Convém nunca esquecer que o final de um dia de pesca é sempre o início do dia de pesca seguinte.
Os peixes estão lá hoje e amanhã serão os mesmos.
Eles nascem e ficam grandes mas não de um dia para o outro. Crescem a ver o que fazemos e, desafortunadamente, …aprendem!
O tema de fundo do blog para os próximos números prende-se com aquilo que é entendível como o “grau de aprendizagem” de um peixe ao longo do seu percurso de vida.
Existem em inúmeros formatos, variadíssimas cores e, se bem utilizadas, todas servem para o mesmo: pescar peixes. Mas….porque não são todas de igual eficácia?.... |
Numa manhã calma, sem vento, de água serena e sem vincos, uma amostra cai na superfície espelhada. A seguir a um fugaz splash passeia-se pela superfície, provocadora.
Não é necessário mais para que entrem em acção todos aqueles que estão a caçar de forma activa.
A perturbação provocada por esse pequeno objecto no meio aquático faz disparar o gatilho mental de de um robalo que nasceu para isso, para perseguir e capturar aquele “ser”, aquela forma, aquele movimento.
Numa fracção de segundo a perseguição inicia-se.
Chama-se a isso “levantar o peixe”, despoletar os instintos de caça e levar esse peixe a passar do repouso absoluto a um vertiginoso climax de perseguição e contacto.
Tentamos fazê-lo a cada lançamento: conseguir que um peixe passe do seu ponto de actividade zero, do repouso absoluto, à sua máxima excitação predatória.
Uma amostra bem concebida, combinando um design elegante e realista, tão próximo quanto possível da silhueta de um pequeno peixe, é lançada ao mar e torna-se uma arma mortífera, capaz de tentar o predador mais cauteloso.
Pescar com amostras não é para todos.
É para quem domina a arte do engano, da subtileza, a arte de levar um peixe a fazer de conta que um colorido e vibrante objecto tem vida própria. Que uma amostra é isto… sendo aquilo.
O peixe acredita mesmo que está a atacar uma presa viva se formos capazes de o enganar, de jogar com o efeito surpresa, se lhe colocarmos ao alcance um alvo que é aparentemente igual ao que ele come todos os dias.
Trata-se de um objecto, mas ele não sabe. Julga ser uma presa que lhe escapa e por isso o seu tempo de reacção tem de ser curto, exige dele um ataque fulminante.
Mas…porque não resulta sempre? Qual a razão pela qual não ferramos um robalo a cada lance?
Conseguimos hoje em dia amostras absolutamente realistas. A marca japonesa Smith será um dos expoentes máximos da perfeição. |
Importa dizer que a quantidade de robalos disponível na nossa costa será muito maior que o suposto por muitos daqueles que os pescam de forma errada, nos sítios errados, com os equipamentos errados e com uma técnica errada, e que por isso mesmo nunca conseguem resultados. E muito menor que a quantidade de peixes que os mais optimistas julgam existir.
Não há robalos aos milhões, não existem milagrosas pescas de robalos de um a cada lance. Por vezes, em concentrações absurdas de peixes e nas melhores condições de mar, é possível conseguir resultados de excepção.
Por breves momentos podemos conseguir uma sucessão de toques mas há sempre um limite, um ponto final. Fazer algumas caixas de robalos ainda é hoje possível mas isso corresponderá sempre a um dia a guardar na memória, e não a uma banal saída de pesca.
O normal, no período em que vivemos, não são as pescarias feitas há oitenta anos, em que se enchiam barcos a remos até acima. Até caber.
Olhamos para esses tempos sem disfarçar a nostalgia e amargura de não termos a possibilidade de fazer igual. Penso que isso é um absurdo. Devemos considerar que, se havia peixe em abundância, os equipamentos de então não eram os de hoje, a pesca era outra.
E eu ficaria surpreendido se futuramente, daqui a uma centena de anos, não houver gente a admirar aquilo que hoje fazemos. A tomar como extraordinárias as nossas banais pescas de meia dúzia de peixes.
É verdade que a uma crescente escassez de peixe tem vindo a corresponder uma melhoria acentuada da qualidade dos nossos equipamentos.
Hoje, pescamo-los à linha de forma desportiva, temos canas, carretos, linhas e amostras francamente melhores, sabemos em teoria muito mais sobre eles, mas infelizmente …já não temos robalos naquelas quantidades.
E se hoje faz sentido pescar e libertar, nas épocas douradas isso era um perfeito absurdo. As palavras ecologia, meio ambiente, sustentabilidade, eram absolutamente desconhecidas.
Pescava-se para comer, para vender, para melhorar os rendimentos familiares, sempre magros, sempre escassos, de quem trabalhava no campo ou quem tinha afazeres ligados à pesca. Hoje, libertar peixe sim, claro que sim, mas à época libertar peixe …nunca.
Que absurdo!
Mas se os libertamos enquanto juvenis, e isso está absolutamente correcto, de que forma isso condiciona o peixe, de que forma irá isso influenciar o comportamento do peixe libertado perante um novo encontro com uma amostra?
O que é isso de ….”peixe escaldado”?
Vamos ver nos próximos números exemplos práticos de duas correntes de opinião diferentes.
Vítor Ganchinho
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