OS CHOCOS - REVISITAR UM CEFALÓPODE DE SEMPRE

Penso que há sempre algo mais a saber sobre os chocos.
Se é verdade que já muito se sabe sobre este simpático cefalópode, e os resultados demonstram-no à evidência, também acredito que ainda não chegámos ao ponto final da nossa relação de conhecimento mútuo. Nós vamos ainda saber mais sobre eles, e também o oposto será previsível, também eles irão aprender a conhecer as nossas técnicas e atitudes.
A grande vantagem é nossa, vivemos mais oitenta anos que eles, e isso faz desequilibrar os pratos da balança.
Cada choco tem apenas dois anos para ficar a saber tudo sobre nós, o seu tempo médio de vida. Nós temos dezenas de anos para os conhecermos melhor, para aprofundarmos os dados científicos que ressaltam das experiências que com eles fazemos.
A grande questão é perceber se depois de sabermos mais, quase tudo, ainda teremos chocos para pescar.

Fotos enviadas pelo nosso amigo Duarte Murta, jovem pescador que desenvolve a sua actividade de eleição no estuário do Sado.

Escrever sobre pescar chocos é um tema inesgotável, mas os chocos não o são.
Temos sobre eles uma visão antropocêntrica, olhamos para eles como um bichinho fácil de pescar, um alvo perfeito para as nossas toneiras, e uma forma rápida de enchermos as inevitáveis latas da tinta recicladas. São retiradas centenas de quilos todos os dias no estuário do Sado.
Mas alguém pensa a pesca do choco, ou das lulas, pela perspectiva deles? Como reagem à pressão de pesca de que são objecto? O que fazem para escapar?
Poderemos algum dia chegar a saber MESMO TUDO sobre eles? Podem as pessoas aspirar a entender fenómenos como a questão dos cromatóforos?
É entendível que um ser tão aparentemente simples possa ao mesmo tempo ser tão complexo? Poderemos perdoar-lhes o facto de serem capazes de “mudar de cor” em segundos e nós humanos não o conseguirmos?

Esta lula reage às paredes brancas da geleira utilizando cambiantes de cromatóforos mais claros. É a sua desesperada tentativa de camuflagem...

Pescar lulas ou chocos pode ser uma profissão para algumas pessoas. E se o fazem por rotina é natural que saibam mais que aqueles que poucas vezes arriscam essa experiência.
Quando queremos explicações, falamos com quem vive …à conta dos chocos.
Conheço pessoalmente uma dessas pessoas, um simpático japonês que fez toda a sua vida a pescá-los e a desenvolver equipamentos específicos para a sua pesca.
De toneiras a linhas, de piteiras a carretos, e também …canas.
Talvez não saibam mas as boas canas para chocos não são propriamente baratas, podem atingir valores acima dos 1000 euros, e sim, não há em Portugal quem esteja disponível para investir nada que se pareça. Mas também é preciso contextualizar e perceber a razão que leva alguém a querer possuir uma cana de luxo desse tipo.
Tenho um amigo que me diz algo parecido com isto: ”Vitor, eu só tenho uma vida e não posso nem quero deixar que outros a vivam por mim”.
Ele compra as melhores canas e pesca com aquilo que há de melhor.

A toneira utilizada foi uma Dartmax japonesa, e a técnica o movimento “darting”, algo recentemente descoberto por este nosso amigo. 

Há pessoas que determinam tendências, e fazem-no não só ao nível dos produtos de pesca como também das técnicas a utilizar.
Uma dessas pessoas é o conhecido Eisuke Kawakami, que no Japão é sobejamente conhecido, de resto em todo o continente asiático tem um estatuto de estrela.
É frequentemente abordado na rua para posar para fotos e dar autógrafos, se querem saber. Aparece em programas de televisão.
O que faz de diferente? É o mais conceituado membro do restrito pro-staff da Yamashita. Pesca chocos todos os dias e trabalha novos produtos em laboratório com os engenheiros da marca.
Participa em campanhas de marketing, faz filmes didácticos sobre pesca a cefalópodes, etc.
Trata-se de alguém muito curioso, muito focado na sua profissão. Ele é muito bom naquilo que faz, sem dúvida, e ganhou um estatuto de estrela, mais que merecido.
Como todos aqueles que são verdadeiramente grandes, é modesto, não “espalha” chocos por onde passa, até porque é o primeiro a dizer que tem dias em que não consegue muitos.

Eisuke Kawakami, pescador de chocos e Vitor Ganchinho, adepto de light jigging, mais virado para pargos e robalos, duas formas diferentes de gostar de mar.

