AS LULAS,... SEMPRE AS LULAS. COM JIGS CLARO.

São um molusco estranho. 
Resulta difícil tentar entendê-las à luz de uma comparação física com um ser humano. 
As lulas respiram por duas guelras e têm um sistema circulatório bombeado por um coração principal e dois corações subsidiários. É estranho mas é mesmo assim. 
O sistema circulatório nos cefalópodes conta com a presença de pequenos corações acessórios para ajudar no bombeamento do sangue para que chegue suficientemente às brânquias.
As lulas têm algumas características físicas que mais parecem apelar à imaginação de um guião de filme sobre ficção científica. 
Ao contrário de outros moluscos, os cefalópodes possuem um sistema circulatório fechado e, em vez da humana hemoglobina, é usada como transportador de oxigénio a hemocianina, uma proteína que contém cobre. 
Por esse motivo o sangue é naturalmente incolor, ganhando um tom azulado quando em contacto com o ar. Em rigor, e por isso mesmo, as lulas são nobres, têm “sangue azul”. 

São particularmente agressivas com os nossos jigs, e em zonas onde habitualmente se encontram, é raro não termos encontros “imediatos” com elas.


Têm de facto muito de “extraterrestres”, e se dúvidas subsistirem basta analisar o seu corpo em detalhe e também o seu comportamento para perceber o quanto são estranhas. 
Procuradas por todo o tipo de predadores adoptam movimentos de protecção que consistem em diárias migrações verticais, subidas e descidas na coluna de água ao ritmo das marés e da presença de luz. 
O padrão mais definido é este: de noite ficam próximo da superfície e de dia afundam a perder de vista. 
Não quer dizer que seja sempre assim em todas as alturas do ano, já que, com as águas frias de Inverno é até possível encontrá-las a menos de cinco metros da superfície, com o sol alto, e bem junto à linha de costa. 
Perdi a conta ao número de lulas que vejo seguir o meu jig até à superfície e que por ali ficam alguns segundos, espantadas, a olhar para mim.

Embora seja difícil, aqui podem ver como é perfeitamente possível conseguir pô-las a seco com um jig equipado com assistes simples da marca Cultiva, embora ao triplo nos dê muito mais possibilidades de êxito.
 

Praticam um permanente jogo de gato e rato, escondendo-se dos grandes predadores e procurando por sua vez alimento junto de pequenas presas. 
As lulas alimentam-se sobretudo de peixes e crustáceos, mas também comem lulas juvenis, mesmo que  de poucos centímetros. São altamente canibais para a sua própria espécie. 
De resto, servem-lhes peixes de várias espécies, caranguejos, camarões, etc. 
Dado o seu objectivo de forte e rápido crescimento, as lulas têm um forte apetite e por isso mesmo são muito agressivas. O que facilita sobremaneira a nossa tarefa de pescadores. 
Defendem o seu corpo desprovido de armamento ou protecção através da camuflagem, da sua agilidade natatória, e da rapidez com que conseguem projectar um esguicho de tinta negra que confunde os predadores. 
Existem aproximadamente trezentas espécies diferentes de lula, e, entre os cefalópodes, não há outro mais rápido. Quando ameaçadas são um autêntico foguete a cortar a água. 
O jato de água gerado pela contração do seu corpo, ou manto, é expelido bruscamente fazendo com que o animal seja projectado para trás, por propulsão hídrica.

O triplo é aquilo que melhor as segura. Quando presas por dois ganchos, dificilmente se vão embora.


E se sabemos que este predador faz uma migração vertical à noite e aparece quase à superfície, a caçar tudo o que encontra, então é esse o momento certo de as pescar. 
Porém, poucas pessoas terão essa disponibilidade, pelo que devemos focar as nossas atenções numa pesca diurna, ainda que tenhamos toda a conveniência em chegar aos locais de pesca de manhã bem cedo. 
Não são propriamente difíceis, porque a sua necessidade de alimento é tão grande e permanente que não podem dar-se a grandes luxos de escolhas. 
Um equipamento constituído por uma toneira e uma piteira, (o chumbo pintado armado de agulhas que leva a montagem para baixo), é o indispensável para as conseguirmos. 
Se quisermos ser um pouco mais flexíveis, pescando lulas mas ao mesmo tempo tentando os pargos, …então o aparelho certo é o jig ligeiro. 

