São agressivas até onde se pode ser agressivo com tudo o que mexe à sua volta.
Se tiverem oportunidade, atacam outras da mesma espécie, no seu frenesim de comer e crescer.
Terá a ver com a urgência de garantir crescimento e poder reproduzir nas melhores condições de acasalamento. Multiplicar a espécie, ou pelo menos manter o número de efectivos parece ser um desígnio universal e comum a todos os seres vivos. As estratégias utilizadas diferem mas o sentido é sempre o mesmo: encontrar uma parceira/o e perpectuar a espécie através de descendência.
O tempo de vida da lula é curto – o seu ciclo de vida é de apenas um ano. Após o acasalamento, geralmente as lulas morrem, tal como os seus parentes polvos, embora esses tenham um ciclo de vida de 2 a 3 anos.
A quantidade de lulas que nasce na nossa costa é significativa, não temos falta deste cefalópode.
Os filhotes nascem entre quatro a oito semanas após a postura e são verdadeiras miniaturas dos pais. Alimentam-se de plâncton, pequenos organismos marinhos, até alcançarem a vida adulta.
Se as pessoas não as pescam isso deve-se mais a uma ausência de equipamento e procedimentos técnicos que à falta de lulas em si. Há muita lula!
Mais uma lula feita com um jig ligeiro. |
Eu fiz durante muitos anos mergulho em apneia e isso deu-me a possibilidade de encontrar muitas centenas de ninhos de lula. A área de actuação de ambos sobrepõe-se, as pedras até aos 20 mts são as escolhidas pelas lulas e as que são acessíveis a quem mergulha sem garrafas de oxigénio. Encontramos as posturas penduradas de pontões de pedra ou buracos escuros na rocha onde elas podem de alguma forma proteger as suas ninhadas.
Tratando-se de um animal sem cobertura rígida, (apenas têm um vestígio ancestral de carapaça mas interna, aquele "plástico" transparente que vocês conhecem), as lulas assentam a sua estratégia de sobrevivência numa remarcável habilidade de escapar aos seus predadores. Fazem-no através de uma mobilidade assinalável mas também da sua capacidade de se esconderem sem terem onde se esconder, na água azul, ou seja, utilizando camuflagem.
Começam por encontrar cambiantes de cor que as tornem invisíveis aos olhos dos predadores e, se necessário, podem inclusive criar texturas rugosas no corpo, afim de se confundirem com o fundo.
No caso de isso não resultar, avançam para a libertação de tinta de camuflagem, ou sépia, de seu nome.
O seu corpo macio e apetecível não lhes deixa muitas hipóteses de enfrentar os seus adversários, pelo que uma fuga rápida também consta do manancial de possibilidades.
Para muitos de nós, a primeira visita ao museu Vasco da Gama é uma grande surpresa, pela grande colecção de espécies que detém. Certamente muitos de vós lembram-se de em miúdos terem visto uma enorme lula naquelas instalações.
A lula gigante (Architeuthis) é o maior invertebrado do mundo. Trata-se de um animal do Atlântico, caçado pelos cachalotes, e pode atingir 500 kgs para um comprimento de 18 metros.
Um tentáculo de 10 metros é obra! E que dizer de uma ventosa com cerca de 5 cm!? Ou de um olho tamanho de uma bola de futebol?
Pois sim, essas eram as lulas que, ao subir à noite à superfície, amedrontavam os bravos marinheiros das nossas caravelas.
Vejam aqui a captura de uma, novamente com jig:
O que leva tanta gente a apaixonar-se pela pesca do choco, ou da lula?
Desde logo a abundância e facilidade da sua captura, é possível fazer uma caixa cheia destes cefalópodes durante um dia.
Em zonas como o estuário do Sado, a quantidade de chocos continua a ser enorme e isso garante diversão.
A seguir, penso que poderá ser pela sensação única de realização da captura de uma presa com um tipo de equipamento que não exige perder o fôlego do início ao fim. Os chocos ou as lulas não nos cansam.
Perguntem a todos os que fazem speed jigging como estão os seus braços ao fim de meia hora de pesca…
Depois porque o pescador pode ser criativo quanto ao tipo e cor da amostra utilizada.
