontar para baixo.
Não apenas o nosso esforço é inútil como não é dessa forma que a tensão da linha irá subir. E o peixe continua a dançar lá no fundo, sem ser incomodado.
Então perguntam: “ e o que podemos fazer para subir o peixe?!!”...
Podemos encurtar a linha! Esse é o único método que nos permite subir o peixe. Recolhendo linha arrastamos o peixe para patamares de água acima.
Dizia-me o Luís Ramos a dada altura: “Vitor, a única forma desse peixe ser ferrado e poder ser trazido à superfície, é esticar a linha”.
Faz sentido! Ele, enquanto profissional e pessoa que pensa muito a pesca que faz, sabe que a cana não é o elemento decisivo no processo de levantamento do peixe. Com pesos pesados como aqueles que se ferram por terras de Angola, a cana irá invariavelmente apontar para baixo. O que quer dizer que não adianta tomá-la como único recurso para ferragem e comando do peixe.
Menos linha sim. Menos linha significa menos distância do peixe à superfície.
Há pessoas que gostam de ver a cana vergada, divertem-se com isso. Mas se isso nada tem de errado, também não faz sentido que seja o único argumento para lutar com um peixe, porque não tem efectividade.
Dois meros dentão, lindíssimas garoupas em tons de castanho, arrancadas a 130/ 140 metros de fundo. Um esforço brutal para os meus braços. |
Surgiram no mercado varas de SLJ que são feitas em carbono maciço. São úteis em determinadas situações, nomeadamente quando estamos a pescar peixe grosso em ambientes agrestes, remotos, sem possibilidade de recuperação de equipamento.
Vejam o meu caso em Angola, este ano. Ali, as possibilidades de reparação ou aquisição de uma cana são nulas. Logo, a cana certa é uma unidade inquebrável, com resistência igual à resistência dos meus braços.
Utilizei as canas de SLJ da marca Daiwa, mas há muitas outras marcas no mercado, com o mesmo princípio técnico. Podem ser flexionadas até ao limite e nunca partem. Mas também não ajudam a subir o peixe!
O princípio técnico chama-se “cana de combate point-down”, e não é mais que o assumir da impossibilidade de levantar o peixe à força da cana. Esta será sempre um ponto baixo, algo que não nos serve para içar seja o que for.
Sempre que ganhamos algo com um tipo de cana, um detalhe que nos favorece, perdemos algo noutro aspecto. Não há canas perfeitas. O peixe, as condições em que nos aparece e o seu trabalho depois da ferragem são aquilo que determina o que podemos usar.
Há pessoas, tecnicamente muito conhecedoras, que advogam outras formas de trabalhar o peixe. É o caso de Masayoshi Higashimura, o dono da fábrica Deep Liner.
Ele desenvolveu canas ocas, para pescar muito fundo, abaixo dos 500 metros ou mais se necessário for. Verdade que a maior parte dos peixes que capturam não são de elevado porte, mas esta pessoa em concreto tem muito peixe de qualidade feito. E sabe pescar.
Pesquei com ele há uns anos, no Japão, em Kochi. A sua técnica de combate é diferente, baseia-se num trabalho de braços junto ao bordo do barco que é extenuante, embora ele o faça aparentemente sem demasiado sofrimento: iça o peixe na vertical alguns centímetros, recolhe linha e volta a içar e a repetir o processo. Chama-se a isso “Straight Pumping” e parte de um princípio sagrado: a cana só aponta na vertical, não faz mais nada. Em termos de mecânica corporal, esse estilo de bombeamento direto é muito difícil para o corpo. Os braços trabalham incessantemente, e até aí tudo bem, mas há reflexos desse esforço ao nível das costas. É muito duro trabalhar um peixe se estivermos dobrados pela cintura.
Pargo capatão. Defendem-se de forma violenta, desde o fundo à superfície e este não foi excepção. |
A forma como se usa o peso do nosso corpo, e a cana, pode efectivamente fazer alguma diferença. Para mim, a forma ideal é aquela em que podemos fazer variações de força, distribuição de esforço por diferentes músculos, ao longo do trajecto que o peixe terá de cumprir para chegar à superfície.
Se limitamos o esforço de combate a um número reduzido de músculos, é natural que eles cedam a dada altura.
Nós somos muito fortes de costas, e mais ainda de pernas. As nossas pernas são muito mais fortes que os nossos braços.
Aquilo que Norihiro Satoh sensei advoga é que não devemos utilizar os braços para levantar o peixe (vejam que é o oposto daquilo que faz outro enorme pescador japonês, o já referido Hagashimura), mas podemos sim “desviar” os impactos.
