A IMPORTÂNCIA DE SER... FLUOROCARBONO - CAP II

Disse-vos que vos iria contar a história do mero que carregou com o meu jig ligeiro para dentro do buraco, e aqui estou para isso.
Ficámos no ponto em que o mero deu “entrada de urgência” no buraco. Acredito que não seria a sua toca de permanência mas sim uma qualquer toca de caça.
A diferença é esta: um buraco de permanência é preferencialmente um H, uma composição de fundo que tenha uma zona de absoluta invisibilidade, central, e algumas saídas
de emergência nas rochas que permitam a fuga em qualquer direcção. Se pensarem bem, o H tem isso tudo.
As tocas de caça são diferentes porque podem ser buracos em que circunstancialmente esse mero permanece aquando das suas saídas de prospecção de alimento.
Digamos que algo que se pareça com um Y, ou mesmo um I, já servem. Um buraco com uma entrada e duas saídas, ou até uma só saída, pode resolver.
Penso ter sido este o caso porque eventualmente teria sido impossível desalojar o peixe de outra forma.

O método de enrocamento destes peixes é conhecido: introduzem a cabeça o mais profundo que podem no buraco, abrem as branquias para obter apoio, e firmam as arestas da barbatana dorsal numa fresta no topo do buraco. Em suma, entram no bunker e preparam-se para resistir.

Quando dentro do buraco, a sua força e corpo robusto, compacto, tenaz, tornam a tarefa de os mover quase impossível.
Passei longos dez minutos a sentir que nada mais podia fazer que tentar encontrar o ângulo certo para o fazer rodar dentro da toca. Digo-vos que não é tarefa fácil.
Trabalha-se com o posicionamento do barco, faz-se pressão deste lado, daquele, e durante este processo continuamos a sentir sinais ligeiros de que o peixe ainda está lá, mas que não cede. Um mero tem energia para muitas horas deste tipo de trabalho, porque não precisa de fazer força, basta-lhe apenas estar entrincheirado na sua posição de resistência passiva.
Quando são adultos, digamos a rondar os 15 a 20 kgs, na maior parte dos casos pouco mais podemos fazer que rebentar a linha.
Não resulta de todo esperar, afrouxar a linha e voltar a esticá-la. Eles não reagem a isso, e podem ficar acantonados no seu castelo um dia inteiro.
Mas este mero ainda não tinha o peso certo e por isso…

O trabalho de remoção dos anzóis deve ser cuidado, para evitar posteriores infecções ao peixe.

Quanto a equipamento, aquilo que é normal é que se pesquem com linhas zero grosso, anzóis grandes, sólidos, e canas duras, que permitam fazer força.
Era tudo aquilo que eu não tinha.
Quando estamos a procurar os últimos pargos que ficaram da época primaveril, não fazemos conta de que estes peixes também andam por lá, pelos mesmos fundos.
E porque tentamos o peixe com pequenos jigs, miniaturas, seria pressuposto que exemplares maiores nem tivessem interesse pelas nossas pequenas peças de chumbo colorido.
Mas têm!
Muito já aqui vos disse sobre a eficácia dos jigs ligeiros e de tudo aquilo que é possível fazer com eles a peixes que supostamente não deveriam interessar-se por eles.
É verdade que são pequenos, mas com a técnica de animação correcta, passam a ser uma tremenda arma de enganar peixes. O jigging é em si uma técnica altamente eficaz, e quando praticado com jigs pequenos ainda mais. Porque é possível animá-los de forma muito mais convincente que a um jig pesado.
Tenho amigos que fazem jigging há dezenas de anos e para quem os meus resultados não deixam de ser estranhos. Dizem-me eles que, em tese, eu não devia conseguir pescar os peixes que pesco, com semelhantes …”miudezas”.
E eu respondo que os dados obtidos no terreno contrariam essa corrente de opinião.
Na verdade, todos os peixes…”petiscam” uma sardinha pequenina. Nunca se rejeita porque está ali à frente, acessível, debilitada, sem conseguir escapar.
Este trabalho de fazer com que o jig pareça tudo isto, que demonstre esta aparente fragilidade, chama-se técnica e é muito mais fácil de executar com uma peça pequena que com um jig de elevado peso.
Eu, que tenho uma altura normal, uma força normal, bíceps normais, não seria capaz de fazer pesca com jigs pesados e dar-lhes a mesma animação que dou às minhas minúsculas peçazinhas coloridas.
Porque pegar numa cana e excitar um jig de 40 gramas é uma coisa e fazer o mesmo com um de 400 gramas é outra completamente diferente.

O anzol que verdadeiramente firmou o mero foi o de cima, o simples de cabeça. Trata-se de um anzol extremamente afiado, um Jumprize Light Sharp MH. À venda na GO Fishing Portugal (clique AQUI).