E quando é que temos mais lulas na costa?
Encontramo-las sobretudo nos meses de águas mais frias, muitas vezes a escassos metros da superfície, cumprindo ciclos em que as aproximam bastante das águas rasas, para desova.
Para quem faz mergulho não resulta difícil encontrar os cachos brancos das suas desovas. São às dezenas, em cor marfim, colocadas em alpendres de rocha, pendidos, ao sabor da movimentação das águas. 
Tentem imaginar um cacho de uvas numa videira. A diferença é que em vez de bagos redondos, desta vez são tubos brancos, como que cigarros pendurados em cacho. 
Perguntam vocês: “ e então os outros peixes não comem estas posturas?”
Nem tanto. Os progenitores são até pouco ortodoxos nos cuidados a dar à sua prole. 
O macho fertiliza a fêmea e vai à sua vida, e esta, a seguir à desova pura e simplesmente abandona o local. A razão é simples: a lula fêmea não precisa cuidar dos ovos, pois estes contêm no seu invólucro substâncias fungicidas e bactericidas. E se sabem mal, os outros peixes não lhes tocam.
Irão posteriormente morrer, ambos os progenitores, após os trabalhos de perpetuação da espécie. 


Aqui tive sorte em conseguir que uma fina pele do tentáculo fosse suficiente…


Por vezes colocam-me questões relacionadas com o tipo de toneira a utilizar. 
Em bom rigor, quase tudo serve! Se quisermos ser verdadeiros, qualquer toneira para chocos é eficaz quando se trata de lulas. 
Há pessoas que pescam lulas em mar aberto e não gostam de pescar chocos, e por isso mesmo preferem toneiras sem peso frontal, mas não há qualquer inconveniente na utilização de equipamentos para chocos, porque o princípio de funcionamento é muito similar. No caso das lulas, aquilo que difere é o seu posicionamento na coluna de água, bem mais largo e amplo que os seus congéneres chocos. 
Sendo normal que se encontrem junto ao fundo, atacando os artificiais exactamente quando estes batem contra a areia ou pedra, também não são de desprezar os toques que recebemos aquando da recuperação de linha até ao barco, à superfície. Ou seja, podem estar em qualquer patamar do plano de água, enquanto que os chocos são bem mais de ficar pelo fundo. As lulas são mais "elásticas", e estão em todo o lado. 
Há mesmo casos em que a lula acompanha a toneira mesmo até ao limite, até que esta saia da água, ficando muitas vezes surpreendidas com todo o aparato do barco e das pessoas que estão dentro dele. 
Nestes casos, há que baixar rapidamente a toneira alguns metros sendo quase certo que teremos uma prisão imediata. 
Há poucos dias, a pescar spinning ao robalo, uma delas seguiu o vinil até junto ao flutuador do barco. 
Ficou encostada, hesitante, a olhar para aquele estranho objecto flutuante. Sem fazer gestos bruscos, deixei sair cerca de dois metros de linha, agitei um pouco o vinil e vi-a dirigir-se a ele. Tinha fome. 
Percebi que o seu foco era aquele pequeno “peixinho” e nada mais. E mordeu!
Infelizmente o vinil apenas tinha um anzol simples e isso é muitas vezes fatal. Depois de três ou quatro esticões, largou. Perdeu-se no azul profundo mas deixou-me um sorriso de orelha a orelha….


Há mil segredos sobre este estranho animal. 
No próximo número vamos continuar a falar sobre lulas. 




Vitor Ganchinho


😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.
Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال