ISCAS BONITAS PARA A PESCA

Quando um peixe de bom tamanho morde a amostra, o nosso coração pára.
De repente o mundo deixa de girar e num ápice apenas conta uma cana, uma linha e algo que se debate violentamente do outro lado.
É o mundo todo ali, resumido a uma cana que verga, alguns salpicos de água e uma cauda que dá tudo o que tem.
A pesca tem o sortilégio de nos fazer esquecer a respiração, a dor, a fome, o tempo.
Queremos que esse momento dure para sempre, porque é dele que vivemos nos nossos sonhos de peixes grandes: o momento da picada e o arranque de algo muito grande!
São essas fracções de segundo sem respirar que nos levam ao mar infinitas vezes, para que possamos vibrar como loucos ainda que por poucos segundos. Queremos mais!
O pescador, a cana e o peixe. Vamos lá para que se repitam muitas e muitas vezes.
Mas Da Vinci não precisou de pintar a sua Mona Lisa uma e outra vez, sete dias por semana, para ser feliz. Bastou-lhe fazê-lo uma, ainda que, ao que parece, o quadro tenha sido aproveitado de uma pintura anterior. Na pesca, também tudo o que fazemos já foi feito antes por alguém, mas nós assumimos sempre que aquele momento mágico da picada é o primeiro.
É sempre o primeiro...

Os barcos levam-nos ao mar porque nos querem ver felizes...

Quando iscamos um anzol, queremos fazê-lo na perfeição. Sabemos que disso depende a convicção de uma mordida forte.
O nosso oponente está lá em baixo e tem fome, mas não dá a sua vida por um belisco de sardinha mal preparado. Ou um caranguejo mal montado na sua armação de anzóis.
Temos de caprichar na apresentação, sob pena de estarmos a perder tempo.
Tenho um amigo que me oferece caranguejos para eu ir pescar douradas. Agradeço-lhe sempre pese a minha falta de convicção em pescar esse magnífico espárida numa altura em que está particularmente fragilizado à conta da sua necessidade de comer para alimentar aquilo que tem dentro do ventre. Olho a essas coisas e se o lote de douradas não é bom no pesqueiro, se apenas existem as famélicas douradinhas de palmo e meio que se estão a pescar por aí, mudo de sítio.
Quantas vezes largo por ali os ditosos caranguejos tão diligentemente oferecidos pelo meu amigo Diogo.
Custa-me pouco desfazer-me deles porque valem pouco. Se lhes retirar o valor sentimental que têm pelo facto de terem sido oferecidos por um amigo, alguém que dá o que tem e de muito boa vontade, por outro não será com um saco de plástico com caranguejos congelados que vou acreditar no êxito da operação.

O meu amigo Diogo oferece-me caranguejos congelados. Não são os piores que já me deu, se comparados com os mortos, feridos e mal cheirosos de outros dias...

A apresentação do isco é fundamental para que o engano faça sentido a quem tem de fazer: o peixe.
Temos no nosso país verdadeiros especialistas na fina arte de apresentar iscas. De súbito recordo-me de chuchas de ouriço do mar, embrulhadas em meia de vidro de senhora, para o sargo na espuma, ou da finesse de quem pesca com minhocas compridas aconchegadas ao anzol com agulhas no surfcasting, as tiagens, os beliscos de sardinha, na pesca à boia, a delicadeza de uma camarinha viva a tentar um robalo, um caranguejo pilado preso por uma linha à espera de um robalo gordo no aparelho profissional, enfim tantas formas dessa autêntica demonstração de arte em iscar bem.
Nós portugueses sabemos fazer isso na perfeição.
Nesta altura tão especial do ano, a mudança de 2024 para 2025, queria deixar uma homenagem a todos aqueles que vencem a desconfiança do peixe através de iscadas de categoria, bem feitas, a sugerir comida natural.
Para aqueles que não conseguem ir tão longe, para os que praguejam repetidamente “É que hoje estão mesmo a morder mal!”…..o meu conselho vai no sentido de dedicarem algum tempo a ver como fazem os nossos grandes campeões de pesca, aqueles que já repetiram tantas vezes o gesto de iscar que o peixe já acha as suas iscadas de sardinha morta melhores que o original de sardinha viva.
Não é perder tempo ir ter com eles e perguntar como fazem.
Pessoas como o meu amigo Bruno Cabrita são de tal forma sinceros, honestos e transparentes que não hesitam em explicar detalhadamente tudo aquilo que fazem para conseguir muito peixe.
Sempre mais que os outros, ainda que mostrem a todos como fazem.
Se ainda assim não conseguirem pescar, deixo-vos nesta quadra festiva algumas sugestões de productos que podem mandar nos anzóis e que talvez resultem melhor que os lingueirões, as bombocas, os gansos coreanos e toda essa artilharia miudinha de minhocas que se lembram de mandar para o fundo.



Feliz 2025 para todos vós! Linhas esticadas ao máximo para todos.


Vítor Ganchinho


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