Ao fim de uma dezena de minutos estava eu já em ponto de rebuçado, a hesitar entre continuar a tentar recuperar o peixe, ou cortar a linha.
Nestes momentos, chegamos a pensar que afinal aquilo que mordeu o nosso jig, que nos levou dez ou quinze metros de linha, afinal não foi um peixe. Perante tanto imobilismo, perante tanta falta de reacção, chegamos a conjecturar a possibilidade de termos ferrado sim um cabo preso ao fundo.
Tudo o que possa parecer-vos absurdo passa-nos pela cabeça naqueles momentos. Até rebentar com a linha e sair dali para outro lado. 
Mas eis que, inesperadamente, o ângulo certo de fazer pressão é atingido e o mero move-se. Aí, um esticão brusco fê-lo sair do buraco e a dada altura senti-o em água livre, a dar à cauda mas…fora.
O resto tem muito pouca história, um mero só é um peixe poderoso quando está junto às rochas, aos seus buracos. A partir do momento em que lhe levantamos a cabeça e ele perde o contacto com o fundo, o trabalho está feito.
Vamos a seguir assistir a um levantamento de um “peso”, algo que sobe por inércia, por força das bolhas que se formam dentro do seu corpo e expandem a ponto de o impulsionarem para cima, cada vez mais rápido.
O difícil é mesmo separá-lo da pedra, o resto é apenas rotina, e porque queremos proteger o peixe, retirar os anzóis com o máximo cuidado.

Vejam este curto filme:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

Vejam agora na foto abaixo como ficou a linha fluorocarbono Varivas de 0.33mm. Se repararem bem no detalhe, esta linha esgaçou na pedra, saltaram lascas, mas não rompeu.
Tentem fazer o mesmo com nylon…

Esta é a grande diferença entre uma linha boa e uma linha corriqueira: mesmo quando sujeita a tremendos maus tratos, …o peixe sobe!

A zona em questão é conhecida por ter peixes destes em relativa abundância. Ferrar um mero nunca será algo comum, a quantidade de peixes desta espécie é bem menor que a quantidade de pargos, por exemplo. Mas existem, e se formos cuidadosos na sua libertação, vamos ter cada vez mais. Vamos acreditar que um jovem peixe como este será capaz de recuperar.
O mero é um peixe protegido, e deve ser restituído à água em boas condições de sobrevivência. No caso vertente, e porque se trata de um peixe que suporta muito mal as diferenças de pressão, a sua libertação deve ser antecedida de uma operação de esvaziamento da bexiga natatória. Para isso, faz-se uma pequena perfuração da bexiga ao nível abdominal, ajudando o ar a sair através de uma pressão continuada sobre a barriga do peixe. Um estilete aguçado, eventualmente um alfinete, uma agulha, algo que permita perfurar a bexiga, serve na perfeição.
Esvazia-se o ar, dá-se algum ânimo ao peixe durante um minuto ou dois segurando-o pela queixada, movendo-o para trás e para a frente de forma a oxigenar bem.
Será o próprio peixe a dizer-nos quando está pronto para partir.
Um golpe violento de cauda, e …é deixá-lo baixar e ir cumprir a sua vida de predador.


Vítor Ganchinho


😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.

6 Comentários

  1. Olá Vitor!

    Este ano é parco de oportunidades de usar o meu kayak aos fins de semana.
    Em julho, agarrei a duas unicas que percebi, e com bons resultados.
    saímos na marina a Figueira da Foz, éramos uns 5 companheiros rumo ao Cabo Mondego.

    Quando chegamos, constatamos que as redes cada vez em maior numero, cercavam as nossas melhores referencias. Andavam por lá também vários barcos a pescar à boia, com camarão e pilado.

    Desci a cota em que habitualmente pesco ao trolling (sempre ao trolling) e encontrei dois pontos quentes, que partilhei com os meus colegas. No final da faina consegui fisgar cerca de 15 robalos, mas devolvi 5 menores à água.
    Percebi que entre os meus colegas e o pessoal em barcos a motor, fui o único que consegui ter sucesso.

    Porque?
    O meu kayak é mais veloz, porque prescindi do conforto de ter um assento seco em prol de um perfil mais esguio.
    Largo muito linha. Quando o peixe está desconfiado, temos que fazer de tudo para lhe dar confiança.
    Os kayaks não fazem barulho porque não têm motor.

