Quando chegamos a uma loja de pesca, olhamos para os picots de amostras e salta-nos à vista o brilho, a combinação de cores, a marca, e até a embalagem, sim a embalagem, detalhes que nos motivam, ou não, a comprar o produto.
Compramos amostras por as acharmos…”bonitas”.
Gostamos de ter uma caixa de amostras com peças bonitas.
E o caso pode piorar: quanto mais tempo passamos sem pescar, sem poder ir à água, mais o entusiasmo nos leva a cometer asneiras neste campo. Perdemos a noção do quanto uma amostra é apenas um instrumento de captura de peixes.
Na verdade atribuímos à cor dessas peças uma importância e valor bastante superior ao efeito dessas amostras na água. Subvertemos o efeito da amostra enquanto engano e sublimamos a cor como objectivo final da nossa compra.
Mas aquilo que os nossos olhos veem não é infelizmente o mesmo que os nossos robalos irão ver.
Ao não percepcionarem as cores da mesma forma que nós, já estamos a perder. Queremos “humanizá-los” mas eles não querem nem podem ser humanizados.
A sorte é que se nos deixamos enganar por um critério de escolha de cores absolutamente inválido, baseado em critérios de escolha tão absurdos quanto a cor das camisolas dos nossos clubes de futebol (!!), a cor do carro, e outros critérios que tais, temos por outro lado uma tendência de razoabilidade, subcutânea, algo no nosso subconsciente que nos diz para seguirmos a aposta nas cores tradicionais, aquelas que já nos deram peixe, e que por isso só podem estar…CERTAS!
É isso que nos salva….o nosso instinto. Sentimos que estamos certos.
Em águas límpidas, as cores neutras e até os tons baços, sem brilho, podem ser mais eficazes. Mas nem sempre as águas estão lusas.
Nesses casos, uma amostra com os flancos brilhantes é atractiva porque assim são os flancos dos peixes forragem em fuga: as sardinhas, as cavalas, as galeotas, os carapaus, brilham lateralmente. E na excitação da perseguição, esse brilho transmite vida, movimento. É isso que excita o predador, a possibilidade de capturar uma presa viva.
Quanto mais tapadas as águas mais importante é o flash da amostra.
Vejam o caso das amostras que vos apresento abaixo, e digam-me se pode falhar:
Quando procuramos robalos devemos ter em atenção que eles estão sobretudo em zonas de caça que os favoreçam.
Não esquecendo que para um robalo quase todos os postos são bons, eles tanto caçam em águas revoltas com corrente e enchios plenos de força e espuma como o podem fazer no mais calmo dos mares, (ou não fossem as suas capacidades físicas as de um atleta ultra-rápido e super preparado para tudo), ainda assim há sítios que são muito melhores que outros.
Zonas de remoinhos, linhas de água que se cruzam, peões de pedra isolados que fazem divergir a corrente, etc, serão sempre locais de eleição para os nossos peixes.
É aí que eles fazem valer as suas capacidades, esperando no remanso, na zona sem corrente onde podem aguardar a passagem de comedia sem despender esforço, e aí sim, atacando no momento certo.
Vejam a foto abaixo e entendem...
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Este é um desenho de fundo perfeito para um robalo mostrar o seu bom desempenho. Um cardume de peixe miúdo que entre aqui vai sofrer baixas… |
Quando abordamos o tema cores, devemos fazê-lo desprovidos de preconceitos: não são as cores mais bonitas aos nossos olhos que pescam, são as cores de iscas que os peixes procuram.
Os peixes que os bons robalos comem não são necessariamente sempre bonitos e coloridos, são peixes e representam alimento, ainda que desprovidos de cores interessantes. Só isso!
A grande questão é que nós humanos não conseguimos dissociar a beleza da amostra da sua presumível eficácia!
Pensar vagamente como um peixe é algo que só está ao alcance de alguns, e por isso nem sempre os resultados acompanham o fervor que colocamos na compra e utilização dos equipamentos.
Por absurdo que pareça, uma amostra cinza, descolorida, pode ser uma boa opção se o robalo estiver em modo de ….”cinza”…
Vejam abaixo.
Este cardume de tainhas pode não ter predadores?
Pardas, cinzentas e descoloridas, estas tainhas são um pitéu para os robalos de 5, de 8, de 10 kgs... |
A primeira preocupação é sabermos onde vamos pescar, a quê, e que pode o habitat proporcionar aos eventuais predadores que por ali passam.
Na nossa sacola da pesca devemos ter um número de artificiais suficiente para que possamos escolher, mas manda a frieza e racionalidade que se evitem os exageros, as compras desnecessárias.
