COMO ESCOLHER AMOSTRAS - PESCAR EM ÁGUAS TURVAS - CAP IV

E sobre pescar em águas turvas? Funciona?

É claro que sim.
Pescar em águas revoltas, agitadas pela força das ondas, ou das vagas, com muitos sedimentos à mistura, não deixa de ser productivo.
Os peixes, conforme vimos aqui anteriormente, têm muitos e bons sistemas de detecção de presas e não é pelo facto de as águas estarem tapadas que deixam de se alimentar.
Um robalo, e refiro-o por ser um bom exemplo de perfeita aptidão para a função de caçar sem ver, tem mecanismos que lhe permitem ser capaz de encontrar as suas presas em condições de invisibilidade absoluta.
Uma audição apurada, um sentido do olfacto bem melhor que o nosso, e ainda uma linha lateral que se revela como um factor decisivo de captação de informação, são argumentos muito fortes. Não tenham pena deles…

E como é pescá-los em condições extremas?

Nestes casos, quando a visibilidade da água não ajuda, dar uma referencia de movimento ao peixe ajuda sobremaneira. As amostras com pala, pela sua “ruidosa e vibrante” deslocação, fazem isso.
Há inclusivé modelos com sistema interno de esferas, as ditas amostras “ratling” as quais emitem sons.
Na minha óptica, devemos deixá-las para situações limite e iremos ver o porquê mais à frente, no próximo artigo.

Os robalos são exímios a caçar em águas tapadas.

Um facto indesmentível é que pescamos peixes em águas turvas e eles têm comida no estômago. Nem poderia ser de outra forma.
Se por absurdo tivermos um mês de agitação marítima, com a consequente ondulação a turvar as águas, não resulta evidente que os peixes tenham de fazer dieta forçada, nem que se deixem morrer por inanição.
Eles necessitam de comer, de repôr energias, porque vivem num meio que não lhes dá tréguas quanto à necessidade de se moverem, de lutarem contra correntes, ondas, de se resguardarem de predadores, e em tudo isso gastam energia.
Bem como o facto de, por serem seres cuja temperatura corporal depende em grande medida da temperatura da água que os circunda, terem também de fazer um esforço adicional para manter o corpo quente.
As gorduras não duram eternamente, e por isso têm de ser repostas.
Haverá alguns casos de excepção, em que o peixe opta por colocar a sua temperatura interna acima da temperatura ambiente, mas isso tem custos metabólicos elevados. Vejam o caso dos atuns, os quais, para manterem alguns graus de temperatura acima dos valores da água do mar, são obrigados a fazer um tremendo investimento energético, e até anatómico pois têm de construir uma barreira térmica entre o sangue venoso e as brânquias.
São animais que circulam na vastidão do oceano e não podem parar sob pena de perecerem.
Em termos gerais, os peixes da nossa costa necessitam de se alimentar regularmente, e por isso é bom de ver que não será a questão das águas turvas que os irá impedir de encontrarem alimento.
São boas notícias para quem os pesca…para nós.

Nas águas mais turvas, desde que com amostras de cores mais visíveis, é possível pescar robalos.


E que amostras devemos utilizar nestas circunstâncias?

Não serei eu quem irá desencorajar alguém que está convicto de que só com “aquela amostra” se consegue pescar.
Há quem apenas use uma única amostra todo o ano.
Sei mesmo de pessoas que, por terem feito uma pescaria remarcável com uma determinada amostra, fazem dela profissão de fé, oferecem todas as outras, aprovisionam tantas quanto podem desse modelo, e vai daí pescam em meses de águas quentes, frias, assim assim, com águas claras, turvas, azeitadas, revoltas, …não interessa, a amostra é aquela! As “grades” sucedem-se mas as razões são sempre atribuídas a factores como a lua, os astros, os signos, e toda a série de tolices que venham à memória para justificar o injustificável: a amostra utilizada não cumpre os requisitos desse dia, dessas condições de mar.
Na génese desta série de artigos, se bem se lembram, o mote foi o de sermos esclarecidos, sermos comedidos, nos gastos feitos em amostras.
Mantenho a posição: não devemos ter mais amostras que as suficientes para que possamos ter um desempenho eficaz quando saímos à pesca.
Mas daí a sermos de tal forma espartanos nas nossas compras que apenas tenhamos uma, vai um passo muito largo.
Pelas linhas escritas anteriormente já perceberam que não é possível fazer com uma só amostra, enfrentar todas as variantes de mar que nos podem surgir, e as consequentes mudanças de paradigma que são apresentadas ao robalo, aquilo que algumas pessoas querem transformar em “condições universais”.
Isso não existe.

