A IMPORTÂNCIA DE SER... FLUOROCARBONO - CAP I

Nem sempre nos damos conta da imensidão de detalhes que podem interferir positiva ou negativamente na captura de um peixe.
A quantidade de peças que compõem um aparelho de pesca, da cana ao anzol, é enorme, e cada uma delas pode falhar comprometendo o bom desempenho de todas as outras.
Tudo conta. De que serve uma boa cana e carreto, se a linha é quebradiça e rompe ao menor esforço? Ou se um anzol é pouco resistente e abre?
Quando pensamos na remessa de acessórios que participam no processo de pesca, e a aparente fragilidade de cada um deles, ficamos surpreendidos com os bons resultados que obtemos. Na verdade, pesca-se muito e bem, à conta da carga de tecnologia que transportamos para dentro de um barco.
Os materiais evoluíram bastante. Os fabricantes de maior renome fazem-nos mais leves, mais fortes e resistentes, e sim, também mais caros, bem mais caros que a antiga cana de bambu.
Também o nível geral de informação sobre pesca, o conhecimento técnico, é, nos dias que correm, indiscutivelmente superior. Há mais gente a saber fazer bem feito.
As coisas mudaram muito e obviamente os peixes sofrem com isso. O material de pesca tem uma qualidade tal que permite hoje em dia desempenhos muito superiores aos dos pescadores do século passado.
Hoje trago-vos um estranho caso de uma captura acidental de um pequeno mero, a sul de Sines, que prova isso mesmo. Com materiais correntes não teria sido possível concretizar este peixe.
Vamos ver o que aconteceu.

Mero jovem de 6 kgs mas …já com muita astúcia. Fez tudo o que devia fazer para conseguir escapar...

O mero, Epinephelus marginatus (Actinopterygii, Serranidae, Epinephelinae), é um peixe bentónico, o que quer dizer que não se afasta muito dos fundos recortados que lhe dão guarida.
Vive entre pedras e estruturas com buracos escuros, tudo o que lhe possa dar protecção, procurando alimento nas imediações. Alimento que para ele existe sempre em abundância, um mero não tem dificuldade em encontrar comida porque está dotado de armamento de série poderosíssimo. A sua força, e sobretudo a notável capacidade de sucção de tudo o que sejam pequenos seres que se atrevam a passar-lhe perto é um bom exemplo. O mero não morde, aspira.
Com uma boca enorme, e uma cabeça que representa um terço do seu comprimento total, este peixe mais não é que uma poderosa máquina de aspirar.
Para quem mergulha, é possível vê-los a determinadas horas do dia fora da sua toca, normalmente quando o sol vai alto.
Descobrem-se numa estranha posição vertical, como que “plantados” pela cauda, a olhar para cima, verticais, a mover apenas as barbatanas peitorais, num movimento que lembra vagamente as asas de uma borboleta a abrirem e a fecharem.
Quando estão assim, estão muito atentos a perscrutar as imediações, à procura de peixes, cefalópodes, ou até de um reconfortante crustáceo. São loucos por polvos, os quais arrancam da pedra por aspiração.
Os grande exemplares, acima dos 20 kgs, podem engolir polvos vivos com 5 kgs de peso, o que vos dá uma ideia do poder e capacidade predatória de um destes peixes. De resto os polvos são mesmo o principal alimento dos exemplares adultos.

O equipamento com que pesco tem um potencial insuspeito. O carreto é um Daiwa Saltiga ultraligeiro e aparentemente será apenas uma inofensiva máquina de enrolar linha. Esta cana pesa menos de 100 gramas, as linhas são muito finas, o jig é pequeno, e no entanto...

Conto-vos o lance por ser um pouco fora do comum para quem pesca jigging, que não para quem tem meros na sua zona de pesca. Os meros têm um comportamento muito padronizado, diria standard, fixo, e que consiste num ataque não demasiado violento para o peso e capacidade atlética do peixe em questão. Mordem como se fossem um pouco mais pequenos, suavemente …se me entendem.
Sente-se subitamente uma interferência na subida do jig, algo discreta, e que corresponde à sucção da nossa peça metálica. O que se passa a partir daí já não é tão comum: o peixe não luta demasiado.
Normalmente ficam no sítio, levam alguns segundos a entender o que se passa e só reagem com violência após algum tempo de ferrados. Até esse momento, passam por um estado de dúvida que não deixa de ser curioso.
Nós, de cima do nosso barco, sentimos a viagem de alguns segundos que vai de um peixe seguro de si, predador, que procura alimento, até um peixe que se lança desesperadamente para o fundo, tentando alcançar um buraco para defender a vida.
Entende-se a confusão, o peixe faz algo que para si é uma rotina, ataca bruscamente algo que para ele é uma presa viva, um pequeno peixe que passa ao seu alcance. Isso eles fazem todos os dias.
Nesse momento, tudo aquilo que não espera é que esse “petisco” seja tão forte, tão capaz de o impedir de se mover. Quando percebe que algo está errado procura libertar-se. E não consegue.
Aí, ao entender finalmente que está preso, dispara para o fundo protector, tentando entrar na cova que lhe dá guarida.
Pescar meros é quase sempre uma questão de sorte para quem faz light-jigging. Precisamos que muita coisa corra bem ao mesmo tempo e não vale a pena ter previstas grandes tácticas, o assunto resolve-se recorrendo a alguma agilidade de reflexos e a uma grande dose de sorte.
Por vezes os meros saem das suas covas e passeiam pelas imediações, em acto de patrulha de caça. Se temos a sorte de descobrirem o nosso jig longe do buraco, e se não há outros por perto, já demos um passo importante na nossa espinhosa missão de os levantar do fundo.


No meu caso, não tive essa sorte.
O mero bateu no jig, fez o que todos fazem que é ficar alguns segundos “apardalado” e a seguir …baixou.
Não se tenta deter um peixe destes à força com equipamento ligeiro. Estava a pescar aos pargos e por isso tinha o meu set habitual, uma cana Shimano leve, muito elástica, e um carreto Saltiga com que já me viram pescar centenas de peixes bons. Bem aventurados os que tiveram a sorte de poder comprar um Saltiga Bay Jigging há uns anos atrás. São do mais confortável que se possa imaginar, leves, robustos, e quando o peixe é grande, …eles também estão lá para isso.
Mas uma linha PE1, mesmo que seja uma Saltiga Slow Jigging, não é linha para fazer demasiada força e muito menos uma baixada em 0.33mm, mesmo que esse fluorocarbono seja o melhor do mundo, o Varivas Fluorocarbon Ti Nicks Hardtop.


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Mas vão ver que foi precisamente esta linha fluorocarbono que me permitiu a captura. Mostro-vos no próximo número o estado da linha quando chegou à superfície…
Se há algo que depende de nós é a aquisição de material. Nesse momento de decisão, muito se joga sobre o futuro sucesso daquilo que vamos conseguir pescar.
O peixe desceu ao buraco, e eu senti na ponteira sensível da cana a linha a roçar na pedra. Sente-se uma vibração estranha, e muito desagradável, garanto-vos.
Sentir a linha avançar na cana aos solavancos, lentamente, e saber que as intermitentes vibrações transmitidas à nossa mão representam o roçar da linha na pedra, é assustador.
Todos os meros, dos maiores aos mais pequenos, têm o mesmo tipo de comportamento: ao sentirem-se presos, arrancam direitos ao buraco.
E este não seria excepção.

Vamos ver no próximo número como se passou esta “tragédia anunciada”…


Vítor Ganchinho


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