PESCA JIGGING AO PARGO - CAP II

No último número fiquei de vos passar mais informação sobre alguns dos elementos a que atendo antes de começar a pescar.
Explico-vos aqui em detalhe as razões pelas quais me preocupo em saber dos dados assinalados a bold anteriormente. Caso não tenham lido o número anterior, aconselho a fazê-lo, para que se sintam enquadrados e entendam aquilo que vai ser dito a seguir.

1- A ondulação não será propriamente um factor importante para eu me defender de algum arreliador enjoo, mas sim para saber se há força de fundo que possa levantar areia do fundo. A haver, isso irá determinar o grau de expectativa que posso ter, ou não, em encontrar peixes emboscados nos primeiros dois a três metros.
É muito corrente que estejam encostados a estruturas, pedras, plantas, eventualmente algum destroço de barco afundado. Tudo o que lhes possa servir de abrigo e posto de caça.
Caso exista mar com muita força de fundo, e com o que isso significa de levantamento de areias e sedimentos, de poalho, os primeiros metros poderão estar impraticáveis, pelo que não vale a pena esperar ter muitos toques nessa faixa.
Nesse caso, na sua esmagadora maioria, os peixes estarão alvorados, um pouco acima, e quase sempre a policiar as imediações dos possíveis cardumes de comedia. Se não podem estar escondidos à espera de peixes “descuidados”, eles estarão num patamar superior, assumindo a sua posição, visíveis, mas nesse caso junto ao que lhes interessa, muito atentos a eventuais fragilidades.

A pesca jigging oferece-nos momentos de alguma qualidade. Aqui um bonito pargo Dentex das Canárias, capturado em Sines.

2- A qualidade da água é importante pois é ela que irá determinar a escolha da cor do jig a lançar. Já aqui no blog referi bastas vezes este dado, mas posso repetir: com águas tapadas, a nossa opção deve recair em jigs com cores vibrantes, flash, visíveis a grandes distâncias. Isso irá dar-nos mais alguns toques ao fim do dia.
Mesmo em águas turvas, mesmo com pouca visibilidade, o peixe come. Por isso, dar-lhes um ponto de referência claro e visível ajuda-os a ganhar tempo para preparar o ataque. Se pelo contrário a nossa opção for um jig de cores naturais, neutras, pode acontecer que o predador não tenha espaço suficiente para reagir a tempo, para focar e desferir o seu mortífero ataque, antes do jig desaparecer do seu raio de acção.
Há cores que são bem visíveis mesmo em águas tapadas, o caso dos brancos, dos amarelos, dos metalizados com brilho, espelhados.
No caso de termos ventos persistentes a soprar para sul, as nortadas, e na eventualidade de existirem rios por perto, é certo e sabido que as águas turvas irão chegar à nossa zona de pesca. Vamos ter problemas...

Selecionar os peixes que capturamos é importante. Se pudermos evitar a captura de peixes juvenis devemos fazê-lo sempre. A pesca com zagaias, ou jgs, é um bom método para isso.

3- O vento irá determinar a necessidade, ou não, de utilizarmos um para-quedas para travagem da marcha do barco. Caso a velocidade de deslocação seja muita, iremos ficar com a pesca “espiada” em segundos, o que nos irá impedir de pescar como gostamos, na vertical. Bem sei que, nestes casos, a maior parte de vós opta por carregar no peso do jig. É verdade que aumentando substancialmente o peso da peça de chumbo iremos forçosamente chegar ao fundo mais depressa e conseguimos até alguma verticalidade. Mas também é verdade que em proporção inversa iremos limitar o número de picadas que poderemos obter.
Mais peso igual a menos toques, fixem isto. Digo-vos que lançar jigs mais pesados é para mim sempre, repito... sempre, a última opção. Antes disso procuro entre os conjuntos de canas que tenho a bordo encontrar a que tem linha mais fina.
Mudar para esta opção permite que o jig arraste a linha para o fundo com menos resistência, logo que a chegada ao fundo aconteça mais cedo. Isso é o mesmo que dizer …ganhar tempo de pesca na faixa que me interessa quando tudo cá em cima força a linhas oblíquas.

Robustos e agressivos, estes pargos têm algo mais: uma côr lindíssima.

4- A corrente que move o barco, é, ao mesmo tempo que nos molesta, que nos incomoda, a razão pela qual temos peixes activos em baixo. Sem corrente teríamos problemas de pesca que dificilmente poderíamos resolver.
O primeiro deles e o mais significativo será o facto de o peixe necessitar da corrente para se alimentar. Sem corrente, sem agitação, teremos predadores a descansar.
Não ter corrente significa também ter de deslocar o barco por meios próprios, leia-se recorrendo ao motor, o que em pesqueiros baixos é altamente prejudicial. Queremos ter os peixes descansados, concentrados na sua função de predadores, e não a equacionar se devem tentar escapar para um ou outro lado. Nunca esqueçam que nós dependemos da vontade deles. Se estiverem “nervosos” e com receio de algo, basta-lhes fechar a boca e deixam de ter problemas. Mas é aí que começam os nossos.
Deixar o barco deslizar ao sabor da corrente é poder pescar recantos diferentes do fundo, não necessariamente da pedra. Não devem focar a vossa atenção apenas na pedra uma vez que os peixes que mais nos interessam não estão necessariamente em cima dela.
Penso já aqui ter referido este detalhe: os maiores pargos não assumem o posicionamento em cima da pedra como uma fatalidade, antes estarão a algumas dezenas de metros desta, deixando entrar os cardumes, observando, permanecendo atentos.
Eles têm idade suficiente para saber que os cardumes de isca devem estar em cima da pedra, e que lhes basta estar próximos para poderem usufruir deles. Se a comedia está fixa na pedra, está referenciada, e nada melhor que isso, saber onde está. Haverá um peixe que fatalmente irá mostrar-lhes a sua debilidade, e esse peixe é o suficiente para lhes fazer o dia.
Um peixe, uma oportunidade, ...isso para um pargo basta.

Nenhum destes peixes foi por mim pescado em cima da pedra. 

5- A isca viva existente no local é um dado que nos interessa. Aquilo que move os predadores não são “os ares do campo”, é a comida, e, se puderem escolher, a que lhes for mais conveniente e fácil de conseguir.
Procuro perceber se há cardumes de peixe miúdo na zona, e se querem saber, muito para além dos pontos de pedra que tenho marcados no GPS. Digamos que esses pontos servem-me de referência para aquilo que vou fazer, e não necessariamente em cima das pedras.
Marcar pedras é fácil porque está tudo concentrado, os detalhes são bastante visíveis no ecrã, e todos sabem fazer. O que é interessante é ir além disso, e entender quais as possibilidades de pesca que temos fora desses spots. Não raramente são aqueles que guardam mais segredos, porque são os que nos apresentam peixe descansado, disponível, e, por ser pouco apoquentado, mais receptivo a morder os nossos artificiais. Não têm conta os pargos grandes que já me apareceram assim, como fantasmas que surgem do nada.
Após muitos anos de andar em cima deles, a fixar os olhos na sonda até arderem, percebi que a pedra apenas lhes serve para “armazenar” comedia, para manter estável a posição dos cardumes. Quando necessário, ….visita-se.
Por isso procuro indagar sobre a possível presença de isca nas redondezas dos meus pontos, deixando o barco a rolar devagar, sem ruídos, quantas vezes com o motor desligado.

Reparem nos dentes. Este magnífico peixe nasceu para ser predador, para morder, não para mariscar…

Para não tornar demasiado extenso este artigo, vamos interromper por aqui e continuar no próximo número.


Vítor Ganchinho


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