    Tentei manter o sigilo, para evitar aborrecimentos, mas quando cheguei à marina e ao meu clube de Vela (do mar de Coimbra), perante a incredibilidade de um amigo velejador (que se acham sempre os maiores), mostrei-lhe o saco térmico.
    Erro crasso. no fim de semana seguinte, era vê-los 8barcos a motor) a fazerem trolling aos zig-zags e cruzarem as minhas linhas, mesmo eu a tentar desviar-me deles. ... apanhei 5 (eles 0 que eu visse)

    Porque não pratico o jigging?
    Porque não sei. Já fiz várias tentativas com jiggs de metal, com vinis, achatados em locais que tinham peixe ... e nada! não sei! ... mas tenho pena

    Forte abraço, paulo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa tarde Paulo, bons olhos o vejam!! Há quanto tempo!


      Deixe-me comentar por partes, porque há aqui muita coisa boa para isso.

      As redes são um flagelo que pulula por toda a parte, e não há forma de nos livrarmos disso.
      Leu o meu artigo em que escrevi que os franceses estão a proibir a pesca com redes da linha de costa até 3 milhas ao largo? Pois assim se fizesse por cá!

      Os kayaks têm vantagens nítidas para certos tipos de pesca. Dentro de algumas semanas irá sair um artigo meu em que falo sobre isso, precisamente sobre a pesca ao robalo em kayak e o ruído que os barcos a motor provocam.

      O jigging é uma modalidade que funciona, mesmo em pesqueiros mais baixos. Digamos que eu pesco preferencialmente com vinis até aos 20 metros, e a partir daí, sempre com jigs.
      E tenho a noção de que vocês desse lado têm mais robalos que nós por aqui. Muitos mais....

      Tente encontrar pedras a 30/ 40 metros e vai ver que os jigs lhe vão dar alegrias.
      A maior parte das vezes as pessoas acabam por não conseguir resultados porque tentam encurtar caminho, comprando por exemplo um jig, e utilizando material de spinning.
      É claro que não pode funcionar...

      Para jigging, utilizamos equipamento de jigging. E os peixes entram.

      A partir daí, é aperfeiçoar a técnica, é acreditar e insistir.
      Eu deixei de dar cursos de jigging porque as pessoas tinham apenas interesse em saber onde eu pesco, não naquilo que faço e como faço. Perdi à conta disso algumas dezenas de pedras que hoje são desertos, sem um único peixe. E não vou voltar a repetir, prefiro não levar ninguém.


      Grande abraço!

      Vitor



      Eliminar
  2. De cada vez que experimento o jigging (num ponto quente), deixo de pescar, enquanto os meus colegas continuam a apanhar neles.

    Eu tenho feito gosto, só não me tenho manifestado :)

    Forte abraço, paulo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Paulo Fernandes Acho estranho que não consiga pescar robalos, porque eu deste lado faço-o com muita regularidade, utilizando jigs.
      Verdade que com águas muito baixas, os vinis são bem mais eficazes, eu já o mostrei muitas vezes aqui no blog, não é surpresa nenhuma.

      Se consegue melhores resultados ao spinning, ....porque não?!
      Mas quando os robalos afundarem, não lhes vai tocar com as amostras, mas consegue-os com o jig.

      Vá dando novidades.



      Abraço
      Vitor

      Eliminar
  3. Olá Vitor.
    Trolling, sempre o Trolling, é o que uso no meu kayak hobie revolution.
    Uso Rapalas deep tail dancer (já usei muitas outras sem o mesmo sucesso) que vão aos 9 mts, tenho que dar ao pedal para atingir velocidades de 3,5 a 4,5 nós, e contar com as ondas e com o vento!
    No ultimo domingo foi grade para as escamas (apanhei um polvo com toneiras, quando a maré permitiu) não havia corrente maritima, mas as traineiras colocaram redes, redes e mais redes por todo o Cabo Mondego, não tinha um ponto que não tivesse redes (e tenho muitos pontos registados no meu mapa). Até desconfiei que a Navionics partilhasse essas coordenadas ....

    abraço, paulo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Daqui a uns três a quatro meses vai ter os robalos a 80/ 100 metros de fundo. Aí quero ver se os pesca com amostras....

      Eles estão agora a dirigir-se para locais muito precisos, em que se irão juntar às centenas para preparar a reprodução. Isso irá acontecer em Dezembro a Janeiro, embora possa haver uma pequena franja de peixes a começar em finais de Novembro e outra a prolongar a Fevereiro. Mas o padrão é esse.

      A seguir às correrias de andar atrás das "robalas" gordas, os bichinhos vão sossegar para os grandes fundos. Fogem das águas frias que lhes queimam imensas calorias.
      Irão regressar em março, com os primeiros raios de sol da Primavera.

      E aí, vai tê-los de novo perto de si, para os poder pescar com as suas amostras.



      Abraço
      Vitor

      Eliminar
Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال