PESCA EM CONDIÇÕES DE VISIBILIDADE DIFÍCEIS

Temos vindo a tecer considerações à volta deste interessante tema que é a pesca em condições de mar difíceis.
Queria hoje escrever-vos sobre um detalhe que é o seguinte: qual a forma racional de escolher uma amostra para robalos, que não passe apenas por seguir uma …”fezada”?
Vamos ver em primeiro lugar aquilo a que chamo de “água em condições difíceis”, pois esse é o tema central dos últimos artigos publicados.

Em condições óptimas de visibilidade, a água apresenta-se translúcida, sem suspensão, com muitos metros de alcance visual. Quando pensamos em mar, é esse mar. 
Porém, quando existem muitas partículas em suspensão, essas partículas espalham a luz do sol, dispersam-na logo nos primeiros metros de água, impedindo-a de chegar mais profundo.
Os problemas começam aí. 
A consequência directa é a redução da visibilidade a par de uma baixa imediata na produção de oxigénio. Isso, por reflexo, diminui a actividade fotossintética de plantas e algas. Menos actividade das plantas menos oxigénio, …menos oxigénio na água menos actividade dos peixes.
E isso quer dizer para todos nós menos pesca.
Nestes casos, os peixes mudam-se para outra área, normalmente mais fria e por isso com níveis de oxigenação mais elevados. Ou seja, …vão para zonas mais fundas.


Podem não entender de que forma a existência de águas turvas afecta a vida dos peixes, mas deixem-me dizer-vos que o assunto é bem mais grave que aquilo que parece.
Uma das consequências de haver demasiadas partículas suspensas é que mais dia menos dia elas irão assentar sobre o fundo. Ao depositarem-se sobre este, cobrem ovos e larvas que ficarão sufocados por essa massa verde, ficam sem luz para concretizarem algumas funções vitais.
Em peixes juvenis, e dependendo da quantidade de suspensão, pode até acontecer que as suas guelras sejam danificadas, por obstrução. Não esqueçam que eles respiram na água onde evoluem.
Da mesma forma que nós humanos temos dificuldade em respirar à saída de um tubo de escape de um carro, por força da projecção de gases e baixo teor de oxigénio. Não poderíamos sobreviver muito tempo a tentar respirar nessas condições.
Não devemos pois subestimar a importância da qualidade da água em questões de sobrevivência dos peixes. Eles só se alimentam depois de terem a sua sobrevivência garantida.
Ainda assim, mesmo em condições de águas tapadas, mais difíceis, é possível pescá-los. Temos sim de lhes dar algumas vantagens.
Uma das possibilidades de os ajudarmos a encontrar a nossa amostra é adequarmos a velocidade de recuperação desta ao nível de visibilidade existente.
Também podemos actuar sobre a cor. Já vimos que em condições óptimas as cores naturais, os verdes, castanhos e azuis, funcionam melhor por mais próximos da realidade quotidiana dos predadores. Mas em más condições de visibilidade, não é assim que funciona.
Temos de dar-lhes uma amostra com uma cor que faça uma diferença de contraste entre o fundo e a amostra em si. Esqueçam as cores naturais, não é esse o seu campo de aplicação.  Os brilhos sim, podem ajudar-nos, pois também eles podem ser um factor determinante para acentuar a visibilidade dos objectos debaixo de água.


Por norma temos que o importante é sabermos escolher cores contrastantes, ou mais escuras ou mais claras, de forma a conseguirmos que o robalo possa identificar a posição, a direcção de deslocamento, e o tamanho da amostra.

Vou dar-vos a minha opinião acerca das cores que podem ser mais produtivas:

1- Águas barrentas, castanhas, originadas pelas chuvas que agitam os fundos e trazem aluvião dos rios e a sua consequente descarga em mar- Nestes casos, amostras negras, próximas do preto, fazem um contraste muito grande, e podem ser usadas.
Quando falamos de brilhos falamos de reflectir mais ou menos luz, ou seja, de estabelecer um contraste maior ou menor sobre um fundo que se sabe baço, uniforme, sem nuances.
Em dias com muito sol, muita luz, as amostras brilhantes funcionam melhor, por serem capazes de reflectir mais luz solar. Os prateados e os dourados são particularmente eficazes nestes dias.
Já em dias nublados, cinza chumbo, tornam-se praticamente invisíveis.
Por oposição, em dias escuros as cores fluorescentes aproveitam o facto de nesses dias os raios ultravioletas estarem mais activos, mais fortes, e ficam mais activas, mais visíveis.