O foco deve estar em pescarmos com aquilo que o predador procura. Ainda que isso signifique optar por algo que a nós não nos pareça tão “fabuloso” assim.
Já aqui foi abordada a questão da sobreposição da amostra relativamente ao meio ambiente onde foi lançada. Se temos mar calmo e água limpa, as cores neutras mais próximas de uma presa habitual, uma “desinteressante” boga, ou tainha, são cores tão boas quanto todas as outras que julgamos mais apelativas: cavala, carapau, sardinha, biqueirão, etc.
Podemos e devemos utilizá-las com convicção plena.
Se estamos no meio de um temporal, a acção chamativa da amostra tem de sobrepor-se ao som/ruído ambiente. E aí entra tudo, a vibração da pala, o ratling, ou, na versão portuguesa, o chocalho.
Há sim a considerar que queremos sempre que a nossa amostra seja vista, ou pelo menos sentida, caso contrário não teremos toques.
Porque ao longo do dia somos confrontados com diferentes níveis de luz, é natural que as cores mais produtivas não sejam sempre as mesmas.
Dos cinzas aos laranjas, dos azuis aos verdes, tudo tem a sua utilidade, em função do ambiente que nos rodeia.
Podemos ter águas tapadas ou águas limpas, calmas ou remexidas, o mar apresenta-nos a cada dia e hora uma diversidade de desafios e teremos sempre de nos adaptar a eles.
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As condições de luz estão sempre a mudar... |
Caso tenhamos essa possibilidade, e isso advém da qualidade de opções que temos na nossa caixa de amostras, devemos tentar pescar com algo parecido ao que o predador procura. Perder alguns minutos a observar a água e tentar descortinar aquilo que existe no local pode fazer-nos ganhar muito tempo.
Há cavalas? Há carapau? A profundidade é baixa e o fundo de areia? Porque não pensar que os robalos estarão a caçar as esquivas galeotas?
Temos pilado encostado ou tainhas, ….então a amostra não tem de ser amarela, certo?
Podemos pescar robalos a diferentes níveis de profundidade.
Para os robalos madrugadores. aqueles que evoluem em águas calmas, lisas, nada como um popper, ou ainda melhor um passeante a rasgar a superfície.
Aí, bem cedo pela manhã, os toques atingem uma espectacularidade difícil de igualar com qualquer outro tipo de amostra, pela sua violência, pela “crença” que o robalo tem de que está a perseguir uma presa diminuída, atordoada, sem capacidade de fuga.
Tenho para mim que os passeantes de superfície oferecem excitação e suficientes explosões de adrenalina para que os queiramos ter sempre na nossa caixa de amostras.
Porém, nem sempre as águas estão calmas e limpas e por isso muitas vezes temos necessidade de lutar contra o vento, contra as vagas, a espuma e águas turvas.
Dificilmente poderemos obter resultados satisfatórios tentando peixe à superfície. Aí não são os poppers nem os passeantes os mais indicados.
Vamos ter de ir mais fundo, tentando encontrar um nível de água isento de espuma, e até se possível de detritos em suspensão.
Estas condições podem acontecer nos estuários, no momento da enchente, em que a primeira capa de água pode aparecer-nos intratável de escura, tapada, mas que esconde muitas vezes uma faixa inferior com bastante visibilidade. Tem a ver com o facto de a água salgada ser mais densa, e por isso mesmo, ao adentrar pelo rio irá ficar por baixo da água doce, mais leve.
Nunca esqueçam estes dois detalhes: estamos com vento, com mareta, e temos à nossa frente água turva. Mas se a maré sobe, teremos água do mar a “escorregar” por baixo dessa água suja, a forçá-la a subir, e quase de certeza será bem mais limpa que aquela que os nossos olhos conseguem ver.
Por isso, a utilização de amostras afundantes impõe-se, para irmos abaixo, onde os robalos procuram à vista a comida que sobe com a maré.
No caso de termos interesse em pesquisar águas mais profundas, a pala frontal deve ser um pouco mais longa, de forma a oferecer um ângulo suficiente curto para, através da pressão que exercemos sobre ela ao recolher linha, obrigarmos a amostra a baixar ao fundo.
Quanto mais pronunciado for o ângulo, por absurdo recto a 90º, mais a amostra irá ficar acima, sem afundar.
Encontrar o tipo de pala certo ajuda-nos a obter resultados. Encontrar a cor daquilo que o robalo procura nesse dia e nessa hora, ajuda-nos a encher a caixa.
A pesca é algo tão simples que só por destempero e ousadia se pode querer complicar.
Pesquem, pesquem muito e vão ver o quanto é simples...
Vítor Ganchinho
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