PESCA JIGGING AO PARGO - CAP III

Para quem leu os dois primeiros artigos, este será o derradeiro capítulo, a conclusão final desta série.
Sendo que quando tratamos de pesca nada é definitivo, tudo é transitório, a evolução é permanente e por isso nunca será possível colocar um ponto final num tema.
Como diria um amigo meu de S. Paulo, Brasil: “O mundo acaba quando conseguirmos contar o número de pessoas com o apelido de Dias”.
E questionado sobre a razão de o mundo acabar, disse ele: “sim, porque aí temos os Dias contados”...
Espero que as indicações anteriores e as que serão dadas hoje vos sejam úteis quando tiverem de planear uma saída de pesca.
Continuamos pois a análise de alguns detalhes que me parecem importantes, na circunstância aquilo que devemos observar antes de começar o acto de pesca.

Adequar os anzóis ao peixe procurado livra-nos de problemas quando o momento surge. Pargo de 6 kgs que fiz com um jig Little Jack ref Metal Adict cor 02, de 40 gramas.

1- O posicionamento da isca diz-nos muito sobre a potencial existência de predadores. Podem estar mais abaixo, junto ao fundo, ou preferir subir na coluna de água, afastando-se do fundo.
Não é comum que cardumes de centenas ou milhares de pequenos peixes não tenham por perto quem se interesse por eles.
A altura de água a que se posicionam relativamente ao fundo já nos dá pistas sobre aquilo que possa existir emboscado. Mais que isso, a densidade do cardume indica-nos o grau de “preocupação” que evidenciam perante um ataque iminente.
Mais soltos, mais espaçados, significa que não estarão acossados por algo próximo. Pelo contrário, se a isca se encontra compactada, densa, (aparece na sonda com uma cor mais escura, em bola), isso significa que há “mouros na costa” e que devemos preparar-nos para uma pancada forte no nosso jig. Em linguagem simples, se há quem dê pancada, há quem tente escapar-se a ela. Cardumes de carapau miúdo, cavalinha, sardinha, biqueirão, etc, não permanecem muito tempo onde sabem que podem correr perigo de vida.
O mar é grande e é um espaço aberto, os cardumes deslocam-se atrás de comida e/ ou segurança. E são seguidos…

Vejam este filme com uma arribada de cavala…nervosa:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

2- A existência de pilado. Nos últimos tempos tenho encontrado este caranguejo na zona de Sines, (sobretudo algumas milhas a sul há manchas muito compactas), e daí a concentração de predadores ser mais significativa.
Por vezes a sonda mostra-nos incríveis ecrãs de peixes de alta qualidade, sobretudo pargos ou robalos. Há peixe grande! Estes fenómenos são efémeros, o interesse para o predador dura enquanto houver caranguejo por ali.
Os pargos, e quaisquer outros predadores procuram estar próximos da comida, tanto quanto nós humanos nos aproximamos do lume quando está frio.
O pilado, o alvo de toda esta peregrinação, é um caranguejo pelágico, vive entre duas águas, tem a casca macia, pouco resistente, e por isso é uma iguaria para a maior parte dos nossos peixes.
Não será tão inofensivo quanto possa parecer, na verdade pode destruir muito mais que aquilo que se pensa. As suas tenazes têm alguma força, e mais que isso são altamente cortantes.
Serão pelo menos o suficiente para estragar muito peixe preso nas redes, bem como para apoquentar as desovas de quem os dispensava bem. Mas para nós pescadores, é um íman para peixe grosso e por isso um recurso a explorar.
A sua existência significa para nós possibilidades acrescidas de pesca. Os robalos enchem-se de caranguejo, por vezes até este lhes sair pela boca fora. Os pargos idem, e por aí fora todas as outras espécies, mas fica sempre um espaço livre para um jig.
Quando a densidade deste tipo de caranguejo é muita, pode até acontecer que algum fique preso do nosso artificial, como aconteceu com o meu amigo Carlos Campos:

“Polybius henslowii”, o dito caranguejo pilado.

