Sabemos que as desembocaduras dos rios, e sobretudo o último troço, de entrada e saída de água permanente, são autoestradas para robalos.
Mas eles adentram o estuário para zonas mais protegidas, menos fustigadas pelas correntes, pois é aí que se reúnem cardumes infinitos de juvenis de diversas espécies. Não é difícil que encontrem aquilo que mais lhes agrada nessa altura do ano.
Depois de comer, e dentro do rio fazem-no como vos disse com a maior das facilidades, o robalo irá repousar, irá digerir a sua refeição durante horas em qualquer recanto onde não tenha de despender muita energia.
Não é tempo para correntes, é sim para um remanso bem protegido, longe das exigentes zonas onde há que lutar contra a forte entrada e saída de águas.
Este é um tempo morto para nós. Depois de comer, podemos lançar horas e horas e os resultados não deixarão de ser penosos.
Pode sempre haver um peixe mais inquieto, mais predisposto a abrir a boca e morder uma amostra, mas na sua quase generalidade, vamos ter de lutar contra muitas adversidades. Bom mesmo é estar no local na altura certa, e no local certo. Ter a amostra certa ajuda e muito.
A maior parte das pessoas associa os robalos grandes a amostras grandes. Não conseguem admitir que se possam conseguir robalos de bom porte com artefactos que mais parecem miniaturas.
Não serei eu quem os vai tentar demover, de todo.
Mas posso ir ao tema e tentar desenvolver a ideia, já que ela entronca num tipo de pesca que adoro, o LRF, Light Rock Fishing, e que só não faço mais porque sou “forçado” a ir por outros caminhos, nomeadamente a pesca jigging, ou a pesca profunda com carretos eléctricos, por exemplo.
Parece-me ser útil referir o seguinte: a água nunca é pouca para um robalo. Pesqueiros com pouco mais de um palmo servem na perfeição a quem está equipado para caçar pequenos seres, e que, por via disso mesmo, tem de os procurar onde eles se escondem.
As águas rasas são tão válidas quanto os grandes fundos, sendo que desde logo salta uma vantagem à vista: não é nos fundões que existe mais alimento.
Aí, onde todos conseguem chegar, a quantidade de possibilidades é menor. Todos os habitats têm disponibilidade de alimento para um robalo, mas é precisamente nos baixos fundos que ele encontra os “petiscos” de que mais gosta.
Aquilo que temos de ter em atenção é o coeficiente de maré, ou seja a diferença de amplitude medida entre a linha mais baixa de vazante, e a linha mais alta de enchente. Em função das luas, assim teremos um coeficiente de, por exemplo, 2.70 mts, o que podemos considerar na nossa região como alto, ou um coeficiente de 1,30 mts, o qual pode ser tomado como baixo. Da maior ou menor amplitude deste coeficiente dependerá a nossa capacidade de pescar numa determinada zona.
Caso a amplitude seja máxima, teremos que na vazante vamos ficar sem água num pesqueiro baixo, e a seguir, na enchente, ficaremos com água, mas com uma corrente muito forte.
Com uma amplitude mínima, o que irá acontecer é que a maré irá decorrer de forma muito controlada, sem baixar significativamente, e sem subir demasiado. E isso dá marés mortas, ou seja, com muito pouca corrente.
Será em função do tipo de pesqueiro que queremos explorar que teremos de decidir qual a maré e o horário que que nos interessa. Convém reter que as fases de alimentação nos estuários, os ciclos de caça, de procura de alimento, serão relativamente curtos.
Não temos o dia todo, podemos até ter menos de 30 minutos para mostrar a nossa valia.
Já aqui vos expliquei a conveniência de podermos pescar sobre os momentos certos de maré a coincidir com os momentos do dia em que os peixes estão naturalmente mais activos, ou seja os crepúsculos.
Quer de manhã bem cedo ao raiar do dia, quer de tarde ao anoitecer, temos um bónus de facilidade de pesca atribuído. Quando as marés acertam o passo com esses dois momentos, a nossa caixa de peixe sente-o de imediato.
Porque o tema deste artigo é precisamente a variedade de alimentação disponível ao nosso robalo dependendo dos fundos que temos, é importante dizer que a alimentação do robalo muda em função do seu posicionamento dentro do estuário. Mais fora come um tipo de seres, mais dentro encontra outros.
Se na foz terá um contacto directo com os peixes de mar, e nós conhecemo-los, as bogas, as cavalas,, os carapaus, as sardinhas, etc, já dentro do rio, bem acima da foz, teremos um robalo bem mais interessado em encontrar alimento mais típico de águas doces, como os camarões de rio, os cabozes, os caranguejos verdes, pequenos sargos, tainhas, minúsculas douradas, e até alevins de robalo.
Há uma zona mista, o espaço em que os seres de água doce têm marcado como limite às suas capacidades de suportar a salinidade, e onde os habitantes marinhos recusam subir mais, por já não encontrarem a água salgada a que estão habituados.
Nessa zona intermédia, o robalo sente-se …”em casa” e há alimento em abundância, fácil de capturar.
Estes olhos negros sabem muito mais que aquilo que parece... |
Se quisermos maximizar as nossas possibilidades de pesca ao robalo, podemos querer ainda mais: é fazer coincidir as temperaturas de água mais elevadas com a maré cheia e com…a noite.
Todos sabemos que os robalos têm uma enorme facilidade em caçar de noite, as pescas de surfcasting nocturnas assim o demonstram, e os nossos resultados também serão melhores.
Os camarões, os caranguejos e os pequenos peixes estarão activos, à procura de alimento, e há quem os consiga ver. O robalo tem bons olhos e mais que isso, tem uma linha lateral que lhe dá uma enormidade de informação. Custa-nos a acreditar que um simples peixe possa ter sentidos que nós não temos, mas é um facto que sim, eles conseguem fazer coisas que nos estão vedadas a nós, os ditos humanos superiores.
Eles podem “ ver” em situações de invisibilidade total, em águas turvas. Por isso os pescamos durante a noite...mesmo quando não se vê um palmo à frente dos olhos. Eles têm "outros olhos"...
Vítor Ganchinho
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Muito bom, aguardo pelo próximo capítulo. Obrigado ;)
ResponderEliminarBoa tarde Nuno Costa Acredite que deste lado está uma equipa de pessoas a produzir este blog com toda a vontade do mundo. Se não fazemos melhor é porque não sabemos.
EliminarDa edição das imagens aos conteúdos, do aspecto gráfico aos filmes, procuramos fazer
aquilo que é a linha editorial do blog e tentamos torná-lo interessante para quem lê.
Não preciso de lhe dizer que quando alguém se incomoda a dirigir-nos algumas linhas, isso é por nós encarado coo um incentivo para continuarmos a trabalhar.
Obrigado pela sua participação!
Vitor
Obrigado excelentes comentários e explicações adoro ler
ResponderEliminarVamos ter algumas coisas sobre robalos e pargos muito em breve.
EliminarObrigado por estar desse lado.
Vitor