AZUL MAR ABRE O APETITE - MAS QUE LIMITE TÊM OS PEIXES? - CAP I

Mais ou menos definidos, com maior ou menor rigor por diferenças de condições de habitat ao longo de toda a nossa costa, sabemos que os nossos peixes têm ciclos de alimentação.
Não seria entendível que assim não fosse dado que nenhum peixe se pode alimentar ininterruptamente, em regime non-stop, durante as 24 horas de um dia, sete dias por semana.
Há momentos em que se alimentam avidamente e outros em que parecem prescindir de todo e qualquer tipo de comida, e assumem uma postura passiva, a deixar o tempo passar.
Estes ciclos de alimentação serão, do meu ponto de vista e pela experiência pessoal que tenho, definidos pelas marés. Há uma marcada influência destas na movimentação e atitude do peixe perante o alimento que pode conseguir. São as marés, lunares e solares, e as correntes por estas provocadas, o grande motor da mudança de atitude dos nossos peixes perante o alimento.
Comem, a seguir deixam de comer e repousam, e voltam a comer horas depois.
Nós, bicho homem, fazemos o mesmo.

Este pargo estava cheio de carapau, e no entanto lançou-se violentamente sobre o meu jig.

Há um padrão aplicável a um conjunto de seres que comungam de uma necessidade elementar: a alimentação. Poderíamos extrapolar para outras áreas, nomeadamente a reprodução, a procura de conforto térmico, etc, mas foquemo-nos no essencial deste artigo, a alimentação.
Vejam abaixo um pargo que estava completamente atestado de comida e porque estava em período de frenesim alimentar, ainda tentou algo mais. O meu jig.

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É bom que se entenda este fenómeno como algo genérico, global, para toda uma espécie, e que não visa explicar a atitude de um só peixe.
Pode sempre haver um predador que teve menos sorte na maré anterior e precisa de comer. Mas são casos excepcionais, não devemos tomar a nuvem por Juno e pensar que não há uma regra, um padrão, porque na verdade há.
Nas condições certas de mar, uma determinada espécie, ou várias ao mesmo tempo, entram em actividade alimentar. É algo que decorre de estarem criadas condições para que isso aconteça, e a corrente é quase sempre o factor decisivo.
Não acontece ao minuto, ao cronómetro, mas é algo que funciona como que um “click”, de acordo com a movimentação de águas. A qual pode até ser relativamente rápida.
Quantos de nós, e sobretudo aqueles que estão mais vocacionados para a pesca vertical, notam que, entre dois lançamentos, por vezes no espaço de minutos, a água deixou de correr para um lado, parou, e começou a mover-se para o outro? O timing de mudança de comportamento é esse. Num momento o peixe está sossegado, não come. A seguir o vento aumenta de intensidade, a maré muda, a água começa a correr no sentido inverso e ele desata a atacar as iscas.

Vejam como a barriga deste robalo se encontra dilatada. Não eram ovas….pesquei este peixe em Julho.

As coisas são o que são e não vale a pena complicar aquilo que é simples.
Há momentos do dia em que nos aparecem loucos de fome, atacando qualquer tipo de isco, ou até um anzol limpo, e outros em que nada parece resultar.
É muito evidente a diferença entre pescar quando o peixe está receptivo, predisposto a comer, à procura de comida, e quando ele está mais virado para descansar, para assimilar o alimento anteriormente conseguido, recusando todos os nossos melhores argumentos.
Desesperamos quando a nossa saída de pesca coincide com um desses períodos, porque a indiferença olímpica a que votam as nossas iscas ou amostras leva-nos a questionar a nossa própria competência de pescadores.
Não é caso para tanto.
Apenas temos de saber fazer a gestão destes momentos de acordo com as regras de quem efectivamente manda nesta coisa da pesca à linha: os peixes!
São sempre eles que mandam.

Robalo conseguido com um vinil Fish Arrow. Os vinis são equipados com um anzol simples mas perante tanta sofreguidão, para quê mais?...

Quando chegamos ao local de pesca devemos ter sempre a preocupação de observar aquilo que temos diante dos nossos olhos.
Tudo conta. O comportamento dos cardumes, das aves, eventualmente até dos mamíferos marinhos, normalmente os nossos prezados golfinhos. A direcção do vento, a hora da maré, a visibilidade da água, etc.
Repito: tudo conta.
A informação nunca é em excesso, tudo nos serve, tudo nos ajuda a perceber o enquadramento daquilo que se está a passar naquele local, naquele momento.
A sonda presta-nos uma inestimável ajuda, se a soubermos ler e se estiver convenientemente parametrizada.
A regulação de sensibilidade desta deve ser um bom compromisso entre a sua capacidade técnica de detecção, ou seja, a definição de imagem que pode ser mais aguçada, ir até um simples grão de areia, ou estar medianamente focada e dispensar aquilo que não interfere no julgamento que queremos e podemos fazer dos fundos.
Tenham a noção de que uma sonda deve ser sensível, mas também a convicção de que sensibilidade a mais não só não nos ajuda muito como pode até prejudicar-nos.
De que adianta regular o aparelho para detectar qualquer ínfimo pormenor que exista entre nós e o fundo, um grão de poeira, se a seguir vamos pescar em águas tapadas, carregadas de fito e zooplâncton?
Vamos nesse caso ter um ecrã carregado de pontos, uma mancha compacta, baça, imperceptível, a toda a largura e altura da sonda, e não vamos conseguir ler nada.
Nem muito ao mar nem muito à terra.
É certo que toda a cadeia alimentar se inicia em quantidades minúsculas de matéria orgânica, animal ou vegetal, e que é a partir daí que o tamanho de quem come aumenta a cada elo da cadeia.
Se quiserem, um alevim come um microscópico representante da família do zooplâncton, ou uma alga, e a seguir vem um peixinho de 10 cm e come esse alevim. E atrás desse peixinho vem um robalo e aspira-o. E por aí fora, até chegarmos, por exemplo, aos nossos tubarões ou às orcas.
Mas aquilo que procuramos na sonda não entra na esfera das nanopartículas, antes diz respeito a seres visíveis, e aproveitáveis por todos aqueles que podem morder na nossa amostra.
Perceber o enquadramento do dia de pesca que temos pela frente ajuda-nos a tomar as melhores decisões.

Vamos ver no próximo número um curioso caso de um robalo que resolveu testar os limites elásticos do seu estômago...


Vítor Ganchinho


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