VOLTAR AO BÁSICO... CAP I

Em tempo de férias, é muito comum que pessoas sedentárias, com uma vida profissional que os remete durante todo o ano para a clausura fria de quatro paredes, queiram para si um pouco de sol.
Querem respirar um pouco de ar, ser livres de decidir, esquecer por alguns dias as agruras de uma vida de sacrifício pessoal, de horários, de trabalhos quantas vezes longe daquilo que gostariam de fazer.
Eu entendo-as e à sua necessidade de espaço, de horizontes largos. Férias são férias e por isso a palavra de ordem é descontrair. E porque não a pesca?
Quando o momento chega há que dar tudo, e se o tema é pesca, há pois que estar preparado para finalmente se poderem dedicar algumas horas a uma actividade tão relaxante quanto esta.
Porém, cometem-se exageros. Imaginam-se peixes e lutas que excedem em muito aquilo que essas pessoas podem e sabem fazer.
Se as férias os levam para longe, para destinos exóticos, para ilhas quase desertas, é muito natural que se adivinhem facilidades de pesca que nem sempre se concretizam. Fazem-se investimentos avultados utilizando a benesse de um subsídio de férias que caiu do céu. Gasta-se muito, demasiado.
Não devemos perder a noção daquilo que é o efémero de alguns dias fora da nossa rotina. A pesca é uma excelente forma de ocupação de tempos livres mas se a pessoa apenas a pode praticar ocasionalmente então deve respirar fundo, ser racional, e fazer as opções certas. Há que ter uma noção muito precisa, real, do tempo que lhe podemos dedicar, das condições que temos para ir à pesca, e do quanto estamos dispostos a gastar para podermos concretizar sonhos que podem não passar disso mesmo.


Há um tempo mínimo de aprendizagem, de formação, e isso não pode ser negociável, nem pode ser ultrapassado.
A quantidade de pequenos detalhes que formam a “biblioteca de conhecimentos” da actividade de pescador é tão grande que não pode ser encurtada de forma a caber no período de férias de ninguém.
Deve a pesca ser entendida como uma actividade plurianual, regular, e não algo que possa ser enquadrado no espaço de uma licença de pesca semanal.
Vejo cada vez mais pessoas a procurarem equipamentos topo de gama, a fazerem sacrifícios para terem canas que custam acima de mil euros, carretos do mesmo valor, e não vejo essas pessoas pescarem nada que justifique esses investimentos. Há quem tenha material topo de gama nas mãos e no entanto não sabe explorar o seu potencial, por não ter a menor noção do que é a pesca!
Tudo estaria bem se os resultados obtidos estivessem em consonância com a despesa que fazem. Porém, e pese a qualidade indiscutível das “tralhas” que compram, na maior parte dos casos esses equipamentos apenas os estorvam.
Não sabem tirar partido deles.
O tema de hoje vai no sentido de explicar que o bom material pode fazer a diferença, pode ser uma mais valia, mas apenas nas mãos de quem lhe sabe dar uso. É nesse sentido que dou o conselho de irem falar com quem tem do fenómeno da pesca uma visão mais larga, mais abrangente, e pode de facto perceber quais são as reais necessidades da pessoa em questão.


O material topo de gama é caro, exige uma carteira bem apetrechada, sem dúvida será de melhor qualidade que as chinesices que por aí pululam, mas só por si não ensina a pescar.
Não se pesca com notas de euros, pesca-se com conhecimento, com saber.
Se têm dúvidas, vão ver como pescam no Sado os velhotes reformados nas suas aiolas de madeira, com linhas de mão rudimentares sim, mas que trazem baldes cheios de chocos.
Ou vão ver como os nossos veteranos pescadores pisam cansados trilhos de décadas que os levam a locais recatados da nossa costa e aí, nas rochas batidas pelas vagas, fazem grandes sargos e douradas.
Esta gente não necessita de material topo de gama para pescar. Lançam ao mar coisas simples que mais não são que a sua sabedoria, a sua experiência. E trazem peixe.
Voltar ao básico é preciso, porque não é da complexidade do material que surgem os bons resultados. Pelo contrário, é da simplicidade de manuseamento que algo se pode fazer, quando os conhecimentos técnicos não permitem ir mais além. O “este ano nas férias vou pescar robalos grandes” não passa de uma quimera, um sonho.
O tempo e a experiência acumulada darão a possibilidade de cada iniciado poder vir a executar melhor, ser mais eficaz nas suas acções de pesca. E aí sim, o material topo de gama pode fazer sentido.
Não convém confundir equipamento caro com bom equipamento, embora seja um indicador. A qualidade é aquilo que pode ajudar-nos quando mais nada nos pode ajudar.
Quando chega o momento fatal, aquele em que temos o tal peixe grande na ponta da linha, não queremos que nada falhe, que algo ceda, que a linha aguente, que o anzol não abra, e que a cana cumpra com a sua acção tudo aquilo que é exigido pela bravura do nosso adversário.
Nos momentos de aflição damos tudo pela garantia de que o peixe não vai embora, que sejamos capazes de o trazer até nós, de o ter na nossa mão.
Aí sim, o material de melhor qualidade joga um papel decisivo. Mas só por si não garante capturas.


Podemos dividir em dois grandes grupos as razões para um insucesso na captura de um bom peixe:
Os erros individuais, aqueles que são da responsabilidade do próprio pescador e que, do meu ponto de vista, representam mais de 80% dos casos.
Os defeitos e limitações do equipamento, os tais 20% que não permitem resultados mesmo a quem tem boas condições técnicas. Uma linha quebradiça, anzóis de aço macio que dobra, uma cana demasiado dura, um carreto que não enrola linha, etc. O melhor pescador nada pode fazer contra uma linha que se parte com o vento...
Vamos no próximo número ver alguns detalhes que podem ajudar o pescador iniciado, a pessoa que parte de férias, a ser melhor na sua acção de pesca.


Vítor Ganchinho


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