Bem sei que isto vos parece estranho e macabro, mas matar e ver matar pessoas sempre foi algo muito interessante para a espécie humana.
Não preciso de vos lembrar das filas que se formam quando há um acidente na estrada, da forma vagarosa e interessada como passam os carros a seguir a um despiste ou colisão. Um carro capotado de rodas para cima vale mais alguns segundos de “inspecção” que outro assente nas quatro rodas.
Formam-se filas de quilómetros a partir do momento em que alguém tem um azar e perde a vida. Pelamo-nos por desgraças de acidentes rodoviários, de tiros de pistola, etc.
E que dizer da decapitação?
Entre os humanos, a decapitação sempre foi uma forma de execução bem aceite. No século XVIII, ano de 1792, era mesmo a grande moda, e foi utilizada durante a fase mais extrema da revolução francesa, quando dezenas de cabeças eram cortadas todos os dias. Faziam-se filas para a guilhotina, uma máquina criada para executar pessoas.
Uma afiadíssima e pesada lâmina caía sobre o pescoço e fazia a decapitação dos condenados à morte separando a cabeça do restante corpo. O método era simples e rápido.
Teve como mentor o médico parisiense Joseph Guilhotin. Este médico defendia o direito dos condenados a uma morte rápida, sem dor.
Segundo ele, a guilhotina propiciava esse tipo de morte e durante muitos anos o método foi muito aplaudido.
Luís Ramos com uma garoupa …imponente! É incrível como ele faz isto com uma cana de pesca ligeira e uma linha fina. |
Mas temos muitas outras formas de matar.
Antes da guilhotina, os principais métodos utilizados para a execução das pessoas condenadas à morte eram o enforcamento, o esquartejamento e o suplício da roda (no qual o condenado era amarrado na parte externa de uma roda e eram jogadas brasas sobre ele, ou seja, a pessoa era queimada viva).
Nos dias que correm não se inovou muito, os métodos mais usuais para tirar a vida a alguém continuam a ser relativamente rotineiros: a forca, o fuzilamento, apedrejamento, a cadeira eléctrica, a injecção letal e a decapitação.
Na cadeira eléctrica a eletricidade faz parar algumas funções vitais, como o controle dos batimentos cardíacos e o ritmo respiratório. Mas acontecem falhanços, há pessoas que suportam isso.
Até que surgiu algo rápido e seguro: o método Luís Ramos.
Na verdade é apenas uma variante da cadeira eléctrica, mas muito mais mortífero, e prático, já que pode ser utilizado um computador, na versão sentado, ou um telemóvel, na versão dinâmica.
Eu explico-vos como funciona: o Luís Ramos envia-nos fotos por e-mail com os peixes que pesca. São sempre enormes! A pessoa abre o mail e acontece-lhe um súbito abaixamento da temperatura corporal, o chamado “freezing” muscular.
Dá-se uma contração em forte de todos os músculos em frio. A vítima pestaneja, volta a olhar para as fotos e nem quer acreditar. Rapidamente os olhos rodam nas órbitas e saltam fora.
Segundos depois já está a contorcer-se, larga espuma da boca, ocorrem bruscas arritmias cardíacas e a partir daí é a inevitável morte por inveja...
Mas ele tem ainda outras formas de nos liquidar!
Uma delas é absolutamente desumana e estranho que o Estado Islâmico não se tenha lembrado dela como método de tortura e aniquilamento: a morte por fricção dos joelhos na amura do barco!
Posso tentar explicar-vos como se processa esta morte lenta, desapiedada de tudo o que são valores humanos. Vejam como fica a vítima:
O barco do Luís faz isto às pessoas. Tudo vermelho, em versão sarampo carregado. |
O teaser, a cenoura que atrai a vítima são os peixes que passeiam pelo fundo. Lançamos jigs e de facto eles mordem. E puxam muito.
O passo seguinte é tentarmos obter algum apoio para não cairmos à água. Firmamos as perninhas contra qualquer coisa.
Ao fim de uma semana eu estava com os ditos joelhos em carne viva, exaurido de sangue, sem ânimo de me chegar à amura do “Incrível”, sem esperança de sobreviver a tão prolongado martírio e a desejar vivamente uma morte mais rápida.
Acho que o Luís não considerou a possibilidade de me espetar uma faca comprida num olho, a atingir o cérebro, ou algo mais piedoso: cortar-me o pescoço com um corta-unhas.
Tudo me serviria melhor que aqueles malfadados fechos.
As pessoas quando vão decididas a fazer mal, quando querem fazer atentados e matar centenas de pessoas, normalmente levam espingardas, facas e pistolas.
Até hoje nenhum mocinho radicalizado se lembrou de levar os fechos pretos das portinholas do barco do Luís. Vejam como são assassinos:
Os peixes fazem força e encostam-nos ao barco, onde procuramos algum apoio com os joelhos. Precisamente onde se encontram estas assustadoras máquinas de tortura. |
Acredito que existam outras formas de morrer mais fáceis, utilizar fechos de plástico pretos que massacram joelhos não será a mais rápida. Que matam disso não tenham dúvidas, mas pode levar tempo. Estive dias e dias a sofrer à conta destas impiedosas peças, afinal uma camuflada arma de destruição massiva.
Ficam exactamente ao nível das rótulas dos joelhos….está tudo estudado a rigor pelo Luis.
A angustia, o desespero e as dores são insuportáveis! Para mim, a dada altura já nada mais existia que joelhos e fechos pretos.
Bem me virei na direção de Benguela para clamar por ajuda mas ninguém ouviu os meus gritos lancinantes. A partir daí foi a tragédia, o drama, o horror, a luta pela sobrevivência.
Eu queria pescar, mas não podia… a minha concentração total ia no sentido de evitar esvair-me em sangue.
E se eu estava em boa forma! Vejam os peixes que estava a conseguir:
Vejam o calibre dos peixes que estava a levantar. Não admira o incómodo dele... |
Sentindo a impotência dos seus esforços para pescar mais carapaus que eu, e em vez de tomar uma caixa inteira de antidepressivos Xanax para acalmar, enveredou por uma atitude mais agressiva: algemou-me, mas sem algemas.
Ou seja, aplicou uma carga de braçadeiras de serrilha cortantes, conforme é usual ver nos filmes Netflix. Vejam como ficaram os meus pulsos, sendo que vos mostro o que ficou em melhor estado.
O outro ficou todo em carne viva, e a publicação de imagens obrigaria a um aviso prévio às pessoas mais sensíveis a jorros de sangue e carnes dilaceradas.
Ainda são bem visíveis as marcas das braçadeiras de serrilha com que me amarrou os pulsos. Perante isto, é evidente que a qualquer instante o fim do mundo estará aí. |
Algemado e amordaçado, jogado contra aqueles impiedosos fechos de plástico duro, pouco mais poderia fazer que pescar incipientes peixes miúdos.
Mesmo com material de primeira linha, canas e carretos Daiwa Saltiga, linhas Daiwa Morethan 12 braid PE 3 e 4, jigs de primeira classe: Deep Liner, Shout, Konoha Second Stage, dificilmente poderia fazer melhor.
Assim se morre por terras de Angola.
Um país onde a vida e a morte andam de mãos dadas, bem juntas, e nem sempre há tempo para um último desejo.
Ali, nem sempre a morte é lenta….
Mas se todos os condenados têm direito a uma última refeição, então que seja garoupa preta! São deliciosas.
Vou falar-vos sobre elas, as garoupas, a seguir, embora tenha uma prioridade: dizer a verdade sobre os motores do barco....e também algo sobre o barco, ...e talvez também sobre o pescador....
Estejam atentos....
Vítor Ganchinho
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