Isso quer dizer utilizar a cana para absorver parte dos choques provocados pelo peixe.
A cana não levanta mais que o estritamente necessário, e não para subir o peixe, mas sim para manter a tensão na linha.
Se quiserem por outras palavras, mantemos o ângulo fechado tanto quanto aquilo que o peixe nos obriga. Podemos, se o exemplar for pequeno, trabalhar desde os 0º até aos 90º, mantendo tensão na linha.
Mas se tivermos um peixe grande, e ainda mais se houver ondulação significativa, o que irá acontecer é que as variações de tensão são tão inesperadas que mais vale a pena assumir o apontar da cana na posição vertical e fica por aí.
Com exemplares de grande porte, aqueles que o Luís Ramos trabalha todos os dias, o primeiro objectivo é manter uma tensão da linha constante, sem sobressaltos, ritmada, enrolando linha sempre que pudermos, mesmo que seja apenas um pouco.
Ele mantém um pé para trás e usa todo o corpo para suportar a tensão. Vejo-o muitas vezes firmar a cana sobre o seu joelho, deixando à cana o ónus do combate, mas isso só acontece quando sente alguma fragilidade por parte do seu oponente.
Na minha perspectiva, o Luís só recorre a esse método quando sente que já ganhou... quando o peixe lhe dá sinais de que já não lhe pode fazer muito mal. E isso acontece a mais de meio do percurso, e seguramente sempre longe do fundo.
Esta é a visão que eu tenho daquilo que o vejo fazer, mas seguramente ele terá outra, ou poderá complementar estes dados com mais informação.
Lermos a opinião do Luís de viva voz só pode enriquecer-nos a todos com a sua experiência e saber técnico. O blog agradece.
Luís, venha daí um comentário, por favor!
Luís Ramos num estilo soft que é só seu. Custa pensar que seja possível... |
A água ajuda-nos a lutar com o peixe.
Num dos vídeos que fiz em Angola, a dada altura o Luís diz-me “Vitor, aproveita o balanço do mar”.
Quando pescamos neste estilo SLJ, é verdade que não utilizamos uma das características das nossas canas: a capacidade de retomarem a forma inicial depois de exercido o esforço que as deformou.
Os carbonos fazem isso, têm muita tenacidade, ou seja, logo que se verifica a ausência de pressão, a vara volta ao estado de repouso de imediato.
Se estamos em combate com um peixe muito forte (não é o mesmo que dizer um peixe muito grande), e por vezes isso acontece, sobretudo em águas de destinos exóticos, cada centímetro que recolhemos é de per si uma pequena vitória.
Mesmo se a seguir o peixe reage e aplica a cauda para voltar ao fundo, a verdade é que ele teve de fazer mais algum esforço. O seu sistema cardiovascular foi submetido a um esforço extra e isso significa mais cansaço. Pontos para nós!
Deixem-me dizer-vos que os meus carretos Daiwa Saltiga desta última expedição a Angola estavam subdimensionados em relação ao que eu queria levar. Utilizei modelos 15, em vez dos 35 que esperava poder levar.
Se são mais leves e confortáveis, também são menos…”potentes”. Antes de cada saída, tive o cuidado de fechar o drag até ao limite do possível. Utilizei um lenço, um pano, aquilo que tinha à mão para poder apertar o drag sem aleijar os dedos. Pois mesmo nessas condições, os peixes grandes não deixaram de me surpreender: levavam linha!!
Pesquei com PE3 e PE4, linhas de alta qualidade, Daiwa Morethan 12, topo de gama na marca, e por isso aguentaram. Também levei Shimano Ocea de 50 e 60 libras, teoricamente as linhas mais fortes do mundo neste momento, (a Shimano publicita-as como tendo mais 25% de resistência que qualquer outra linha), mas não tive oportunidade nem necessidade de as testar a sério.
Os fluorocarbonos foram aqueles que o Luís aplicava, em 50 e 60 libras, da marca Varivas, para ele os melhores que existem neste momento no mercado. A GO Fishing Portugal vende-os e tem em stock.
Volto ao assunto de base: quando pescamos com a cana numa posição vertical, ponteira para baixo, os impactos são diretos. Se a cana não nos ajuda a fazer mais que amortecer algumas das pancadas, algo terá de as suportar. Neste caso será a linha e o carreto.
O que vos posso garantir é que aqueles bichos são fortes, defendem-se de forma brutal e o nosso corpo sofre com isso.
Não são... sargos.
