ESCOLHER AMOSTRAS EM FUNÇÃO DO ESTADO DO MAR - CAP II

Durante a sua vida útil, a maior parte das amostras pesca muito mais pescadores desinformados que … peixes.
As cores e formatos mais eficazes poderão ser todas as que mais gostamos - e meticulosamente escolhemos nas prateleiras das lojas-, aquelas em que temos uma incrível “fezada”, ou …também o contrário delas.
É normal que a pessoa se perca, confusa, sem saber para que lado deve virar-se perante tantos milhares de propostas diferentes.
Há amostras a mais, se vista a questão pelo lado das lojas, de quem as compra, paga e fica a aguardar que alguém as ache boas e as leve.
Há amostras a menos, se considerarmos a sede insaciável de quem pesca com elas e acima de tudo quer encontrar a “pedra filosofal”, a amostra que pesca sempre, a tal... infalível.
Toda a gente a procura, a amostra fatal, a que enche as caixas mesmo nos dias maus.
Infelizmente isso não existe.
Num mar em permanente mutação, em que as condições de pesca alteram por vezes apenas pelo câmbio de alguma das muitas variáveis, o vento, as águas tapadas, o frio, as marés boas mas fora de horas, etc, etc, e tudo aquilo que faz com que a pesca nunca seja igual.
As condições mudam, o peixe muda e a solução que é boa hoje, amanhã já não o é. Hoje pescamos de uma forma e amanhã temos de nos adaptar a algo diferente, eventualmente usar amostras diferentes.
Estranho seria haver dois dias de pesca exactamente iguais.
O melhor que podemos ter é mesmo a amostra que, em determinadas condições de mar, e se animada de determinada forma, se o peixe estiver no local na sua zona de acção, se a maré for a certa e estiver de acordo com o ciclo de alimentação do peixe, etc, etc,…funciona.
Diríamos que num preciso e dado momento, a amostra reúne um determinado número de características que a tornam mais indicada para a função que outras.


O mundo das amostras é um mundo bizarro, estranho.
Existem factores a que o pescador é completamente alheio, o caso da rentabilidade que as mesmas trazem para as fábricas, o tempo de produção, o circuito que as amostras fazem até chegarem às lojas, toda a logística envolvida numa passagem de um lado para o outro do planeta, etc.
Se focarmos a nossa atenção apenas na fase final, a de compra e utilização, então é simples: o pescador acredita, compra e lança ao mar.
E consegue resultados? Na verdade, quase nunca…
Se quisermos, se analisarmos friamente, podemos pensar que a relação entre a quantidade de lançamentos e a quantidade efectiva de toques de peixes é algo completamente desproporcionado, irregular, e com clara tendência para o insucesso.
A amostra vai muito mais vezes ao mar sem trazer nada, sem sucesso, que aquelas em que algo acontece. De facto, o raro é que um peixe se decida a morder.
As minguadas vezes que isso acontece, aquelas em que temos um toque e conseguimos pescar algo, bastam para que fiquemos com um sorriso de orelha a orelha. Verdade?

Tendencialmente deveremos focar a nossa atenção em adquirir amostras com provas dadas.

Por cada cinco minutos de stress de pesca, aqueles em que um peixe morde e luta para não ser rebocado até nós, é natural que se passem muitos minutos, ou horas, sem que aconteça qualquer toque.
Por vezes há ciclos de insucesso que duram dias. E porque os odiamos do fundo do coração, queremos reduzi-los à expressão mínima. Queremos lançar e ter uma reacção do outro lado, qualquer peixe que morda.
Mas sabemos que raramente isso acontece.
Aquilo que fazemos quando escolhemos uma amostra na prateleira de uma loja é uma tentativa desesperada de melhorar esse rácio, uma tentativa de comprar e ter na mão algo que melhore a proporção entre a absurda quantidade de lançamentos versus a minguada quantidade de toques obtidos.
As melhores amostras reduzem um pouco esta tendência para o zero redondo. Dão-nos um pouco mais de possibilidades.
E se quisermos ser sinceros, ter uma dezena de ataques à nossa amostra já nos faz passar um bom dia, já é motivo para acharmos que tivemos uma excelente jornada de pesca.
Mais que isso: caso a pesca fosse tão fácil que pudesse acontecer uma inversão dos factores, ou seja, termos um ataque à nossa amostra a cada lançamento ou próximo disso, então digo-vos que a pesca seria algo de absolutamente fastidioso!
Eu já experienciei isso por diversas vezes: levei miúdos à pesca e coloquei-os na situação ideal de conseguirem um toque a cada lance. E, por ser de tal forma fácil e pouco inesperado, a saturação chegava-lhes num ápice, ao fim de alguns minutos já ninguém pescava…
A dificuldade de conseguir êxito, o stress de uma picada inesperada, a adrenalina de uma boa luta, isso sim, leva as pessoas ao mar. Conheço muita gente boa que pode levar dias para fazer um peixe, mas quando o consegue, isso dá-lhe uma alegria imensa, uma sensação de vitória pessoal sem preço.
A pesca é exactamente isso, ultrapassar as dificuldades colocadas pelos peixes.

