SABEMOS POUCO SOBRE ROBALOS...

Na Europa, o “Dichentrarchus labrax”, vulgo robalo, é sobejamente conhecido. A sua pesca é feita há muitos anos e procurada por uma imensidão de gente, ao longo de milhares de quilómetros de costa.
Há mesmo pessoas especializadas na sua pesca e que dispensam qualquer outro peixe. Apenas o robalo lhes interessa, pese a vastidão de muitas outras espécies que o nosso continente oferece.
Mesmo assim, e tratando-se de um peixe caristmático e muito popular, até na mesa, arrisco a dizer que a maior parte das pessoas tem apenas uma minguada ideia daquilo a que se chama robalo por esse mundo fora.
De resto, não será missão fácil saber muito sobre uma espécie de peixe que tem tantas formas e …cores.

Um robalo americano. O “Stripped bass” pode crescer até 40 kgs...

Charles de Gaulle disse há muitos anos isto: “…como se há-de governar um país que tem 246 variedades de queijo”?
Este estadista francês não se referia à diversidade de processos de fabrico, de paladares e formas de apresentação de um producto tão comum quanto o queijo, mas sim à diferença de sensibilidades de um povo que cabe numa extensão territorial de 551 695 km², só na Europa. A França tem, tal como nós, territórios ultramarinos.
Também nós portugueses, quando analisamos a nossa área de costa, chegamos à conclusão de que não somos mesmo nada pequenos, pelo contrário: a nossa Zona Económica Exclusiva compreende 3 subáreas: subárea do continente (287 521 km2), subárea dos Açores (930 687 km2) e subárea da Madeira (442 248 km2), o que nos torna a 3ª maior potência da Europa, com 11% da área marítima total.
Mas se nós pescadores portugueses, um país com apenas 92 152 km² de terra, mal conhecemos a totalidade da nossa costa, imaginem pessoas de países com maiores distâncias.
As pessoas do Algarve não vão pescar a Viana do Castelo, e vice versa. Arrisco dizer que a maioria das nossas pessoas nunca pescou a mais de 100 km da sua casa, o que transforma a realidade de cada pescador em algo restrito a uma área, a uma experiência continuada sim, mas limitada na sua extensão. Não tem mal que assim seja mas é uma constatação fácil de fazer: pescamos na nossa zona, ao que há na nossa zona.

O robalo não é apenas aquilo que conhecemos, é muito mais que isso, e de tal forma que a maior parte de nós não saberá identificar mais que uma ou outra variante deste tremendo predador. 

Isso quer dizer que a dificuldade de acesso a diferentes métodos de pesca, diferentes peixes, diferentes sensibilidades na utilização de equipamentos, restringe o desenvolvimento técnico de cada um.
Mesmo que num país relativamente pequeno, há pessoas do norte que nunca tiveram a oportunidade de enfrentar uma grande corvina, um mero, um atum. E todavia isso é perfeitamente possível no sul.
A pesca não é igual, não é a mesma, de norte a sul de Portugal. O que daí retiramos é o facto de ser francamente difícil encontrar um denominador comum que sirva a todos, independentemente da sua localização.
Com os robalos, passa-se o mesmo: não há um só robalo, há sim uma diversidade enorme de robalos e hoje vamos falar de alguns.
No Brasil, os meus amigos falam-me de peixes com pesos e tamanhos que para nós são absolutamente estranhos.
Vejam como é o robalo deles:

Uma linha lateral super bem marcada, mais viva que o nosso.

Gostava que tivessem uma ideia mais generalizada daquilo que é a pesca e a importância que efectivamente tem.
O investimento feito em viagens de pesca lúdica a nível global é algo de desmesurado, gigantesco: os números assustam. Posso dizer-vos que é muito mais que o Orçamento de Estado português.
O mercado náutico mundial foi avaliado, em 2015, num valor próximo dos 600 mil milhões de euros, sendo que 130 mil milhões de euros diziam respeito a negócios apenas no setor na Europa.
A náutica de recreio, só por si, foi avaliada em 60 mil milhões de euros.

Lateolabrax japonicus, o robalo japonês. Podem crescer mais de um metro, e os grandes exemplares são pescados sobretudo à noite.