À medida que as águas turvam, temos de ter as noção que a visibilidade baixa e já não estamos a dar ao robalo que veem na foto um alvo claro, nítido.

Em águas turvas, agitadas, as cores não podem ser as mesmas que poderemos utilizar em águas claras, límpidas e calmas. Nem o robalo procura o mesmo tipo de alimento, porque ele não estará disponível da mesma forma.
Por sinal, estamos a tratar de um peixe muito heterogéneo nas suas escolhas. Se hoje encontra uma lula, ou um pequeno carapau, amanhã alimenta-se de um caranguejo.
Se há camarões na zona isso vale, mas se houver peixe-rei ou uma galeota, também vale.
Isso, o facto de tratarmos de pescar um predador cuja alimentação é muito variada, permite alguma liberdade de escolha relativamente às amostras a lançar.
Mas continuamos a ter de apresentar algo que seja ao mesmo tempo chamativo, que chame a atenção do predador, que seja visível, e a seguir que faça despertar em si o seu instinto predatório, leia-se que faça o “click” indispensável para que o peixe entre em modo de ataque. E isso é sempre o mais difícil.
Uma amostra em de congregar em si um misto de tamanho, cor, vibração, velocidade de movimento, e credibilidade suficientes para fazer despoletar esse sentido predatório.
É mais fácil que o consiga quanto mais próximo estiver da realidade quotidiana do peixe predador.
Por isso os designers de amostras lutam diariamente por um ínfimo detalhe mais que os aproxime desse alvo.
Fazem-no observando as presas dos robalos, rebuscando no interior dos seus estômagos, visualizando filmes subaquáticos, no fundo tentando obter informação, e consequentemente tentando reproduzir ao detalhe aquilo que lhes parece ser mais conveniente.

Este caranguejo já conheceu melhores dias. Reparem que perdeu patas….e isso significa que alguém lhe deu pancada.

Quando pescamos em águas turvas, não devemos fazê-lo inibidos relativamente à expectativa de bons resultados.
Os bons robalos estarão a caçar mesmo em condições particularmente difíceis.
A nossa costa alterna os períodos de mar clamo com a agitação que é provocada pelos ventos e correntes, e os peixes vivem numa permanente mudança de condições.
Sabem fazê-lo, estão equipados para isso, e se os seus olhos não permitem ver, a sua linha lateral serve-lhes na perfeição para poderem saber o que está à sua frente.

Mas então que amostras devemos lançar?

Nestes casos, tudo aquilo que possa ser referenciado pelo predador a alguma distância, quer em termos de cor, quer de vibrações, ajuda. Ajuda que a amostra possa emitir alguma vibração e nesse campo, os vinis trazem algo que é particularmente mortífero. É o caso desta amostra da Savage, com um custo de 6.80€ e que funciona bem em ambientes difíceis:

Clique AQUI para ver esta amostra

Ou esta da Fish Arrow, que em zonas baixas pode dar alguns peixes bons, quando junta com um cabeçote de chumbo adequado à corrente e profundidade:

Clique AQUI para ver esta amostra

Estes são modelos com cores pouco naturais, mas atenção, já não estamos a tratar de águas límpidas e calmas….
Dar uma referência sonora e visual ao peixe que procuramos é importante.
Vamos no próximo número continuar a tratar este tema, porque muito há ainda por dizer. Mesmo muito.


Vítor Ganchinho


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