JÁ ENCONTROU UMA RADIOSSONDA NO MAR?

Só vos avanço esta informação porque não quero de forma alguma que passem pelo mesmo que eu passei.
Conto-vos a história.

Dirigia-me a Sines para lançar umas linhas aos robalos, quando, um pouco a sul da Comporta dei por algo estranho a flutuar na água, a uma centena de metros da minha rota.
É nestes momentos que eu acho que sou um autêntico pára-raios de acontecimentos raros: aparecem-me porque nunca deixo de ir ver.
Desta vez tratava-se de um grande balão em latex, rebentado, com cerca de uma centena de metros de uma linha fina, de 1mm, e uma caixa em esferovite branca, de formato algo estranho.
Porque aquele conjunto me pareceu suficientemente bizarro e porque de alguma forma poderia ser um inconveniente para a navegação, resolvi recuperá-lo e trazer para terra.
Faço o mesmo com garrafas de plástico, cabos velhos abandonados, e toda a sorte de lixo que me aparece. É minha profunda convicção de que, com o apoio de todos, poderíamos ter um mar mais limpo, mais natural.
Não tenho ilusões de que vamos continuar a ter no mar os balões coloridos, Mickey`s e Minnie`s inadvertidamente largados por alguém, as bolas de praia que escapam para o largo por força do vento, e, infelizmente, as embalagens de sumos, garrafas e afins, essas lançadas à água por pescadores profissionais, velejadores, caixas de iscos que apontam aos pescadores lúdicos, ou sacos plásticos de sandwiches de simples veraneantes que passeiam de barco e não querem dar-se ao “incómodo” de trazer para terra os restos da sua presença no meio marinho.

Nos casos acima referidos há que fazer uma distinção clara entre aquilo que é algo fortuito, a perda de um objecto de praia por parte de uma criança, e o lixo urbano que é deliberadamente lançado à água.
Parece-me bem mais difícil mudar a mentalidade de uma geração de pessoas para quem a palavra ecologia nunca fez parte do seu léxico de prioridades. Acredito que a juventude que aí vem, os futuros marinheiros e eventuais pescadores lúdicos, serão capazes de estar à altura das responsabilidades e olhar a este flagelo da poluição marinha. Tenhamos esperança nos nossos jovens.
Mas não é esse o caso do assunto que vos trago hoje ao blog.

Isto é um balão meteorológico, ou radiossonda. 

Encontrei aquele enorme balão e isso despertou-me a curiosidade.
Na esperança de este objecto ser eventualmente útil a alguém, tratei de o levar a uma capitania de um porto da minha zona. Por não ter sido identificado, a resposta que obtive foi de que deveria contactar outra entidade. Num outro posto da Polícia Marítima, obtive uma resposta similar.
Aproveitei ainda a presença de uma fragata acostada, mostrei-lhes o dito sistema e perguntei se conheciam ou sabiam o que poderia ser. Negativo.
Normalmente nestes casos aquilo que um pescador espera encontrar é alguém que, pese não conheça o objecto em questão, possa pelo menos saber quem deve ser contactado.
Não foi o caso. De resto, ao olhar para a quantidade de ministérios e entidades públicas que temos em Portugal, dificilmente poderia ter tido a sorte de acertar à primeira...


Não fui pelas autoridades, fui pelo objecto.
Reparei que havia uma marca, Vaisala, e um modelo. E até um número de série que certamente identificava especificamente aquele objecto em questão.
Seria a partir daí que poderia saber algo mais sobre o assunto?
Tratei de fazer um contacto directo com o fabricante, uma empresa finlandesa de tecnologia de medição e inteligência para ação climática.
Deixei o meu contacto, número de telefone, e até ao momento não fui contactado.
Porque não sou de desistir, resolvi ler sobre o equipamento em questão, e aquilo que apurei deu-me uma ideia geral da funcionalidade e da não necessidade de ir mais longe no assunto.


Afinal para que serve uma radiossonda?

Transcrevo na íntegra aquilo que consta do site da empresa Vaisala:

Lançadas do solo, as radiossondas são dispositivos meteorológicos usados para medir temperatura, umidade, pressão, velocidade do vento e direção na atmosfera superior.
Um balão meteorológico cheio de hidrogênio ou gás de hélio leva a radiossonda para a atmosfera superior.
Dependendo do tamanho do balão, a expansão que ocorre quando ele se eleva a uma pressão mais baixa faz com que dispare e o instrumento retornará à Terra, onde você o encontrou neste caso.
Durante o voo da radiossonda, ela transmite constantemente dados atmosféricos de temperatura, umidade e pressão para equipamento terrestre de recepção automatizado.
Este equipamento, denominado sistema de medição das condições atmosféricas, processa e converte os dados em mensagens meteorológicas que são enviadas para a rede climática global (rede GTS da WMO).

As radiossondas são lançadas por diversos clientes, como institutos nacionais de clima, organizações ambientais e de pesquisa. Normalmente, os nossos clientes equipam as radiossondas com instruções sobre como descartar ou retornar a radiossonda.

A Radiossonda Vaisala que encontrou não representa nenhum perigo para você. Se houver instruções na tampa da radiossonda para retornar o dispositivo, siga-as.
Se desejar manter a radiossonda, remova e recicle as baterias. Se não houver instruções para devolver o dispositivo e você não quiser mantê-lo, elimine-o seguindo as diretrizes do seu país para a eliminação de resíduos elétricos.
Os restos do balão em si, se houver, podem ser eliminados com o lixo doméstico.


OK, assim sendo, estamos entendidos!
Ficam a saber o que é uma radiossonda, e também que não vale a pena perder muito tempo a tentar devolver a alguém…
Tragam para terra, e vai para o lixo comum.
Retirar do mar já é suficiente, os nossos robalos não necessitam delas.


Vítor Ganchinho


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