Posso falar-vos das diferenças técnicas, mas também das assimetrias quanto à utilização de materiais. Pese a atitude do peixe em si não ser demasiado diferente, em todo o lado os robalos são predadores vorazes que atacam pequenas presas, os artificiais com que se pescam diferem bastante dos nossos.
Se nós utilizamos triplos nas amostras, ou nos jigs, há quem não o possa fazer. Frequentadores sobretudo de zonas rochosas, com pedra partida e por isso com muita prisão, os robalos americanos são pescados com anzóis simples. O objectivo é evitar os enrocamentos e as perdas de material. Vejam como são os “bucktail” e os jigs deles:


Ainda nos Estados Unidos, (onde irei pescar este ano em Setembro), é possível verificar que os robalos juvenis não apresentam, em termos de morfologia, uma diferença muito acentuada dos nossos peixes:

Robalo adulto e por baixo robalo juvenil. Faz-nos lembrar o nosso...

Podemos dar voltas ao mundo, mas no fim vamos sempre querer pescar o robalo luso, o nosso esquivo, imprevisível e matreiro robalo português.
Com amostras a spinning, com jigs ao fundo, no rio ou no mar, ele faz parte dos nossos sonhos de pescadores e a sua imagem não se apaga por nada.

Este malandro, o “Dichentrarchus labrax”, até pode ser mais pequeno, mas é o nosso e gostamos dele assim.

Boas pescas para vocês todos!


Vítor Ganchinho


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3 Comentários

  1. Olá Vitor,

    Obrigado por mais uma partilha, queria também fazer um reparo em relação à pesca no norte e neste caso no Minho, já à alguns anos que que grandes Atuns de 200 e 300 kg andam ao largo da nossa costa assim como últimamente tem aparececido as Corvinas na costa proporcionando doas jornadas de spinning. Algo está a mudar?

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    Respostas
    1. Olá Nuno Costa. Nós temos por vezes noticia de capturas ocasionais de peixes que estão desenquadrados da região aos quais os associamos.
      Quando falamos de corvinas nunca nos lembramos do norte, mas sim do Tejo, onde elas estão a ser capturadas com regularidade.
      Quando falamos de atuns, o Algarve tem peixes de passagem que entram e saem do Estreito, e que são comuns nas águas a sul. É possível programar pescas ao atum com alguma certeza. Não são ocasionais, estão lá.

      Não se trata de não haver, trata-se de haver ou não todos os dias.
      Posso dizer-lhe que há registos de capturas no Algarve de pargos lucianos, um peixe que é comum no Senegal mas não o é na Europa.

      Eu associo o Minho ao robalo, porque vocês aí têm uma quantidade de peixes bastante superior ao que se encontra mais a sul.
      Há zonas do país onde algumas espécies encontram habitats menos favoráveis, e por isso estão menos disseminadas. Recordo-me de ter mergulhado na Nazaré, e de achar estranho a pequena quantidade de sargos comparativamente à de robalos.

      Se formos à Carrapateira ou Arrifana temos toneladas de sargos, à conta da quantidade de marisco que têm para comer.
      Perceves, lapas, mexilhão à tonelada, fazem com que as espécies mariscadoras se propaguem imenso.
      A minha zona está pejada de pargos. Há muitos.
      Todavia temos menos robalos. Há, mas não é aquilo que existe noutros lados.

      Bom mesmo é pescar de norte a sul, e ser capaz de aproveitar aquilo que cada zona pode oferecer de melhor.


      Boas pescas por aí e obrigado pela participação!

      Vitor

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    2. De qualquer forma, parece-me evidente que estamos a assistir a uma mudança drástica de posicionamento de algumas espécies. Nem sempre isso nos é conveniente, e a sardinha é um desses casos. Está a acontecer uma deslocação para norte, e a cavala está a ocupar o nicho que era pertença da sardinha.

      Não sei se tem a noção dos preços de lota desses peixes, mas a cavala anda pelos...20 cêntimos / kg.

      Há muita.

      Não devíamos era estragar sob esse pretexto, porque é a comedia que irá trazer-nos peixe a come. E esse peixe tem valor bem mais alto.


      Abraço
      Vitor

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