E ESSA COISA DE VENTOS E ONDAS? COMO É? - CAP II

Vamos concluir hoje esta passagem pelo tema “condições atmosféricas”, certos de que será algo a que posteriormente iremos seguramente voltar.
As previsões de tempo, as condições de mar, são informação de que hoje em dia nenhum pescador pode prescindir. São elas que determinam se temos ou não condições de pesca, e se vale ou não vale a pena sair para fora.
Muitos acidentes e muitas vidas poderiam poupar-se caso toda a gente soubesse ler aquilo que as previsões indicam.

Em dias difíceis, temos sempre de olhar para o barco que temos e interrogar-nos se ele será seguro.

Quando as ondas se aproximam das praias oceânicas, onde a velocidade do vento diminui, elas podem viajar mais depressa que o vento.
Nessa altura o declive da onda diminui e elas transformam-se em ondas com longas cristas designadas como “swell”. Quem faz surf na praia sabe bem o que é o swell.
O swell são ondas que podem deslocar-se ao longo de grandes distâncias sem perda significativa de energia. Sistemas de ondulação originados na Antártida foram encontrados a quebrar no Alaska, depois de viajar mais de 10.000 km.
Porque o swell de diversas tempestades coexiste no oceano, é inevitável que venham a colidir e interferir uns com os outros. Isso cria os chamados padrões de interferência.
Trata-se da soma da movimentação que cada uma delas produziria de per si.
Por aqui percebem a dificuldade que têm os nossos meteorologistas em calcular a ondulação, e em dar-nos previsões para podermos decidir se saímos a pescar ou não.
Vejam abaixo um site, o windguru, bastante popular entre nós, e que indica o vento regular, as rajadas de vento, a direcção do vento, o valor da ondulação, o período da ondulação, e a direcção da ondulação.


Com estes dados, seguramente qualquer pessoa pode intuir da possibilidade de sair, ou de julgar conveniente a permanência em terra.
Nem sempre estes sites podem referir fenómenos estranhos, ocasionais, que surgem de onde menos se espera.
Um dos mistérios dos oceanos são as chamadas ondas traiçoeiras, ondas com muita energia associada que podem atingir o equivalente a 10 andares de altura (cerca de 30m!).
Resultam de raras coincidências num comportamento normal das ondas. No oceano aberto, uma onda em cada 23 terá mais do dobro da altura média.
Uma em 1175 terá uma altura 3 vezes maior e uma em 300.000 ondas, quatro vezes maior. As hipóteses de ondas realmente monstruosas são raras (uma possibilidade em biliões) mas acontecem!
O total de barcos de vários tamanhos perdidos durante um ano é de cerca de 1000 e muitos deles são vítimas destas ondas.
Até dentro do rio Sado eu já encontrei ondas que são um perfeito absurdo dado que a superfície do rio estaria absolutamente lisa…eventualmente poderão ser provocadas pela passagem de um catamaran, um barco a elevada velocidade, ou outro fenómeno parecido, já que nesses dias nem o vento mexe.


É importante entendermos a questão da rebentação das ondas. Porque ocorre?

Quando o fundo está muito próximo da onda, começa a atrasá-la. O formato da onda altera, a crista da onda adianta-se muito em relação à sua base e desaba por falta de apoio.
Chama-se a isto de “arquear da onda”, e começa a acontecer assim que esta se aproxima da linha de costa e “sente o fundo”.
Se o declive da praia e a altura da onda forem muito acentuados, a onda quebra sobre a forma de grandes rolos ou vagalhões. Com este tipo de mar, a temeridade de colocar o barco próximo da rebentação pode custar a vida aos pescadores mais atrevidos.
Normalmente as ondas não têm um ângulo de aproximação perfeito de 90º em relação à praia. Entram um pouco de lado, o que quer dizer que um sector da onda começa a “sentir o fundo” mais cedo que outro. Isso irá atrasá-lo em relação ao resto da onda que ainda tem algum fundo para poder correr.
Disso resulta uma curvatura da frente da onda que se designa como refracção de onda.
Também os fundos rochosos irregulares, tão propícios à existência de sargos e robalos, atrasam algumas partes da onda, fazendo com que as ondas não cheguem numa linha direita à costa. Partes chegam primeiro, outras atrasam, o que quer dizer que a energia que chega à praia não se dissipa toda no mesmo momento.
Quando forem à praia reparem neste fenómeno, é muito fácil de observar.
Também é fácil de ver que nas pontas de rocha, nos cabos, a energia das ondas é normalmente maior que dentro das baías.
Quando a onda ainda está a rolar sobre profundidades significativas, nos cabos, bate com mais força, (e tem consequentemente maior capacidade de erosão) mas ao passar para dentro das baías, onde existe areia no fundo, esta irá frear o avanço da onda, vai travá-la, e abrandar-lhe a sua velocidade.
Isso justifica a existência de rochas nos cabos marítimos, e a existência de acumulação de areia nas baías.