Sobre cores, deixem-me dizer-vos que o assunto pode chegar a vias de entrada no campo do religioso. Há toneiras da sorte, há toneiras em que se tem… ”fé”!
Acredita-se num palhacinho, e só naquele, enquanto ele existir.
Ora convém dizer o seguinte: tal como a grande maioria dos cefalópodes, as lulas possuem apenas um pigmento visual, o que não lhes permite ver cores.
São capazes de distinguir objectos brancos de objectos pretos ou objectos de uma tonalidade cinzento mais escura ou mais clara, mas não lhes é possível diferenciar objectos coloridos que apresentem a mesma tonalidade na escala de cinzas.
Embora ainda não tenham sido realizados testes em todas as espécies, o único cefalópode conhecido que possui visão a cores é a lula Watasenia scintillans. Não é a nossa!
As lulas nacionais, no continente, podem aparecer-nos nos pesqueiros com tamanhos que vão de pouco mais de 15 cm e menos de 100 gramas, até tamanhos significativos, diria até aos 2 kgs de peso.
Porque terminam a sua vida num espaço de tempo curto, ao longo do ano vamos encontrá-las com diversos tamanhos, digamos que acompanhamos o seu crescimento natural.
Se o momento em que mais reproduzem é o final do Inverno inicio da primavera, é então esse o momento das grandes, o momento em que os reprodutores mais pesados estão prontos para a acção.
A partir daí, teremos o surgimento de lulas de um palmo, e a sua evolução é relativamente rápida pois são ávidas de comida.
Por isso mesmo há quem consiga bastantes no Outono, altura em que a sua etapa de crescimento a traz já a um tamanho aceitável para captura. Estarão neste momento numa fase de crescimento acelerado, pelo que iremos conseguir muitas sem dificuldade: não são desconfiadas e comem de tudo…muito.
Finalmente no inverno, semanas antes da reprodução, já estarão em formato adulto, e se mais não fazemos é porque neste período as águas arrefecem bastante. As lulas são animais de sangue frio e sua atividade diminui quando a temperatura da água está baixa.
Nesta fase não as encontramos em águas demasiado baixas já que é aí que as noites frias mais arrefecem a capa superior de mar.
Em termos de equipamento, podemos ir pelo básico. Sabemos de antemão que não vamos ter colossos na ponta da linha, que o esforço que estes bichos realizam é diminuto, e por isso, uma cana curta de 1.95 mts para quem pesca de barco, ou uma cana de 2.40 mts para quem as procura de terra, vai bem.
O carreto deverá estar adaptado à vara que utilizamos, e não deve ser pesado. Lembrem-se que vão estar com ele na mão durante horas.
Um tamanho 2.500 a 3000 vai bem e nem tem de ser um carreto caro. Mais vale apostar na linha, que deve ser um PE 0.6 ou PE 0.8 de qualidade.
São ambas linhas finas, mas como disse acima os chocos e lulas não são grandes e por isso, chega e sobra. A opção por uma linha fina tem a ver com a facilidade de penetração no meio líquido, a descida rápida até ao fundo. Não esqueçam que por vezes pescamos em zonas muito frequentadas por outros barcos, e por isso mesmo não queremos ser os últimos a chegar ao fundo…
A linha PE é consideravelmente mais resistente que o nylon, quase não tem elasticidade, e por isso mesmo é adequada para pescas que exigem sensibilidade. Devemos aplicar uma baixada que garanta a invisibilidade do sistema, e por isso a opção será um fluorocarbono de calibre 2 ou 2,5 japonês, o que corresponderá ao europeu 0.28 a 0.30. Basta para aquilo que se vai fazer. Com 3 metros de linha fluorocarbono estamos bem.
A baixada não sofre desgaste, e se estamos embarcados estaremos a pescar na vertical, logo o número de prisões é reduzido.
A GO Fishing Portugal dispõe em stock de um tipo de destorcedor Daiwa especifico para toneiras, nos tamanhos S e M. A carga de rotura destas peças é de 18 e 24 kgs, o que as faz idóneas para pescar chocos ou lulas. Sem problema também a substituição da toneira já que o permitem com grande facilidade.
Os japoneses são loucos por lulas e comem-nas de toda a maneira e feitio. |
Vamos continuar este trabalho observando no próximo número algo sobre a técnica de pesca.
Vítor Ganchinho
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