3- Céu limpo ou nublado? Nós saímos ao mar com as condições que temos.
Não escolhemos, logo, uns dias serão melhores e outros como não podia deixar de ser, bem piores. A primavera é por definição, um período do ano em que as noites ainda estão frias, a humidade nocturna faz-se sentir, as temperaturas apenas a meio do dia sobem a níveis de verão. Temos frio de noite e calor de dia. Sendo uma fase do ano de alguma instabilidade de ventos, a fase que irá servir de transição para os calores estivais, não deixa de ter o seu interesse em termos de pesca. Observar se o dia amanhece limpo ou nublado é determinante para decidirmos sobre o jig a utilizar. Partindo do princípio que temos águas limpas, lusas, o critério é o de adequarmos o jig ao momento preciso em que começamos a pescar: ao raiar do dia temos o sol muito baixo, os raios solares irão incidir de forma oblíqua relativamente ao plano de água e nesse caso, pouca luz irá chegar ao fundo. Em ambientes de penumbra, escuros, não podemos usar o mesmo equipamento que iremos utilizar mais tarde, quando tivermos o sol a pino em águas lusas, azuis. Assim, de manhã cedo faz-nos falta um jig mais luminoso, e a seguir, com a subida gradual da posição do sol, algo mais neutro, mais próximo da imitação real de uma presa corrente. Se fizerem uma observação cuidada, metódica, se tomarem nota da quantidade de toques recebidos, vão ver que há um padrão. De manhã bem cedo, dar um ponto de referência ao peixe ajuda.
Nestes casos, cores metalizadas, se possível com uma faixa luminescente no ventre, resulta muito bem. O peixe passa a ter uma referência visual clara, e isso ajuda a que tome a sua decisão. Para os primeiros lances, eu opto por jigs do tipo que segue:

Reparem no efeito que o ventre deste jig faz na penumbra. Nitidamente estamos a dar ao peixe predador um alvo, um ponto de referência. Clique AQUI para Saber Mais

Para situações em que o coeficiente de maré é alto, ou seja, para momentos de corrente forte, utilizo as agulhas, que descem muito bem e dão peixe na subida em toda a coluna de água.
Para momentos de maré mais calmos, nomeadamente dias de luas pequenas, ou as inevitáveis e diárias preia mar ou a baixa mar, é-nos conveniente “achatar” o jig, recorrer a uma forma mais espalmada, mais curta e plana, pois isso irá tornar mais excitante o movimento da peça metálica. O facto de algumas versões dos jigs da Little Jack serem preparados com efeito luminescente ajuda-nos bastante. Para dias escuros, nublados, são mesmo fundamentais, multiplicam os resultados.

Aqui, a versão mais curta e larga na mesma cor , #09, a que devemos utilizar em momentos de fraca corrente. 

De notar que eu retiro a peça metálica reflectora que acompanha esta versão, por não me parecer útil, e, até pelo contrário, potencialmente prejudicial. Quero ferragens limpas, não…”meias ferragens”.
De resto, acabo invariavelmente por equipar os jigs à minha maneira, quer com anzóis de tamanhos diferentes, quer mais afiados, ou até distribuindo assistes ou triplos em função da época do ano e daquilo que me parece mais conveniente.
Sobre isto posso dizer-vos o seguinte: uma das questões mais pertinentes que decorre da nossa vontade de alterar a montagem de fábrica dos jigs é a questão do armamento.
Tenho para mim que raramente jigs feitos do outro lado do mundo nos são fornecidos com as características indicadas para os nossos peixes.
Altero sistematicamente os jigs, adaptando-os ao meu estilo de pesca, e mais que isso, às bocas dos peixes que procuro.
Cada um de nós vive numa determinada região, uns a norte outros a centro e ainda outros a sul. Os peixes não são iguais, as condições de pesca não são iguais, e nem sequer igual é o objectivo de pesca de cada pessoa. Se há quem aposte em exemplares selecionados, pargos, robalos, bicas, sarrajões, outros haverá que são muito menos selectivos e aceitam passar umas horas em cima de cardumes de cavalas e carapaus.
A diversidade de alvos, condições de mar, capacidade técnica dos pescadores, equipamento disponível, etc, faz com que seja francamente difícil que um mesmo jig possa ser satisfatório para todos. Daí eu dizer que deve ser o utilizador a decidir das características da sua amostra. Eu altero os meus, e para isso recorro a um stock de triplos e assistes com vários comprimentos.
Em função do que tenho à frente no ecrã da sonda, assim decido.


