E SOBRE... BARBELAS?!

Acreditamos em barbelas.
Nem sempre fazem falta porque há peixes que puxam de tal forma franca e honesta que basta o gancho curvo de um anzol para os arrastar para cima.
Mas as oportunidades de conseguirmos peixes acima do padrão vulgar são tão poucas que queremos assegurar sem falhas o sucesso de cada uma. E aí, uma boa barbela pode ser decisiva.
Temos no entanto um dado a ter em conta: quanto maior, quanto mais alta a barbela em relação ao eixo da haste mais difícil será a penetração do anzol ao primeiro impacto.
Pode mesmo acontecer que seja ela a causadora de uma ferragem falhada.

Neste caso, o peixe subiu “firme” na ponta do anzol de baixo. O anzol que está por cima nem chegou a penetrar.

Explico melhor: a ponta afiada do anzol é uma agulha cónica que penetra com alguma facilidade, mas daí para frente, leia-se da posição da barbela para baixo, para conseguirmos vencer a resistência natural dos tecidos ou mesmo da estrutura óssea dura, já necessitamos de alguma pressão. Porque já não tratamos de espetar um bico com um diâmetro mínimo, é sim necessário abrir um buraco largo numa pele rija, ou osso duro, que logicamente resistem à penetração. 
Nem sempre os peixes vão ao jig com a violência necessária, por vezes os toques que recebemos são muito subtis. É verdade que ao sentirmos o impacto do peixe, nós retesamos o braço, bloqueamos, e isso oferece ao peixe um ponto de apoio suficientemente firme para que o anzol acabe por penetrar. Mas nem sempre temos a oportunidade de “ajudar” a cravar pois por vezes somos apanhados numa posição menos favorável, sem os apoios dos pés no seu sitio, ou até completamente desprevenidos, com o braço descontraído. Eles picam quando menos se espera...
Nesses dias, e passe todo o entusiasmo que colocamos na ferragem, se tivermos barbelas altas, volumosas, vamos perder alguns peixes.
Pensem que o ideal para ferrar o peixe na perfeição seria que a barbela não existisse, mas ao mesmo tempo, numa segunda fase, o ideal é que ela exista, seja alta e impeça o anzol de voltar atrás. Que cumpra a sua função de travão.
Fácil é entender o quanto estes dois interesses são completamente antagónicos.
Os fabricantes procuram conciliar estes dois momentos e necessidades, produzindo anzóis cujas barbelas apresentem uma curva suave, discreta, que alargam o músculo ou osso onde cravam com a menor pressão possível.
Podem inclusive adicionar ao metal uma cobertura de teflon, a qual irá fazer "escorregar" mais facilmente o metal pelo osso acima.

Reparem que este outro peixe debateu-se imenso, lutei com ele por mais de 130 metros, e no entanto a barbela do anzol da direita não chegou a penetrar.

Outros fabricantes sugerem a aplicação da barbela um ou dois milímetros mais abaixo, numa posição mais recuada, mais baixa relativamente à ponta, para beneficiar do esforço do peixe ao sentir a prisão. Se já houver uma ponta dentro da boca do peixe, e se este forçar a ida para baixo, para o fundo, é mais provável que o lance se cifre em sucesso para o nosso lado. 

O que gostaria que retivessem é que a ferragem é mais fácil se a barbela não existir, mas no pós ferragem é ela um dos factores que mais nos garante o peixe.
Como complemento, fácil é entender que a ponta do anzol deve ser tão afiada quanto possível já que é ela, em primeira instância, aquilo que vai à frente, que abre caminho a tudo o resto.
Devemos, antes de começar a pescar, fazer um teste rápido e verificar se podemos ou não contar com as pontas dos anzóis. Estes devem sim prender na unha, riscar a unha, e não resvalar facilmente. Se escorregam facilmente, se deslizam sobre ela sem prender, então isso quer dizer que já não nos podem ajudar a pescar. Acontece aos anzóis que já penetraram muitas dúzias de vezes em osso de peixe, ou que, por azar nosso, bateram forte em pedras, ou prenderam em qualquer outra superfície dura.  


