SENTIDOS DOS PEIXES - A FAMOSA LINHA LATERAL

Sei que já aqui escrevi sobre este assunto, e desafio-os a lerem material sobre a linha lateral. Ser-vos-á útil.
Vejam abaixo essa dita linha, na circunstância numa dourada. Sigam a linha pontilhada desde a malha preta na cabeça até à caudal. É isso.
Trata-se de um conjunto de terminações nervosas, de canais mucosos, ligado directamente ao cérebro do animal. Actua por conexão entre as escamas perfuradas, as quais deixam passar todo um manancial de informação captada por contacto, até ao sistema nervoso central. 
É extremamente útil se considerarem que capta vibrações emitidas pela deslocação no meio líquido de outros peixes, nomeadamente a simples deslocação sincronizada em cardume, ou a caça de presas móveis e fugidias. 
Não se esgota neste aspecto a incrível capacidade da linha lateral dos nossos peixes.
É isso que lhes permite saber, por exemplo, a que sabe um determinando producto orgânico, sem lhe tocar.

Aqui nesta foto é bem visível a linha lateral desta dourada.

É também esta linha lateral que permite a detecção das nossas amostras e, pela experiência que tenho de pesca, é de tal forma activa e afinada que dispensa perfeitamente a adição de meios de produzir ruídos, como por exemplo as esferas internas, ou palas exteriores.
A simples passagem de um pequeno objecto na coluna de água já faz tocar as campainhas a qualquer robalo, faz despertar os seus mais recônditos instintos predatórios.
Porém, e há sempre um “mas” nestas histórias de seres vivos, o problema é que esta sensibilidade extrema, este sentido que tanto nos ajuda a nós pescadores na fase em que queremos que o robalo detecte a nossa amostra, é o mesmo que lhe serve para detectar ruídos e vibrações emitidas por nós humanos, quer dentro do barco, quer a passear pela praia ou rochas.
Eles sabem onde estamos, e daí a necessidade que temos de lançar muito longe. Porque nós somos uma inesgotável fonte de ruídos! Somos naturalmente desajeitados quando estamos em acto de pesca.

A linha lateral dos peixes dá-lhes muito mais informação que aquela que julgamos possível. Custa-nos a acreditar que uma simples fila de escamas perfuradas possa ser tão sensível a ponto de detectar o resultado dos nossos movimentos, mesmo a largas distâncias.
Por vezes convido os meus alunos dos cursos de pesca a tentarem, durante alguns minutos, estar completamente focados no tipo de barulhos e ruídos que fazem ao chocar com objectos dispostos à sua volta, a deixar cair as canas, a arrastar geleiras, etc.
É um absurdo querer que um ser tão bem equipado de sentidos não os utilize para nos entender perto de si. Eles sabem bem onde estamos!
A seguir, estabelecem um perímetro de tolerância que é mais forte quanto mais longe estamos deles. Essa é a razão pela qual equipamos os nossos carretos com linhas multifilamento finas, as quais nos permitem lançamentos muito longos, ou seja, para zonas onde o robalo ainda tem uma grande amplitude de conforto, de sentimento de segurança.
Perto de nós, encostados ao nosso barco, a margem de tolerância é mínima, e faz com que ao menor sinal de perigo, um gesto, uma sombra, um ruído, o robalo dispare para longe daquele intruso.
E não esqueçam que, sendo um peixe de cardume, quando estamos a trabalhar um deles, os outros não estão assobiar para o ar, distraídos….eles registam o que se está a passar. E aprendem.
Tenho a certeza absoluta que os peixes de cardume aprendem com o que acontece aos outros...

Aqui a trabalhar um robalo, com tempo, com a paciência devida quando se pesca com linhas muito finas. Não se trata de ver quem tem mais força, trata-se sim de ver quem vence no fim e eu tinha todo o tempo do mundo. Ele não...

Isto levanta uma questão pertinente: até onde devemos lançar para que a nossa acção seja efectiva?
Em rigor, quanto mais longe lançarmos menos teremos de nos preocupar com a emissão de ruídos. Não esqueçam isto: em pesqueiros baixos, a nossa voz pode ser ouvida pelos peixes.
As ondas sonoras propagam-se muito mais rapidamente nos sólidos, a seguir nos líquidos e por fim nos gases.
Trata-se por isso de não despoletar o modo de desconfiança daqueles que queremos confiantes, concentrados na sua missão de se alimentarem. Isso corresponde a um peixe activo, a procurar alimento, e se ele estiver nesse estado, as nossas amostras/ jigs/ vinis, fazem sentido.
O problema é que nós não somos capazes de lançar para o infinito, e muito menos "mais além". As limitações que temos surgem do facto de os nossos equipamentos estarem sujeitos a factores que não podemos controlar mais do que aquilo que a tecnologia nos permite ao momento.
É verdade que a forma das amostras acaba sempre por provocar algum atrito no ar, mas antes disso temos muito mais coisas a prejudicar o lançamento. Por exemplo o facto de haver uma linha enrolada numa bobine que sai, mas sai à custa de roçar em qualquer superfície do nosso carreto. E a seguir essa linha irá bater inapelavelmente nos passadores da cana. Após sair finalmente desta, ainda temos de a fazer vencer o atrito do ar, quando não temos mesmo de lutar contra vento frontal. Nada nos ajuda a lançar para o tal ambicionado “infinito”.
Mas podemos actuar sobre o diâmetro da linha e aí já vai sendo tempo de abrirmos os olhos e percebermos que os robalos que pescamos não são do tamanho dos golfinhos!
Para quê um multifilamento PE3, se com um PE1 já nos sobra? Para quê uma baixada 0.50mm, se com um 0.30mm já nos sobra?
Acaso a pesca do robalo é uma questão de força física?! Vamos fazer braço de ferro com eles, ou vamos utilizar o drag, e as nossas mãos, para trabalhar o peixe?
Conhecem algo mais sensível que as vossas mãos?!....

Os peixes são bem mais sensíveis que aquilo que julgamos...

Reduzir todas as fontes de atrito será pois a primeira medida a tomar para podermos pescar mais longe.
A seguir, e porque continuaremos sempre a ter limitações físicas nos nossos equipamentos, podemos procurar fazer o mínimo ruído possível.
Aplicando os conhecimentos que vamos adquirindo ao longo da nossa vida de pescadores, vamos cada vez ser mais eficazes, mais produtivos. Mas para isso é bom que se preste alguma atenção ao que fazemos, à forma como decidimos fazer ou não fazer isto ou aquilo. Em suma, somos nós os responsáveis pelo nosso desempenho e isso começa a contar muito antes de chegarmos ao local de pesca.
Escolher os equipamentos, as técnicas adequadas, e sobretudo saber ler o mar.
Pescar nada tem de extraordinário, eles, os peixes, continuam crentes e a acreditar que aquela peça de plástico é um peixinho vivo.
Desde que não se cometam demasiadas asneiras a pesca acontece. Os peixes ainda acreditam.
Há é gente que, por amor de Deus, ...não tem jeitinho nenhum para aquilo...


Vítor Ganchinho


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