Anzóis triplos ou assistes simples? A questão do armamento é de vital importância.
Eu passo horas na minha garagem de pesca a tentar decifrar qual a melhor opção para aquilo que vou encontrar no dia seguinte. Atenção a este detalhe: todo e qualquer sistema utilizado tem forçosamente de obedecer a uma regra simples, a de não permitir o enganche dos anzóis. Podemos colocar um anzol simples à cabeça, um anzol simples à cauda, ou dois duplos, ou um simples ou duplo à cabeça e um triplo à cauda, ou ainda apenas um ou dois anzóis simples à cabeça. Ou até só um triplo à cauda.
Todas estas são variantes possíveis, e não vem mal ao mundo a opção por uma ou outra, desde que os anzóis não possam enganchar-se uns nos outros. Ou, por outras palavras, que as cordas de cada uma das opções seja suficientemente curta para não permitir que o seu anzol chegue ao anzol do outro lado. Porque se chega, temos um problema!
Não queiram passar a manhã toda a desenlear anzóis, a sofrer as agruras de lançar e levantar a pesca inutilmente. Porque se os anzóis engatam uns nos outros, digam adeus aos peixes, não vale a pena esperar resultados.
Com alguma prática, nós aprendemos a sentir que o trabalho do jig não está correcto, aprendemos a decifrar aquele peso extra que mais não é que um jig que não desliza, não trabalha.
Da mesma forma que aprendemos a identificar qual o peixe que trazemos para cima apenas pelo tipo de pressão que faz na linha.


Será tudo menos fácil tomar a decisão sobre o armamento a utilizar, pois se formos exageradamente optimistas vamos deixar de aproveitar parte dos toques que viermos a ter de peixes …pescáveis.
Refiro-me a peixes na franja de 1 a 2 kgs, que podem ser os únicos do dia. Se formos demasiado pessimistas, vamos ter anzóis demasiado pequenos e aí sim, vamos aproveitar muito bem os peixes mais jovens, os tais de 1 ou 2 kgs de peso, mas se surge um peixão de 8 ou 10 kgs, vamos sentir-nos “despidos” porque a porção de carne ou osso que vamos ter dentro da curvatura do anzol será pequena e eventualmente insuficiente para suster o peixe quando ele der meia dúzia de arranques direito ao fundo. Reparem que vos falo de tamanho de anzóis, mas poderíamos complicar mais, introduzindo a questão da utilização de triplos, ou até de anzóis mais finos e leves, e por isso mais afiados, mas mais propensos a abrir quando se pesca com canas demasiado duras.
É neste dilema que vivem todos aqueles que pescam peixes em zonas mistas, onde pode haver muito peixe disponível de tamanho reduzido, ou algum peixe de maior tamanho.
O dilema é esse, saber se a prevalência é um ou outro factor. Se só temos peixe miúdo até 2 kgs é fácil. Se temos algum peixe grosso, também não é difícil decidir, a questão é olhar para a sonda e perceber o que pode andar lá por baixo. E acertar.
Quem tem coragem de manter a decisão de pescar com anzóis grandes e pesados para peixe grosso, quando recebe sistematicamente toques de pequenos pargos de um quilo, bicas, etc?
Acreditem que é das decisões mais difíceis de tomar para quem sai à pesca.

Espero que tenham gostado desta série de três artigos.


Vítor Ganchinho


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