Não estando a ponta do anzol bem afiada esse facto irá obviamente comprometer o resultado final. Perder um peixe por um detalhe destes é uma lástima.

Se olharem com atenção para este jig NAMU de 150 gr, vão ver que as barbelas dos assistes da direita estão rebaixadas, a sua posição é um pouco mais baixa que o normal. A ideia é favorecer a penetração da ponta. O resto do trabalho será feito pelo peixe, o qual irá cravar o resto ao tentar libertar-se.

Assumir a explicação de um dado relacionado com pesca é um pouco como tentar resolver os trabalhos de Hércules. Como sabem, esta figura da mitologia enfrentou a Hidra de Lerna, uma figura cujas cabeças duplicavam de cada vez que uma delas era cortada.
Falar sobre pesca é um pouco isso, cada assunto traz outros assuntos a debate, e nunca mais acaba.

Aquilo que me parece importante é que cada um de vós seja capaz de entender que é da participação de todos que pode surgir mais conhecimento.
O blog agradece a leitura e ainda mais agradece a vossa colaboração. Em caso de dúvidas, coloquem questões e elas serão respondidas. 



Vítor Ganchinho


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4 Comentários

  1. Luis Ramos17 agosto, 2024

    Mais um excelente artigo amigo 😃👍 Era interessante os pescadores fazerem experiências de pescar sem barbelas seja em singles como em fateixas e acredito que iam ficar bastante surpreendidos com os resultados. Não se trata apenas de quando usamos anzois ou fateixas grandes mas os resultados nos diâmetros mais finos são muito interessantes. Principalmente quando o peixe ataca por reacção e bate nos nossos jigs ou amostras no caso de spinning e não fica ferrado. A remoção da barbela simplifica a penetração até quando bate na escama do peixe. E no que diz respeito aos peixes desferrarem, não é nada fácil eles conseguirem fazer se mantivermos o mínimo de tensão sobre o peixe. Até às vezes com ele debtro do barco já sem pressão o anzol ou a fateixa mantém-se no peixe até que o tiremos com o alicate.
    No próximo ano, o Vítor vai ter a oportunidade de fazer essas experiências aqui comigo

    Grande abraço amigo e até breve

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    1. Grande Luís!!


      Pensava ter sido excomungado da Ordem de Cristo depois daquilo que escrevi sobre o Incrível. Não acredito que Maomé tenha dito do toucinho de porco aquilo que eu disse sobre aquele luxuoso barco....
      Confesso que ainda gostava de o voltar a visitar, porque só a sensação de aterrar no heliporto da embarcação já é algo de surreal.

      Sobre isto dos anzóis, pareceu-me ser interessante escrever umas linhas sobre a questão das barbelas. Há quem lhes atribua um papel decisivo, quando na realidade na maior parte dos casos se elas não existissem pescavam mais peixe. Desde que a seguir consigam controlar o peixe e manter a tensão na linha, já se vê.
      Atendendo ao que se faz por aí, é melhor que se usem barbelas, e quantas mais melhor, ....

      Estamos a chegar às 300.000 visualizações.
      Para quem escreve sobre pesca não é mau, mas um futebolista da segunda divisão consegue isso apenas com um corte de cabelo mais ousado.

      Um grande abraço!


      Vitor

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  2. Luis Ramos20 agosto, 2024

    Excomungado nunca..kkk..o Vitor sabe que o seu lugar no incrível é vitalício e ele e eu cá o esperamos no próximo verão em busca de novas aventuras e de monstros marinhos de 100kg..😁💪 Muitos parabéns pelas visualizações e por todo o trabalho de ajuda e amor pela pesca. Aquele abraço forte e até já

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    1. Luis, estou já em modo de voo, à espera da data de sair para ir pescar a Angola.

      Vou levar jigs banhados a chocolate suíço, ....espero que tenham sucesso.



      Abraço!
      Vitor

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