A IMPORTÂNCIA DO AFIAMENTO DO ANZOL

Quantas vezes nos acontece perder um bom peixe aos primeiros lances do dia e não sermos capazes de recuperar o ânimo até final da pescaria?!...
Quantas vezes já nos sacrificámos a sair de casa cedo, sair para o mar e no fim de tudo constatar que afinal os peixes de maior tamanho acabaram todos por ir embora?
Pois sim, numa análise fria às razões de tal insucesso verificamos que quase sempre estão do lado do pescador e não do lado do peixe.
A maior parte das pessoas não o faz. Não conheço muita gente que tenha a capacidade de raciocinar de forma pouco egocêntrica, desapaixonada, fria, ao ponto de ser capaz de admitir que falhou neste ou naquele aspecto. Poucos conseguem ir para lá do tamanho do seu ego e admitir que por aselhice sua perderam alguns peixes de qualidade.
Bem mais fácil será culpar os outros, neste caso os peixes. “É que hoje estão a morder mesmo mal!”…

Os peixes não têm de morder bem nem mal, têm é de …morder. O resto é connosco.
A convicção com que assumimos a tarefa de preparar os materiais de pesca diz muito da nossa qualidade de pescadores. É a exigência que colocamos nos detalhes que irá determinar os resultados do dia e é a nossa capacidade de análise daquilo que aconteceu que irá determinar o eventual sucesso que poderemos ter. Ou não.
Fazer uma estatística mental de toques recebidos versus toques falhados irá dar-nos a noção de estarmos ou não a executar tecnicamente bem, e, sem dúvida, se o nosso material de pesca está devidamente adequado ao peixe que estamos a pescar.
Se alguém recebe uma dezena de ataques no seu jig ou amostra, e apenas concretiza um ou dois, isso quer dizer que quase tudo estará mal!

Este pargo apenas poderia escapar rompendo a linha. Acontece que era um fluorocarbono Varivas 0.31mm com cobertura de titânio...

O anzol é o nosso ponto de contacto com o peixe. Na maior parte dos casos, conseguimos motivar um predador entre muitos a morder a nossa amostra uma vez.
Dificilmente o fará duas ou mais vezes e por isso é bom que a primeira oportunidade seja a boa, a que conta.
Quando utilizamos anzóis velhos, gastos, é muito natural que essas peças tenham as suas pontas deformadas. Por vezes isso é facilmente visível à vista desarmada, outras não o será tanto, necessitaríamos de um aparelho de aumento para o detectar.
Porque não temos sempre lupas ou microscópios à mão, mais vale que possamos socorrer-nos de métodos mais simples e um deles é passarmos o anzol na unha do dedo.
Se prende, se risca, então sem dúvida o anzol está bom. Se resvala facilmente, se escorrega, então nada feito, há problemas com o afiamento.
Quando se faz spinning, ou jigging, a primeira pancada do peixe é a única que conta, e por isso mesmo tem de ser aproveitada.
Quando se cuida dos anzóis convenientemente, o retorno é sempre medido em peixes na caixa.
Vejam o caso de um pargo que prendeu em todos os meus anzóis, e que dificilmente poderia ter escapado:

Peixes destes não se podem perder por má qualidade dos anzóis.

Não esqueçam que pescar com anzóis rombos, velhos, é comprar problemas. Nós nunca sabemos quando chega o tal pargo que irá salvar o dia e por isso mesmo devemos estar sempre preparados para o receber com anzóis aguçados, prontos para penetrar fundo até onde for possível. O resto será mais ou menos sofrimento, mais ou menos habilidade de mãos, mas o importante é que o peixe não vá embora depois de fazer o mais difícil: morder.
Se a ponta entortou numa pedra, se dá sinais de fadiga, então que se mude. Se a questão é financeira, então que se pense que um pargo de seis quilos vale sempre mais que um anzol…

Têm aqui um curto vídeo do peixe ainda vivo, que pouco adianta,….mas enfim:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

Na circunstância estava a pescar com um jig de 40 gr da Shimano, um Flat Light OCEA JU-S40S 40g na cor 009, o qual equipei com um assiste duplo à cauda e um simples à cabeça.

Pescar não é uma questão de fé, nem tem algo a ver com alguma experiência religiosa. Tem sim muito de técnica e de equipamentos adequados ao peixe.
Se analisarem como pescam os bons, vão reparar que são pessoas que transportam conceitos técnicos para níveis muito altos, com muito poucos gestos parasitas, poucas falhas, poucos nervosismos.
São pessoas que reduzem as possibilidades do peixe por saberem em cada momento o que devem fazer. Esses são os modelos, aqueles que muitos milhões de pessoas tentam copiar.
É minha opinião que, se podemos aprender a fazer com os melhores, também devemos paralelamente tentar incutir à nossa pesca algo que seja verdadeiramente nosso, que resulte da visão que temos sobre o peixe e as suas estratégias.
Pescar bem não exige capacidades sobre-humanas, nem sequer dotes físicos ou intelectuais de excepção. Nem sequer é necessário ser demasiadamente estilizado naquilo que se faz, a pesca é e deve ser sempre algo muito simples.
Tudo o que os muito bons fazem, está ao alcance de quase todos.
Não digo todos por uma razão simples: pescar bem implica um nível técnico mínimo e esse desempenho decorre da repetição dos gestos. Chamemos a isso “experiência de pesca”...
Quem olha para o fenómeno da pesca como algo ocasional, digamos algo que se faz dois dias por ano nas férias de verão, dificilmente conseguirá atingir patamares de excelência razoáveis.

Um outro pargo, de uma espécie diferente (Dentex canariensis), que cravou no maxilar inferior, e ficou bem ferrado.

Essas pessoas olham para os bons pescadores como sendo alguém que executa de forma extraterrestre gestos que afinal são perfeitamente mundanos.

Devem pensar no seguinte: se os bons pescadores são pessoas que acumulam em si milhares de horas de observação de mar, de goradas tentativas de pesca, de perda sistemática de peixes, até atingirem um nível muito alto de êxitos, também é verdade que essas mesmas pessoas estarão muito mais perto de deixar de pescar que as outras mais jovens, as quais têm muitos anos pela frente para fazer o seu próprio percurso. E criar os seus próprios sistemas.
O pescador veterano olha-se ao espelho e vê que os dias de pesca que tem pela frente serão cada vez menos.
Parece-me importante que essas pessoas saibam reconhecer que o seu tempo um dia chegará ao fim e que devem, enquanto têm saúde e vontade para isso, passar a outros pescadores mais jovens o seu saber e experiência.
O caminho deve ser esse, o da partilha de conhecimento.


Vítor Ganchinho


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