VOLTAR AO BÁSICO... CAP II - O QUE PODE FALHAR?

O aspirante a pescador compra um conjunto de pesca e vai de férias.
Na mala de viagem leva uma quantidade de sonhos que quer ver concretizados e porque gastou um horror de dinheiro entende que isso é suficiente para justificar bons resultados, boas capturas. Normalmente a melhor qualidade consegue-se por um preço mais elevado, mas o material não pesca sozinho.
O que é expectável é que um fabricante que cobra mais pelos seus equipamentos os possa dotar de detalhes de maior qualidade, mais resistentes ao desgaste, mais efectivos a trabalhar peixe, mais sensíveis, mais ligeiros. Quem tem de fabricar barato não pode utilizar materiais de primeira qualidade, parece-me óbvio.
Mas o material não é tudo, as mãos também têm de ser boas, ou, mesmo em zonas de muito peixe, os resultados serão sempre fracos.
Atenção! A pesca só é garantida na pedra do mercado de peixe. Aí sim, podemos escolher a espécie, o tamanho, e haverá até alguém que nos prepara o peixe para o almoço.
No mar, temos de ser nós a fazer e é aí que começam os problemas. Porque temos mesmo de saber fazer...


É bom colocarmos aqui um ponto de ordem nos trabalhos: os elementos que enfrentamos são agressivos, as rochas são abrasivas, as conchas dos mexilhões são autênticas lâminas para as nossas linhas, as ondas e a sua espuma não nos permitem controlar sempre a posição dos multifilamentos, e por vezes os acidentes acontecem.
Se quisermos ser honestos e analisarmos bem, há muito por onde o material de pesca pode falhar. Romper uma linha é aquilo que mais frequentemente acontece a um iniciado.
O nosso triplo ou o anzol simples normalmente aguentam a carga, as canas aguentam os nossos esforços, mas ainda temos entre nós e o peixe muitas outras coisas que nos podem levar ao desespero total.
Vejamos a questão das linhas.
Quando fazemos as nossas montagens, procuramos compromissos de força que vão de mais a menos, de resto como deve ser feito. Estabelecemos uma relação gradual de resistência que obedece a um critério inteligente: o multifilamento é mais resistente que a baixada, e se algo ceder, que seja na ponta da linha, para podermos continuar a pescar.
Enrolado no carreto repousa um multifilamento que normalmente tem carga de rotura muito superior à capacidade que o peixe tem de o romper, mas não convém esquecer que a amostra pode prender no fundo.
Nestes casos, impera a lógica da resistência em escada, a ponta da linha deve ser mais frágil que o seu inicio. O multifilamento não pode partir junto ao carreto, deve ser sempre a baixada a ceder.
Se a parte mais fraca do conjunto é a baixada invisível que colocamos antes da amostra, está tudo certo. O que não quer dizer que seja fraca ao ponto de romper a cada peixe mais bruto.
Quer sim dizer que deve ser resistente o suficiente para aguentar com um bom peixe, mas garantindo que a linha principal estará alguns quilos acima. A grande luta é tentar fazer com que esta diferença seja a menor possível, pois podemos obter mais toques com linhas finas que grossas, e por isso o nosso limite deve ser sempre o mínimo necessário e não máximo possível. A maior parte das pessoas pesca com diâmetros de linhas muito acima do necessário.

Aqui é onde tudo pode falhar se a pessoa não tem conhecimentos técnicos. Os robalos estão debaixo desta espuma, deste ruído, desta agitação. Mas é possível controlar tudo isto.

Por baixo da espuma está água clara, limpa, sem bolhas de ar, e que permite ver a nossa amostra. A meia água estará um robalo preparado para morder um pequeno peixe que passe perto. A nossa amostra parece ser esse pequeno peixe e o ataque acontece.
Um robalo pequeno é arrastado para a superfície e não tem história, mas um bom robalo tem força e aí as nossas capacidades são colocadas à prova.
Ele irá forçar a sua ida para o fundo, e vai por isso mesmo tentar romper a linha que o prende. Na sua ânsia de liberdade irá fazer força e tentar passar por cantos de pedra, arestas vivas da rocha, ou até bancos de mexilhão. E quantas vezes isso é fatal, o roçar de uma linha puxada por um peixe poderoso, de grande tamanho, quase sempre significa a perda desse peixe.
É nestes momentos que se vê se o pescador está bem equipado, se cuidou de obter o melhor material, ou se adquiriu linhas baratas, atendendo apenas ao preço mais conveniente.
Aí sim, um fluorocarbono de alta qualidade, muito mais resistente à abrasão das pedras vai dar-nos o peixe que outro vulgar nylon nos faria perder.

A actividade nocturna do robalo é bem conhecida.

A parte técnica é muito importante.
De cada vez que conseguimos imitar na perfeição o comportamento de uma presa, temos um robalo potencialmente interessado na nossa amostra.
É forçoso escolher um local de pesca com algumas possibilidades, com peixe. Nada mais desolador que lançar uma amostra centenas de vezes e não ter um toque.
Por isso mesmo, saber reconhecer um spot de pesca será sempre importante. Se conseguirmos um habitat favorável à existência de robalos, estaremos mais perto de os conseguir pescar.
Saídas de rios, misturas de areia e pedra, pequenos peões salientes em mar aberto, estruturas de construções humanas como pontes, pilares de portos, cais de embarque de navios, são locais que chamam robalos, por neles haver muita comida disponível. Não têm de ser pesqueiros fundos, os robalos visitam muitas vezes remansos de água que não chegam a um metro de fundo. 
É de ir atrás da comida que falamos.
Pequenos peixes vagueiam entre as pedras e atrás deles chegam bocas grandes que os querem.
Quase nunca as praias de areia lisa, desertas de escolhos, são mais interessantes que uma mistura de pequenas pedras cercadas de areia, no fundo estruturas onde um robalo pode caçar emboscado. 
Nunca poderemos dizer que um robalo não pode estar aqui ou ali, porque em rigor eles frequentam todo e qualquer tipo de biótipo, sem excepções. A questão é que alguns são muito melhores que outros. 
Sabemos que mesmo locais aparentemente inócuos, a dada altura têm robalos. Não esqueçam isto: à noite os lobos descem ao vale e nenhum peixe pequeno se pode sentir seguro em lado nenhum.
Mesmo quando está numa zona que durante o dia até o foi. À noite tudo muda e os robalos sabem que a coberto do escuro podem ir a todo o lado.
O que é facto é que os robalos têm sempre uma razão para estar onde estão...e se as soubermos entender, estaremos mais perto de os encontrar.

Silhueta de um robalo a poucos centímetros da superfície, num fundo baixo.

Se não houver uma discrepância demasiado grande entre a temperatura do dia e da noite, o robalo prefere a actividade nocturna.
Aproveitam os seus bons olhos para caçar pequenas presas que lhe seriam bem mais difíceis à luz do sol.
Caso não tenham outra alternativa, (noites demasiado frias empurram o peixe para o fundo), podem caçar com o sol a pino, a meio do dia, mas são muito mais nocturnos que diurnos. E onde caçam?
Podemos encontrar robalos activos a poucos centímetros da costa, pelo que nem sempre vale a pena procurar lançar o mais longe possível. São as marés que determinam o afastamento que o predador faz da linha de costa.
Ter ou não ter água no pesqueiro...

Pesqueiros que na maré vazia estiveram a seco, algumas horas depois fervilham de vida. E os lobos entram.

Vamos ver no terceiro e último capítulo onde podemos efectivamente procurá-los.


Vítor Ganchinho


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