Nem toda a energia das ondas é consumida quando elas esbarram contra a linha de costa.
Uma parede vertical, por exemplo o Cabo Espichel, tal como um molhe, pode reflectir a ondulação de volta para o oceano, com relativamente pouca perda de energia.
A reflexão das ondas nas barreiras costeiras ocorre segundo um ângulo igual ao ângulo de incidência, o que quer dizer que teremos sempre de ter um cuidado acrescido quando nos deslocamos muito próximo da costa, se esta for rochosa, ou tiver algum obstáculo vertical, por exemplo um paredão.
Por isso é por vezes tão difícil encostar o barco quando chegamos da pesca, porque há reflexão de ondas de fora.
Mas na maior parte dos casos, estar dentro do porto já é algo que indica segurança, ainda que não seja motivo para que retiremos o colete salva-vidas.
Esse, é retirado depois de a embarcação estar atracada. OK?


Vítor Ganchinho


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3 Comentários

  1. A questão da segurança, nunca é demais, quando é de lamentar a queda de mais um pescador lúdico, de 28 anos, na água em Cascais.

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  2. Quanto às ondas e à surpresa que frequentemente causam, já tive a minha cota de sustos.
    Gosto de pescar na Baia Oceanica da Figueira da Foz e o Cabo Mondego traz sempre um fator de ação extra.
    Para quem não pode contar com outra forma de propulsão a não ser braços e pernas quando se pratica o trolling, aproveitar o surf das ondas é uma mais valia!
    Certa vez, a caminho do Cabo Mondego com o meu amigo José Patricio, com ondas de 1,5 mts e de longo período (languidas) e durante a vazante, do nada surgiram 3 ondas com cerca de 4 metros e a quebrarem em cima de mim (o Patricio estava mais para fora).
    Consegui "furar as ondas", (a primeira foi a maior) de tal ordem que as canas caíram dos caneiros, ou seja, estive praticamente na vertical. Assim que nos apercebemos delas, demos tudo para obter a máxima velocidade na perpendicular à onda e foi o que nos safou. Do outro lado, nasceram dois homens novos hehehe, senti a alma lavada.
    Eu no meu kayak já virei algumas vezes, há uns anos atrás, quando pescava para a ondulação, de a uma distância "segura". O fator mais imponderável era quando fisgava um peixe, perdia a noção do espaço.
    Duas grandes regras que me impus: 1- Não vou conseguir estar sempre com toda a atenção ao meio que me rodeia, tenho que evitar situações de risco e ter sempre o foco no horizonte. 2- Na vazante, quando o mar recua e o nível desce, as ondas crescem cada vez mais, rebentam cada vez mais para fora e temos de contar com elas.
    As coisas piores acontecem no mar!
    abraço, Paulo.

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    Respostas
    1. Paulo, gostava muito que o seu avisado comentário fosse lido por muita gente!!

      Porque ele é o relato na primeira pessoa daquilo que acontece com bastante frequência, e que vitimiza gente que não chega a poder contar o que lhe aconteceu.

      Não tenho dúvidas de que anda gente no mar que não está preparada para lá estar!
      Quando decido escrever algumas linhas sobre ondas e ventos, não é por acaso.
      O momento em que estamos o Fevereiro/Março, são meses muito traiçoeiros, e que merecem um cuidado redobrado por parte de todos.

      Mas sabe aquilo que acontece? Este tipo de artigos não tem leitores.
      As pessoas só se interessam por caixas de chocos e robalos.
      E é pena, porque é de sabermos muito, e também destas coisas, que as caixas podem vir para terra cheias.

      Já fico feliz se as pessoas voltarem.

      Gostava que muito mais gente lê-se aquilo que escreveu.
      Mas na verdade, ....o que diz e com toda a propriedade e razão, não ...vende.

      É pena.
      Pedia o favor de as pessoas que leem enviarem este artigo e o seu comentário a meia dúzia de conhecidos ou amigos.
      Se com isso pudermos salvar uma pessoa que seja, já valeu muito a pena!

      Grande abraço!
      Vitor

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