À PROCURA DELES - ALGUNS TÓPICOS MAIS SOBRE... ROBALOS - CAP I

Temos hoje em dia uma infinidade de estudos disponíveis que nos ensinam muito sobre robalos. Não nos falta de facto informação.
Se tivermos paciência podemos encontrar relatos sobre experiências feitas por biólogos e cientistas que dedicaram a sua vida por inteiro a este peixe.
Alguns deles são estudos de muito boa qualidade, elucidativos, detalhados, os quais revelam características muito curiosas, dando-nos uma melhor compreensão dos seus hábitos e comportamento.
Se tanto sabemos sobre ele isso deve-se ao interesse acrescido que as piscifactorias nele demonstram de há muitos anos já que será um dos mais cultivados peixes de aquacultura.
Não é possível manter o seu consumo acessível e generalizado sem dar uma mão à natureza. A extração de peixe ao ritmo que é consumido iria arrasar em definitivo o robalo selvagem, aquele que é para um pescador de linha o único robalo digno desse nome.
Para um pescador de mar, o peixe produzido em tanques será sempre um sucedâneo, algo amorfo, sem interesse em particular, mas é importante que esse método exista, para de alguma forma aligeirar a carga que pende sobre este incrível peixe.
Nunca é demais referir que o robalo, Dicentrarchus labrax de seu nome próprio, é um dos mais, se não o mais emblemático peixe que um pescador pode pescar na costa portuguesa.

Não tem fim o número de amostras para pesca do robalo. A GO Fishing Portugal tem permanentemente em stock algumas dezenas de variantes.

Pesca-se dia e noite, sendo muito bem conhecidos os pontos quentes onde os robalos comem com regularidade. Haverá centenas, se não milhares de especialistas no nosso país, gente que os procura com artes que vão do mais simples, mas eficaz, aos produtos técnicos mais recentes, fabricados especificamente de acordo com as suas características e morfologia.
Há registos de pesos a rondar os 14 kgs em fêmeas ovadas, o que estimula e aguça o engenho de quem os procura.

Pode parecer-vos absurdo, mas na Alemanha encontrei robalos de viveiro, criados com farinhas, à venda por 6.90 euros cada 100 gramas. Barato, se considerarmos que no Harrods em Londres os vi a 24 euros / 100 gramas...

Para esse efeito, para a pesca diurna e nocturna do robalo, utilizam-se artefactos tão díspares quanto o simples pingalim, um anzol envolto em plástico colorido propulsionado por uma boia de água, ou amostras com ou sem pala.
Dentro deste domínio, a variedade de amostras que existe é absolutamente absurda, não sendo sequer possível quantificar tudo aquilo que se produz para a sua pesca.


Alguns dados dos estudos disponíveis são do conhecimento público, são evidencias, e se dispensam explicações podemos ainda assim repeti-los: o seu corpo é cinza antracite no dorso, branco ventralmente, e notamos que as suas escamas são relativamente grandes, resistentes e firmemente presas.
A barbatana dorsal é segmentada, existindo na verdade duas barbatanas dorsais separadas, a primeira e maior tendo geralmente oito ou nove espinhos afiados. A segunda tem um ou dois espinhos seguidos por raios relativamente suaves.
Ambas as barbatanas pélvicas e ventrais têm espinhos duros os quais podem magoar-nos as mãos e há ainda dois pontos cortantes na cobertura branquial. O bordo do osso pré-opercular é serrilhado e um perigo para as nossas mãos se desprotegidas, sem luvas.
A barbatana caudal é bifurcada e relativamente grande, denotando um nadador poderoso, forte, capaz de enfrentar ondas com muito poder. A posição avançada das barbatanas pélvicas permite-lhe manobras rápidas, facto que auxilia na perseguição de pequenos peixes.
A boca é grande, com dentes minúsculos nas mandíbulas, língua e palato. Existem também almofadas com dentes um pouco maiores, mas ainda assim muito pequenos, na entrada da garganta, e daí podemos deduzir que a presa é engolida viva, inteira.
As almofadas da garganta agem como trituradores antes de a comida chegar ao estômago.

De há alguns anos a esta parte tenho vindo a pescá-los com amostras que me dão uma sensação única: as amostras de superfície, e entre estas, os passeantes. A explosão de força com que um robalo ataca estas amostras é remarcável!

