EM MAIO AS ÁGUAS AINDA ESTIVERAM ALGO FRIAS...

Há espécies que só saem das suas zonas de permanência e caça quando as condições de mar mudam para extremos, quer calor quer frio, que elas não conseguem mesmo suportar.
Um desses casos evidentes é o das bicas, “Pagellus erythrinus", um peixe que esteve entre nós durante vários meses, enquanto as águas estiveram relativamente frias.
Trago-vos este assunto porque me parece que a maior parte das pessoas não tem a noção daquilo que esta espécie pode representar em termos de capturas regulares, expectáveis, fáceis e perfeitamente previsíveis.
Sim, pescar bicas é algo que pode ser muito divertido e quanto a “garantias de pesca” será, entre muitos outros peixes mais comuns, provavelmente aquele que mais facilmente se pode garantir a alguém. É perfeitamente possível saber onde estão, a que horas comem, como comem, e por isso mesmo as bicas são um peixe perfeito para lançar um iniciado nas lides do jigging, ou crianças, com garantia de resultados.
Estão onde sempre estiveram, e reagem de acordo com os padrões de sempre. Em suma: são absolutamente previsíveis. 

Com águas frias, as bicas são altamente previsíveis...

Pescam-se com jigs ligeiros, na ordem dos 20 a 40 gramas, peças cujos tamanhos são normalmente padronizados entre os 6 a 8 cm de comprimento, uma presa muito conveniente para estes pequenos e agressivos predadores.
No meu caso, costumo passar pelas minhas zonas de bicas ocasionalmente, e procuro não massacrar os spots de pesca demasiado, deixando sempre algumas para que possam atrair outras e manter assim um número razoável de indivíduos residentes. Também tenho o cuidado de dar algumas semanas de intervalo entre visitas, para que os peixes possam ter o seu necessário repouso, para que nunca esgotem o seu interesse por um jig, aquele misterioso objecto colorido que lhes parece um peixinho. Mas que não é.
Os locais são previsíveis, nunca muito longe de pedras, mas também raramente sobre as pedras. Diria mesmo que é sempre mais fácil encontrar bicas na areia do que sobre qualquer estrutura sólida. O tipo de alimentação padrão, pequenos vermes, minúsculos caranguejos, camarões, estão em fundos móveis e por isso elas trabalham-nos do nascer ao pôr-do-sol.
Para que as localizem facilmente, aconselho que experimentem as faixas laterais próximas da pedra, numa extensão em redor até aos 50 metros de distância.

Este é um peixe muito comum, e são perdidas por presas pequenas, de acordo com a sua capacidade predatória. Um jig... mas também um vinil (ainda melhor!!) se o pesqueiro não for demasiado profundo.

Sobre o tipo de jigs a utilizar, eles são sobretudo peças que queremos sentir a trabalhar bem nos primeiros metros junto ao fundo. Quero com isto dizer algo mais curto e achatado, e não longo e fino. Não é trabalho para agulhas, é trabalho para medalhas, se bem me faço entender. Só utilizamos agulhas em último caso, quando as condições são tão ruins que a isso obrigam.
Não falamos de um peixe que esteja em permanência a meia água mas sim de um espárida que vive encostado ao fundo, digamos que nos primeiros cinco a dez metros. O que quer dizer que os devemos tentar numa faixa de água relativamente curta, procurando fazer com que o jig não saia demasiado da sua zona de trabalho.
É de bom tom que se deixe cair o jig em baixo (não descurar ainda assim os toques na descida …) e a partir daí que se faça um primeiro levantamento ao comprimento da cana. 
Posteriormente deixa-se cair de novo, e é normalmente aí que acontecem a maior parte dos ataques. Num primeiro momento elas juntam-se à volta do jig, e a seguir uma delas irá atacar, tentando antecipar-se às outras. É a competição pelo alimento a ditar as suas leis. 
Factores importantes: a queda do jig não deve ser controlada, deve deixar-se trabalhar o jig, vibrar, ter deslocação lateral, deslizar sobre a água.
Para este peixe, bem como para muitos outros de resto, aquilo que se passa a seus olhos é que um peixe forragem bateu no fundo, em completo descontrolo de estabilidade, e a seguir tenta recompor-se e escapar. O predador ataca neste momento porque se esperar mais vai acabar por perder a oportunidade. Mais que isso, as bicas raramente se encontram sozinhas, o que motiva uma competição natural pelo alimento.
Pode acontecer que uma morda mas seja outra a espetar no anzol e até que se prendam duas no mesmo jig, no mesmo lance. Faço duplas com alguma frequência, sobretudo em momentos de frenesim alimentar, aquando da subida da maré. 
Para isso, pescamos com jigs armados nas duas extremidades, protegendo a cabeça e a cauda dos ataques do peixe.

Aqui a pescar a 55 metros com um jig Little Jack de 40 gramas. Trata-se de uma agulha, algo comprida, demasiado comprida para aquilo que seria conveniente, o que quer dizer que neste dia eu teria uma corrente muito forte.


Digo-vos que poucas coisas me fazem perder mais tempo que armar um jig. A isso irei dedicar um destes dias um artigo, mas posso desde já deixar alguns tópicos sobre o assunto:

1- O comprimento do jig para pescar este peixe não deve ser demasiado longo.

