OUTROS MUNDOS NO NOSSO MUNDO

Quando nos dedicamos em exclusivo a um só tipo de pesca, e sobretudo quando o exercemos num só local, tendemos a cristalizar, a parar a nossa natural evolução enquanto pescadores.
Não vem mal ao mundo que se goste de uma só técnica de pesca. Há quem seja absolutamente especializado na pesca spinning ao robalo, há quem faça apenas pesca vertical, o dito “pica-pica”, há quem só pesque surfcasting, ou até quem goste apenas de trutas. Pois seja.
A questão é que esta “cristalização” rouba-nos a possibilidade de entendermos a pesca no seu todo, na abrangência de tudo aquilo que se pode fazer com uma cana na mão.
Ocorre-me esta reflexão de cada vez que um amigo me envia fotos de capturas que evocam outros lugares, outras paragens.

Peixes destes podem atingir os 90 kgs, o que os coloca ao nível dos grandes colossos marinhos.

O Brasil é em si um mundo. Fazer o país de norte a sul de comboio é trabalho para muitos dias, não para horas. E assim sendo, é legitimo pensar que também na área da pesca, conseguir pescar toda a costa brasileira possa ser trabalho para muitos anos.
Da parte de um amigo que pesca, o Mário, recebi registos de capturas de lírios descomunais, e não deixo de pensar em todos aqueles que nunca terão, por opção própria, a sensação de combater um peixe com verdadeiros argumentos para ganhar uma luta corpo a corpo.
Confesso que começa a não ser para mim. Tenho apenas más recordações do meu maior peixe, um tubarão tigre com 3,60 mts, 230 kgs de peso, que me fez suar as estopinhas e desejar mil vezes que a linha não suportasse a carga. Só queria que aquilo acabasse, de uma forma ou de outra.
Os peixes grandes são uma perfeita ilusão, algo que serve para alimentar os nossos sonhos, mas só são assim enquanto não os concretizamos. Depois de o fazermos, chegamos à conclusão que afinal não era nada daquilo que queríamos fazer, que afinal poderíamos perfeitamente passar sem ter pescado aquele peixe.
As recordações que guardo de atuns, tubarões e outros que têm mais força que eu é de que, bem vistas as coisas, apenas servem para nos causar dor física e pouco mais.


Isto a propósito de um convite que recebi para ir pescar estes gigantescos lírios baianos, no próximo ano. Trata-se de ir pescar a uma zona praticamente virgem do Brasil, um ermo isolado, longe de tudo e todos, que apenas tem lírios gigantes e pouco mais.
Como ficará o meu corpo ao fim de alguns combates com estes …”meninos”?
Fico na dúvida se será uma decisão avisada meter-me a caminho para ir pescar um peixe que decididamente não é o meu tipo.
Sou de garoupas, de peixes de fundo, e muito pouco de peixes pelágicos.
Vamos ver qual a decisão, tenho tempo para pensar….
Tenho tempo para decidir se quero ir a um outro mundo, ou se me fico por cá, a pescar os meus parguinhos, os meus robalos.


Por natureza, sou dado a experiências, a testar diferentes formas de pescar, de desafiar os peixes.
Posso no mesmo dia tentar os robalos com um jig, e a seguir querer pescar os mesmos robalos com um vinil.
Inventar novas possibilidades de os enganar sim, isso é interessante.
Mas pescar lírios com jig em combates que duram horas, ….lutas em que no fim fica o peixe esgotado para um lado e o pescador esgotado para outro…
Vamos ver…


Vítor Ganchinho


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