Os olhos são razoavelmente grandes e escuros, com uma borda laranja-dourada ao redor da pupila. A visão do nosso robalo é muito eficiente. Estando situados em cada lado da cabeça, cada olho vê uma imagem diferente, ou seja, visão monocular, sem perspectiva de base.
Os olhos são todavia capazes de girar nas órbitas, proporcionando assim uma área limitada, pequena, de visão binocular (com uma pequena perspectiva pois) um pouco à frente da cabeça.
As propriedades da água, a sua visibilidade no local, influenciarão se o robalo consegue ver as nossas amostras ou não. Porque não consegue alterar a abertura do olho para focar os objetos, pensa-se que o robalo só consegue ver uma imagem ligeiramente desfocada e que é bastante míope, incapaz de ver objetos a longa distância.
A água do mar contém sempre uma certa quantidade de matéria em suspensão (por exemplo, areias, lodos, plâncton), tornando a água turva em vários graus e isso não ajuda.
Em condições de céu muito nublado, havendo ainda menos luz a penetrar na água que num dia de céu limpo, o robalo pode ver-se forçado a recorrer a outros sentidos para detectar as suas presas.
Estão equipados com uma série de outros órgãos altamente desenvolvidos que equilibram esta deficiência visual, o caso da sua audição, olfacto e sobretudo da sua incrível linha lateral.
Esta linha é uma sequência perfeita de canais mucosos, a qual por sua vez está associada ao sistema nervoso central do peixe. A função destes órgãos (que também estão presentes na cabeça do peixe) parece ser a detecção de vibrações causadas pelos movimentos de outros peixes.
Tais capacidades são-lhe úteis em águas muito turvas, quando o robalo está posionado sobre ou sob um cardume de pequenos peixes e tem de optar por um. Ou na detecção de outros tipos de presas próximas, inclusivé escondidas debaixo de algas, por exemplo.
Mas vai muito além disto já que lhe permite saber calcular tamanhos, direcção de movimento, velocidade de deslocação, de seres que o rodeiem. Num mundo de baixa visibilidade, e / ou de vida nocturna, este sentido vale ouro.
Saberíamos valorizar se tivéssemos de nos deslocar na escuridão, em águas carregadas de barro, algas e outros sedimentos...


A qualidade da água, a sua oxigenação e matéria em suspensão, não são, contrariamente ao que poderia supor-se, determinantes na presença ou ausência do robalo em alguns troços de rio ou mar. Podemos mesmo encontrá-los em águas completamente carregadas de suspensão, o caso de rios a descarregar água das chuvas, por exemplo.
Mas para o robalo isso não constitui um problema. Sobe riachos de águas salobras e procuram aí pequenas presas que lhe sirvam de alimento.
Podemos encontrá-los em águas batidas, com ondas altas e muita suspensão, ou dentro de baías calmas, ao largo no mar ou em remansos de água que pode até ser completamente doce.
Não deixa de ser desconcertante a variedade de habitats que frequenta este peixe eurialino, ou seja, com capacidade para permanecer durante longos períodos em água salgada ou …doce.
Parece pouco incomodado com a limpidez das águas já que o podemos capturar em zonas onde a qualidade desta deixa muito a desejar. Os estuários dos nossos rios estão pejados de robalos, e nem por isso a qualidade da água é remarcável...

Tudo isto existe nas águas que o nosso robalo frequenta...

As narinas do robalo, como acontece com todos os peixes, consistem num par de pequenas aberturas, uma de cada lado do focinho.
As fossas nasais são revestidas com dobras de pele para proporcionar uma maior área de superfície de contacto com a água aos órgãos do paladar e do olfato que elas contêm.
O olfato é aguçado e é mais uma ajuda importante na localização dos alimentos. Não há dúvidas de que a alguma distância os robalos são capazes de detectar os sucos de aminoácidos de uma minhoca, um caranguejo, um camarão, etc.
Também este sentido acaba por impactar a nossa capacidade de os seduzir a morder a nossa amostra.
Do ponto de vista do pescador, as vibrações emitidas pelas nossas iscas artificiais ou iscas vivas podem ser sentidas e despertar no robalo os instintos predatórios. E isso é positivo.
Mas também o mesmo sentido pode funcionar contra nós, já que eles são muito sensíveis a ruídos, quer aqueles que fazemos quando nos deslocamos na praia ou nas rochas, quer quando nos movimentamos no barco.
Os peixes podem ser facilmente assustados pelas vibrações causadas pela nossa congénita falta de jeito para nos movermos no barco, para além do ruído do motor. Com um oponente como este, se não tivermos a ajuda da rebentação, do cascalho que rola no fundo, da areia que sobe e baixa ao sabor das ondas, somos presa fácil. 
Poderíamos pescar muito mais robalos caso fossemos capazes de entender como funciona este sentido da linha lateral…
Vou dar-vos mais dados sobre ela no próximo número do blog.


Vítor Ganchinho


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