Quantos casulos, ganso coreano e lingueirões do “pica-pica” cabem aqui?!... |
Quando pescamos a baixas profundidades, o meu normal, (fico-me no meu Light Jigging costeiro por metade daquilo a que pesquei com o Luís Ramos em Angola), e se os peixes são relativamente pequenos, não mais de meia dúzia de quilos, podemos desprezar a ajuda da água, da ondulação. Mas se a profundidade está muito para lá dos 130 metros de fundo, então quando ferramos um peixe, o peixe está sempre longe.
Temos uma quantidade de água absurda pelo meio. Temos muita linha a recolher!
Assim sendo, trabalhar jigs e trazer peixe ao barco é trabalho duro. Mas se é duro para nós também o é para o peixe!
Há um horror de água entre a nossa cana e o anzol que prende o nosso oponente. Se para nós é difícil puxá-lo para cima, também é difícil para ele puxar aquilo que o impede de ir para baixo.
Neste caso, a linha funciona como amortecedor de parte dos impactos e também como travão a qualquer tipo de deslocamento. Em ambos os sentidos.
Digo-vos isto de outra forma: um peixe de 20 kgs que é ferrado junto à superfície faz-nos penar. Podemos preparar-nos para sofrer porque ele vai correr para onde quer.
Se esse mesmo peixe nos picar a 70 metros, já teremos mais possibilidades de o conseguir trabalhar na vertical sem sobressaltos. E se atacar o nosso jig a 140 metros de fundo, teremos muito mais possibilidades ainda de o conseguir trazer acima.
A razão tem a ver com isto: quanto mais linha houver na água, mais o atrito e a pressão da água ajuda a desgastar o peixe.
Uma das coisas que Norihiro Satoh me disse foi: se o ataque for produzido muito fundo, podes puxar um peixe de 50 kgs com PE2. Porque é fundo.
De resto, podemos por os olhos naquilo que o Luís Ramos faz: ele puxa peixes fortíssimos, pesados, (com 70 kgs), e utiliza PE 2,5 a PE 3, porque pesca ...muito fundo.
Uma garoupa “murianga”, um peixe que tem dinamite nos músculos... |
Diz-nos Norihiro Satoh sensei que devemos “negociar” com os peixes. Segundo ele, nenhum peixe consegue ficar em esforço permanente por muito tempo.
Se o peixe quer correr, se quer levar linha, devemos deixá-lo levar linha. Dificultando, mas deixando levar linha. Temos um limite: o fundo.
Se o deixamos atingir o fundo, arriscamos a sua perda. Ou seja, tudo pode ser negociado, mas convém reter que há uma linha vermelha que se chama fundo.
Para que o peixe nunca chegue ao fundo, podemos e devemos recorrer a tudo o que esteja ao nosso alcance: desde logo cerrar o drag ao limite do carreto. A seguir, e atendendo ao limite de rotura da linha (das linhas, porque são duas…), vamos tentar retardar a saída de linha ao máximo, aplicando o polegar fortemente sobre a bobine. Este “fortemente” leia-se algo de pressão aplicada de forma progressiva, em crescendo, de forma a obrigar o peixe a esgotar as suas forças tão depressa quanto possível. Não esqueçam que queremos evitar a sua marcha direita ao fundo!
As luvas de pesca podem ajudar-nos imenso a conseguir isso. Para quem trabalha a uma secretária e tem a pele das mãos fina, um par de luvas é fundamental.
Vejam as minhas luvas Shimano Ocea para Verão (existem também na versão Inverno) e a pressão a que foram sujeitas, com fotos do antes e depois de uma semana de trabalho em Angola:
Antes de utilização
Depois de utilização
Luvas “normais” de baixa qualidade duram um dia, desfazem-se…
Se formos demasiado bruscos, arriscamos inclusive uma rotura de linha. O relato que ouvi da boca do Luís Ramos sobre a captura do seu recorde de mero dentão é algo de assustador.
Ele pescava com linha fina, e o peixe tinha de longe mais força que ele, (à pesagem bateu muito perto dos 70 kgs, já desidratado, ao final do dia).
E foi ao fundo bater várias vezes! Mas com linha fina não podemos mandar...por vezes é ele que decide o que quer fazer.
Então é a isto que Satoh sensei chama de “negociar com o peixe”. Se ele está de cabeça para baixo, estamos numa posição mais fragilizada, porque todos os seus esforços acabam por o levar para mais longe de nós, e para mais perto do fundo, onde está a sua salvação.
O peixe sabe, e nós sabemos disso, que a sua fuga é para longe e para baixo.
Imaginem o esforço que o Luís Ramos terá feito para combater um peixe deste tamanho, sendo que o mar apresentava más condições, e tinha, para além de tudo, de manobrar o barco de forma a deixá-lo na vertical com o peixe!
Não convém esquecer que ele pesca sozinho, ou seja, de nada lhe adianta olhar para o lado porque não está lá ninguém para o ajudar.
Imaginem a tensão na linha, o receio que deverá ter sentido em ter uma rotura, e a angustia que teve de vencer para continuar a lutar este exemplar que podem ver na foto em baixo.
Eu senti isso quando puxei a minha garoupa de 29.180 kgs para cima: a dada altura o combate termina, e isso acontece antes de o peixe chegar acima.
Depois de vencida a resistência natural do peixe, fica um peso, um enrolamento de linha que já pode ser mais pausado, mais uniforme.
Isso acontece porque o peixe está cansado, e tenta recuperar da seguinte forma: deita-se de lado, procura mostrar o seu flanco mais largo à água, de forma a aumentar a resistência que o seu corpo oferece. Se isso não nos facilita a vida em termos de esforço de enrolamento de linha, dá-nos pelo menos um sinal: o nosso opositor está a fraquejar.
O esforço do peixe deixa de ser vertical, e passa a ser horizontal. Deixa de tentar ir para o fundo, apenas se “firma” na água para impedir a subida.
É muito frequente que nesta altura os seus movimentos sejam circulares, o peixe nada formando círculos cada vez mais excêntricos, à medida que as suas forças se vão esvaindo.
Pesquei atuns grandes e sei que eles fazem isso. Quando estão próximos do barco, activam as suas já depauperadas forças, mas no fim já pouco mais fazem que nadar em círculos, procurando encontrar um escolho, um ponto onde possam partir a linha.
E por fim, encostam.
Nas garoupas, não é bem isso. Aquilo que fazem é lutar até ao momento em que a diferença de pressão e as bolhas de ar daí resultantes no corpo do animal as empurra para cima.
Nessas alturas, o Luís diz-me que já são nossas porque mesmo que se soltem do anzol já são incapazes de retornar ao fundo.
E o peixe é nosso.
Vítor Ganchinho
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Muitos Parabéns amigo por mais um excelente capítulo e por me fazer recordar momentos felizes 😄. O Vitor observou e bem e não me recordo se falámos sobre o assunto naquela altura. Em todo o caso eu passo a explicar a razão pela qual eu a partir de certo ponto uso o meu joelho como base de sustentação e equilíbrio durante o combate com os peixes. Na realidade deve-se à capacidade que o blank sólido da Ikari tem de conseguir recuperar a posição inicial forçando a subida do peixe com o mínimo esforço e o mesmo já não é possível com os blanks ocos. Dessa forma consigo aliviar toda a tensão dos braços, mãos e costas apenas com um ponto de apoio que é o joelho e com o butt debaixo da axila. Mesmo assim é importante frizar que o ângulo da cana nunca deve ser alto em relação ao nível da água pois devemos usar a secção do meio da cana, onde reside a capacidade maior de recuperação e não a secção da ponteira. Para quem faz SPJ todos os dias como profissão, a necessidade de haver um controlo físico e saber geri-lo torna-se imperativo, pois o corpo não aguenta passar mêses seguidos de 8 a 12 horas por dia tanto a pescar como a capturar peixes sem que aconteça um problema físico. Por essa razão é que a gestão do esforço tem que ser pensada e gerida ao longo do dia de jigging.
ResponderEliminarClaro que esta forma de subir o peixe só deve ser aplicada depois de sentirmos que o peixe já acalmou e se encontra longe do fundo. É nessa altura que alivio o drag do carreto para que qualquer impacto do peixe sobre a linha seja reduzido ao máximo e limito-me apenas a manter um ritmo estável de recuperação e apenas quando o peixe deixa. Já a luta inicial não é possível e nem aconselhável aplicar este método porque não pode existir nenhuma folga entre nós e o peixe , seja para finalizar a ferragem como para o impedir de entrar no fundo. O aumento de profundidade nestas alturas ajuda-nos pois vai existir sempre uma folga que vai desgastar o peixe e amortecer o impacto sobre as linhas e assists. No que diz respeito a peixes grandes, quero apenas dizer que nos momentos iniciais da luta devemos evitar ao máximo dobrar as costas pois muito facilmente podemos nos lesionar e por outro lado ao dobrarmo-nos perdemos o nosso ponto corporal de equilíbrio e vamos precisar do dobro do esforço para recuperar. Basta usar o controle do drag e usar ambos os braços para a frente e para trás para controlar e subir o peixe.