Vejam este filme onde ele explica uma série de detalhes:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

Este é um estranho mundo, onde as “iscas” são coloridas, chegam a ser bonitas, e todo as as pessoas querem ter uma colecção delas. Por isso todos os anos os fabricantes lançam modelos novos, colecções completas de novas cores e desenhos. O mesmo para as piteiras, os pesos com que toda a gente pesca no Japão, mas que aqui só agora estão a ser redescobertos.
Lembro que há 100 anos já se pescava com piteiras no Sado.

A piteira em chumbo faz as vezes de chumbada, com a vantagem de permitir pescar chocos ou lulas só por si. Duplica as possibilidades. 

Existem duas técnicas que são utilizadas em paralelo: a que se assemelha à nossa, com um peso e uma toneira a flutuar acima, e a pesca com toneiras simples, soltas, sem qualquer tipo de lastragem.
Apenas a primeira é praticada entre nós.
A diferença mais significativa é que por cá é utilizada uma chumbada, (só por ser mais barata), e os japoneses apostam nas piteiras, os chumbos armados com agulhas.

As piteiras têm normalmente entre 56 gramas e 120 gramas, estas para situações limite. 

Espero que tenham gostado.
Caso tenham curiosidade em descobrir mais sobre este grande especialista da pesca ao choco, procurem mais filmes pelo nome dele: Eisuke Kawakami
Boas pescas para todos vós!


Vítor Ganchinho


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5 Comentários

  1. Excelente artigo e é obviamente um prazer ver fotografias da minha estreia no darting! Confesso que os vídeos de YouTube da Yamashita protagonizando Eisuke Kawakami tiveram muito a ver com o meu ingresso na modalidade!

    Melhores cumprimentos e abraço,

    Duarte

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    Respostas
    1. Fotos com qualidade têm sempre lugar no nosso blog.
      Eu preciso de um campo de recrutamento de imagens alargado, de tal forma que por vezes, se não tenho as fotos, nem escrevo sobre o assunto.
      A base de dados a que recorro é normalmente minha ou do Carlos Campos, amigo que frequentemente procura encontrar situações mais bizarras, fora do comum, e faz fotos para me enviar.

      Aquilo que dispenso bem são as fotos de baldes de peixe pequeno, ou lava-loiças cheios de miudezas. Aparece muito, mas não aceito mesmo publicitar aquilo que pouco passa de um crime ecológico. Certas fotos que me chegam por pessoas que as querem ver publicadas são verdadeiros atentados ambientais....

      Não tenho paciência para explicar mais e melhor que os peixes juvenis são para ficar no mar. Como pode alguém sentir-se bem se traz para casa peixinhos que são apenas "projectos" de peixes?!...

      Santa paciência.

      Abraço
      Vitor

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  2. Comecei nesta pesca do eging (pesca direta, apenas com toneira) em 2018, mais direcionada às lulas (apesar de também pescar aos chocos desta forma, tanto de margem como embarcado).
    Esta modalidade foi-me apresentada por um grande amigo que além de apresentar a modalidade, ensinou-me uma boa parte do que sei hoje sobre este tipo de pesca.

    Este mesmo amigo deu-me a conhecer os vídeos do Eisuke, que sigo com alguma regularidade.

    Apesar de não ser a minha pesca de eleição, gosto de praticar com alguma regularidade....As lulas grandes, com material light, dão uma luta engraçada.

    Conforme o Vítor indica, não há material de topo disponível para este tipo de pesca nas "comuns" lojas nacionais, provavelmente por não haver procura que justifique (as lojas faturam mais com as canas de choco de 20€ em uma semana, do que iriam faturar neste material em 10 anos). Importei as minhas canas na altura do Japão.

    Quanto às torneiras, sou adepto das duel mag-cast, que por sinal deixaram de se fabricar há uns anos (felizmente tinha um bom stock delas) e agora que já não tenho muitas, lançaram uma nova coleção desta "linha", que espero ver em breve em uma loja de pesca ali para os lados da staples de Almada.

    Finalmente consegui voltar a ler os relatos do blog, vou agora por ordem de publicação!

    Um abraço!
    Luís




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    1. Boa tarde Luis. As pessoas que conseguem especializações numa determinada área da pesca acabam por ser capazes de obter resultados de excepção. E passam a ser seguidas por isso mesmo, por serem muito melhores que as outras.
      O Eisuke é um desses casos.
      Encontrei-me com ele em Osaka, no Japão. É sem dúvida uma pessoa com um tipo de personalidade muito curiosa, um indivíduo simples, acessível, e que sabe representar uma fileira de muitos milhões de pessoas em todo o mundo.
      A Yamashita tenta tirar dele algum proveito comercial, o que de resto não é estranho.

      Estou a preparar um artigo precisamente sobre a pesca de lulas, ....mas com jigs.

      Vamos ver se gosta.



      Abraço
      Vitor

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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