Vejam como pode ser fácil divertir os miúdos com um peixe facílimo como o pampo:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

E todavia, na verdade isto só é interessante para eles durante alguns minutos. Ao fim de um quarto de hora já temos gente a procurar variantes, eventualmente os peixes maiores, e a seguir, ….pousam a cana. Para eles chega…
Penso que isto será mais que sintomático e revelador do aborrecimento que é pescar isento de dificuldades, pescar com certezas.
Mas entendo bem aqueles que pescam sempre, mesmo que não consigam tirar qualquer prazer do acto de pesca.
A maior parte dessas pessoas pesca por outro motivo que não a pesca por diversão, fazem uma pesca que quase obriga a prescindir da “captura e solta”, falamos de pescar para trazer MUITO PEIXE para casa.
É outra realidade.

Terão os robalos evoluído tanto que necessitem de ser pescados com materiais cada vez mais caros e sofisticados?

Voltando às amostras e à sua importância enquanto objecto de culto, de admiração, e até de estudo: é verdade que algumas amostras são francamente mais bem concebidas que outras. A sua aerodinâmica fora de água permite-lhes voar mais longe, e isso é de per si uma vantagem enorme, e também a sua hidrodinâmica dentro de água, o seu balanço e pontos de equilíbrio são melhores que as outras e por isso “trabalham” melhor, ou seja, são mais apelativas. Leia-se por esta ultima palavra, mais eficazes, mais….”pescantes”.
O intuito de quem as produz vai sempre no sentido de conseguir os melhores compromissos, os melhores desempenhos, mas ao mesmo tempo também os melhores níveis de preços.
Nem sempre se consegue. Algumas amostras, porventura menos testadas, menos bem desenhadas, resultam em autênticos fiascos.
O último argumento do produtor, nestes casos, é o abaixamento do seu preço. Esse é um bom argumento para quem tem um orçamento baixo, o de dizer para sim mesmo: “ não tenho dinheiro para mais, por isso esta é muito boa, afinal de contas …tudo pesca”.
Acreditem que o preço baixo embeleza-as, torna-as “bonitas”, e para muita gente uma etiqueta com poucos zeros chega para se deixar convencer. Há quem compre amostras pelo preço, fazem do custo o seu primeiro critério de escolha.
Para o produtor ou para o comerciante nada melhor que saber que um saldo bombástico ajuda a escoar  mercadoria menos feliz.
Ainda assim, por vezes as “rifas” saem à casa, o que quer dizer que muitos productos, por incipientes vendas ao público, acabam por ser saldadas perto ou mesmo abaixo do preço de custo, apenas para recuperar algum do dinheiro investido. Não é legal mas há quem faça. 
E o processo recomeça, nova ideia, nova produção, e um novo arco-íris brilhante de esperança no sucesso de uma nova amostra. Que obrigatoriamente virá adensar o leque de possibilidades de escolha de si já muito vasto.
E complicar ainda mais as decisões a quem é a vítima de tanta fartura: o cliente.

O meu amigo Fernando Santos, feliz com o seu bonito robalo. Parabéns Fernando!

Mas são precisamente os pescadores que impulsionam e obrigam as marcas a isso: a lançar todos os anos colecções novas, hipoteticamente mais eficazes.
Diria eu…apenas diferentes.
Se pensarmos que a cada ano marcas como a Shimano, a Daiwa, a Smith, lançam dezenas de propostas novas, (e é obrigatório que o façam, sob pena de serem ultrapassados pelas outras marcas em termos de vendas imediatas), facilmente entendemos que não será do lado da produção que o ciclo de compras irá terminar.
Mas faz falta pôr um travão, fazer um ponto de ordem e tentar perceber se é mesmo necessário comprar mais, apenas para “experimentar”.
A procura incessante de productos diferentes prende-se com a necessidade que os pescadores sentem de possuir a amostra que lhes irá resolver todos os problemas, a que lhes irá dar peixes, muitos e grandes. Peixes que todas as outras amostras não conseguem dar.
Para uma carteira menos abonada, este é um princípio perigoso. E errado!
Procurar soluções técnicas, investir tempo a pensar o mar, obter informação relevante, tudo isso ajuda. Mas colocar as fichas todas na aquisição de uma amostra é fazer um "all-in" absurdo, uma aposta que tem tudo para não dar certo. No fundo, essas pessoas estão a procurar um milagre. 
Mas será que existem mesmo amostras milagrosas?! Será que o “segredo da abelha” não estará afinal na utilização técnica que se faz dessa amostra, no acumulado de conhecimento de pesca que a pessoa guarda dentro de si?

Vamos continuar este tema no próximo número.


Vítor Ganchinho


😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.


Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال