Tenho para mim que 99 em 100 pescadores nacionais olha para o seu GPS e vê nas pedras marcadas a forma, a única forma, de conseguir alguns peixes.
Quando um barco de pesca lúdica sai ao mar, não haverá a bordo um único capitão que não aponte proa de forma decidida às suas marcações GPS. Aos seus pontos, diligentemente acumulados ao longo dos anos.
Cada uma das cruzes corresponde invariavelmente a uma pedra, ou a um cantinho especial da pedra e o assunto não tem discussão.
Entendo que assim seja. É certo e sabido que em cima de qualquer estrutura fixa haverá sempre peixe, por pequeno e desinteressante que este seja. Mais que isso, quando se chega ao local a primeira acção é sempre a de deitar ferro ao fundo, o que resulta infrutífero se a âncora não prende na pedra. Decididamente é sempre de pedra que falamos!
E porque os olhares treinados do mestre apenas focam a cruz marcada e a distância que falta para lá chegar, até é normal que durante o percurso a sua atenção se desligue e vire para outros temas.
Todos sabemos que a conversa incide muito mais em torno de futebol ou mocinhas loiras desinibidas, leia-se figurinhas encaloradas de calendários de oficina, e muito menos em… cotações da bolsa ou física quântica.
Vinis …sempre eficazes. |
Não tem de ser assim.
Devemos ter o espírito suficientemente receptivo a algo diferente. E a diferença aqui é sermos capazes de ir pelo peixe e não pelo ponto GPS.
É certo que as pedras recebem os favores de visitas regulares de muitos e bons peixes, mas se aceitamos que hoje exista peixe em cima de uma pedra e amanhã nem tanto, isso quer dizer que ele se movimentou. Se “está” e a seguir “deixa de estar”, …ou bem que foi pescado na totalidade, ou foi …para outro lado.
Partindo do princípio que as pedras não são infinitas, haverá um momento em que esse peixe se deslocou de uma pedra para qualquer outro lado. Não está lá, saiu da zona da nossa marcação.
Pensarão os indefectíveis defensores da valia dos pontos GPS/ pedra que obviamente se saiu de uma pedra foi certamente para ir para outra. Volto a repetir: não tem de ser assim…
Temos uma tendência nata para ver as coisas a preto e branco, e muitas vezes não é nem uma nem outra cor, há muitas matizes de cinza que podem ajustar-se bem mais à verdade. O peixe pode apenas afastar-se momentaneamente da pedra e não querer ir para outra.
O jigging permite-nos peixes bonitos, peixes que nos enchem de alegria. Um bom pargo que fiz com um jig Little Jack de 40 gramas. |
As pessoas que fazem mergulho têm uma noção mais exacta daquilo que é a movimentação diária do peixe, em função das marés, das suas horas de caça, dos seus momentos de repouso, da busca frenética de comida ou da sua plácida permanência encostado a uma pedra, debaixo de uma solapa, ou bem protegido dentro de uma fresta escura. O peixe a seguir ao seu tempo de alimentação, descansa, abranda o ritmo.
Há um padrão bem definido que pode ser adivinhado pelo pescador de costa, aquele que vê a água subir com a maré e vê o brilho das escamas do peixe que começa a mariscar bem junto a si. E que horas depois o vê sair para o largo para o seu merecido descanso.
Os mais pessimistas pensarão que foi embora e já não volta, os mais optimistas vão ficar e esperar por ele, na esperança de o ver retornar. O peixe cumpre apenas o seu ciclo alimentar e nada mais que isso. Vem e vai.
É o pescador que tem pressa, é ele que quer prolongar o momento, e se calha a ser pessoa de fé, irá ficar de olhos fixos rezando a todos os santinhos que lhe traga aquela dourada enorme que ali esteve a esfregar-se na rocha.
Para o pescador não há dúvidas, há sempre condições para o peixe ficar. Pese embora a exiguidade de água que ficou a lamber as pedras descobertas onde horas antes havia mais três metros de altura, se o pescador quer que fique o peixe tem de ficar!
Os peixes seguem instintos que são seus e que devemos tentar entender, para os conseguirmos pescar. |
Também o pescador que actua ao largo, longe da costa, sente que há diferenças de posicionamento do peixe, em função das marés.
Volto a insistir na questão dos famosos “ciclos de alimentação” por entender que são eles que marcam o ritmo. Para quem vai poucas vezes ao mar ou para quem é mais distraído, tudo se resume a dias em que o peixe “dá” e outros em que “não dá”.
É uma forma simplória de ver as coisas. Ao longo do dia o peixe passa por diversas fases, e algumas delas correspondem a períodos activos de alimentação, outras a períodos de descanso passivo.
Por nós, estaríamos em permanência na crista dos períodos frenéticos de alimentação. Queremo-los entusiasmados com as nossas iscas e as nossas amostras, ….sempre.
Mas os horários são sempre os deles, não são os nossos…
Quando estamos no local certo no momento certo, podemos esperar fazer pescas interessantes em muito pouco tempo. E se querem saber, os momentos certos têm alguma possibilidade de ser previstos, se soubermos ler o mar e soubermos algo sobre o peixe. Mostro-vos um curto filme de um desses momentos, em que eu estava lá quando devia estar:
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O conceito é este, o de tentarmos perceber a lógica de comportamento do peixe que queremos pescar.
Podemos pensar todos em voz alta e tentar chegar a uma conclusão.
Um predador inspira sempre temor, medo, pavor, às frágeis presas que com ele se cruzam. Por ser uma potencial ameaça à sua existência!
Imaginem um cardume de pequenos peixes que se encontra estacionado em cima de uma pedra. E agora vamos colocar um pargo de 8 kgs a um metro desse cardume. O cenário é este.
Percebam que a pressão sentida por esse cardume só pode baixar de duas formas: ou o predador se afasta, ou o cardume se afasta.
Não há forma de fazer coabitar estas duas realidades a um metro uma da outra sem que o mais frágil não se sinta incomodado.
Se o pargo decidir afastar-se, o cardume pode ficar no local. Se isso não acontecer, mais minuto menos minuto, mais hora menos hora, a tensão predador / presa fará estalar o chicote e o cardume acaba por ter de sair.
Nesse caso, o predador perde o contacto com a sua alimentação, por se ter mantido demasiado próximo, por ter excedido o limite de tensão admissível para o cardume de pequenos peixes.
Perde mais que isso, perde também a possibilidade de ficar num local que conhece, que eventualmente poderá até ter boas condições de caça.
E é forçado a deslocar-se, a sair da “sua” pedra. Eventualmente irá seguir o cardume, ou tentar encontrar outro.
Agora vejam uma forma diferente de fazer: o predador ataca o cardume, come, e afasta-se dele. Não vai para longe, apenas se afasta da pedra o suficiente para não ser considerado uma ameaça permanente.
Para o cardume de pequenos peixes, após um momento de tensão máxima, chega a altura em que pode baixar os níveis de stress, voltar a confiar na vigilância de grupo e dedicar-se a comer.
Não tem o predador à vista e muito menos a escassos centímetros de si. A tensão baixa a níveis aceitáveis e por isso mesmo fica por ali.
Em linguagem fácil, mundana, o predador abandona a cozinha, desloca-se para a sala e deixa o cardume de peixes, a comida, no frigorífico. Acessível, controlada, …fixa.
Faz diferença?
Por isso mesmo, eu encontro muitas vezes os peixes não em cima da pedra, sítio onde toda a gente os vai procurar, mas nas imediações, não longe da pedra.
Reconheço que é necessário um pouco mais de paciência, de saber procurar, de saber ler a sonda. Mas quando estou a fazer isso, estou concentrado no que faço, não estou a tratar de futebol nem a ver fotos de calendários de oficina de bate-chapas...
Vítor Ganchinho
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Boa tarde, excelente artigo! Estive aqui a ler e suscitou-me uma dúvida. Ao lançar estes vinis, como o devemos trabalhar ? Deve-se deixar cair ininterruptamente ou mais pausadamente colocando a mão na bobine? E a partir do momento em que toca no fundo, é mais correto animá-lo regularmente com pequenos toques, ou subi-lo uns metros e voltar a deixá-lo cair?
ResponderEliminarMuito obrigado,
O texto das orcas está feito e vai ser publicado hoje pelo Hugo Pimenta.
EliminarSobre a questão dos vinis, eu lembro-me de explicar isto muito em detalhe quando fazia os meus cursos de pesca. Deixei de fazer porque 99 em 100 pessoas apenas queriam saber dos pontos de pesca onde eu ia. E tiravam marcas com os telemóveis...
Perdi dezenas de pedras à conta disso e acabei com o assunto. Não levo ninguém.
Sobre os vinis, e muito resumidamente, não deve colocar o dedo, deve sim atender a que se tratam de amostras leves e por isso o nosso problema é o contrário, é conseguirmos que desçam.
para isso, trabalhe com um PE 1, no máximo. Melhor de PE 0.8 ou mesmo PE 0.6.
Atenção à cauda, não utilize caudas shad se o pesqueiro for fundo, ou se houver corrente.
Quanto à técnica de lançamento, seja criativo, descubra por si aquilo que deve fazer para que os robalos que estejam na sua zona se sintam tentados a morder.
Pense que aquilo que eles procuram é um peixinho debilitado, um indivíduo que quer sair dali o mais depressa possível, que quer escapar, mas ...não pode.
A meu ver, e porque não está a fazer drop-shot aos robalos, não deve manter o vinil no fundo. Faça-o subir, e volte a lançar de novo. Descubra onde os robalos estão a caçar.
Vai ver que é muito interessante descobrir o ritmo certo, a forma como eles se sentem tentados a morder.
Abraço
Vitor