2- Vejamos agora que tipo de amostra utilizar em dias com águas verdes, com muito fitoplâncton: nestes dias, normalmente de verão, amostras com duas cores contrastantes, por exemplo uma amostra escura com os bordos claros, permite ao robalo perceber que algo está à sua frente. Duas cores muito diferentes são uma boa solução para o “caldo verde” das águas quentes de verão.

3- Temos ainda uma outra possibilidade, a de encontrar águas carregadas de ácido tânico. Isso acontece em zonas de costa muito expostas a grandes concentrações de pinheiros bravos. O pólen de pinheiro viaja grandes distâncias e não é raro vê-lo concentrado numa amálgama de pó amarelo, nas linhas de água formadas pelas correntes ou pelo vento.
As águas ganham uma coloração castanha, e a melhor forma de conseguir fazer capturas é a de usar amostras em cores coloridas, mais chamativas. Falamos de amostras de nuances escuras, a tender para tons de cores fortes, os verdes escuros, azuis escuros, os castanhos, etc.


Teríamos ainda pano para mangas se quiséssemos analisar de que forma os predadores detectam as nossas amostras quando vistas a partir de baixo, do fundo, para cima, para a superfície, mas sai um pouco fora do âmbito deste trabalho e vou deixar isso para uma próxima oportunidade.
Talvez tenha interesse sim voltar a relembrar-vos que a cor das nossas amostras não é vista da mesma forma ao longo de toda a coluna de água.
À medida que afundamos a amostra, ela vai perdendo cor, até chegar a um baço e mortiço cinza. Vejam como abaixo, e quais as cores que mais tempo mantêm a sua eficácia:


Em águas tapadas, os tons das nossas amostras devem ser sempre mais claros ou mais escuros, de forma a conseguir um ganho de contraste que ajude o predador.
Por norma, cores escuras ganham em visibilidade.
Bem sei que a maioria dos pescadores nacionais tem uma cor favorita e que não abdica dela em circunstância alguma. Mas será isso razoável?!
Eu sei que são capazes de jurar que se não for aquela cor da sua predileção, nada resulta, mas será isso uma forma inteligente de raciocinar perante as várias mudanças que podem ocorrer no mar?
Quão importante é a cor quando se trata de selecionar amostras? Bem, de acordo com os conhecimentos da ciência, não é nada importante!
A água absorve ou bloqueia progressivamente a luz de diferentes comprimentos de onda, o que significa que as cores efetivamente “desaparecem” uma após a outra à medida que a luz solar “branca” viaja através da coluna de água.
A intensidade ou brilho geral da luz visível também diminui rapidamente debaixo de água, o que torna os nossos esforços de manter a amostra visível absolutamente inúteis, para lá de uma determinada profundidade.
E essa profundidade, essa distância que vai entre a linha de superfície e o fundo do mar, varia em função da turbidez das águas. Mais turvas, …menos visibilidade.
E porque é de visibilidade que falamos, convém saber que essa perda ocorre quer num plano vertical quer num plano horizontal. E até diagonal, considerando a linha de superfície, o peixe e a distância a que se encontra da amostra.
Portanto, 10 metros de profundidade vertical têm aproximadamente o mesmo impacto nas ondas de luz e na percepção de cores que 10 metros de separação horizontal ou diagonal entre o objeto e o observador, no caso o nosso robalo.
Por outras palavras, uma amostra vermelha pode parecer cinzenta escura quando vista a uma profundidade de 10 metros, mas também parecerá preta, ou pelo menos castanha ou cinza muito escuro, antracite, quando vista de lado a uma distância de 10 metros, mesmo que esteja sendo puxada do fundo a direito para a primeira camada de água da superfície.
Ou seja, tanto desaparece uma cor vermelha dez metros abaixo da superfície, quanto desaparece da vista do predador a uma determinada distância, mesmo que no mesmo nível de água.
Falamos de dezenas de metros, de metros, ou até de centímetros, dependendo da turbidez da água.

Vou continuar no próximo número, para não maçar os leitores com um texto demasiado longo.


Vítor Ganchinho


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