2- É um peixe que morde, não um peixe que aspira, e dada a sua boca relativamente pequena, não podemos exagerar no tamanho da peça de chumbo a apresentar.

3- Caso isso aconteça, o efeito imediato de tentarmos as bicas com um jig demasiado longo é que vamos sentir pancadas no jig mas a meio, longe do raio de acção dos anzóis.

4- Assim sendo, vamos por jigs curtos, acessíveis ao peixe em questão. O que levanta um problema…

5- Caso sejam aplicados assistes, simples ou duplos tanto faz, não vamos querer lutar a manhã toda contra as prisões de um a outro anzol. Isso acontece se os comprimentos das linhas PE forem demasiado longos, ou pelo menos o suficiente para que possam engatar uns nos outros.

6- Vai daí, temos um comprimento de linha limitado, o que quer dizer neste caso, para jigs curtos, de 6 a 8 cm, uma forte limitação, a ser vencida com imaginação.

7- Aplicar um assiste duplo à cabeça e um triplo na cauda resolve. A maior parte dos ataques das bicas são feitos quando o jig é levantado do fundo, nos primeiros dois metros, e habitualmente acontece uma mordida à cabeça da peça. O predador procura evitar a fuga da potencial presa, e para isso, o ataque que resulta é o que é dirigido à cabeça. É aí que devemos apostar em anzóis não demasiado grandes, mas extremamente afiados, que prendam em mais de um ponto a frágil boca deste peixe.

8- A fateixa tripla irá defender as mordidas feitas por trás, e muitas vezes conseguimos contacto através delas, e não raras vezes são os três ganchos aquilo que prende. Nesses casos a fuga é virtualmente impossível.

9- Já não é isso que acontece quando se prendem apenas por um anzol, situação em que muitas vezes acabamos por as perder. A boca relativamente frágil acaba por ceder aos esticões dados pelo peixe e à nossa pressa de o ver em cima.

10- Uma boa medida a aplicar é esta: a bica bate e devemos deixá-la bater, mas logo de seguida, quando folga a pressão, podemos e devemos recuperar linha rapidamente.

11- No meu caso, aquilo que procuro fazer é respeitar os momentos que são do peixe, quando quer procurar o fundo, mas assim que ela procura recuperar, subimos enrolando linha com a velocidade possível.

12- O efeito que se consegue é o de ter o peixe a ajudar-nos na subida pois a sua cabeça está virada para a superfície e todos os seus esforços para se soltar aproximam-na ainda mais de nós.

Trata-se de um peixe que temos em abundância na nossa costa, e é extremamente fácil de pescar com jigs.

Há quem faça um compasso de espera para lhes meter um xalavar. Tem vantagens mas também inconvenientes.
É verdade que a rede irá proteger-nos de surpresas no acto de levantamento do peixe, mas pode acontecer que elas aproveitem aquele instante de folga na linha para sacudir a cabeça e consigam soltar-se.
Por outro lado, o levantamento directo também pode rasgar alguma prisão por uma pele ou cartilagem mais frágil.
Eu assumo que posso perder qualquer bica, por ser um peixe menos…”mediático” e por isso mesmo levanto-as todas à mão. Deixo dois metros de linha fora da cana e com a mão esquerda seguro a baixada e iço-as no instante em que chegam à superfície.
É apenas uma questão de treino, ao fim de alguns dias já estão a fazer aquilo que é necessário para as conseguir pôr a seco num instante.
É dessa forma, e não a utilizar o xalavar, que consigo a melhor percentagem de sucessos.

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Mais ou menos na mesma zona de pesca, podemos ter outras surpresas, desde logo os pargos capatões e os robalos.
São visitas frequentes dos mesmos espaços, as faixas laterais que se encontram nas fronteiras das zonas de pedra firme, e devem ser pescados da mesma forma, deixando o barco deslizar ao fiel da pedra até começarmos a sentir os seus toques.
O jig a utilizar pode até ser o mesmo desde que se conte pelo menos com um par de anzóis de boa qualidade, bem afiados. Eu utilizo os assistes Suteki tamanho 18, e raramente me escapa um peixe deste tipo.
Já as bicas, essas teremos sempre de ter alguma paciência pois a fragilidade da sua boca por vezes prega-nos algumas partidas.
Não há uma verdade absoluta pois se apertarmos demasiado acabamos por as rasgar mas se as tratarmos com demasiado cuidado elas próprias acabam por se livrar do anzol pois são frenéticas a debater-se. É a sua puxada irregular que as salva, pois pouco podemos fazer relativamente à luta que este peixe dá, é como é...
Nem muito ao mar nem muito à terra…

Os capatões novos atacam muito facilmente os jigs. Desde que possível, e se o podemos fazer sem causar demasiados estragos, devemos libertá-los de imediato. 

Também os robalos aparecem, pois os cardumes destes peixes saem muitas vezes a acompanhar a passagem de comedia, as galeotas, sardinha, cardumes de pequenos carapaus, etc.
Ou caranguejo pilado.
Por isso nunca é de descurar a presença de robalos junto aos cardumes de peixe que a sonda marca. Nem tudo são cavalas...


Caso tenham alguma dúvida, é favor colocar as questões aqui no blog, para que eu possa responder.
Desejo-vos boas pescarias.


Vítor Ganchinho


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