Espero que ajude a explicação e um grande abraço Vitor
Excelente! Grande Luis!
EliminarLi com muita atenção este texto e ele de facto vem ao encontro daquilo que eu pensava.
De facto, não é sustentável a adopção definitiva de posturas não naturais, como faz por exemplo o Higashimura, que se dobra sobre a amura e permanece dobrado todo o tempo de combate. Ele trabalha utilizando demasiado as costas, os braços trabalham sem descanso, içam o peixe, recolhe linha, iça mais alguns centímetros, e repete o processo. Pareceu-me a mim uma posição "forçada", sem grande justificação do ponto de vista ergonómico.
Na semana passada o Luis fez num dia 3 peixes que tinham no seu conjunto 128 kgs. Como pode fazer-se isso sem sofrer lesões musculares, sem que o corpo ceda a tanto esforço? Para quem pesca peixinhos é natural que isso não diga muito, não sabe o que isso quer dizer, mas quem já passou por elas sabe que o corpo cede ao desgaste, ....a não ser que se tenha uma técnica muito aprimorada. E que se pense para além do peixe que se está a combater. É preciso ver mais longe.
Aquilo que o Luis escreve aqui é o testemunho de que ao trabalharmos peixes grandes temos de ser capazes de pensar para além do esforço físico que estamos a fazer no momento. Há que pensar a pesca. Não é só o momento do combate do peixe, é todo o resto do tempo de pesca, são todas as outras horas de trabalho em ambiente adverso, em que a componente física é solicitada a níveis de exigência muito altos.
E quando se faz isso 8/ 12 horas dia e durante meses e meses, cada detalhe conta.
Tudo estaria bem se os peixes capturados fossem as "missangas" que saem correntemente no Japão, ( a base deles são peixes pequenos e por isso os pescam com canas ocas, ...sem osso), mas eles próprios teriam de rever a sua postura e avançar para outro estilo. De resto o próprio Norihiro Satoh afirma que não poderia suportar uma técnica tão violenta para o corpo quanto a do Higashimura. Eles não concordam em inúmeras coisas e eu que conheço os dois posso afirmar que são, nalguns aspectos, completamente antagónicos.
Acho que os nossos colegas pescadores portugueses deveriam meditar sobre isto e saber extrair do texto do Luis pelo menos uma parte daquilo que ele tem de ensinamento e saber de experiência feito. É um texto para ler mais que uma vez...
Continuo a pensar que devemos aprender com quem sabe muito e tem provas dadas.
Obrigado pela participação e boas pescas desse lado!!
Abraço
Vitor
Parabéns pelo excelente texto e pela disponibilidade em partilhar o conhecimento dos dois.
ResponderEliminarOlá Luis!
EliminarA ideia é a mesma de sempre, aumentar a qualidade dos textos até onde isso seja possível.
Quando se conta com os testemunhos de pessoas tão sabedoras quanto o Satoh, ou o Luis Ramos, é natural que o nível suba bastante.
A minha ideia de blog sempre foi a de ter algo de útil para dizer, algo que possa ter interesse e seja marcante para as pessoas que dispensam o seu tempo para ler.
Marcar a diferença pela qualidade é algo a que me propus desde o primeiro dia e por isso fico satisfeito por termos cada vez mais leitores.
Para fazer aquilo que pulula por aí, uma foto e uma frase, um balde de peixes, ou pior ainda, um lava-louças cheio de peixinhos miúdos, etc, não vale a pena. Disso já temos uma quantidade de gente suficiente a fazer.
Abraço
Vitor
Excelente partilha de conhecimento.
ResponderEliminarObrigado por mais este magnifico artigo.
Grande abraço
Obrigado pelo seu apoio! No meio de tanta indiferença, haver alguém que resolve perder alguns minutos a manifestar a sua opinião é de realçar e agradecer.
EliminarPara quem escreve, para quem procura imaginar temas que possam ser interessantes para um número alargado de pessoas, é importante saber que alguém gostou. No meu caso pessoal, isso é ...tudo.
Abraço
Vitor
Excelente texto. Há muito que não lia "histórias" de pesca com tanta informação. Muito obrigado pela partilha. Forte abraço
ResponderEliminarObrigado André Antunes.
EliminarEm nome da equipa que faz o blog, os meus agradecimentos pelo favor do seu comentário.
Vamos ver se gosta dos próximos artigos. Vamos aos robalos agora a seguir....
Abraço
Vitor